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O
Sacramento da Eucaristia – V
Dom Henrique Soares da
Costa, Bispo de Palmares (PE).
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Nos últimos dois tópicos, vimos textos da
Escritura que tratam da Eucaristia. Agora, veremos alguns textos da Igreja
antiga, que mostram bem o quanto a Comunidade cristã sempre celebrou e viveu o
Sacramento do corpo e do sangue do Senhor.
Santo Inácio de Antioquia, mártir de Cristo, lá
pelos anos 90 do século I da era cristã, aconselhava aos Efésios: “Procurai,
pois, reunir-vos com mais freqüência, para dar a Deus a ação de graças (=
Eucaristia) e louvor. Porque quando vos congregais com freqüência num mesmo lugar,
quebram-se as forças de Satanás”. Para o santo bispo de Antioquia, a
Eucaristia, único corpo do Senhor, é sacramento (= sinal eficaz) da unidade da
Igreja. Aos filadélfios, ele exortava: “Esforçai-vos, portanto, para usar
uma só Eucaristia, pois uma só é a carne de nosso Senhor Jesus Cristo e um só é
o cálice que nos une no seu sangue, um só altar, como um só Bispo junto com o
presbitério e com os diáconos”. Sendo conduzido preso para Roma para ser
jogado às feras por causa de Cristo, Santo Inácio assim escrevia aos romanos: “Não
sinto prazer pela comida corruptível nem pelos deleites desta vida. Quero o pão
de Deus, que é a carne de Jesus Cristo e por bebida, quero o sangue dele, o
qual é a caridade incorruptível”.
Um outro belo testemunho encontra-se na Didaqué,
que é o primeiro catecismo da Igreja, escrito lá pelo final do século I. Com
palavras que hoje emocionam qualquer católico, o autor, no início do
cristianismo, orienta os cristãos sobre o modo de celebrar o Sacramento da
Missa: “No que concerne à Eucaristia, celebrai-a da seguinte maneira:
primeiro sobre o cálice, dizendo: ‘Nós te damos graças (eucharistoumen =
te fazemos eucaristia), nosso Pai, pela santa vinha de Davi, teu servo (= a
vinha é a Igreja, Davi é o Cristo), que tu revelaste por Jesus, teu servo. A ti
a glória pelos séculos! Amém’. Sobre o pão a ser fracionado: ‘Nós te
agradecemos, nosso Pai, pela vida e pelo conhecimento que nos revelaste por
Jesus, teu servo. A ti a glória pelos séculos. Amém. Ó Pai, da mesma maneira
como este pão partido primeiro fora semeado sobre as colinas e depois recolhido
para tornar-se um, assim, das extremidades da terra seja unida a tua Igreja em
teu Reino!’ Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado
em nome do Senhor. Pois a respeito dela o Senhor disse: ‘Não deis aos cães as
coisas santas!’” Observemos como neste texto a Eucaristia aparece como ação
de graças ao Pai por Jesus e como o Sacramento que reúne a Igreja na unidade.
Mais adiante, ainda na Didaqué, o autor recomenda: “Reuni-vos no Dia do
Senhor (= Domingo, Dies Domini) para a Fração do Pão e celebrai a Eucaristia,
depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja
puro. Mas todo aquele que vive em discórdia com o outro, não se junte a vós
antes de se ter reconciliado, a fim de que vosso sacrifício não seja profanado.
Com efeito, deste sacrifício disse o Senhor: ‘Em todo o lugar e em todo o tempo
se me oferece um sacrifício puro, porque sou um grande rei – diz o Senhor – e o
meu nome é admirável entre todos os povos!’” É emocionante ver um texto do
primeiro século cristão que exprime a fé da Igreja apostólica e perceber que
ainda hoje, dois mil anos depois, a Igreja de Cristo permanece fiel à fé de
nossos antepassados: no Domingo, os cristãos participavam da Eucaristia,
sabendo que ela é o sacrifício do Senhor Jesus! Dá pena ver tantas e tantas
seitas cristãs que, abandonando a fé católica, recebida desde o início,
mutilaram tristemente a fé transmitida pelos Apóstolos!
