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Igreja
Católica: Mãe das Universidades
Prof. Felipe Aquino –
Editora Cléofas
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Os estudantes universitários normalmente têm um
conhecimento pouco profundo sobre a Idade Média; e porque muitos são mal
informados, acham que foi um período de ignorância, superstição e repressão intelectual
por parte da Igreja católica. No entanto, foi exatamente na Idade Média que
surgiu a maior contribuição intelectual para o mundo: o sistema universitário.
A universidade foi um fenômeno totalmente novo na história da Europa. Nada como
ele existiu no mundo grego ou romano afirmam os historiadores.
O ensino superior na Idade Média era ministrado
por iniciativa da Igreja. A Universidade medieval não tem precedentes
históricos; no mundo grego houve escolas públicas, mas todas isoladas. No
período greco-romano cada filósofo e cada mestre de ciências tinham “sua
escola”, o que implicava justamente no contrário de uma Universidade. Esta
surgiu na Idade Média, pelas mãos da Igreja Católica, e reunia mestres e
discípulos de várias nações, os quais constituíam poderosos centros de saber
e de erudição.
Por volta de 1100, no meio de uma grande fermentação intelectual, começam as surgir as Universidades; o orgulho da Idade Média cristã, irmãs das Catedrais. A sua aparição é um marco na história da civilização Ocidental que nenhum historiador tem coragem de negar. Elas nasceram às sombras das Catedrais e dos mosteiros. Logo receberam o apoio das autoridades da Igreja e dos Papas. Assim, diz Daniel Rops, “a Igreja passou a ser a matriz de onde saiu a Universidade” (A Igreja das Catedrais e das Cruzadas, p. 345).
Tudo isso nesta bela época que alguns teimam em
chamar maldosamente de “obscura” Idade Média. A razão e a fé sempre caminharam
juntas na Igreja.
A raiz das Universidades está no século IX com
as escolas monásticas da Europa, especialmente para a formação dos monges, mas
que recebiam também estudantes externos. Depois, no século XI surgiram as
escolas episcopais; fundadas pelos bispos, os Centros de Educação nas cidades,
perto das Catedrais. No século XII, surgiram centros docentes debaixo da
proteção dos Papas e Reis católicos, para onde acorriam estudantes de toda
Europa.
A primeira Universidade do mundo Ocidental foi a
de Bolonha (1158), na Itália, que teve a sua origem na fusão da escola
episcopal com a escola monacal camaldulense de São Félix. Em 1200 Bolonha tinha
dez mil estudantes (italianos, lombardos, francos, normandos, provençais,
espanhóis, catalães, ingleses germanos, etc.). A segunda, e que teve maior fama
foi a Universidade de Paris, a Sorbone, que surgiu da escola episcopal da
Catedral de Notre Dame. Foi fundada pelo confessor de S. Luiz IX, rei de
França, Sorbon. Ali foram estudar muitos grandes santos como Santo Inácio de
Loyola, São Francisco Xavier e São Tomás de Aquino. A universidade de Paris
(Sorbonne) era chamada de “Nova Atenas” ou o “Concílio perpétuo das Gálias”,
por ser especialmente voltada à teologia.
O documento mais antigo que contém a palavra
“Universitas” utilizada para um centro de estudo é uma carta do Papa Inocêncio
III ao “Estúdio Geral de Paris”. A universidade de Oxford, na Inglaterra surgiu
de uma escola monacal organizada como universidade por estudantes da Sorbone de
Paris. Foi apoiada pelo Papa Inocêncio IV (1243-1254) em 1254.
Salamanca é a Universidade mais antiga da
Espanha das que ainda existem, fundada pela Igreja; seu lema é “Quod natura non
dat, Salmantica non praestat” (O que a natureza não nos dá, Salamanca não
acrescenta”. Entre as universidades mais antigas está a de Santiago de
Compostela. A cidade foi um foco de cultura desde 1100 graças ao prestígio de
sua escola capitular que era um centro de formação de clérigos vinculados à
Catedral. A Universidade de Valladolid é anterior à de Compostela já que em
1346 obteve do papa Clemente VI a concessão de todas as faculdades,
exceto a de Teologia.
