sábado, 4 de abril de 2020
VOLTA ÀS ATIVIDADES
EM BREVE A PÁGINA "APOSTOLADO CATÓLICO FRASES EVANGELIZADORAS" RETOMARÁ AS ATIVIDADES DESTE BLOG.
quarta-feira, 29 de março de 2017
O QUE SIGNIFICA DEUS CRIADOR?
O QUE SIGNIFICA DEUS CRIADOR?
Cremos que Deus não precisa de nada
preexistente nem de nenhuma ajuda para criar; 1 a criação também não é um
emanação necessária da substância divina; 2 e que Deus cria livremente 'do
nada'. 3 "Que haveria de extraordinário se Deus tivesse tirado o mundo de
uma matéria preexistente? Um artífice humano, quando se lhe dá um material, faz
dele tudo o que quiser. Ao passo que o poder de Deus se mostra precisamente
quando parte do nada para fazer tudo o que quer". 4
O que significa, pois, Deus Criador?
Significa, exatamente, que Deus fez do nada todas as coisas. Criar é diferente
de fazer. Um escultor faz sua imagem a partir da argila, pedra, resina ou outro
material similar; sem isso não poderia fazer coisa alguma. O mesmo se pode
dizer do marceneiro, sem madeira o que faria ele? Criar é, pois, "tirar do
nada, fazer sem se servir de nada, fazer que exista uma coisa que antes não
existia de nenhum modo; é fazer que exista, não se servindo de outra coisa:
dar-lhe a existência por força própria". 5
A esse respeito ensina São Tomás: "O
artesão opera a partir de coisas naturais, como madeira e o bronze, que não são
produzidos por sua ação, mas pela natureza. [...] Se Deus, por tanto, tivesse
que criar a partir de algo, este algo não teria sido criado por Ele. Ora,
sabemos que tudo foi feito por Ele. Logo, conclui o Doutor Angélico, 'é
necessário dizer que Deus produz as coisas em seu ser a partir do nada'."
6
Quando, no princípio, Deus criou o mundo, não
existia nada: Sol, estrelas, Lua, céu, ar, terra, fogo, água, minerais,
plantas, animais, homens... Só Deus existia e mais nada, e o que vemos foi Ele
que fez.
Admiremos a criação e assim admiramos o seu
Criador, pois, como se afirma na constituição do Concílio Vaticano II, Dei
Verbum, "Deus criando e conservando o universo por sua palavra, oferece
aos homens na criação um testemunho perene de Si mesmo." 7
TEXTO
INTEGRALMENTE EXTRAÍDO DO LIVRO:
«A Criação e os Anjos - Arautos do Evangelho:
Instituto Teológico São Tomás de Aquino; Instituto Filosófico
Aristotélico-Tomista. Coleção Conheça a sua Fé - Volume 3. Instituto Lumen
Sapientiae - São Paulo, 2014. p. 20.»
CITAÇÕES:
1) Cf. Denzinger-Hünermann, 3002.
2) Cf. Denzinger-Hünermann, 3023-3024.
3) Cf. Denzinger-Hünermann, 800; 3025.
4) São Teófilo de Antioquia, apud Catecismo
da Igreja Católica, n. 296.
5) Giuseppe Peradi. Novo manual do
catequista. Trad. Fernando Paes de Figueiredo. 6. ed. Lisboa: União Gráfica,
1930, p. 41.
6) São Tomás de Aquino. Suma Teológica. I, q. 45, a. 1.
7) Dei Verbum, 1,
3.
IMPRIMATUR:
+ Dom Sérgio Aparecido Colombo, Bispo de
Bragança Paulista. Bragança Paulista, 22 de Fevereiro de 2015.
__________________
O que significa Deus Criador? Disponível em
<http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2017/03/0332.html>
Desde 29/03/2017
quinta-feira, 23 de março de 2017
PE. JÚLIO MARIA: O DIABO, LUTERO E O PROTESTANTISMO – CAP. 6: LUTERO EM WARTBURGO
LIVRO «O DIABO,
LUTERO E O PROTESTANTISMO»
CAP. 6: LUTERO EM WARTBURGO
SERVO DE DEUS PE.
JÚLIO MARIA DE LOMBAERDE, S.D.N.
LUTERO
EM WARTBURGO
Assistamos a uma nova etapa da vida do
infeliz e obstinado pai das seitas protestantes.
À semelhança de um meteoro ameaçador e
sinistro, ele apareceu rápido no firmamento da Igreja, para logo sumir num
esconderijo, donde continuará, pelos seus escritos, fomentando o ódio, a
desordem e disseminando através do mundo seus monstruosos erros.
Quanto à sua vida particular no Castelo de
Wartburgo, lugar santificado pelas heróicas virtudes de Santa Isabel, Lutero,
em pessoa no-la descreve numa carta a seu amigo Melanchton, aos 13 de julho de
1521:
"Aqui estou na ociosidade, insensível e
endurecido infelizmente, rezando pouco e em nada me importando com a Igreja de
Deus, porque me abrasam os grandes ardores de minha carne indomada ("quia
carnis meae indomitae uror magnis ignibus"). Numa palavra: Eu que deveria
ser fervoroso no espírito, sinto em minha carne a libidinagem, a preguiça, a
ociosidade, a sonolência" (De Wette II, 22). Nesta solidão, prossegue,
afogo-me em pecados ("peccatis immergor in ac solitudine")" (De
Wette II, p.26).
Ei-lo, pois, solitário em Wartburgo que
denominará mais tarde o seu “Patmos” de enviado de Deus.
Após ter ambicionado pairar acima de todos...
caiu no lamaçal de todos os vícios, conforme ele mesmo o reconheceu.
Não é mais o Lutero orgulhoso que se nos
apresenta, mas o Lutero crápula “ego otiosus hic et crapulosus sedeo tota die”
(de Wette II. 6).
Os dez meses de permanência no castelo de
Wartburgo são uma página negra da vida do infeliz transviado.
1. A
PRETENSA MISSÃO DE LUTERO
Vejamos o monge no castelo onde se refugiara.
Isolado de todos, longe do bulício, separado
maus companheiros que o excitavam, Lutero poderia arrepender-se e recuar, se
disso fosse ainda capaz, repassando em espírito os acontecimentos tristes e
desastrosos de que fora o causador. Tal, infelizmente não aconteceu ou melhor:
só se verificou nos seus primeiros dias de exílio.
Nas horas lentas e monótonas que se seguiram
ouviu ele, a princípio, uma voz penetrante em si mesmo, tal o eco estridente
dos corvos e corujas que cercavam a torre do Castelo e passavam diante da
janela do seu quarto.
"Quantas vezes”, declara ele próprio,
“tremia de horror o meu coração, lançando-me em rosto este pensamento
amargurante; apenas tu queres ser sábio? Todos os outros, então, estarão
errados? E eles terão ficado no erro durante tantos séculos? Que será de ti, se
estiveres errado, arrastando tanta gente ao erro e à eterna perdição?"
(Obras Lut. Weimar, VIII. 411).
Lutero não tinha a sinceridade nem a nobreza
de sentimentos de uma Santo Agostinho, para se converter, condenar os seus
erros e tornar-se um Serafim do amo de Deus, que refletiu, sob a moção da
graça, sobre as palavras confortadoras: “quod isti e istae, cur non ego?” (o
que puderam realizar estes e estas, por que não o conseguirei também?)...
