LIVRO «O DIABO,
LUTERO E O PROTESTANTISMO»
CAP. 5: A CONDENAÇÃO DE LUTERO
SERVO DE DEUS PE.
JÚLIO MARIA DE LOMBAERDE, S.D.N.
A
CONDENAÇÃO DE LUTERO
Mesmo com todas as suas fanfarronadas e
provocações, o “reformador” senti-se inquieto. Após se rebelar contra a Igreja,
recorreu à ajuda dos grandes do seu tempo.
Em data de 23 de outubro de 1520 escreveu ao
imperador Carlos V, dizendo-se desejoso de comparecer perante ele, COMO UMA
PULGA perante o rei dos reis, soberano universal.
“Contra o meu querer, acentuou ele em sua
carta, apresentei-me publicamente em cena;
se cheguei a escrever algo, foi porque outros a isto me obrigaram pela
força ou pelo embuste; jamais aspirei por outra coisa senão à solidão da minha
cela... Mas há quase três anos estou exposto ao ódio dos outros, entregue a
toda espécie de zombarias e perigos. Em vão imploro me perdoem; em vão prometo
calar-me; em vão ofereço as condições de paz; em vão espero melhores instruções
para mim.; lança-se todos sobre mim, com o fito de destruir o Evangelho
inteiro”.
E, em situação tal, suplicava Lutero à
autoridade civil “o defendesse, não a ele, desamparado e prostrado por terra,
mas ao tesouro da verdade”...
Eis o pai dos protestantes, o “sublime
Lutero” implorando, submisso e cheio de bajulação, a proteção dos potentados da
terra. Em suas expressões sente-se a hipocrisia do herege, a
obsessão do doente, e, sobretudo, o remorso duma consciência que não cala.
Em cartas subsequentes, segundo as
circunstâncias, chegou ele a atacar o poder, abandonando a sua situação de
POBRE PULGA, para se transformar num TIGRE FURIOSO, pretendendo assaltar a
Igreja e a sociedade, e tudo destruir e esmagar. Percorramos a vida de Lutero,
nesta nova fase.
1. O DESESPERADO
Sobre a sua cabeça em ebulição Lutero sentiu
pesar a excomunhão da Igreja.
Como já ficou dito atrás, pressentiu ele,
antes de tudo, ser-lhe urgente destruir na opinião pública o receio provocado
por aquele castigo oficial e supremo da autoridade.
Para lograr o seu intento, começou, então, a
pregar abertamente contra a mencionada pena, apresentando-a, não como temível,
mas propalando-a desejável.
“Tal castigo”, exclamou ele, “não separa da
comunhão dos cristãos; antes, é de grande mérito perante Deus que abençoa
duplamente ao que vem a falecer nesta injusta maldição”.
No entanto, malgrado bravatas deste porte,
Lutero padecia de terrível inquietação.
As universidade de Lovaina e Colônia se
declararam contra ele, enquanto o processo correia. O Dr. Eck reunira os
documentos da discussão de Leipzig, com outras provas de heresias, e levara
tudo a Roma.
Exasperado, Lutero escreveu então um panfleto
incendiário, dirigido à nobreza alemã, tratando dos melhoramentos do estado
cristão.
Em termos furiosos ele expôs como, a seu ver,
o papado pecou contra a nação germânica e contra a Igreja. Em 25 capítulos
abordou ele o assunto dos abusos eclesiásticos, já por outros apontados com
mais calma e ponderação (*).
Afinal, “era um simples plágio”.
Ao finalizá-lo, fervendo em ódio e sedento de
vinganças, levantou os olhos ao céu, e exclamou: “Ó Cristo, meu Senhor, olhai
para a terra, fazei raiar o último dia e destruí o ninho diabólico de Roma”.
Estava lançada a declaração de guerra, com
que pretendia lrevoltar o povo alemão em peso contra a Igreja de Cristo.
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(*) - Gravamina: Onus Ecclesiae; Perstinger:
De planctu Ecclesiae; De ruína Ecclesiae, etc...