Em 1499, o Cardeal Cisneros fundou a famosa
universidade “Complutense” mediante a Bula Pontifícia concedida pelo Papa
Alexandre VI. Nos anos de 1509-1510 já funcionavam cinco Faculdades: Artes e
Filosofia, Teologia, Direito Canônico , Letras e Medicina.
Até 1440 foram erigidas na Europa 55
Universidades e 12 Institutos de ensino superior, onde se ministravam cursos de
Direito, Medicina, Línguas, Artes, Ciências, Filosofia e Teologia. Todos
fundados pela Igreja. O Papa Clemente V (1305-1314) no Concilio universal de
Viena em 1311, mandou que se instaurassem nas escolas superiores cursos de
línguas orientais (hebreu, caldeu, árabe, armênio, etc.), o que em breve foi
feito também em Paris, Bolonha, Oxford, Salamanca e Roma.
A atual Universidade de Roma, La Sapienza – onde
tristemente estudantes e professores impediram o Papa Bento XVI de proferir a
aula inaugural em 2008 – foi fundada há sete séculos, em 1303, pelo Papa
Bonifácio VIII (1294-1303), com o nome de “Studium Urbis”.
Das 75 Universidades criadas de 1500, 47
receberam a Bula papal de fundação, enquanto muitas outras, que surgiram
espontaneamente ou por decisão do poder secular, receberam em seguida a
confirmação pontifícia, com a concessão da Faculdade de Teologia ou de Direito
Canônico. (Sodano, 2004).
As universidades atraíam multidões de
estudantes, da Alemanha, Itália, Síria, Armênia e Egito. Vinham para a de Paris
chegavam a 4000, cerca de 10% da população.
Só na França havia uma dezena de universidades:
Montepellier (1125), Orleans (1200), Toulouse (1217), Anger (1220), Gray,
Pont-à-Mousson, Lyon, Parmiers, Norbonne e Cabors. Na Itália: Salerno (1220),
Bolonha (1111), Pádua, Nápoles e Palerno. Na Inglaterra: Oxford (1214), nascida
das Abadias de Santa Frideswide e de Oxevey, Cambridge. Além de Praga na
Boêmia, Cracóvia (1362), Viena (1366), Heidelberg (1386). Na Espanha: Salamanca
e Portugal, Coimbra. Todas fundadas pela Igreja. Como dizer que a Idade Média
cristã foi uma longa “noite escura” no tempo? As universidades medievais foram
centros de intensa vida intelectual, onde os grandes homens se enfrentavam em
discussões apaixonadas nos grandes problemas. E a fé era o fermento que fazia a
cultura crescer.
Graças ao latim todos se entendiam, era a língua
universal e acadêmica; esta permitia aos sábios comunicar-se de um ponto a
outro da Europa Ocidental. Havia uma unidade interna e de obediência aos mesmos
princípios; era o reflexo de uma civilização vigorosa, segura de sua força e de
si mesma.
A partir de 1250, o grego foi ensinado nas
escolas dominicanas e, a partir de 1312 nas universidades de Sorbonne, Oxford,
Bolonha e Salamanca. Abria-se assim um novo campo ao pensamento que desencadeou
uma onda de paixão filosófica no nascimento da Escolástica-teologia e filosofia
unidas para provar uma proposição de fé.
Santo Agostinho, Cassidoro, Santo Isidoro de
Sevilha, Rábano Mauro e Alamino, os grandes mestres da Antigüidade, se apoiavam
sobretudo nas Sagradas Escrituras. Agora o intelectual cristão da Idade Média
quer demonstrar que os dogmas estão de acordo com a razão e que são
verdadeiros. É a “teologia especulativa”, onde a filosofia é amiga da teologia.