Lutero se encontrava no perigoso declive da
revolta, descendo para o fundo do abismo... e o obcecado ânimo não lhe deixava
mais ver outra coisa senão a idéia importuna a persegui-lo como um espírito
maligno: - SÓ A BÍBLIA E SÓ A FÉ.
A luta foi terrível entre a voz da
consciência e os impulsos do orgulho. Em vez de ser favorável à primeira,
forcejou impor-lhe silêncio.
“Pude apenas, com os textos mais expressivos
da Escritura”, escreve ele, “convencer a minha consciência de que era permitido
resistir ao Papa, fazendo-o passar por anticristo, e considerar os Bispos como
os apóstolos do anticristo, e as universidades como antros do pecado”
Logo a soberba lhe abafava os remorsos de uma
alma perturbada, persuadindo-o a julgar-se investido de uma missão divina, para
reconquistar a liberdade do Cristianismo, escravizado pela Igreja Católica.
Trata-se de uma verdadeira obsessão. Teria
ele chegado a persuadir-se de fato ter um desígnio a cumprir neste mundo?...
É possível, pois este fato se dá, tanto em
homens perversos, quanto entre pessoa santas.
Átila intitulou-se e foi de verdade: o
flagelo de Deus. Alexandre Magno, César e Napoleão estavam convictos de terem
sido chamados por Deus, para conquista o mundo. Maomé, o histérico, com o qual
Lutero, o possesso, possui muitos traços de semelhança, considerou-se um
“profeta de Deus”, mandado para substituir por outra as religiões existentes.
É, pois, admissível que o monge, dotado como
era de imaginação ardorosa, de gênio turbulento, de atividade, dominada pelos
nervos, deixando-se guiar pelo orgulho e pela confiança em seu valor pessoal,
tenha chegado ao ponto de se dizer um “enviado de Deus”, para extirpar os
abusos de sua época e promulgar a livre interpretação do Evangelho.
Se não se pode estabelecer positivamente o
fato, - pois a historia nos dá notícia de suas próprias dúvidas a respeito, - é
permitido, entretanto, pensar que nos momentos de agitação tenha ele conseguido
sufocar a voz da consciência, convencendo-se da realidade da sua missão
libertadora, que se tornou para ele uma espécie de alucinação.
2. APARIÇÕES
DO DIABO
Dois pontos sobressaem em Lutero, quando de
sua permanência no castelo de Wartburgo: a sua idéia com relação ao demônio e
as grandes tentações de que foi acometido.
Em suas cartas a cada passo refere-se às suas
relações com o diabo, enquanto ali esteve. Não só diz ele ter ouvido ali o
demônio, no tremendo barulho que o parecia perseguir dia e noite, mas
assevera tê-lo visto,
sob a sensível
aparência de um
cão preto, dentro
do seu quarto..
Deste espetáculo terrível Lutero nos dará uma
idéia, mais tarde, em suas conversas de taberna: "Quando estava em meu
Patmos”, diz ele, “tinha fechado, dentro dum armário, um saco de nozes de
avelãs. Certa noite, apenas me deitara, começou um barulho infernal nestas
novzes que, uma por uma, foram lançadas com força, contra as vigas do forro.
Senti sacudirem-me a cama, e ouvi nas escadas um ruído, como se lançassem para
baixo uma grande quantidade de vasos. Entretanto, a escada havia sido retirada,
para ninguém poder subir ao meu quarto, estando presa à parede com uma corrente
de ferro" (Wette Erl. 59 p.340), (FATO contado pelo próprio reformador em
Eisleben, em 1546).
O encontro do cão preto se deu em circunstâncias
estranhas: o bicho teria procurado um lugar no leito de Lutero, que
jeitosamente o teria retirado dali, jogando-o fora, através da janela, sem
o menor ganido da parte do animal. Foi,
parece, um diabinho manso e inofensivo que se deixou lançar assim para fora.
Nada mais se pôde encontrar do cão, após a queda, nem mesmo vestígios. Lutero
tinha a certeza de se tratar de um diabo, em carne, pelo e osso
(Köstlin-Karveran I. 440, 1903).
Referem ainda que um dia apareceu-lhe o
demônio em pessoa, talvez para parabenizá-lo pela obra encetada, toda em
benefício de satanás; nesta ocasião, tomado de horror e de medo, num acesso de
raiva, teria Lutero jogado contra o demônio um tinteiro. A tinta não sujou a
carapinha do capeta, mas foi o recipiente quebrar-se de encontro à parede, onde
ficaram os sinais distintivos do seu conteúdo – uma grande mancha negra.
Coburg e outros falam disto, mas Lutero, o
único que poderia afirmar a realidade do fato, parece, a ele nunca se referiu.
Que há de verdadeiro a respeito de tudo isso?
É difícil dizer-se. Vistas, no entanto, as
disposições e o estado anormal de Lutero, é crível não passasse de exaltação
nervosa, de fantasia, de superstição.
Seja como for, Lutero via demônios em toda
parte.
No opúsculo contra o duque de Brunswick, o
demônio teve a honra de ser nomeado 146 vezes; no livro dos Concílio em 4
linhas fala Lutero 15 vezes a respeito de diabos.
Os adversários da reforma têm o “coração
satanizado e super-satanizado" Noutra parte ufana-se Lutero de nunca ter
descontentado o príncipe das trevas que o acompanha sempre.
Tal disposição doentia, aumentada pelo
isolamento em que vivia, como pela lembrança dos últimos acontecimentos, da sua
excomunhão pelo Papa, da condenação pelo Edito de Worms, dos perigos que o
ameaçavam, da incerteza do futuro, tudo isto devia necessariamente aumentar a
demasiada tensão dos nervos e exaltar a imaginação ardente.
Seja como for, por certo estava ele com
direito a uma aparição do espírito das trevas, a fim de parabenizá-lo pela obra
diabólica de revolta que estava efetuando no mundo, e pela perdição de milhares
de almas que tal empresa iria acarretar.
Se o demônio não lhe apareceu, não é porque
lhe tenha faltado vontade para tal, mas apenas porque Deus não permitiu.
3. TENTAÇÕES
IMPURAS
O que se vai ler é quase só testemunho do
próprio “reformador”.
Ele escreve a Melanchton:"Corporalmente
estou com saúde e sou bem tratado, porém as tentações e o pecado não me deixam
em paz" (Cartas II.189). “Acredite-me, nesta solidão aborrecedora, estou
sujeito às tentações de mil demônios... É muito mais fácil lutar contra homens
que são diabos em carne, do que contra os poderes da milícia que habita o ar”
(Eph. VI. 12). Caio muitas vezes, mas a mão do Senhor me levanta de novo!
(Carta III.240. A. Gerbal).
É, então, que ele dirige a Melanchton o
famoso ditado: PECA FORTITER, CREDE FORTIUS – (peca fortemente, mas crê mais
fortemente ainda).
É aí, sobretudo, na ociosidade de seu
desterro, que Lutero começa a entregar-se desabridamente às paixões vergonhosas
da luxúria, como o atesta a sua correspondência íntima.
Em 1522 ele escreveu a seu amigo Spalatino a
carta mais falhofeira e vergonhosa que se pode imaginar onde se lê:
"Sou um famoso namorador... Admiro-me
que, escrevendo tantas vezes sobre o matrimônio, et misceor feminis, não tenha
ainda virado mulher e tenha casado com uma delas”. “Entretanto, se queres o meu
exemplo, tem o seguinte: TIVE JÁ TRÊS ESPOSAS AO MESMO TEMPO, e as amava tão
ardentemente que perdi duas delas, que foram procurar outros maridos..”.
