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O
Sacramento da Eucaristia – III
Dom Henrique Soares da
Costa, Bispo de Palmares (PE).
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Já vimos, de modo geral, o que é a Eucaristia.
Vimos também os vários nomes que são dados a este Sacramento e seus vários
significados. Agora vejamos como ele está presente na Sagrada Escritura.
Já durante o seu ministério público, o Senhor
Jesus foi dando indicações daquilo que depois seria este santo Sacramento.
Vejamos algumas, mais significativas.
Primeiramente dois sinais particularmente
importantes, realizados pelo Senhor: ele transformou água em vinho e
multiplicou os pães. Mais ainda: várias vezes comparou o Reino de Deus a um
banquete. Sobretudo em Jo 6,51ss, as palavras de Cristo são bem claras: “Eu
sou o pão descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. O pão que eu
darei é a minha carne para a vida do mundo. Em verdade, em verdade, vos digo:
se não comerdes a carne do Filho do Homem em ao beberdes o seu sangue, não
tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida
eterna, pois minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é
verdadeiramente bebida. Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo
Pai, também aquele que come de mim, viverá por mim”. O texto não permite
pensar em metáforas; trata-se, ao invés, de algo real, concreto: o pão e o
vinho eucarísticos são, realmente, o corpo e o sangue do Senhor. Por isso
mesmo, os evangelhos, quando narram a multiplicação dos pães, usam sempre as
mesmas palavras para indicar os gestos de Jesus na Última Ceia: ele tomou o pão,
deu graças, partiu e distribuiu (cf. Mt 14,13-21; Lc 9,10-17; Jo 6,1-13; Mc
8,1-10). A Eucaristia, já preparada pelo Cristo, foi por ele instituída na
Última Ceia: aí o Senhor deu à Igreja o mandamento do amor – ele mesmo, que nos
amou até o extremo da cruze da sepultura e se colocou como modelo e medida do
amor. E para deixar o sacramento, o penhor desse amor mais forte que a morte,
instituiu a Eucaristia como memorial de sua morte e ressurreição, de sua
entrega amorosa, pascal! Assim, no momento de fazer sua Passagem (= Páscoa) do
mundo para o Pai através de sua entrega de amor na cruz, o Cristo Jesus deixou
para a sua Igreja o sacramento de sua Páscoa de amor: o sacrifício eucarístico!
Cumpriu-se, assim, a Páscoa dos judeus, que era memorial da passagem da
escravidão de morte no Egito para uma libertação de vida na Terra Prometida.
Jesus deu à Páscoa dos judeus seu significado definitivo: a nova Páscoa, Páscoa
de Jesus, foi antecipada na Ceia, é continuamente celebrada na Eucaristia, que
leva a cumprimento a Páscoa judaica e antecipa a Páscoa final da Igreja, quando
passaremos deste mundo para o Pai com Jesus e por causa de Jesus.
É interessante observar já aqui que a
instituição da Eucaristia por Cristo dá-se no contexto, no clima, de entrega e
sacrifício de sua vida: “É o meu corpo, que será entregue; é o meu sangue,
que será derramado”... Finalmente, o Senhor ordena que a Igreja celebre o
seu gesto até que ele venha (cf. 1Cor 11,26). Foi isto que a Igreja sempre fez
ao celebrar a Eucaristia. O Novo Testamento nos dá muitíssimos exemplos disso.
Desde o início, a Igreja foi fiel à Fração do Pão (cf. At 2,42.46). Sobretudo
no primeiro dia da semana, aquele dia que o Apocalipse chama já de Dia do
Senhor (cf. 1,10), os cristãos se reuniam para partir o pão: “No primeiro
dia da semana, estando nós reunidos para a Fração do Pão, Paulo entretinha-se
com eles...” (At 20,7). Este texto é importante. Aqui aparece a
Celebração eucarística aos domingos, logo no início do cristianismo. Aquilo que
a Igreja faz hoje – celebrar dominicalmente a Eucaristia -, sempre fez, desde a
época apostólica, por ordem do Senhor Jesus! Assim, como diz o Catecismo da
Igreja, “de celebração em celebração, anunciando o mistério pascal de Jesus,
‘até que ele venha’ (1Cor 11,26), o Povo de Deus avança, caminhando pela
estrada da cruz, rumo ao banquete celeste, quando todos os eleitos haverão de
sentar-se à mesa do Reino” (n. 1344).
Para ilustrar o que dissemos, baste-nos, por
agora, o profundo texto de São Paulo, em sua primeira Epístola aos Coríntios: “Eu
mesmo recebi do Senhor o que vos transmiti: na noite em que foi entregue o
Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o
meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória (= memorial) de mim’. Do mesmo
modo, após a ceia, também tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova
Aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória (=
memorial) de mim’. Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse
cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” (1Cor 11,23-26). Um
pouco mais tarde, lá pelo ano 155, São Justino, mártir cristão, explicaria ao
Imperador romano, Antonino Pio: “No dia chamado ‘do Sol’ (= é o domingo
cristão), reúnem-se todos juntos, habitantes das cidades e dos campos. São
lidas as memórias dos Apóstolos (= nossos evangelhos atuais e os outros livros
do Novo Testamento) e os escritos dos profetas (= o Antigo Testamento), tanto
quanto o tempo permite. Depois, quando o leitor termina, aquele que preside nos
admoesta e nos exorta a imitar esses bons exemplos. Depois, todos juntos, nos
colocamos em pé e elevamos orações seja por nós mesmos, seja por todos os
outros, onde quer que se encontrem... Terminadas as orações (= oração dos
fiéis), saudamo-nos uns aos outros com um beijo. Depois, são trazidos àquele
que preside um pão e um cálice de água e vinho. Ele os toma e eleva o louvor e
glória ao Pai do universo em nome do Filho e do Espírito Santo e faz uma ação
de graças (= em grego, ‘eucaristia’. É a atual Oração eucarística) para que
esses dons sejam dignos de Deus. Quando ele termina as orações e a ação de
graças (= a Oração eucarística), todo o povo presente aclama: ‘Amém’. Depois
que o que preside fez a ação de graças e todo o povo aclamou, aqueles que nós
chamamos diáconos distribuem a cada um dos presentes o pão e o vinho com água
‘eucaristizados’ e os levam aos ausentes...”
Que coisa linda! Dois mil anos se passaram e a
Igreja de Cristo, fidelíssima à Tradição Apostólica, continua fazendo o que
sempre fez: celebrando a Eucaristia até que venha o seu Senhor!
Fonte:
Dom
Henrique Soares da Costa. O Sacramento da Eucaristia – III. Disponível em <
http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/eucaristia/182-o-sacramento-da-eucaristia--iii>
Desde 29 de Dezembro de 2008.
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