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O
Sacramento da Eucaristia – II
Dom Henrique Soares da
Costa, Bispo de Palmares (PE).
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No tópico passado de nossa série sobre a
Eucaristia, começamos a ver os vários nomes dados a esse Sacramento e seus
significados respectivos. Continuemos ainda.
A Eucaristia é chamada também de “Memorial”
da Paixão e Ressurreição do Senhor. Vale a pena compreender bem o sentido da
palavra “memorial”. Ela não significa simplesmente recordação ou memória. Nas
Escrituras, memorial é dito zikaron e significa tornar presente, por
gestos, símbolos e palavras, um fato acontecido no passado uma vez por todas.
Por exemplo: uma vez por ano, os judeus celebravam e celebram ainda hoje a
Páscoa, memorial da saída do Egito. Pois bem, eles, nessa celebração, não
somente recordam a passagem da escravidão para a liberdade, mas tinham e têm a
consciência que, participando da celebração, participam realmente da própria
libertação que Deus operara. Tanto isso é verdade que, ainda hoje, o pai de
família judeu, aquele que preside à celebração, diz assim: “Em toda geração,
cada um deve considerar-se como se tivesse pessoalmente saído do Egito, como
está escrito: ‘Explicarás então a teu filho: isto é em memória do que o
Senhor fez por mim, quando saí do Egito’. Portanto, é nosso dever
agradecer, honrar e louvar, glorificar, celebrar, enaltecer, consagrar, exaltar
e adorar a quem realizou todos esses milagres por nossos pais e para nós
mesmos. Ele nos conduziu da escravidão à liberdade, do sofrimento à alegria, da
desolação a dias festivos, da escuridão a uma grande claridade e do cativeiro à
redenção”. E, depois, acrescenta: “Bendito sejas tu, Adonai, nosso Deus,
rei do universo, que nos redimiste, libertaste nossos pais do Egito, e nos
permitiste viver esta noite para participar do Cordeiro, do pão ázimo e das
ervas amargas”. Ora, é exatamente isso que a Eucaristia é: memorial da
Páscoa do Senhor Jesus. Quando nós a celebramos, torna-se presente no nosso
hoje, na nossa vida, na nossa situação, tudo quanto Jesus fez por nós, que
alcança seu cume na sua morte e ressurreição. Deste modo, a Páscoa do Senhor
está sempre presente e atuante na nossa vida e, através de Jesus e com Jesus,
podemos dizer ao Pai como os judeus dizem: “é nosso dever agradecer, honrar e
louvar, glorificar, celebrar, enaltecer, consagrar, exaltar e adorar a ti,
Adonai, Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo!” Então, assim sendo, não é uma
idéia muito exata afirmar que a missa é a repetição ou a renovação do
sacrifício de Cristo. Não se repete, porque ele foi oferecido uma vez por
todas; não se renova, porque não ficou caduco, envelhecido. Em cada missa
torna-se presente, atuante, o único sacrifício pascal do Senhor, memorial de
sua encarnação, de sua vida humana, de sua paixão, morte e ressurreição, de sua
ascensão ao Pai e do dom do Espírito que ele nos fez!
Outra denominação para a Missa é “Santo
Sacrifício”. Isto porque, como já dissemos, ela torna presente,
“presentifica”, o único e irrepetível sacrifício do Cristo salvador; sacrifício
que o Senhor Jesus deu à sua Igreja para que ela o ofereça até que ele venha em
sua Glória. Por isso mesmo, é chamado de sacrifício de louvor, sacrifício
espiritual (porque oferecido na força do Espírito Santo), sacrifício puro e
santo (porque sacrifício do próprio Cristo Jesus). Este santo sacrifício da
Missa leva à plenitude todos os sacrifícios de todas as religiões e,
particularmente, aqueles do Antigo Testamento. Podemos até recordar as palavras
da profecia de Malaquias, na qual Deus prometia a Israel um sacrifício perfeito
ao seu nome: “Sim, do levantar do sol ao seu poente o meu nome será grande
entre as nações, e em todo lugar será oferecido ao meu nome um sacrifício de
incenso e uma oferenda pura” (1,11). Cristo, com seu sacrifício único e
irrepetível, que entregou à sua Igreja para celebrá-lo até que ele venha,
ofereceu este sacrifício, cumprindo a profecia.
Ainda um outro nome para a Missa: “Santa e
Divina Liturgia”. São os católicos orientais que gostam mais de denominar
assim a Eucaristia. Chamam-na “liturgia” porque toda a liturgia da Igreja
(todas as suas celebrações), encontra seu centro, sua fonte, seu cume e sua
mais densa expressão na celebração da Eucaristia. É no mesmo sentido que
chamamos a Missa de “Santos Mistérios”. “Mistérios”, falando
teologicamente, são os sacramentos, são os gestos e palavras pelas quais a
salvação chega até nós. Ora, o Mistério da Eucaristia é o canal privilegiado
pelo qual entramos em contato com a graça advinda da Páscoa do Cristo Jesus!
“Comunhão” – eis aqui outro nome dado à Eucaristia.
Nome belíssimo! É chamada assim porque nela nos unimos a Cristo, que nos faz cada
vez mais membros do seu Corpo e, assim, membros uns dos outros – pois o Corpo
de Cristo é a Igreja, que somos nós. Comungando no Corpo do Senhor, entramos em
comunhão com Cristo e, em Cristo, pleno do Santo Espírito, entramos em comunhão
uns com os outros.
Outra expressão, também cara aos nossos irmãos
católicos orientais, é “Coisas Santas”. Coisas Santas são o Pão e o
Vinho eucarísticos, Corpo e Sangue do Senhor, que cria a Comunhão dos Santos,
que é a Igreja. Comungando as Coisas Santas, entramos em comunhão uns com os
outros em Cristo, tornamo-nos membros da Comunhão dos Santos, que é a Igreja, e
comprometemo-nos a viver tal comunhão na vida de cada dia, como comunhão de
vida, pela solidariedade, pela partilha, pelo amor fraterno.
Finalmente, o termo mais popular entre nós: “Missa”.
Esta palavra foi adotada na Idade Média e vem do latim “missio” (=
missão, envio). Recorda a despedida da Celebração eucarística: “Ite, missa
es!t” É este “ide!” que exprime a missão (= a missio) de quem
participa da Eucaristia. Celebrar a Páscoa do Senhor exige do cristão a missão
de testemunhar e anunciar o Cristo. É como se, ao final da Celebração,
fosse-nos dito: agora que vocês participaram do Corpo e do Sangue do
Ressuscitado, vão pelo mundo e testemunhem sua vitória. Ele está vivo! Vocês,
que comeram e beberam com ele, serão testemunhas disso até os confins da terra!
Fonte:
Dom
Henrique Soares da Costa. O Sacramento da Eucaristia – II. Disponível em <
http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/eucaristia/183-o-sacramento-da-eucaristia--ii>
Desde 29 de Dezembro de 2008.
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