“Quanto a ti, és um namorador mole não tendo sequer a coragem de ser marido de
uma só" (De Wette II. 646).
Pergunto a um homem de bom senso; é esta a
linguagem de um reformador ou não é, antes, a correspondência de um vulgar
boêmio, de um viúvo alegre?
O padre Leonel Franca fez esta judiciosa
observação: (“A Igreja, a Reforma e a civilização” L. II. C. I). “Raras vezes a
vida licenciosa vai desacompanhada dos excessos intemperantes da mesa. Em
Lutero a febre de concupiscência carnal era estimulada pela embriaguez e pela
crápula. No beber, diz ele, não quero que os outros entrem em competição
comigo”.
Escreverá mais tarde à sua Catarina: “Vou
comendo como um boêmio e bebendo como um
alemão, louvado seja Deus!...” Em 1534 escreveu: “Ontem, aqui, bebi mal e
depois fui obrigado a cantar; bebi mal, e sento-o muito. Como quisera ter
bebido bem, ao pensar que bom vinho e que boa cerveja tenho em casa, e mais uma
bela mulher” (De Wette IV. 553).
Escreveu ainda: “Aqui passo todo o dia no
ócio e na devassidão” (Ego otiosus hic et crapulosus sedeo tota die) (De Wette
II. 6).
Na noite em que o reformador, com companhia
de outros, chegou a Erfurt (19 de out. 1522) “... não se fez senão beber e
gritar, como de costume”, escreve Melanchton presente à cena “Os excessos do
copo chegaram a fazer-lhe mal à saúde”. O motivo destas libações copiosas e
estonteantes é confessado pelo próprio Lutero, numa carta dirigida a seu amigo
Jerônimo Weller:
"Quando o diabo te vexar com
pensamento", diz ele, "palestra com os amigos, bebe mais largamente,
joga, brinca ou ocupa-te em alguma coisa. De quando em quando se deve beber com
maior abundância, jogar, divertir-se, e mesmo fazer algum pecado em ódio e
acinte ao diabo, para não lhe darmos azo de pertubar-nos a consciência com
ninharias. Quando te disser o diabo: Não bebas, responde-lhe: Por isso mesmo
que me proíbes, é que hei de beber, e em nome Jesus Cristo beberei mais
copiosamente...
Por que pensar que eu bebo assim com mais
largueza, cavaqueio com mais liberdade, banqueteio- me com mais freqüência,
senão para vexar e ridicularizar o demônio que me quer vexar e
ridicularizar?...
“TODO O DECÁLOGO SE NOS DEVE APAGAR DOS OLHOS
E DA ALMA, a nós tão perseguidos e
molestados pelo diabo” (De Wette IV. 188).
Eis Lutero na realidade das suas idéias e da
sua vida... e muito longe de ser “o reformador” místico que os protestantes
inventaram, de cabeça coroada de louros, ele tem ocultos os pés que rastejam na
mais nojenta lama do vício e da podridão.
É triste escrever tais coisas...
Infelizmente, tudo isso é verdade.
Mais lamentável ainda é escondê-las, fazendo
acreditar que tal homem é um mensageiro de Deus, para restabelecer a pureza do
Evangelho e da moral cristã.
Pode haver abusos nos membros da Igreja
Católica, mas nunca houve, nem haverá maiores que os do pretenso reformador do
catolicismo.
Admitir a missão divina de Lutero é o mesmo
que aceitar tenha Deus escolhido a lama para
purificar o lodo; a imoralidade para corrigir as misérias humanas; a
bebedice e a intemperança par suplantar os defeitos dos homens.
4. A
LIBERDADE EVANGÉLICA
Já conhecemos a vida moral de Lutero, o qual
ele mesmo atribuiu ao demônio, podendo-se, por isto, intitulá-la diabólica.
Não pensemos, entretanto, ficasse Lutero
dormindo a dia inteiro. Seu temperamento exaltado e buliçoso não lhe permitia
repouso e, apesar da vida libertina e gastronômica que levava, podia estudar e
escrever, continuando os seus ataques à Igreja e a sua propaganda subversiva.
Os seus amigos de Wittemberg mandaram-lhe
secretamente os livros e escritos começados, para que os levasse a termo.
Seu principal cuidado foi ultimar uns
tratados interrompidos, versando sobre o Magnificat, o comentário dos salmos,
assim como acabar uns panfletos incendiários.
Em seguida, pôs-se a traduzir o Novo
Testamento, terminando-o em pouco tempo. Esta tradução, sob o aspecto
exegético, pode qualificar-se uma verdadeira miséria, seja pelas idéias
heréticas nele contidas, seja pela fraqueza dos comentários; apesar de todos os
literatos alemães estão de acordo em dizer que linguagem lê suave e harmoniosa.
Este Novo Testamento, revisto por Melanchton,
foi publicado em 1522. É o único trabalho de
fôlego, produzido por Lutero em Wartburgo.
Entrementes, as idéias lançadas pelo herege,
no fértil terreno da corrupção da época, principiavam a germinar e produzir os
seus frutos.
Os primeiros resultados, como sói acontecer
em tempos de decadência moral como aquele, tiveram por mira principal a NEGAÇÃO
DA CASTIDADE. Só se passou a pensar em mulheres e em casamentos.
O próprio Lutero ficou horrorizado com a
propaganda casamenteira operada pela sua doutrina e pelo seu exemplo. Eis o que
escreve: “Que coisa mais perigosa pode haver do que excitar esta multidão de
celibatários a contraírem matrimônio, tomando como apoio passagens bíblicas tão
incertas e escassas? As conseqüências estarão mais perturbadas do que agora.
Bem desejava eu tivessem os celibatários toda liberdade; não sei, porém, ainda,
como provar isso” (Corresp. III. 218. Aug. 1521.
Os seus amigos Bartolomeu Feldkirch,
Carlostadt e Melanchton, eram de acordo deverem ser rejeitados e anulados os
votos. Lutero bem o queria: contudo, não teve coragem de tão abertamente contrariar a Bíblia. Muito embora,
está ele pela afirmativa... vai procurá-lo, pois, até descobrir qualquer texto
possível de ser adaptado à sua idéia.
Para ele a liberdade evangélica é o princípio
central de todas as concepções religiosas, de modo que tudo se deve curvar
perante este postulado básico em virtude do qual pôde ele, cinco semanas
depois, escrever a Melanchton estas palavras: “Quem fez votos, com uma intenção
contrária à liberdade, está desimpedido deles. Nesta regra estão incluídos
aqueles todos que fizeram votos com o intento de procurar a salvação ou a
justificação. Ora, a maior parte dos religiosos fez votos com esta intenção.
Logo, é bem claro serem ímpios, sacrílegos e estarem em oposição ao Evangelho;
é preciso, por conseguinte, libertá-los todos e afastar deles a maldição”
(Correspond. IIII, 224. Sept. 1521).
Lutero era monge, fizera votos; ei-lo com o
meio de sacudir o jugo. E tal proceder abria caminho a uma renegação geral dos
votos por todos os monges e religiosos; era a libertinagem ao alcance de todos,
e a licença para que sacerdotes e freiras abraçassem a vida matrimonial, apesar
do texto bíblico que tanto atrapalhou Lutero: “Fazei votos ao Senhor vosso
Deus, e cumpri-os” (Salmo 75,12).
Assim se expressa a Bíblia. Lutero, ao invés
, em virtude da liberdade evangélica, de outro modo interpreta o acima: NÃO
FAÇAIS VOTOS A DEUS, E TENDO-OS FEITO, NÃO OS CUMPRAIS.
