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[Sermão]
Nem direita, nem esquerda, nem centro. Sejamos católicos.
Padre Daniel Pinheiro,
IBP | Fonte: Missa Tridentina em Brasília
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Sermão para a Solenidade Externa de Nossa
Senhora do Rosário
Em nome do Pai…
Ave Maria…
O Rosário encontra sua origem no início da
Igreja, quando muitos começaram a recitar Ave-Marias e Pai Nossos no lugar dos
150 Salmos. O Rosário, com a forma praticamente idêntica à que conhecemos hoje,
foi dado por Nossa Senhora a São Domingos. Foi a arma que ela deu contra a
heresia cátara: uma heresia não materialista, mas espiritualista, heresia de direita
poderíamos hoje dizer. Heresia que despreza a matéria e o corpo como se fosse
mal e que afirma que existe em cada homem uma partícula da divindade, uma
heresia gnóstica.
O Rosário também foi a arma dada por Nossa
Senhora na vitória dos católicos contra os muçulmanos na batalha naval de
Lepanto. Os católicos em todo o mundo rezavam o Terço a pedido do Papa São Pio
V.
Nossa Senhora, caros católicos, esmaga as
heresias e os erros. E temos inúmeros erros em nossos tempos.
Muitos, em nossos tempos, têm os olhos mais
abertos para erros à esquerda: materialismo, socialismo, comunismo. Mas
não vêem os erros à direita.
Está ocorrendo a formação de uma nova direita
(tão nova quanto a velha) no Brasil e em algumas partes do mundo. Formação de
uma direita com fundamentos gravemente errôneos, com fundamentos contrários
àquilo que Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou e que a sua Igreja propaga de modo
fiel pelo seu magistério constante ao longo dos séculos, pelo seu magistério
infalível. Uma nova direita baseada em falsas filosofias e falsos profetas.
Interessante notar que essa direita torta começa
a se desenvolver com maior vigor de uns dez anos para cá, coincidindo mais ou
menos com o reconhecimento da liberdade para a Missa no Rito Romano Tradicional
pelo Papa Bento XVI. Vendo, com isso, a possibilidade de nascer uma sociedade
fundada sobre os bons princípios católicos e da lei natural, o inimigo tinha
que infiltrar os meios católicos mais sérios. Os católicos mais sérios não se
deixarão levar pelo socialismo ou esquerdismo. É pela direita que o inimigo
colocará o veneno. É pela direita, com ideias tortas, que o demônio procurará
manter o seu reino. O demônio não está preocupado se as almas estão no erro
pela esquerda, pela direita ou pelo centro. Para ele, basta que estejam no
erro. E quanto mais esse erro se assemelhar à verdade, mais ele conseguirá
enganar. Para o demônio, basta que se negue uma verdade da doutrina católica.
Não precisa mais do que isso. Basta ir contra a doutrina social constante da
Igreja, por exemplo, defendendo o liberalismo econômico. Basta afirmar que
todas as religiões são expressões distintas de uma mesma religião (defendendo a
união transcendente delas), como se no fundo todas fossem expressões distintas
de uma mesma verdade, o que vai contra o fato de que existe uma só revelação
feita por Deus e uma só religião verdadeira, a Católica, que se opõe
contraditoriamente às outras religiões (Ver o Syllabus de Pio IX e a Enc. Pascendi
de São Pio X). Basta negar que o Papa é Papa. Basta apoiar a maçonaria. Basta
prestar um culto de personalidade a um homem. E a nova direita não tem apenas
um, mas vários erros. Bastaria um, mas tem vários.
Muitos católicos se iludem com a direita por ser
anti-esquerdista, anti-socialista e anti-comunista. E combatem um erro caindo
em vários outros. Isso não pode ser feito. O bom para ser bom tem que ser
integralmente bom. Bonum ex integra causa diz a boa filosofia de São
Tomás de Aquino. O mal para ser mal basta que tenha um defeito.
Combater o socialismo com o liberalismo,
ainda que seja somente econômico é um erro grave. O liberalismo é a
independência com relação a Deus. O liberalismo
econômico é a independência da economia com relação às leis morais e com
relação a Deus. A finalidade última da economia no liberalismo econômico se
torna o lucro sem subordinação alguma à finalidade última do homem: conhecer,
amar e servir Deus. (Ver Encíclicas Rerum
Novarum, Divini
Rdemptoris, Quadragesimo
Anno, Centesimus
Annus)
Muitos católicos se iludem: eu sigo essa direita
em política, mas não nas ideias de teologia, de religião ou de filosofia. Ora,
é claro que a política dessa nova direita deriva das ideias tortas em outros
pontos como a filosofia e a religião. Não dá para separar as coisas. A atuação
política dessa direita é simplesmente um meio rápido de propagar essas ideias
erradas e contaminar os católicos com erros graves em todos os âmbitos. A política
nada mais é do que a aplicação para a sociedade das concepções filosóficas e
religiosas que a pessoa tem. Quem segue a política da nova direita seguirá
necessariamente a sua filosofia errônea e a sua religião errônea, muitas vezes
com capa de catolicismo exterior. Irá contra a doutrina católica.