2. NOVAS DOUTRINAS HERÉTICAS
Logo se pôs Lutero a fabricar um tratado
DOUTRINAL da sua “reforma”, justificando que, assim como outrora haviam os
judeus sido libertados da escravidão por Moisés, iria ele, então, livrar os
povos cristãos da servidão babilônica.
O novo libelo foi intitulado: “Da escravidão
babilônica”; nesta exposição Lutero liquidou completamente com o Papa, com a
hierarquia e com a Igreja visível. Lutero reduziu a três os sacramentos:
batismo, confissão e ceia, considerando os dois últimos como uma coisa
grotesca, sem caráter obrigatório.
Falando sobre a Eucaristia, ensinava que na
Sagrada Hóstia não permaneciam apenas as aparências, mas até a própria
substância do pão, de sorte que não há propriamente a TRANSUBSTANCIAÇÃO ou
mudança da substância de pão na do corpo de Jesus Cristo, como o ensina a
Igreja, mas se dá uma espécie de “empanação” em virtude da qual a substância do
corpo de Nosso Senhor está presente na hóstia consagrada, conjuntamente com a
substância do pão, o que se poderia chamar: consubstanciação ou duas
substâncias sob uma só aparência.
Conforme a nova doutrina, a Santa Missa não é
mais um sacrifício; o direito de impor mandamentos ou fazer votos opõe-se à
liberdade eclesiástica; o celibato deve desaparecer e a Igreja, com suas
prescrições a respeito do matrimônio torna-se culpada de adultério.
O conteúdo deste novo Evangelho pode
resumir-se nestas palavras do reformador: “Nem o Papa, nem o Bispo, nem homem
algum tem direito de impor a um cristão uma vírgula sequer, sem que este o consinta”
Como é patente, tal modo de falar traz
completa destruição de toda autoridade, a anarquia no governo e a rebelião no
povo.
Lutero não raciocina mais. É um mísero
possesso ou, melhor, um desequilibrado.
3. A BULA DE CONDENAÇÃO
Era tempo de agir, p0ois não havia mais
esperança de pacificação. Lutero queria a guerra.
Em fins de abril de 1520 uma Comissão de
Cardeais e teólogo, presidida pelo Papa Leão X, redigiu a Bula de condenação,
publicada em 15 de junho do mesmo ano. É a Bula: EXURGE, DOMINE, composta de
três partes; a primeira tratando dos ERROS; a segunda dos ESCRITOS e a
terceira, da PESSOA do excomungado.
Em 41 asserções foram compreendidos os erros
do herege, acerca da justificação e da autoridade da Igreja.
Sobre os escritos heréticos ficou declarado
deverem ser queimados em toda a parte onde houvessem sido difundidos.
Quanto à pessoa de Lutero, a Santa Sé não
promulgava ainda castigo algum, desejando deixar-lhe tempo e oportunidade de
reconhecer os erros e poder retratá-los.
O aviso do Pontífice é paternal e
conciliador; é sem razão que os protestantes reclamam contra a aspereza do tom
desta Bula.
Eis o que disse Leão X neste documento:
“Tomando como exemplo a vontade de Deus que não quer a morte do pecador, mas
que se converta e viva, nós queremos esquecer todos os insultos lançados contra
nós e contra a Sé Apostólica.
Estamos resolvidos a exercer a maior
indulgência possível, e, enquanto depende de nós, levaremos a coisa de maneira tal que o
culpado se levante, se converta de coração e retrate os erros indicados e que,
voltando ao seio da Igreja, tal o pródigo do Evangelho, possamos recebê-lo com
alegria.
Avisamos, pois, ao culpado e aos seus
partidários de todo o coração, pelo amor e misericórdia de Nosso Senhor Deus e
pelo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem foi resgatada a humanidade e
confirmada a Igreja, e os conjuramos a desistirem de perturbar a paz, a unidade
e a verdade da Igreja, pelos erros perversos que vão espalhando.
“Mostrando-se obedientes, eles encontrarão em
nós copioso amor paternal, e braços abertos pela generosidade e a mansidão”.