Eis a nova reforma, o novo Evangelho de
Lutero: a Liberdade evangélica. Ensinava a moral católica não existir liberdade
para se praticar o mal; o reformador, porém, pretende mudar tudo e legisla que
a liberdade é completa, especialmente para se fazer o que não presta.
Com efeito, da nova descoberta do falso frade
veio um breve à luz uma novo escrito “sobre os
votos religiosos”.
Tal brochura foi bastante apreciada pelos
contemporâneos sinceros:
Gaspar Dietenberger, refutou-a, escreveu:
“Julgar-se-ia quase que tal livro, cheio de idéias de vingança, foi redigido
por um bêbado, ou, antes, por um espírito saído do inferno”.
João Dietenberger, por seu turno, apreciou-a
assim: “É um livro repleto de mentiras, de blasfêmias e de insultos” (Grisar I.
398, nota 4).
O certo é que tal panfleto foi uma semente
nova a sair em terreno propício, vindo exaltar muitos espíritos perturbado-os e
lançando-os na estrada larga da libertinagem.
Deste modo, a castidade, tão aconselhada por
Jesus Cristo, foi abolida pelo pretenso reformador e purificador do
cristianismo.
Que total divergência não se nota entre o
divino modelo da pureza, o divino Salvador, proclamando bem-aventurados os
puros de coração, e o libertino e gastrônomo de Wittemberg, anatematizando a pureza e declarando felizes os devassos de
vida... Que contraste entre ambos!...
No entanto, é de se pasmar, ao ver tanta
gente e, até, nações inteiras abandonarem a crença na Igreja fundada por
Cristo, para darem ouvidos às elucubrações de Lutero.
5. SAÍDA
DE WARTBURGO
Lançara Lutero a semente de revolta que devia
medrar em breve. “Quem semeia vento recolhe tempestades”. E estas estavam se
armando, anunciando-se ameaçadoras.
Os insurrectos contra a Igreja Católica
pediram a intervenção de Frederico de Saxe, protetor de Lutero, a fim de que
desse mão forte à reforma, acabasse com os conventos, entredissesse a Missa e obrigasse o povo a adotar o novo
Evangelho luterano.Era a aplicação do princípio: a força precede ao direito.
O príncipe hesitou e não teve ânimo de
lançar-se em tão perigosa empresa.
Mas o fanatismo é uma verdadeira moléstia de
nervos; não raciocina mais, é uma OBSESSÃO que deseja alcançar o fim, custo o
que custar.
Informado de tudo, não pôde mais Lutero
aguentar a sua solidão de Wartburgo; mais fanático do que os que ele havia
fanatizado, pretendeu vibrar um golpe definitivo.
Secretamente abandonou o seu esconderijo,
dirigindo-se dali para Wittemberg, para de tudo se informar. Achou o terreno
mal preparado e, às ocultas, disfarçado em cavaleiro, regressou ao velho
castelo, onde se deu à composição de uma nova brochura intitulada: “Aviso
Fiel”, dirigida a todos os cristãos, pedindo-lhes impedissem a revolução que se
estava urdindo.
Era tarde demais. O germe da rebeldia, por
ele lançado, estava desabrochando e produziria funestos resultados.
O pedido de paz não produziu efeito. Lutero
seria coagido a reconhecer ser mais fácil pregar a revolta nos pacíficos do que
obter a pacificação dos rebelados.
Wittemberg estava em pé de guerra.
Carlostadt, que tão triste figura
desempenhara em Leipzig, quis substituir Lutero, assumindo também ares de
reformador. Pondo-se, então, a aplicar as teorias do mestre, proclamou
publicamente que o casamento devia ser prescrito a todos os ministros do
Evangelho, enquanto introduzia a Ceia em substituição à missa romana.
No dia de Natal foi a novidade executada pela
primeira vez. Carlostadt celebrou a Ceia na Igreja paroquial com pão e vinho
distribuídos a todos os presentes; em janeiro seguinte o novo chefe evangélico
entrou solenemente no templo, ao lado da mulher escolhida com quem se casou,
conforme a liberdade evangélica.
Os frades de Wittemberg adotaram logo o
regime novo; queimaram os altares e as imagens de santos, introduziram
publicamente a reforma e começaram a casar-se, seguindo o exemplo de
Carlostadt.
Parte da população aplaudiu o acontecido,
enquanto outra quedou-se horrorizada à vista de tanta sem-vergonhice.
Os tumultos aumentaram cada vez mais, a ponto
de inquietarem o governo, que dirigiu rigorosa queixa aos Bispos e a Frederico
de Saxe, dando-lhes ordem de encarcerar e castigar os perturbadores da ordem e
da paz religiosa.
Lutero, que até então observava o movimento,
achou azado o momento para se tornar importante. É que se, por uma parte receava ser
considerado covarde pelo povo, fugindo, depois de atear o fogo ao mundo e
receando as conseqüências do incêndio, por outra, via ameaçada a sua obra
reformadora.
Era, pois, a hora de manifestar-se. Ele logo
viu ser impossível aos bispos e às autoridades conter a revolta, generalizada
como estava.
Era preciso fazer qualquer coisa de urgente.
Era a sua pretensão.
A 1º. De março deixou ele o refúgio de
Wartburgo, dirigindo-se para Borna, cidade ao sul de Leipzig. Foi daí que escreveu a Frederico de
Saxe, implorando-lhe proteção e pondo-se ao seu dispor, na tarefa de
pacificação do povo.
A 6 de março Lutero, disfarçado de Cavaleiro
Jorge, entrou Wittemberg, revestiu-se novamente da batina, cortou a barba e no
domingo seguinte apareceu na igreja dos agostinianos, para do alto do púlpito
começar uma pregação pacificadora.
Custasse o que custasse, desejava deter a
população exaltada e restabelecer a paz. Caso contrário, bem o sabia ele,
estaria perdida a sua causa.
6. FIGIMENTO
HIPÓCRITA
Lutero iria fingir um recuo a fim de agradar
ao príncipe Frederico de Saxe e ao governo que o considerava fautor da
revolução em marcha.
O herege não hesitou... Do mesmo modo por que
sabia blasfemar e caluniar por ódio, também era hábil em mostrar-se hipócrita e
diplomata.
Pronunciou 8 conferências para declarar a
revolução oposta à liberdade evangélica, dizendo-se contristado ao ver o povo
precipitar os acontecimentos em vez de se mostrar paciente e calmo.
“Segui-me”, exclamava então, “eu nunca fui
mal sucedido em minhas empresas; aliás, sou o primeiro a quem Deus confiou a
missão e o encargo de pregar-vos esta doutrina”.
A eloqüência popular e entusiasta de Lutero
triunfou, e Wittemberg lhe ficou fiel; Carlostadt foi coagido a recuar e a
fugir, até que em 1541 a peste pôs fim à sua vida exaltada, na cidade de Bazel.
Sob a direção de Lutero, a igreja de Wittemberg
foi consertada. Decorada como estava antes, e os frades apareceram de novo,
revestidos dos paramentos sacros, para presidir e executar os ofícios, enquanto
ressoavam hinos litúrgicos.
Durante a missa a hóstia foi de novo
levantada e mostrada ao povo. Exteriormente, nada se alterara ao Santo Sacrifício. Tal
organização, porém, não passava de uma dissimulação, arranjada para pacificar
os ânimos e completar a reforma.
Lutero suprimia nas orações da Missa tudo o
que lhe imprimia o caráter de Sacrifício, pois não a admitia como sendo a
continuação incruenta do Sacrifício do Calvário, considerando-a simplesmente
uma lembrança.
