Escrito
por Percival Puggina | 11 Março 2013
Tal
religião religa seus crentes a um hipotético nada onde não há perdão nem
salvação.
Conheço
muitos ateus. Gente da melhor qualidade e gente não tão boa assim, como em
qualquer conjunto de indivíduos. Só recentemente, porém, passei a encontrar
ateus militantes, engajados na tarefa de menosprezar e investir contra as
crenças alheias. Ora, toda militância pressupõe o desejo de concretizar algum
objetivo. O que pretende a militância ateia? 1º) Dar sumiço à ideia de Deus.
Provocar e proclamar a falência total dos órgãos divinos, como fez o
ensandecido Nietzsche. 2º) Eliminar as religiões para produzir uma humanidade
nova, sob o senhorio do barro de que somos feitos.
*
* *
Outro
dia, nosso talentoso Luiz Fernando Veríssimo escreveu uma crônica cujo eixo
expositivo firmava-se na ideia de que Deus é uma hipótese. Fiquei a pensar. Se
Deus é hipótese, mera conjetura, um olhar em volta de nós mesmos revelará,
então, a indispensável existência de um nada (quase escrevo esse nada com
"n" maiúsculo) criador de quanto vejo. E seremos levados a atribuir a
esse insignificante nada um verdadeiro frenesi criador. Surgirá, então, quem
afirme que esse nada deu origem a tudo em seis dias e que no sétimo descansou
sobre uma almofada de nuvens. Outros, mais em conformidade com o cientificismo
do século 21, sustentarão que esse poderosíssimo nada, no exato milissegundo do
Big Bang, de um até então inexistente tempo, fez explodir pequena bolinha de
coisa nenhuma e... pronto! - estava criado o Universo. Onde? Onde? No imenso e
absoluto vazio no qual o nada preexistia. Bum!
É
interessante constatar, portanto, que ambos, tanto os crentes em Deus quanto os
ateus não prescindem, para suas convicções, de algum ato de fé. Ou em Deus, ou
no nada. Os primeiros partem dessa fé para as respectivas opções religiosas.
Elas levam à oração, ao encontro do sentido da vida, ao consolo dos aflitos, ao
repouso da alma. No caso dos cristãos, ao conhecimento do amor de Deus, à
encarnação de Jesus, ao Divino que irrompe docemente no humano e na História,
aos sacramentos, à meditação, ao perdão, à misericórdia. Levam, também, aos
tesouros guardados onde não os corroem as traças. E, ainda, ao amor ao próximo
e ao inimigo, ao luminoso exemplo dos grandes santos, a um precioso conjunto de
verdades, princípios e valores que, entre outras coisas, compõe o cerne do
moderno constitucionalismo. O leitor acha que é muita coisa? Pois isso tudo é
apenas uma "palhinha". Há mais livros escritos sobre essa pauta do
que a respeito de qualquer outro assunto de interesse humano.
A
adesão vital ao hipotético nada, por sua vez, leva a coisa alguma. Ou por
outra, leva o ser humano a deixar-se conduzir por um vórtice que se esgota em
si mesmo. Organizado em militância, como vejo acontecer, compõe uma nova
igreja, a igreja do non credo a que já me referi. Tal religião religa seus
crentes a um hipotético nada onde não há perdão nem salvação. A fé no nada não
mobiliza sequer um fio de cabelo. A esperança no nada é o próprio desespero. E
tudo acaba sob sete palmos de terra. Se houver algum resíduo perceptível de
espírito, algo assim como um ainda latejante fragmento de consciência, que
disponham dele os vira-latas. Como é grande o prejuízo nessa escolha!
Publicado
no jornal Zero Hora.
Fonte: Aqui
Pesquisa:
Paulo Lelis
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