Que distância não vai entre esta linguagem
paternal, calma e ponderada do Chefe da Igreja, e os brados rancorosos,
odientos e sanguinários do monge rebelde!
Algumas expressões extraídas da Sagrada
Escritura e ainda outras em uso naquele tempo não apenas fórmulas comuns de
casos semelhantes, sem serem a expressão dos sentimentos do Papa.
A promulgação desta Bula foi confiada ao Dr.
Eck, o conhecido adversário resoluto das inovações de Lutero. Tal escolha
agradou aos católicos, mas irritou aos partidários do erro que viram nisto uma
espécie de provocação.
O Dr. Eck encontrou sérias dificuldade para
promulgá-la, devido ao estado de irritação entre o povo de seu país.
Várias universidades, como as de Leipzig,
Wittemberg, Erfurt e Viena, promulgaram a Bula após longo demora. Vários
bispos, receosos de oposição, não a publicaram logo.
Tal demora e este medo nos mostram que bom
número de católicos e mesmo autoridades não
compreendiam ainda o perigo representado
pelos novos ensinos e pelas revoltas do frade
apóstata.
Julgando pacificar os ânimos pela paciência,
deixaram o erro penetrar no espírito do povo que, sem dar ouvidos a vozes
contrárias, abraçou o erro como se fosse a verdade, tornando-se, deste modo,
protestante sem o perceber.
4. OS INSULTOS DE LUTERO
Não foi possível Lutero esperar proteção do
imperador Carlos V, que era religioso demais para dar passaporte a um inimigo
da Igreja, porém podia contar com o príncipe Frederico de Saxe para protegê-lo,
caso o atingisse a excomunhão.
Primeiramente fingiu não acreditar na Bula e
divulgou o boato de ser ela arranjo e obra do Dr. Eck; em conseqüência,
pretendera insultar o Papa na pessoa de Eck, em fez de fazê-lo diretamente.
“São Bulas e mentiras de Eck”, falava ele.
Era-lhe, porém inútil sustentar por longo
tempo este fingimento, e, não podendo mais conter o seu ódio, externa-o em novo
escrito: “Contra a Bula do Anticristo”(*) publicado em novembro de 1520.
Neste novo pasquim diz o herege que a sua
doutrina é a única verdadeira e, por isso, esta Bula pretende obrigá-lo a
renegar a Deus e adorar o demônio.
“O Papa e os Cardeais, diz ele, devem provar
as suas afirmações, senão serei coagido a
considerar a Santa Sé como a sede do Anticristo, condenando-a e
entregando-a a Satanás, com esta Bula e todas as suas decretais”.
O pseudo-reformador parece antes um possesso
do que um homem equilibrado.
Dirigindo-se ao Imperador, ele exclama: “Onde
estás, grande imperador, onde estais vós, reis cristãos? Vós vos consagrastes
pelo Batismo e podeis suportar estas vozes infernais do Anticristo?”
Quanto à bula, escreve ele: “Todos os
verdadeiros cristãos devem pisá-la aos pés e expulsar, pelo enxofre e o fogo, o
Anticristo romano e o Dr. Eck. O seu apóstolo”
Neste mesmo ano reeditou outro pasquim:
“Sobre a liberdade no cristianismo”, do qual enviou um exemplar ao Santo Padre
Leão X, acompanhado de uma carta, na qual se lêem os seguintes insultos, mais
dignos de um desequilibrado que de um reformador:
“A Igreja Romana é uma horrenda Sodoma e
Babilônia; um covil de assassinos acima de todos os covis; uma casa de bandidos
acima de todos os bandidos; um centro e uma terra de pecado e morte e de perdição, ao ponto de ser
impossível pensar que pode subir em maldade, nem com a vinda do próprio Anticristo.
ENTRETANTO, VÓS, Ó SANTO PADRE, ESTAIS ALI, COMO UM CORDEIRO NO MEIO DOS LOBOS”
O pobre herege procura encobrir a voz do
Papa, por sua cólera, suas invectivas e seus insultos, aparecendo como um
bêbado, gritando, gesticulando, sem saber de que lado virar, para encontrar um
pouco de paz e de tranqüilidade. O demônio parecia ter entrado em seu corpo e
em sua alma.