Cochleus, seu auxiliar na heresia, e diversos
outros não aceitavam estas cerimônias fictícias, por condenarem uma
demonstração tão fingida.
Respondeu-lhes o reformador que não se devia
retirar o Sacramento da Eucaristia, antes de ter sido bem compreendido o PURO
EVANGELHO (no sentido luterano).
A obrigação imposta pela Igreja católica aos
seus ministros, segundo a qual devem eles pronunciar em voz sumida as palavras
do Cânon, facilitou os atos de novo culto, sem que o povo notasse a diferença
entre as novas e as antigas cerimônias.
Lutero pôde falar com toda razão: “Graças a
Deus, as nossas igrejas, nas coisas neutras, são organizadas de tal maneira,
que um leigo, seja francês ou espanhol,s que não entende a nossa prédica, ao
ver a nossa, o nosso altar, os nossos paramentos, ao ouvir os nossos órgãos e
os nossos sinos, têm de confessar estar assistindo a uma verdadeira missa
papal” (W.Erl. l55.300). O povo ignorante não notou a diferença entre os dois
ritos, nem deu pela reforma, de modo que mais tarde Lutero pôde ufanar de ter
realizado o que era quase impossível no começo: abolir a Missa que havia lançado raízes tão profundas no
coração dos homens.
E em tom de júbilo exclamava: “Que Deus me
deixe morrer de morte natural, e terá iludido os papistas, que não terão podido
queimar vivo aquele que deste modo lhes destruiu a Missa” (Coll. Ed. Bindseil,
122).
Esta subversão total da missa católica, da
qual Lutero suprimiu o sacrifício eucarístico, e conservou apenas simples
orações, sem significação e sem valor, porque desligadas daquele, depois de ter
sido batizada solenemente por Lutero com o nome de “Missa alemã”, foi
introduzida em Wittemberg, no ano de 1523. Somente três anos mais tarde foi a
língua latina substituída pela alemã.
7. CONCLUSÃO
A estadia de Lutero no castelo de Wartburgo é
das páginas da história de sua vida a que melhor nos descobre e transmite os
sentimentos do espírito turbulento, do estado do coração viciando e da vontade
votada ao mal do pobre e infeliz renegado.
Na exaltação do mundo e na embriaguez do
sucesso o homem sensato pode às vezes desviar-se, por falta de reflexão; mas
quando se encontra solitário, na placidez do isolamento, uma pessoa sensata
reflete, compara e dá pelo mal dos erros cometidos.
Com Lutero, entretanto, nada disso aconteceu.
Condenado pela autoridade civil, como
perturbador da ordem pública; excomungado pela Igreja, como herege; humilhado
nas discussões públicas, onde foi convencido de má fé e de ignorância; exilado
da sociedade pelo Governo; recolhido por proteção num castelo solitário,
Lutero, após uma breve hesitação permaneceu o mesmo homem exaltado, rancoroso,
teimoso em suas idéias, fanático em sua revolta.
E, o que é pior, ele juntou aos erros de seu
espírito as paixões vergonhosas e excessos de toda sorte. Foi verdadeiramente
um infeliz, um decaído, um vulgar comunista, como diríamos hoje.
E, após dez meses de tal vida, quando era de
se esperar estivesse arrependido e transformado, ei- lo reaparecendo em
público, não para reparar o mal, mas a fim de encobri-lo um instante por meio
da máscara da hipocrisia, debaixo da qual continua a sua obra nefasta de ódio e
de destruição.
E, então, insulta, vitupera e arrasta até à
lama o nome de Deus, atribuindo tudo à influência, diabólica e, ao mesmo tempo
nutrindo em si e manifestando a convicção de ser mensageiro do céu para
endireitar o mundo.
Tal contraste não pode nascer bem subsistir
num espírito equilibrado, mas somente num anormal e obsesso como ele.
Esta idéia manifestou-a claramente na carta
que escreveu ao seu protetor Frederico de Saxe quando lhe comunicou o seu
projeto de deixar Wartburgo, para retornar a Wittemberg.
“Vossa Alteza talvez não saiba, mas fique
sabendo que eu não recebo o Evangelho da mão dos homens, mas unicamente do céu,
de N. S. Jesus Cristo, e que, por isso, posso intitular-me, como doravante o
farei. Apóstolo e Evangelista” (Correspond. III. 296, 5 de março de 1522).
Não é para causar admiração tenha Lutero
chegado a tal pretensão.
O orgulho, que desde o começo o
caracterizava, e o desequilíbrio da sua mentalidade, diante do sucesso e da
popularidade que lhe haviam conquistado o entusiasmo e eloqüência fogosa, devia
fazer surgir nele a idéia de ser um ENVIADO DE DEUS.
Quando se viu ao mesmo tempo aclamado pela
multidão e combatido pela autoridade de Igreja, restaram-lhe dois caminhos
abertos perante ele: ou retroceder ou revoltar-se; noutros termos: ou
reconhecer os erros, ou atribuir-se uma missão divina.
No último, ele sentia que a demasiada soberba
não lhe permitia humilhar-se, como não acreditava sinceramente em tal missão. A
sugestão do resultado alcançado, dos aplausos recebidos, foi-lhe infiltrando no
orgulhoso espírito a possibilidade da empresa, e, enfim, a probabilidade da
mesma.
Lutero passou a ser um joguete dócil nas mãos
de Satanás, que dele se servia como de um instrumento, para dividir a Igreja de
Cristo e perder as almas, cuja falta de fé as reduzia a frutos apodrecidos da
grande árvore católica – EX FRUCTIBUS EORUM COGNOCETIS EOS (Mateus 7, 80)
CONTINUA
NO CAPÍTULO 7
PE. JÚLIO MARIA: O DIABO, LUTERO E O PROTESTANTISMO – CAP. 5: A CONDENAÇÃO DE LUTERO
LIVRO «O DIABO,
LUTERO E O PROTESTANTISMO»
CAP. 5: A CONDENAÇÃO DE LUTERO
SERVO DE DEUS PE.
JÚLIO MARIA DE LOMBAERDE, S.D.N.
A
CONDENAÇÃO DE LUTERO
Mesmo com todas as suas fanfarronadas e
provocações, o “reformador” senti-se inquieto. Após se rebelar contra a Igreja,
recorreu à ajuda dos grandes do seu tempo.
Em data de 23 de outubro de 1520 escreveu ao
imperador Carlos V, dizendo-se desejoso de comparecer perante ele, COMO UMA
PULGA perante o rei dos reis, soberano universal.
“Contra o meu querer, acentuou ele em sua
carta, apresentei-me publicamente em cena;
se cheguei a escrever algo, foi porque outros a isto me obrigaram pela
força ou pelo embuste; jamais aspirei por outra coisa senão à solidão da minha
cela... Mas há quase três anos estou exposto ao ódio dos outros, entregue a
toda espécie de zombarias e perigos. Em vão imploro me perdoem; em vão prometo
calar-me; em vão ofereço as condições de paz; em vão espero melhores instruções
para mim.; lança-se todos sobre mim, com o fito de destruir o Evangelho
inteiro”.
E, em situação tal, suplicava Lutero à
autoridade civil “o defendesse, não a ele, desamparado e prostrado por terra,
mas ao tesouro da verdade”...
Eis o pai dos protestantes, o “sublime
Lutero” implorando, submisso e cheio de bajulação, a proteção dos potentados da
terra. Em suas expressões sente-se a hipocrisia do herege, a
obsessão do doente, e, sobretudo, o remorso duma consciência que não cala.