Num outro artigo sobre a Eucaristia, já citei um
belíssimo texto de São Justino, mártir, que lá pelo ano 155, explicava como se
celebrava este Sacramento. Agora, cito ainda um texto seu. Vele a pena! “Este
alimento é chamado entre nós de Eucaristia, do qual a nenhum outro é permitido
participar, senão a quem crê que nossa doutrina é verdadeira e que foi
purificado com o Batismo para o perdão dos pecados e para a regeneração e que
vive como Cristo nos ensinou. Porque estas coisas, nós não as tomamos como pão
comum nem bebida comum, mas assim como o Verbo de Deus, havendo-se encarnado em
Jesus Cristo, nosso Salvador, tomou carne e sangue para nossa salvação, assim
também nos foi ensinado que o alimento eucaristizado mediante a palavra da
oração que vem dele... é a carne e o sangue daquele Jesus que se encarnou!”
Notemos como aparece claríssima a convicção de que o pão e o vinho
eucaristizados (= consagrados) são verdadeiramente corpo e sangue do Senhor!
Também Santo Irineu, o grande Bispo de Lião, na
Gália do século II, tem palavras belíssimas sobre a Eucaristia. Tomemos
algumas. No primeiro texto, combatendo os hereges gnósticos, que negavam a
ressurreição, avós do espiritismo e da Nova Era, ele usa a Eucaristia como
prova de que os mortos ressuscitam carnalmente. Eis: “Como (os hereges) podem
dizer que a carne se corrompe e não participa da vida (= não ressuscita), ela
que é alimentada com o corpo e sangue do Senhor? Portanto (os hereges), ou
mudem de opinião ou deixem de oferecer as ditas coisas (= o pão e o vinho
eucarístico, que eles ofereciam nas missas deles). Para nós, contudo, nossa
crença concorda com a Eucaristia e a Eucaristia, por sua vez, confirma a nossa
crença. Porque assim como o pão que é da terra, recebendo a invocação de Deus
(= quando o padre impõe as mãos pedindo o Espírito Santo e pronunciando as
palavras da consagração), já não é pão ordinário, mas sim Eucaristia, assim
também nossos corpos, recebendo a Eucaristia, não são mais corruptíveis, mas
possuem a esperança da ressurreição para sempre!” Este texto é de uma
beleza e de uma profundidade impressionantes! Santo Irineu garante: nós
ressuscitaremos e já recebemos a garantia da ressurreição, que é a Eucaristia.
O pão, depois de consagrado, é o corpo do Senhor, é pão de vida, assim, nossa
carne que recebe a carne ressuscitada de Cristo, cheia do Espírito Santo, não
permanecerá na morte, mas ressuscitará, exatamente como Jesus prometera: “quem
come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei
no último dia!” (Jo 6,54).
Ainda um texto de Santo Irineu, para fazer corar
de vergonha qualquer um que nogue que nossa carne ressuscitará: “quando
pois, o cálice misturado (com água) e o pão recebem o Verbo de Deus e se fazem
Eucaristia, Corpo de Cristo, com o qual a substância de nossa carne aumenta e
se faz, como podem dizer que nossa carne não é capaz do dom de Deus, que é a
vida eterna, a carne alimentada com o corpo e o sangue do Senhor e feita membro
dele?” A questão colocada aqui por Santo Irineu é clara: como é que os
hereges têm coragem de dizer que nossa carne, nosso corpo, não pode
ressuscitar, não pode herdar a vida eterna, se ela é alimentada com a
Eucaristia? A Eucaristia é, portanto, penhor de nossa ressurreição. É por isso
que nossa Mãe católica tem tanto cuidado e pede tanto aos padres que assistam
os doentes às portas da morte, para que eles recebam em viático a comunhão. Aí,
o padre diz ao que está morrendo: “O corpo de Cristo te guarde para a vida
eterna!” Que coisa, que graça: morrer alimentando-se com a Vida que vence a
morte; morrer unido – carne na carne! – Àquele que destruiu a morte! Santa
Eucaristia!
Ainda continuaremos...
Fonte:
Dom
Henrique Soares da Costa. O Sacramento da Eucaristia – V. Disponível em <
http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/eucaristia/180-o-sacramento-da-eucaristia--v>
Desde 29 de Dezembro de 2008.
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