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(*) - Esta palavra torna-se uma obsessão para
Lutero, que com ela visa menos a pessoa de Leão X do que o poder papal em geral
e toda a hierarquia.
5. A EXCOMUNHÃO DE LUTERO
Desejoso de manter-se na opinião pública e
diminuir os efeitos do ato pontifício. Acém de lançar mão de escritos e
palavras, resolveu Lutero recorrer a uma representação teatral.
Convidou a universidade de Wittemberg a um
piedoso e edificante espetáculo em praça pública.
Na hora marcada, tendo feito acender uma
fogueira, apareceu Lutero, vestido de monge agostiniano; tendo consigo a Bula
de excomunhão, estendeu-a sobre o fogueira, exclamando em alta voz: “Porque
atacaste a verdade do Senhor, eis que ele agora te ataca pelo fogo”.
Com a mão levantada fez um movimento circular
e a Bula caiu no meio do fogo, sendo consumida pelas chamas.
“O piedoso e edificante espetáculo” estava
terminado.
A mocidade luterana, fanatizada pelo seu
professor herético, imitou-lhe o exemplo, e eis que desapareceu no braseiro
crepitante tudo o que puderam encontra na igreja: livros de Direito,
Constituições eclesiásticas, teologias, livros de orações, etc.
Esta cerimônia solene, dirá mais tarde o
excomungado, foi feita por inspiração do Espírito Santo (Pastor IV. P. 384).
No dia seguinte, quando os estudantes lhe
exaltaram a ação heróica, Lutero manifestou-se penalizado por não poder lançar
no mesmo fogo o trono do Papa e ajuntou esta bela frase: “Quem não combate o
papado, de todo o coração, não pode alcançar a salvação eterna”. (Ibid. p.
284).
Lutero estava condenado pela Santa Sé.
Noutros tempos a sentença de Roma teria sido imediatamente acolhida pelo
império, porém, nestes em que a revolta era como um fogo abafado, prestes a
invadir o império germânico, era preciso calma e tempo.
O prazo passou, pois, e os 60 dias marcados
para a retratação, ou para entrar em vigor a excomunhão, chegaram ao termo.
Em 3 de janeiro de 521, o Papa Leão X lançou
uma nova Bula “Docet Romanum Pontificem” contra Lutero, declarando-o publicamente
excomungado.
Ao mesmo tempo o Soberano Pontífice, em 18 de
janeiro, dirigiu um Breve ao Imperador, pedindo fosse publicada em toda a
Alemanha a Bula de excomunhão, para a revolta ser conhecida pelo povo, e para
este último ficar prevenido contra os erros ensinados.
Lutero procurou proteção junto do seu
benfeitor, príncipe Frederico de Saxe que intercedeu em seu favor perante o
Imperador, pedindo para ser ouvido pela autoridade civil, antes da execução da
sentença do Papa.
O imperador, mau grado seu, foi impelido
pelos príncipes a atender ao pedido, ordenando o comparecimento de Lutero
diante do Conselho geral de Worms.
6. PERANTE O CONSELHO DE WORMS
Fato curioso, que se poderia qualificar como
o da obsessão do apóstatas, é o pensamento de Satanás, a persegui-lo, e a quem
atribui todos os seus reveses: ele vê demônios em toda parte: - um ruído nas
galerias da igreja de Erfurt, durante o seu sermão; a quês de umas pedras, em
Gotha, durante a sua palestra; um incômodo, que o impediu de continuar viagem,
tudo isso ele considerou produzido pela ação dos poderes infernais.
Escrevendo a seu amigo Spalatino, antes de ir
as Worms, Lutero disse: “Iremos a Worms e os poderes do inferno e do ar não
poderão impedir esta viagem”.
Ei-lo, pois, a caminho de Worms.
Dizem os historiadores que tal trajeto foi um
triunfo. Os partidários o acompanharam e, por onde passava, todos queriam ver o
homem extraordinário e alvo de tantas contradições.