Em cartas subsequentes, segundo as
circunstâncias, chegou ele a atacar o poder, abandonando a sua situação de
POBRE PULGA, para se transformar num TIGRE FURIOSO, pretendendo assaltar a
Igreja e a sociedade, e tudo destruir e esmagar. Percorramos a vida de Lutero,
nesta nova fase.
1. O DESESPERADO
Sobre a sua cabeça em ebulição Lutero sentiu
pesar a excomunhão da Igreja.
Como já ficou dito atrás, pressentiu ele,
antes de tudo, ser-lhe urgente destruir na opinião pública o receio provocado
por aquele castigo oficial e supremo da autoridade.
Para lograr o seu intento, começou, então, a
pregar abertamente contra a mencionada pena, apresentando-a, não como temível,
mas propalando-a desejável.
“Tal castigo”, exclamou ele, “não separa da
comunhão dos cristãos; antes, é de grande mérito perante Deus que abençoa
duplamente ao que vem a falecer nesta injusta maldição”.
No entanto, malgrado bravatas deste porte,
Lutero padecia de terrível inquietação.
As universidade de Lovaina e Colônia se
declararam contra ele, enquanto o processo correia. O Dr. Eck reunira os
documentos da discussão de Leipzig, com outras provas de heresias, e levara
tudo a Roma.
Exasperado, Lutero escreveu então um panfleto
incendiário, dirigido à nobreza alemã, tratando dos melhoramentos do estado
cristão.
Em termos furiosos ele expôs como, a seu ver,
o papado pecou contra a nação germânica e contra a Igreja. Em 25 capítulos
abordou ele o assunto dos abusos eclesiásticos, já por outros apontados com
mais calma e ponderação (*).
Afinal, “era um simples plágio”.
Ao finalizá-lo, fervendo em ódio e sedento de
vinganças, levantou os olhos ao céu, e exclamou: “Ó Cristo, meu Senhor, olhai
para a terra, fazei raiar o último dia e destruí o ninho diabólico de Roma”.
Estava lançada a declaração de guerra, com
que pretendia lrevoltar o povo alemão em peso contra a Igreja de Cristo.
-------------
(*) - Gravamina: Onus Ecclesiae; Perstinger:
De planctu Ecclesiae; De ruína Ecclesiae, etc...
2. NOVAS DOUTRINAS HERÉTICAS
Logo se pôs Lutero a fabricar um tratado
DOUTRINAL da sua “reforma”, justificando que, assim como outrora haviam os
judeus sido libertados da escravidão por Moisés, iria ele, então, livrar os
povos cristãos da servidão babilônica.
O novo libelo foi intitulado: “Da escravidão
babilônica”; nesta exposição Lutero liquidou completamente com o Papa, com a
hierarquia e com a Igreja visível. Lutero reduziu a três os sacramentos:
batismo, confissão e ceia, considerando os dois últimos como uma coisa
grotesca, sem caráter obrigatório.
Falando sobre a Eucaristia, ensinava que na
Sagrada Hóstia não permaneciam apenas as aparências, mas até a própria
substância do pão, de sorte que não há propriamente a TRANSUBSTANCIAÇÃO ou
mudança da substância de pão na do corpo de Jesus Cristo, como o ensina a
Igreja, mas se dá uma espécie de “empanação” em virtude da qual a substância do
corpo de Nosso Senhor está presente na hóstia consagrada, conjuntamente com a
substância do pão, o que se poderia chamar: consubstanciação ou duas
substâncias sob uma só aparência.
Conforme a nova doutrina, a Santa Missa não é
mais um sacrifício; o direito de impor mandamentos ou fazer votos opõe-se à
liberdade eclesiástica; o celibato deve desaparecer e a Igreja, com suas
prescrições a respeito do matrimônio torna-se culpada de adultério.
O conteúdo deste novo Evangelho pode
resumir-se nestas palavras do reformador: “Nem o Papa, nem o Bispo, nem homem
algum tem direito de impor a um cristão uma vírgula sequer, sem que este o consinta”
Como é patente, tal modo de falar traz
completa destruição de toda autoridade, a anarquia no governo e a rebelião no
povo.
Lutero não raciocina mais. É um mísero
possesso ou, melhor, um desequilibrado.
3. A BULA DE CONDENAÇÃO
Era tempo de agir, p0ois não havia mais
esperança de pacificação. Lutero queria a guerra.
Em fins de abril de 1520 uma Comissão de
Cardeais e teólogo, presidida pelo Papa Leão X, redigiu a Bula de condenação,
publicada em 15 de junho do mesmo ano. É a Bula: EXURGE, DOMINE, composta de
três partes; a primeira tratando dos ERROS; a segunda dos ESCRITOS e a
terceira, da PESSOA do excomungado.
Em 41 asserções foram compreendidos os erros
do herege, acerca da justificação e da autoridade da Igreja.
Sobre os escritos heréticos ficou declarado
deverem ser queimados em toda a parte onde houvessem sido difundidos.
Quanto à pessoa de Lutero, a Santa Sé não
promulgava ainda castigo algum, desejando deixar-lhe tempo e oportunidade de
reconhecer os erros e poder retratá-los.
O aviso do Pontífice é paternal e
conciliador; é sem razão que os protestantes reclamam contra a aspereza do tom
desta Bula.
Eis o que disse Leão X neste documento:
“Tomando como exemplo a vontade de Deus que não quer a morte do pecador, mas
que se converta e viva, nós queremos esquecer todos os insultos lançados contra
nós e contra a Sé Apostólica.
Estamos resolvidos a exercer a maior
indulgência possível, e, enquanto depende de nós, levaremos a coisa de maneira tal que o
culpado se levante, se converta de coração e retrate os erros indicados e que,
voltando ao seio da Igreja, tal o pródigo do Evangelho, possamos recebê-lo com
alegria.
Avisamos, pois, ao culpado e aos seus
partidários de todo o coração, pelo amor e misericórdia de Nosso Senhor Deus e
pelo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem foi resgatada a humanidade e
confirmada a Igreja, e os conjuramos a desistirem de perturbar a paz, a unidade
e a verdade da Igreja, pelos erros perversos que vão espalhando.
“Mostrando-se obedientes, eles encontrarão em
nós copioso amor paternal, e braços abertos pela generosidade e a mansidão”.
Que distância não vai entre esta linguagem
paternal, calma e ponderada do Chefe da Igreja, e os brados rancorosos,
odientos e sanguinários do monge rebelde!
Algumas expressões extraídas da Sagrada
Escritura e ainda outras em uso naquele tempo não apenas fórmulas comuns de
casos semelhantes, sem serem a expressão dos sentimentos do Papa.
A promulgação desta Bula foi confiada ao Dr.
Eck, o conhecido adversário resoluto das inovações de Lutero. Tal escolha
agradou aos católicos, mas irritou aos partidários do erro que viram nisto uma
espécie de provocação.
O Dr. Eck encontrou sérias dificuldade para
promulgá-la, devido ao estado de irritação entre o povo de seu país.
Várias universidades, como as de Leipzig,
Wittemberg, Erfurt e Viena, promulgaram a Bula após longo demora. Vários
bispos, receosos de oposição, não a publicaram logo.
Tal demora e este medo nos mostram que bom
número de católicos e mesmo autoridades não
compreendiam ainda o perigo representado
pelos novos ensinos e pelas revoltas do frade
apóstata.
