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O
Sacramento da Eucaristia – I
Dom Henrique Soares da
Costa, Bispo de Palmares (PE).
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Vamos, agora, tratar de Eucaristia, o último dos
sacramentos da iniciação cristã, o último dos sacramentos que nos inserem na
vida do Cristo morto e ressuscitado, fazendo-nos plenamente cristãos. Trata-se
do maior e mais sublime de todos os sacramentos, o Sacramento por excelência –
o Santíssimo Sacramento!
Como falar deste sacramento é muito complexo,
dada a riqueza e a pluralidade de facetas da Eucaristia, vamos seguir o esquema
do Catecismo da Igreja Católica, comentando-o e aprofundando-o. E vamos iniciar
precisamente citando Catecismo: O nosso Salvador instituiu na Última Ceia,
na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu
Sangue, para perpetuar no decorrer dos séculos, até ele voltar, o sacrifício da
cruz, e para confiar, assim, à Igreja, sua amada esposa, o memorial da sua
morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de
caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e
nos é dado o penhor da glória futura” (n. 1323). Estas palavras resumem de
modo admirável o sentido e a riqueza da Eucaristia. Já aqui é interessante
observar algo muito importante: quando falamos em Eucaristia não estamos
pensando primeiramente na hóstia e no vinho consagrados, mas sim na Celebração
eucarística, isto é, na Missa, sacrifício eucarístico do Corpo e do Sangue do Senhor,
para perpetuar no decorrer dos séculos, até que ele venha, o sacrifício da
cruz! Então, a Eucaristia é a Missa! Mas, que significa “missa”? Onde, nas
Escrituras Sagradas, se fala nela?
No decorrer da história este sacramento teve
vários nomes, cada um deles sublinhando um aspecto deste mistério tão rico.
Primeiramente chamou-se “Eucaristia”,
palavra grega que significa, “ação de graças”. O termo aparece muitas vezes o
Novo Testamento e refere-se à bênção de ação de graças que tantas vezes
Jesus pronunciou nas suas refeições com os discípulos: “E tomou o pão, deu
graças (= eucaristizou), partiu e distribuiu-o entre eles, dizendo: ‘Isto é
o meu corpo que é entregue por vós” (Lc 22,19); “O Senhor Jesus tomou o pão e,
depois de dar graças (= eucaristizar), partiu-o...” (1Cor 11,23s).
Na religião dos judeus, a bênção de ação de graças era proclamação das obras de
Deus: a criação, a redenção e a santificação. Israel dava graças pelas grandes
obras do Senhor em seu favor. Por isso, os cristãos, cumprindo a ordem do
Senhor Jesus, celebram a Ação de Graças a Deus pela sua grande obra: ter
entregado o seu Filho desde a encarnação até a consumação na cruz, tê-lo
ressuscitado dos mortos e o feito assentar-se à sua direita na glória. Assim,
celebrar a santa Eucaristia é bendizer e agradecer a Deus por tudo que nos fez
pelo seu santo Filho Jesus.
Outro nome dado à Eucaristia, já no novo
Testamento, foi “Ceia do Senhor” (cf. 1Cor 11,20), porque este
sacramento é a celebração daquela ceia que o Senhor comeu com os seus
discípulos na véspera da Páscoa. Por um lado, aquela ceia era já a celebração
ritual, em gestos, palavras e símbolos, daquilo que o Senhor iria realizar no
dia seguinte: ele se entregaria totalmente na cruz, iria nos dar seu corpo e
seu sangue: “Comei: isto é o meu corpo que será entregue na cruz! Bebei: isto é
o meu sangue que será derramado por vossa causa!” Por outro lado, esta ceia
sagrada, chamada Última Ceia, já antecipava a ceia das núpcias do Cordeiro,
núpcias de Cristo ressuscitado com sua Esposa, a Igreja, na Jerusalém celeste: “Felizes
aqueles que foram convidados para o banquete das núpcias do Cordeiro” (Ap
19,9). Participar da Ceia do Senhor é não somente participar da Ceia que
Jesus celebrou como memorial de sua paixão, morte e ressurreição, mas também já
antecipar, já saborear, na força do Espírito Santo, a ceia do Banquete celeste,
quando o próprio Esposo, Jesus, será o alimento eterno para sua Esposa, a
Igreja. Em outras palavras: é uma ceia que começa na terra e durará no céu, por
toda a eternidade!
Mais um nome para este sacramento santíssimo: “Fração
do Pão”. É um nome antigo, presente também já no novo Testamento, sobretudo
nos Atos dos Apóstolos. Este rito de partir o pão, típico da ceia judaica, foi
muitas vezes repetido por Jesus quando abençoava e distribuía o pão (cf. Mt
14,19; 15,36; Mc 8,6.19) e, sobretudo, na Última Ceia, quando ele partiu o pão.
Através desse mesmo gesto, os discípulos reconheceram o Senhor ressuscitado:
eles o reconheceram ao partir o pão (cf. Lc 24,13-35). Por tudo isso, os
primeiros cristãos usavam a expressão “fração do pão” para designar suas
reuniões nas quais, na ceia, partiam o pão como Jesus e em memória de Jesus.
Deste modo, os primeiros cristãos queriam revelar a consciência que tinham que
todo aquele que come o único pão partido, pão da Eucaristia, que´e o próprio
Senhor ressuscitado, entre em comunhão com ele e forma com ele um só corpo, que
é a Igreja: “O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue
de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Já que há
um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos
participamos desse único pão” (1Cor 10,16s).
Um outro nome, que era caro aos santos doutores
da Igreja Antiga, sobretudo os de língua grega, era “Santa Synáxis”, que significa
“assembléia”, “reunião”. Isto porque a Eucaristia é para ser celebrada pela
Comunidade eclesial presidida pelo ministro ordenado. Onde a Comunidade se
reúne para a Eucaristia, aí está a Igreja, povo de Deus reunido no único Espírito
Santo, para oferecer o único sacrifício do Filho Jesus para a glória do Pai e
salvação do mundo inteiro.
Continuaremos no próximo artigo. Ainda temos
muito para ver.
Fonte:
Dom
Henrique Soares da Costa. O Sacramento da Eucaristia – I. Disponível em <
http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/eucaristia/184-o-sacramento-da-eucaristia--i>
Desde 29 de Dezembro de 2008.
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