Os problemas do mundo são estudados agora sob esta dupla ótica.
A Universidade medieval era um mundo turbulento
e cosmopolita; os estudantes de Paris estavam repartidos em quatro nações: os
Picardos, os Ingleses, os Alemães e os Franceses. Os professores também
vinham de diversas partes do mundo: havia Sigério de Brabante (Bélgica), João
de Salisbury (Inglaterra), S. Alberto Magno (Renânia), S. Tomás de Aquino e São
Boaventua da Itália.
Os problemas que apaixonavam os filósofos, eram
os mesmos em Paris, em Oxford, em Edimburgo, em Colônia ou em Pavia. O mundo
estudantil era também um mundo itinerante: os jovens saiam de casa para
alcançar a Universidade de sua escolha; voltavam para sua terra nas
festas. O sistema universitário que temos hoje com cursos de graduação,
pós-graduação, faculdades, exames e graus veio diretamente do mundo medieval.
Os papas sabiam bem da importância das
universidades nascentes para a Igreja e para o mundo, e por isso intervinham em
sua defesa muitas vezes. O Papa Honório III (1216-1227) defendeu os estudantes
de Bolonha em 1220 contra as restrições de suas liberdades. O Papa Inocêncio
III (1198-1216) interveio quando o chanceler de Paris insistiu em um juramento
à sua personalidade. O Papa Gregório IX (1227-1241) publicou a Bula “Parens
Scientiarum” em nome dos mestres de Paris, onde garantiu à Universidade de
Paris (Sorbonne) o direito de se auto-governar, podendo fazer suas leis em
relação aos cursos e estudos, e dando à Universidade uma jurisdição papal,
emancipando-a da interferência da diocese.
O papado foi considerado a maior força para a
autonomia da Universidade, segundo A. Colban (1975). Era comum as universidades
trazerem suas queixas ao Papa em Roma. Muitas vezes o Papa interveio para que
as universidades pagassem os salários dos professores; Bonifácio VIII (1294-1303),
Clemente V (1305-1314), Clemente VI (1342-1352), e Gregório XI (1370-1378)
fizeram isso.
“Na universidade e em outras partes, nenhuma
outra instituição fez mais para promover o saber do que a Igreja Católica”,
garante Thomas Woods (p. 51).
O processo para se adquirir a licença para
ensinar era difícil. Para se ter ideia da solenidade e importância do ato,
basta dizer que a pessoa para ser licenciada se ajoelhava diante do
Vice-chanceler, que dizia:
“Pela autoridade dos Apóstolos Pedro-Paulo,
dou-lhe a licença de ensinar, fazer palestras, escrever, participar de
discussões… e exercer outros atos do magistério, ambos na Faculdade de Artes em
Paris e outros lugares, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém”
[Daly, 1961; p. 135].
Uma riqueza da universidade medieval é que era
atenta às finalidades sociais. Não se aceitava a ideia de uma cultura
desinteressada, ou um saber exclusivamente para seu próprio benefício pessoal.
“Deve-se aprender apenas para a própria edificação ou para ser útil aos outros;
o saber pelo saber é apenas uma vergonhosa curiosidade”, já havia dito São
Bernardo (1090-1153).
Para Inocêncio IV (1243-1254) a Universidade era
o “Rio da ciência que rege e fecunda o solo da Igreja universal”, e Alexandre
IV (1254-1261) a chamava de: “Luzeiro que resplandece na Casa de Deus” (Daniel
Rops, p.348).
Portanto, são maldosos ou ignorantes da História
aqueles que insistem em se referir à Idade Média e à Igreja como promotoras da
inimizade à Ciência e perseguidora dos cientistas.
Fonte
Prof. Felipe Aquino. Igreja Católica: Mãe das
Universidades. Disponível em < http://cleofas.com.br/igreja-catolica-mae-das-universidades/>
Desde 9 de Junho de 2016
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