Julgando pacificar os ânimos pela paciência,
deixaram o erro penetrar no espírito do povo que, sem dar ouvidos a vozes
contrárias, abraçou o erro como se fosse a verdade, tornando-se, deste modo,
protestante sem o perceber.
4. OS INSULTOS DE LUTERO
Não foi possível Lutero esperar proteção do
imperador Carlos V, que era religioso demais para dar passaporte a um inimigo
da Igreja, porém podia contar com o príncipe Frederico de Saxe para protegê-lo,
caso o atingisse a excomunhão.
Primeiramente fingiu não acreditar na Bula e
divulgou o boato de ser ela arranjo e obra do Dr. Eck; em conseqüência,
pretendera insultar o Papa na pessoa de Eck, em fez de fazê-lo diretamente.
“São Bulas e mentiras de Eck”, falava ele.
Era-lhe, porém inútil sustentar por longo
tempo este fingimento, e, não podendo mais conter o seu ódio, externa-o em novo
escrito: “Contra a Bula do Anticristo”(*) publicado em novembro de 1520.
Neste novo pasquim diz o herege que a sua
doutrina é a única verdadeira e, por isso, esta Bula pretende obrigá-lo a
renegar a Deus e adorar o demônio.
“O Papa e os Cardeais, diz ele, devem provar
as suas afirmações, senão serei coagido a
considerar a Santa Sé como a sede do Anticristo, condenando-a e
entregando-a a Satanás, com esta Bula e todas as suas decretais”.
O pseudo-reformador parece antes um possesso
do que um homem equilibrado.
Dirigindo-se ao Imperador, ele exclama: “Onde
estás, grande imperador, onde estais vós, reis cristãos? Vós vos consagrastes
pelo Batismo e podeis suportar estas vozes infernais do Anticristo?”
Quanto à bula, escreve ele: “Todos os
verdadeiros cristãos devem pisá-la aos pés e expulsar, pelo enxofre e o fogo, o
Anticristo romano e o Dr. Eck. O seu apóstolo”
Neste mesmo ano reeditou outro pasquim:
“Sobre a liberdade no cristianismo”, do qual enviou um exemplar ao Santo Padre
Leão X, acompanhado de uma carta, na qual se lêem os seguintes insultos, mais
dignos de um desequilibrado que de um reformador:
“A Igreja Romana é uma horrenda Sodoma e
Babilônia; um covil de assassinos acima de todos os covis; uma casa de bandidos
acima de todos os bandidos; um centro e uma terra de pecado e morte e de perdição, ao ponto de ser
impossível pensar que pode subir em maldade, nem com a vinda do próprio Anticristo.
ENTRETANTO, VÓS, Ó SANTO PADRE, ESTAIS ALI, COMO UM CORDEIRO NO MEIO DOS LOBOS”
O pobre herege procura encobrir a voz do
Papa, por sua cólera, suas invectivas e seus insultos, aparecendo como um
bêbado, gritando, gesticulando, sem saber de que lado virar, para encontrar um
pouco de paz e de tranqüilidade. O demônio parecia ter entrado em seu corpo e
em sua alma.
-----------------
(*) - Esta palavra torna-se uma obsessão para
Lutero, que com ela visa menos a pessoa de Leão X do que o poder papal em geral
e toda a hierarquia.
5. A EXCOMUNHÃO DE LUTERO
Desejoso de manter-se na opinião pública e
diminuir os efeitos do ato pontifício. Acém de lançar mão de escritos e
palavras, resolveu Lutero recorrer a uma representação teatral.
Convidou a universidade de Wittemberg a um
piedoso e edificante espetáculo em praça pública.
Na hora marcada, tendo feito acender uma
fogueira, apareceu Lutero, vestido de monge agostiniano; tendo consigo a Bula
de excomunhão, estendeu-a sobre o fogueira, exclamando em alta voz: “Porque
atacaste a verdade do Senhor, eis que ele agora te ataca pelo fogo”.
Com a mão levantada fez um movimento circular
e a Bula caiu no meio do fogo, sendo consumida pelas chamas.
“O piedoso e edificante espetáculo” estava
terminado.
A mocidade luterana, fanatizada pelo seu
professor herético, imitou-lhe o exemplo, e eis que desapareceu no braseiro
crepitante tudo o que puderam encontra na igreja: livros de Direito,
Constituições eclesiásticas, teologias, livros de orações, etc.
Esta cerimônia solene, dirá mais tarde o
excomungado, foi feita por inspiração do Espírito Santo (Pastor IV. P. 384).
No dia seguinte, quando os estudantes lhe
exaltaram a ação heróica, Lutero manifestou-se penalizado por não poder lançar
no mesmo fogo o trono do Papa e ajuntou esta bela frase: “Quem não combate o
papado, de todo o coração, não pode alcançar a salvação eterna”. (Ibid. p.
284).
Lutero estava condenado pela Santa Sé.
Noutros tempos a sentença de Roma teria sido imediatamente acolhida pelo
império, porém, nestes em que a revolta era como um fogo abafado, prestes a
invadir o império germânico, era preciso calma e tempo.
O prazo passou, pois, e os 60 dias marcados
para a retratação, ou para entrar em vigor a excomunhão, chegaram ao termo.
Em 3 de janeiro de 521, o Papa Leão X lançou
uma nova Bula “Docet Romanum Pontificem” contra Lutero, declarando-o publicamente
excomungado.
Ao mesmo tempo o Soberano Pontífice, em 18 de
janeiro, dirigiu um Breve ao Imperador, pedindo fosse publicada em toda a
Alemanha a Bula de excomunhão, para a revolta ser conhecida pelo povo, e para
este último ficar prevenido contra os erros ensinados.
Lutero procurou proteção junto do seu
benfeitor, príncipe Frederico de Saxe que intercedeu em seu favor perante o
Imperador, pedindo para ser ouvido pela autoridade civil, antes da execução da
sentença do Papa.
O imperador, mau grado seu, foi impelido
pelos príncipes a atender ao pedido, ordenando o comparecimento de Lutero
diante do Conselho geral de Worms.
6. PERANTE O CONSELHO DE WORMS
Fato curioso, que se poderia qualificar como
o da obsessão do apóstatas, é o pensamento de Satanás, a persegui-lo, e a quem
atribui todos os seus reveses: ele vê demônios em toda parte: - um ruído nas
galerias da igreja de Erfurt, durante o seu sermão; a quês de umas pedras, em
Gotha, durante a sua palestra; um incômodo, que o impediu de continuar viagem,
tudo isso ele considerou produzido pela ação dos poderes infernais.
Escrevendo a seu amigo Spalatino, antes de ir
as Worms, Lutero disse: “Iremos a Worms e os poderes do inferno e do ar não
poderão impedir esta viagem”.
Ei-lo, pois, a caminho de Worms.
Dizem os historiadores que tal trajeto foi um
triunfo. Os partidários o acompanharam e, por onde passava, todos queriam ver o
homem extraordinário e alvo de tantas contradições.
Em 16 de abril de 1521 chegou à cidade, onde
já se achavam reunidas as autoridades eclesiásticas com os príncipes e o
Imperador.
Os ânimos estavam exaltados, e receava-se até
um levante popular, fomentado pelos amigos de Lutero.
No dia seguinte, 17, o herege foi citado
perante o conselho (Ryksdag) , para ser ouvido.
Esperava-se uma exposição brilhante da parte
de Lutero, pois havia declarado publicamente estar resolvido a “amedrontar e
esmagar o próprio Satanás”, porém aconteceu o contrário.