Em 16 de abril de 1521 chegou à cidade, onde
já se achavam reunidas as autoridades eclesiásticas com os príncipes e o
Imperador.
Os ânimos estavam exaltados, e receava-se até
um levante popular, fomentado pelos amigos de Lutero.
No dia seguinte, 17, o herege foi citado
perante o conselho (Ryksdag) , para ser ouvido.
Esperava-se uma exposição brilhante da parte
de Lutero, pois havia declarado publicamente estar resolvido a “amedrontar e
esmagar o próprio Satanás”, porém aconteceu o contrário.
Às duas perguntas que lhe forma dirigidas ele
respondeu com voz tão sumida, tanto que só foi ouvido por aqueles que estavam
mais próximos, como estivesse com medo ou indisposto.
Perguntaram-lhe se era de fato o autor dos
escritos aí expostos. Lutero respondeu afirmativamente.
Convidaram-no depois a condenar os erros
neles contidos.
A este convite respondeu Lutero, pedindo
reflexão e tempo, porque, disse, assim de repente, não podia dar uma solução.
Concederam-lhe vinte e quatro horas para
pensar.
No dia seguinte Lutero compareceu em seu
estado natural de insolência e orgulho; procurou defender os seus erros, atacou
a autoridade da Ighreja e declarou em nada poder voltar atrás.
Os seus amigos o haviam animado e excitado
neste intervalo, instigando-o a sustentar suas opiniões.
Vendo a teimosia e o fanatismo cego do monge,
o Imperador deu ordem a Lutero que se retratasse no dia seguinte dando-lhe
salvo-conduto e garantia durante 20 dias, sob condição de não pregar nem
espalhar os seus escritos.
À noite deste mesmo dia reuniram-se os
protetores de Lutero: Frederico de Saxe, Spalatino e outros, e resolveram
esconder o revoltoso para subtraí-lo a qualquer eventualidade do poder
civil ou a qualquer perseguição dos seus
adversários.
O mensageiro imperial, Gaspar Sturm, devia
acompanhar Lutero, levando uma pequena tropa de soldados.
Querendo o reformador fazer a viagem, com uns
amigos, despediu o mensageiro, conservando apenas uns guardas desarmados; a
razão desta despedida era a seguinte: tudo estava cuidadosamente preparado para
uma fingida cilada, que devia salvar Lutero, excitar a animosidade dos seus
adeptos e envergonhar os seus inimigos.
Passando, à noite, pelas florestas de
Turíngia, perto de Altestein, em 44 de maio de 1521, Lutero foi subitamente assaltado por uns cavaleiros,
retirado do carro e conduzido a cavalo para o Castelo de Wartburg, perto de
Eisenach.
No dia seguinte espalhou-se logo o boato de
que o passaporte do Imperador havia sido violado e que Lutero estava preso,
tendo sido horrivelmente maltratado; propalavam alguns ter visto o seu cadáver,
jogado na cavidade de um rochedo.
As más línguas seguiram naturalmente as más
cabeças, e mil legendas impressionantes corriam no meio da populaça exaltada.
Neste tempo o apóstata excomungado estava
sossegado ao abrigo de qualquer violência e levando vidas principesca,
escondido no velho castelo de Wartburg, sob o pseudônimo de “Cavalheiro Jorge”.
7. DECISÕES
DE WORMS
Enquanto isto ocorria, estava em andamento a
sessão do Conselho de Estado, em Worms.
A teimosia de Lutero, em não se querer
convencer dos seus erros, deu ao imperador pleno direito de lançar um edito
contra o herege, em defesa de doutrina católica.
Este ato foi redigido, assinado pela
autoridade civil e confiado ao representante do Papa, para ser levado a Roma.
O protetor de Lutero, Frederico de Saxe,
vendo frustrados os seus esforços, para não assistir à condenação de seu
pupilo, retirou-se das reunião e escreveu a uma amigo: “Não somente Anás e
Caifás são contra Lutero, mas também Pilatos e Herodes, isto é, a autoridade
religiosa a civil (Janssen-Pastor: II. 184).
Este edito de Worms não produziu o efeito que
os homens sinceros dele esperavam.
