NONA CARTA - A FÉ
SEM AS OBRAS, E AS OBRAS SEM A FÉ
Pe. Emmanuel-André
Houve outrora, no berço do
cristianismo, em Roma, uma disputa muito viva sobre a fé e as obras. Uns diziam:
a fé é suficiente; outros: as obras, as obras, é o necessário!
Se um belo dia estivéssemos no jardim
de sua casa e submetêssemos a seus filhos uma pergunta análoga: meninos, digam
o que acham, o que é mais necessário: as maçãs ou a macieira? Os meninos
certamente nos diriam que bastam as maçãs. Mas os mais velhos, compreendendo
que sem as macieiras não haveria maçãs, responderiam: o que é preciso são as
macieiras com as maçãs. E com efeito, é impossível haver maçãs sem macieiras, e
macieiras sem maçãs são inúteis.
Deixando o apólogo, diremos que a fé é
a árvore indispensável para haver os frutos da salvação e que os frutos que se
pode colher sem a fé, não serão frutos de salvação.
São Gregório Magno disse numa
palavra: Nec fides sine operibus, nec opera adjuvant sine fide. Quer
dizer: A fé sem as obras ou as obras sem a fé, de nada valem.
A fé é, para o cristão, a raiz da
salvação e de toda obra que leva à salvação. A santa esperança e a caridade
divina vêm dar ao fruto ou à obra o gosto, o sabor, a doçura, o mérito; mas sem
a fé não há mérito, nem doçura, nem sabor, nem gosto, nem fruto, nem obra que
seja útil à salvação.
Guarde bem esse primeiro princípio. Eis
um outro que deste decorre incontestavelmente: a medida da fé é a medida do
mérito da obra. Sei bem que a última palavra, o mérito do cristão, pertence à
caridade; mas a caridade é filha da fé, filha que pode crescer com sua mãe de
modo que, no final das contas, o cristão deve ter a fé como medida de
todas as coisas. Nosso Senhor dizia com este pensamento: «Vossa fé vos salvou!».
Isto posto, vamos dar uma volta por
esse mundo e procurar um pouco por onde anda a fé, onde estão as obras, filhas
da fé.
E para começar, já notou muitas vezes,
que nosso século é o século das obras? Nunca, nunca se viu surgir tantas obras,
com tal exuberância.
Mas será na mesma proporção um século
de fé? Ai de nós! É preciso que se diga quanto a fé é rara em nossos dias.
De uma árvore singularmente
enfraquecida, vemos surgir uma quantidade de frutos que nos encantariam se
pudéssemos esquecer o estado de sua alma. As obras surgem e crescem sempre, e
ao mesmo tempo somos obrigados a convir que a fé está morrendo. Não haverá nisto
umas espécie de contradição? A contradição é apenas aparente. As obras da
salvação, dissemos, nascem da fé; mas as obras que se parecem com as obras da
salvação, podem nascer de um outro princípio que não seja a fé.
E então que dizer? De duas uma: ou as
obras nascidas de um princípio que não é a fé serão úteis para outra coisa que
não as almas, e assim não terão nada a ver com Deus; ou essas obras não
subsistirão e perecerão.
Nascidos de outro princípio que não
seja a fé, criações da inteligência ou da imaginação, as obras que não são
alimentadas pelo suco vivificante da fé, o único que vivifica, vivem da
habilidade do homem ou de seu dinheiro ou de seu crédito. Essas obras não
salvam os homens e são, diante de Deus, árvores estéreis; o tempo virá com seu
machado para abatê-las, não faltará.
A Igreja, que é obra de Deus, permanece
e permanecerá porque guarda e guardará a fé. Nós, filhos de Deus e da Igreja só
permanecemos e permaneceremos, nós e nossas obras, na medida de nossa fé.
Se todas as obras que hoje pululam em
volta de nós tivessem tanto ardor em vivificar a árvore da fé quanto para
produzir frutos, certamente veríamos maravilhas. Mas infelizmente, falta a fé e
não falta quem queira recolher os frutos da fé antes de havê-la semeado. Neste
sentido, caminha-se a passos largos, porém à margem do caminho. Magnum
passus, sed extra viam, dizia Santo Agostinho.
Digamos juntos: Credo.
Cartas sobre a Fé – Pe. Emmanuel-André
Fonte: Pe. Emmanuel-André.
Cartas sobre a Fé. Disponível em <http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2012/01/cartas-sobre-fe-pe.html>
Desde 17 de Janeiro de 2012.
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