Às duas perguntas que lhe forma dirigidas ele
respondeu com voz tão sumida, tanto que só foi ouvido por aqueles que estavam
mais próximos, como estivesse com medo ou indisposto.
Perguntaram-lhe se era de fato o autor dos
escritos aí expostos. Lutero respondeu afirmativamente.
Convidaram-no depois a condenar os erros
neles contidos.
A este convite respondeu Lutero, pedindo
reflexão e tempo, porque, disse, assim de repente, não podia dar uma solução.
Concederam-lhe vinte e quatro horas para
pensar.
No dia seguinte Lutero compareceu em seu
estado natural de insolência e orgulho; procurou defender os seus erros, atacou
a autoridade da Ighreja e declarou em nada poder voltar atrás.
Os seus amigos o haviam animado e excitado
neste intervalo, instigando-o a sustentar suas opiniões.
Vendo a teimosia e o fanatismo cego do monge,
o Imperador deu ordem a Lutero que se retratasse no dia seguinte dando-lhe
salvo-conduto e garantia durante 20 dias, sob condição de não pregar nem
espalhar os seus escritos.
À noite deste mesmo dia reuniram-se os
protetores de Lutero: Frederico de Saxe, Spalatino e outros, e resolveram
esconder o revoltoso para subtraí-lo a qualquer eventualidade do poder
civil ou a qualquer perseguição dos seus
adversários.
O mensageiro imperial, Gaspar Sturm, devia
acompanhar Lutero, levando uma pequena tropa de soldados.
Querendo o reformador fazer a viagem, com uns
amigos, despediu o mensageiro, conservando apenas uns guardas desarmados; a
razão desta despedida era a seguinte: tudo estava cuidadosamente preparado para
uma fingida cilada, que devia salvar Lutero, excitar a animosidade dos seus
adeptos e envergonhar os seus inimigos.
Passando, à noite, pelas florestas de
Turíngia, perto de Altestein, em 44 de maio de 1521, Lutero foi subitamente assaltado por uns cavaleiros,
retirado do carro e conduzido a cavalo para o Castelo de Wartburg, perto de
Eisenach.
No dia seguinte espalhou-se logo o boato de
que o passaporte do Imperador havia sido violado e que Lutero estava preso,
tendo sido horrivelmente maltratado; propalavam alguns ter visto o seu cadáver,
jogado na cavidade de um rochedo.
As más línguas seguiram naturalmente as más
cabeças, e mil legendas impressionantes corriam no meio da populaça exaltada.
Neste tempo o apóstata excomungado estava
sossegado ao abrigo de qualquer violência e levando vidas principesca,
escondido no velho castelo de Wartburg, sob o pseudônimo de “Cavalheiro Jorge”.
7. DECISÕES
DE WORMS
Enquanto isto ocorria, estava em andamento a
sessão do Conselho de Estado, em Worms.
A teimosia de Lutero, em não se querer
convencer dos seus erros, deu ao imperador pleno direito de lançar um edito
contra o herege, em defesa de doutrina católica.
Este ato foi redigido, assinado pela
autoridade civil e confiado ao representante do Papa, para ser levado a Roma.
O protetor de Lutero, Frederico de Saxe,
vendo frustrados os seus esforços, para não assistir à condenação de seu
pupilo, retirou-se das reunião e escreveu a uma amigo: “Não somente Anás e
Caifás são contra Lutero, mas também Pilatos e Herodes, isto é, a autoridade
religiosa a civil (Janssen-Pastor: II. 184).
Este edito de Worms não produziu o efeito que
os homens sinceros dele esperavam.
Muitos acharam o texto um tanto áspero,
incisivo, de modo que causou entre os católicos uma certa inquietação, e entre
os sectários de Lutero um ódio maior contra a autoridade.
Nele se proclamava a excomunhão de Lutero,
ordenando-se fosse ele considerado herege, não podendo mais ser acolhido,
favorecido ou protegido por ninguém. Qualquer um estava obrigado a prendê-lo e
entregá-lo ao Imperador. Seus livros deviam ser destruídos e punidos de
excomunhão.
Ficou encarregado o Conselho municipal de
Neuremberg de providenciar a execução da sentença. São notáveis as acusações
contra Lutero, expostas neste documento:
“Pelos seus escritos”, diz o edito, “Lutero
espalha práticas corruptoras: muda o número dos Sacramentos, altera a lei da
indissolubilidade do matrimônio, insulta o Papa com palavras grosseiras e
blasfematórias, despreza o Sacerdócio e procura excitar os leitos a lavarem as
mãos no sangue dos Sacerdotes. Ensina a falta de liberdade da vontade humana e
exorta a uma vida sem freio e sem autoridade. Chegou ao ponto de não recuar
diante das barreiras mais sagradas, fazendo queimar, em público, livros
canônicos. Despreza os Concílios e apelida o Concílio de Constança: uma
sinagoga de demônios e os seus participantes: anticristos e assassinos. É um
inimigo em trajes de monge, acumulando antigas e novas heresias; pretende
pregar o Evangelho e destrói a fé
sincera, sob o pretexto de restabelecer o verdadeiro Evangelho” (Janssen. P. II. 299).
Como se vê, o Conselho imperial estava bem
informado dos manejos de Lutero, e este documento resume, em poucas palavras,
as principais heresias do pretenso reformador.
Se o Edito houvesse sido bem executado,
talvez o mundo não teria assistido às tristes e horrendas cenas que seguiram à
protestantização da Alemanha.
Infelizmente as ordens imperiais não
produziram o efeito desejado.
A fraqueza e a desunião do próprio governo, o
dinheiro, o medo, o comodismo e a simpatia pela reforma de vários chefes,
atrasaram e em muitos lugares inutilizaram as medidas ordenadas.
8. CONCLUSÃO
Tal era a situação do reformador, antes e
após ser condenado.
Pode-se ajuizar que o pobre herege é um
anormal de uma teimosia e orgulho sem iguais.
Nada era capaz de fazê-lo raciocinar. Vivia
obcecado pela idéia fixa do ódio à Roma, que pretendia exterminar e pela idéia
da Bíblia só, para cada um poder fabricar-se uma religião individual,
independente de Deus e dos seus representantes na terra.
Nota-se em todos os passos do heresiarca uma
pronunciada má fé e o desejo de ser aplaudido
pela multidão.
Juntando-se a estas disposições pessoais de
Lutero a decadência da época, as hesitações da fé e a exaltação dos espíritos
em procura de mudanças, compreende-se o futuro que esperava o reformador, o
qual, de fato, coroou os seus esforços.
Os grandes homens, os reformadores ou os
deformadores, não brilham tanto pelo valor pessoa, quanto pelo desvalor dos que
os cercam.
É o que o provérbio pessoal expressa muito
bem: no reino dos cegos quem tem um olho é rei.
Assim, numa época de decadência, quando há
falta de vigor, de energias, de entusiasmo, ao aparecer um indivíduo mais
decidido e valoroso que os demais torna-se imediatamente o centro de uma nova
constelação, em redor da qual gravitam os olhares e as simpatias.
Assim aconteceu com Lutero, um pobre
orgulhoso que, sentindo a sua inferioridade em tudo, quis aproveitar a
decadência que o cercava, para se elevar. Não encontrando em si um meio de
efetuar este seu desejo, utilizou-se da insurreição, da palavra e da penas
revolucionária, para se manifestar em pública e ganhar celebridade.
Tal é o super-homem protestante que temos
pela frente. Simplesmente um super-revolucionário.
CONTINUA
NO CAPÍTULO 6
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