Muitos acharam o texto um tanto áspero,
incisivo, de modo que causou entre os católicos uma certa inquietação, e entre
os sectários de Lutero um ódio maior contra a autoridade.
Nele se proclamava a excomunhão de Lutero,
ordenando-se fosse ele considerado herege, não podendo mais ser acolhido,
favorecido ou protegido por ninguém. Qualquer um estava obrigado a prendê-lo e
entregá-lo ao Imperador. Seus livros deviam ser destruídos e punidos de
excomunhão.
Ficou encarregado o Conselho municipal de
Neuremberg de providenciar a execução da sentença. São notáveis as acusações
contra Lutero, expostas neste documento:
“Pelos seus escritos”, diz o edito, “Lutero
espalha práticas corruptoras: muda o número dos Sacramentos, altera a lei da
indissolubilidade do matrimônio, insulta o Papa com palavras grosseiras e
blasfematórias, despreza o Sacerdócio e procura excitar os leitos a lavarem as
mãos no sangue dos Sacerdotes. Ensina a falta de liberdade da vontade humana e
exorta a uma vida sem freio e sem autoridade. Chegou ao ponto de não recuar
diante das barreiras mais sagradas, fazendo queimar, em público, livros
canônicos. Despreza os Concílios e apelida o Concílio de Constança: uma
sinagoga de demônios e os seus participantes: anticristos e assassinos. É um
inimigo em trajes de monge, acumulando antigas e novas heresias; pretende
pregar o Evangelho e destrói a fé
sincera, sob o pretexto de restabelecer o verdadeiro Evangelho” (Janssen. P. II. 299).
Como se vê, o Conselho imperial estava bem
informado dos manejos de Lutero, e este documento resume, em poucas palavras,
as principais heresias do pretenso reformador.
Se o Edito houvesse sido bem executado,
talvez o mundo não teria assistido às tristes e horrendas cenas que seguiram à
protestantização da Alemanha.
Infelizmente as ordens imperiais não
produziram o efeito desejado.
A fraqueza e a desunião do próprio governo, o
dinheiro, o medo, o comodismo e a simpatia pela reforma de vários chefes,
atrasaram e em muitos lugares inutilizaram as medidas ordenadas.
8. CONCLUSÃO
Tal era a situação do reformador, antes e
após ser condenado.
Pode-se ajuizar que o pobre herege é um
anormal de uma teimosia e orgulho sem iguais.
Nada era capaz de fazê-lo raciocinar. Vivia
obcecado pela idéia fixa do ódio à Roma, que pretendia exterminar e pela idéia
da Bíblia só, para cada um poder fabricar-se uma religião individual,
independente de Deus e dos seus representantes na terra.
Nota-se em todos os passos do heresiarca uma
pronunciada má fé e o desejo de ser aplaudido
pela multidão.
Juntando-se a estas disposições pessoais de
Lutero a decadência da época, as hesitações da fé e a exaltação dos espíritos
em procura de mudanças, compreende-se o futuro que esperava o reformador, o
qual, de fato, coroou os seus esforços.
Os grandes homens, os reformadores ou os
deformadores, não brilham tanto pelo valor pessoa, quanto pelo desvalor dos que
os cercam.
É o que o provérbio pessoal expressa muito
bem: no reino dos cegos quem tem um olho é rei.
Assim, numa época de decadência, quando há
falta de vigor, de energias, de entusiasmo, ao aparecer um indivíduo mais
decidido e valoroso que os demais torna-se imediatamente o centro de uma nova
constelação, em redor da qual gravitam os olhares e as simpatias.
Assim aconteceu com Lutero, um pobre
orgulhoso que, sentindo a sua inferioridade em tudo, quis aproveitar a
decadência que o cercava, para se elevar. Não encontrando em si um meio de
efetuar este seu desejo, utilizou-se da insurreição, da palavra e da penas
revolucionária, para se manifestar em pública e ganhar celebridade.
Tal é o super-homem protestante que temos
pela frente. Simplesmente um super-revolucionário.
CONTINUA
NO CAPÍTULO 6
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