A nova direita diz defender uma alta cultura. O
que é a alta cultura? De modo interessante, a maçonaria (ver
Encíclica Humanum Genus) difundiu muito as suas ideias erradas por meio de
círculos culturais e literários ao longo da história. Usou como pretexto a
cultura para difundir suas ideias erradas. Sob pretexto de cultura muitos erros
se disseminam. Assim diz São Pio X a propósito de como os modernos espalharam e
espalham seus erros (Enc. Editae
Saepae): “também eles subverteram a doutrina, a lei e instituição da
Igreja, tendo sempre sobre os lábios o grito de cultura e de civilização, não
porque se preocupassem sobre isso, mas porque com esses nomes grandiosos podem
mais facilmente esconder a malícia de seus pensamentos.” A cultura verdadeira é
a cultura que leva à verdade, ao bem. Quer dizer, a verdadeira cultura leva
para Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Verdade, o Bem. A verdadeira cultura se
submete e favorece a lei natural e a lei divina. A verdadeira cultura é a
cultura cristã católica, que admite a lei natural e a única revelação que
existe: a católica. A cultura católica vai no sentido do reinado social de
Nosso Senhor Jesus Cristo. A nova direita quer o reinado social de Cristo? Não
consta que queira. Ao contrário, no espaço amplo dessa alta cultura propagada
pela nova direita, pode entrar qualquer coisa, e certamente entram coisas
contra a lei natural e contra a doutrina católica, que é a doutrina de Nosso
Senhor Jesus Cristo.
A nova direita se diz conservadora e afirma que
todos os conservadores devem se unir. O que é o conservadorismo? O protestante,
que rejeita a autoridade da Igreja estabelecida por Deus e que estabelece,
assim, um dos pilares de todo o pensamento moderno, colocando o homem no lugar
de Deus, é conservador? O liberal em economia, rejeitando a submissão da
economia a Deus e a suas leis, é conservador? Aquele que vai contra o aborto,
mas defende a contracepção, é conservador? Aquele que se diz católico, mas
sorrateiramente escapa da doutrina da Igreja dizendo-se médico, economista ou
filósofo é conservador? Qualquer coisa, praticamente, pode ir entrando nesse
conceito de conservador. Uma confusão generalizada é a união dos rotulados
conservadores. E rotulados conservadores por quem? É uma boa pergunta. Pode o
católico unir-se a um não católico para combater um mal, como o aborto, por
exemplo? Sim, mas com condições precisas: os católicos não podem aprovar ou
conceder nada que esteja em conflito com a revelação divina ou com a doutrina
da Igreja, mesmo nas questões sociais, dizia o Santo Ofício em 5 de junho de
1948 orientando solidamente os católicos. E como dizia São Pio X (Il
fermo proposito), o católico que quiser atuar de forma mais política deve
se lembrar, antes de tudo, de ser em toda circunstância católico e de se
mostrar verdadeiramente católico. Assim, uma união vaga e sem critérios muito
bem determinados pelos católicos seria combater um erro favorecendo vários
outros.
Direita e esquerda. O demônio age com as duas
mãos – a esquerda e a direita – para mais facilmente dominar. Infelizmente,
muitos católicos têm um problema de torcicolo, para a esquerda. Só conseguem
ver os problemas na esquerda e não vêm os problemas na direita ou se vêem ficam
procurando pretextos para não condenar esses erros. Não é, em geral, para a
teologia da libertação que o inimigo tentará levar os católicos mais sérios que
começaram a compreender as coisas. Ele tentará levar para a direita. Com erros.
Às vezes bem sutis, com capa de catolicismo, claro.
Muitos católicos, infelizmente, têm se
consagrado a se tornarem direitistas. Conhecem autores e autores direitistas
eivados de erros. Mas não conhecem o básico da doutrina da Igreja. Não conhecem
os documentos papais denunciando os erros modernos. Por isso, não têm uma visão
realmente ampla e profunda dos problemas, mas veem apenas os problemas na
esquerda, porque lhes torceram o pescoço para ver problemas apenas na esquerda.
Falam da infiltração da esquerda, falam da conspiração esquerdista, mas não se
dão conta que a infiltração contra a Igreja vem também da direita, que a
direita está no mesmo plano.
Os católicos iludidos pelas ideias direitistas
se entregam com frequência à política. É o centro da vida deles. E é o por aí
que o erro vai se infiltrar. Pelas ideias políticas tortas é a própria religião
que se perverterá. E a política está na moda. Muitos estão obcecados por ela.
Esquecem-se de fazer a própria parte. Esquecem-se de se santificar e de cuidar
das próprias famílias. Esquecem-se de que a alma de todo apostolado é a
santidade, fundada na verdade católica íntegra. Assim também no campo político.
O Cardeal Pie, grande defensor, no século XIX, da realeza social de Nosso
Senhor Jesus Cristo, afirmava que a “questão social será resolvida pela questão
religiosa, e a questão religiosa diz respeito sobretudo à questão do culto.”
Podemos acrescentar: a questão do culto diz respeito sobretudo à questão da
Missa.
Caros católicos, como pai preocupado com os
filhos, digo: não sejam de direita nem de esquerda. Nem de centro. Nem de
centro esquerda. Nem de centro direita. Sejam católicos. Ponto. Plenamente.
Aderindo inteiramente e com toda docilidade à doutrina infalível da Santa
Igreja Católica. Sem concessões. Sem orgulho. Sejam católicos. É isso que os
levará à vida eterna. É isso que salvará a família de vocês. É isso que
colocará ordem novamente na sociedade. Estamos vivendo muito claramente o que
São Paulo disse: “virá um tempo em que (muitos) não suportarão a sã
doutrina, mas acumularão mestres em volta de si, ao sabor das suas paixões, (levados)
pelo prurido de ouvir. Afastarão os ouvidos da verdade e os aplicarão às
fábulas.” Acumularão mestres que dizem estar sempre certos ou que se afirmam
profetas inerrantes. Ao padre, como diz São Paulo, cabe: pregar a palavra,
insistir a tempo e fora de tempo, repreender, corrigir, admoestar com toda a
paciência e doutrina.
Que Nossa Senhora, que esmaga os erros e as
heresias, possa esmagar também esse erro que se dissemina nos meios católicos e
na nossa pátria. Rezemos o Santo Rosário para que ela nos ajude.
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.
Amém.
Amém.
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