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A importância da Missa na prisão
Testemunho do Cardeal
Van Thuan | Fonte: Senza Pagare
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O futuro cardeal François-Xavier
Van Thuan com a
sua irmã mais nova
|
A celebração faz do sacerdote um santo. É por
causa disto que eu quero compartilhar com vocês a minha experiência
eucarística, assim como a experiência de outras pessoas íntimas que me marcaram
com a sua fé, com a sua devoção à Eucaristia.
No seminário, a minha formação inspirou-se na vida
do Cura d’Ars, São João Maria Vianney, e do Padre Pio. Eles acompanharam-me
durante toda a vida sacerdotal. Quando eu celebrava sozinho na prisão, João e
Pio estavam sempre diante de mim e celebravam comigo. Foi graças ao seu
sacrifício e ao seu amor pela Eucaristia que eu pude sobreviver na prisão.
Lembro-me de que o Padre Pio celebrava a missa não em vinte ou trinta minutos,
mas em uma hora, uma hora e meia. Ninguém reclamava da duração da missa, porque
todos estavam fascinados pela sua maneira de celebrar, inclusive os bispos que
assistiam. Entretanto, algumas pessoas mal-intencionadas pediram ao Santo
Ofício que o proibisse de celebrar a Eucaristia desta forma, e então o Padre
Pio foi obrigado a celebrar a missa no máximo em 45 minutos. O Padre Pio obedeceu
à ordem, mas os fiéis pediram à Santa Sé a permissão para o frade celebrar a
missa como antes, e Pio XII deu a autorização.
Alguém perguntou a São João Maria Vianney porque
é que às vezes ele chorava e outras vezes sorria quando celebrava a missa. Ele
respondeu que sorria quando pensava no dom da presença de Jesus na Eucaristia e
chorava quando pensava nos pecadores que não podem receber tal dom. Quando fui
preso, retiraram todos os meus pertences, mas permitiram-me escrever para casa
e pedir roupa e remédios. Eu pedi que me enviassem vinho em frascos de remédio
para o estômago. No dia seguinte, o isita da prisão chamou-me para perguntar se
eu estava mal do estômago, e se tinha algum remédio. Depois de escutar as
minhas respostas afirmativas, entregou-me um pequeno frasco de vinho com uma
etiqueta que dizia “remédio para a dor de estômago”. Este foi um dos dias mais
felizes da minha vida! Desta forma eu pude celebrar a Missa dia após dia, com
três gotas de vinho e uma gota d’água na palma da mão e com um pouco de hóstia
que me davam para a celebração, e que eu guardava com muito cuidado contra a
humidade.
Depois, quando estava com outras pessoas de fé
católica, era abastecido de vinho e de hóstias, que os seus familiares levavam
quando iam isita-los. De um modo ou de outro, eu quase sempre pude celebrar a
Missa, sozinho ou acompanhado. Celebrava depois das nove e meia da noite,
porque a essa hora não havia luz e conseguíamos juntar umas seis pessoas. Todos
dormiam numa cama comum, 25 em cada parte. Cada um dispunha de 50 centímetros:
estávamos como sardinhas.
Quando celebrava e dava a comunhão, secávamos o
papel dos maços de cigarro dos prisioneiros e, com arroz, os pregávamos para
fazer uma pequena bolsa na qual colocávamos o Santíssimo. Todas as sextas-feiras
tínhamos uma aula de marxismo, e todos eram obrigados a participar. Depois
havia um pequeno intervalo, e era quando os cinco católicos levavam o
Santíssimo a outros grupos. Eu também o levava num pequeno pacote que colocava
na minha bolsa, e assim a presença de Jesus ajudava-me a ser corajoso,
generoso, amável, e a dar testemunho de fé e de amor aos outros.
A presença de Jesus fazia maravilhas, porque
entre os católicos também havia alguns que eram pouco fervorosos, menos
praticantes... Havia ministros, coronéis, generais e, na prisão, cada um em
particular fazia uma Hora Santa todas as tardes, uma hora de adoração e de
oração diante de Jesus eucarístico. Assim, na solidão, na fome... uma fome
terrível, foi possível sobreviver. Desta maneira dávamos testemunho na prisão.
A semente tinha sido semeada. Ainda não sabíamos
como ia germinar, mas pouco a pouco, um a um, budistas, membros de diversas
religiões, inclusive fundamentalistas hostis ao catolicismo manifestavam o
desejo de ser católicos. Nos tempos livres eu ensinava catecismo a todos
juntos. Baptizava às escondidas e... era até padrinho. A presença da Eucaristia
mudou a prisão, que era lugar de vergonha, de tristeza, de ódio e que tinha se
transformado em lugar de amizade, de reconciliação e em escola de catecismo.
Sem saber, o governo tinha feito uma escola de catecismo!
A presença da Eucaristia é muito forte, a
presença de Jesus é irresistível. Eu e todos os meus companheiros de prisão
somos testemunhas disto.
In ‘O Dom
da Eucaristia’ (meditação pregada em 2002).
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Pesquisa: Paulo Lelis
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