segunda-feira, 25 de abril de 2016

Frei Damião Bozzano: VI. Sacramentos; VII. Batismo


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VI. Sacramentos; VII. Batismo   
Frei Damião de Bozzano
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O Sacramento é um sinal sagrado produtivo da graça, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Sinal é o que conduz ao conhecimento de alguma coisa que não esta ao alcance de nossos sentidos. Pode ser natural e convencional, segundo a sua relação com a coisa seja fundada em a natureza ou sobre uma convenção. Por exemplo: A fumaça é o sinal natural do fogo; as lágrimas o são da dor; uma luz vermelha colocada em meio ao caminho é um sinal convencional de perigo.

Também os Sacramentos são sinais e sinais sagrados, porque indicam algo de sagrado, isto é, a graça divina. Note-se, porém, que não são sinais vazios, isto é, não indicam apenas a graça, mas de fato produzem a graça que significam. Por isso Jesus, falando do Batismo disse: "Se alguém não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus”. (Jo 3, 5). 

Como se vê, Jesus aqui atesta que também a água do batismo é causa do nosso renascimento espiritual: O Espírito Santo é a causa principal e a água causa instrumental, isto é, meio, instrumento de que se serve Deus, para nos fazer nascer para a vida da graça. 

Erram, pois os protestantes, quando ensinam que os Sacramentos são meras cerimônias exteriores, testemunhando que a graça esta na alma, sem o poder de infundi-la. Não, além de sinais, são causas que por sua própria virtude produzem a graça independentemente dos méritos de quem os administra e das disposições de quem o recebe. Uma chave manejada quer por uma pessoa sadia quer por uma doente, abre sempre a porta, e assim também um Sacramento, quer administrado por um Santo, quer por um pecador produz igualmente a graça, contanto que seja administrado como Jesus o determinou. 

Quanto às disposições de quem os recebe, são necessárias para que os Sacramentos produzam a graça, mas não são essas disposições que dão aos Sacramentos a virtude de produzir a graça, assim como a secura da madeira não dá ao fogo a virtude de queimar. 

Diferem, pois, os Sacramentos da Oração, das obras e dos sacramentais, (água benta, imposição das cinzas etc.) que tiram a eficácia unicamente das disposições religiosas do sujeito. 

Dissemos também que os Sacramentos são sinais instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo. É evidente, com efeito, que somente Deus pode ligar um sinal sensível a faculdade de produzir a graça. Não é Ele o dono da graça? Portanto Dele depende determinar como quer comunicar a graça. 

Os Sacramentos são sete. 

De fato os Gregos cismáticos, que se separaram da Igreja Católica no século IX e os Nestorianos, caldeus, coptas, que se separam no século V, tem os seus sacramentos conforme aos nossos, quanto ao número e a natureza. 

Mas não se pode admitir que tenham recebido esta crença da Igreja romana depois da separação, considerada a hostilidade, que sempre nutriram contra os católicos latinos. 

É lógico, portanto, concluirmos que ao tempo do cisma, isto é, respectivamente nos séculos IX e V a doutrina da existência dos sete Sacramentos era doutrina da Igreja inteira. E, por conseguinte, tivera origem dos Apóstolos, porque caso se houvesse introduzido, nos séculos precedentes, algum sacramento, tal inovação não se podia realizar, sem provocar discussões muito vivas. E disto nenhum vestígio existe nos escritos dos Padres. 
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VII. Batismo

O BATISMO é um sacramento que nos torna cristãos, isto é, sequazes de Jesus Cristo, filhos de Deus e membros da Igreja. 

Que seja Nosso Senhor o autor do batismo é claro pelo próprio evangelho: 

"Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, pois, instrui todas as gentes, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo..."(Mt 28, 18-20). 

"Ide por todo o mundo; pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado, será salvo, quem não crer será condenado. (Mc 16, 15). 

"Se alguém não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus". (Jo 3, 5). 

Em todos os textos acima se manifesta Nosso Senhor autor do batismo e proclama a sua necessidade para a salvação. 

O batismo é para todos necessário: Para os adultos e para as crianças. 

a) É necessário para os adultos. De fato, diz Jesus: "Se alguém não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus". (Jo 3, 5). 

Este renascimento espiritual, que Jesus proclama necessário para entrarmos no reino de Deus, se dá pelo batismo, como aparece no próprio texto e das palavras de S. Paulo, que chama o batismo: "Banho de regeneração". (Tito 3, 5). 

Portanto o batismo é necessário para entrarmos no reino de Deus. 

b) O batismo é necessário também para as crianças, pois, Jesus não faz exceção alguma; mas diz simplesmente: "Se alguém não renascer..." 

Uma criança é alguém, isto é, uma pessoa como todos nós. Portanto, para entrar no reino dos céus, igualmente tem que renascer pelo batismo. 

Além disso ninguém pode conseguir a salvação senão por Jesus Cristo (Rom 18), isto é, senão se incorporar com Jesus Cristo, tornando-se seu membro. Mas em o Novo Testamento ninguém se incorpora com Jesus Cristo senão pelo batismo, conforme se Lê na epístola aos Gálatas (3, 27) "Todos os que fostes batizados, vos revestistes de Cristo". 

Logo todos devem ser batizados, e sem o batismo não se pode conseguir a salvação. 

A própria Sagrada Escritura confirma essa doutrina, pois nos fala de famílias inteiras batizadas (Atos 16, 15,33: 18-8 Cor 1, 16). 

Ora, é verossímil que nelas houvesse crianças. 

Mas é especialmente pela tradição que se prova a necessidade do batismo para as crianças. Eis alguns testemunhos antiquíssimos a esse respeito: 

STO. IRINEU, que viveu no II século, diz: "Todos os que forem regenerados em Jesus Cristo, isto é, crianças, jovens, velhos, serão salvos". (Liv. 4 cap. 22, 14 ). As palavras: 

Os que forem regenerados se devem entender: os que forem batizados, pois a regeneração em Cristo é pelo Batismo, por isso o Apóstolo o chama: "Banho de regeneração". (Tito 3,5). 

ORÍGENES, no terceiro século repete a mesma verdade: : É na Igreja uma verdade provinda dos Apóstolos dar o batismo às crianças". (Liv 5 na epístola aos Rom 9). 

S. CIPRIANO, no III século escreve: Pareceu-me bem e à todo o Concilio que as crianças sejam batizadas mesmo antes do oitavo dia". (Ep. 63) Daí podemos legitimamente concluir: Se os cristãos dos primeiros séculos batizavam seus filhos, apenas nascidos, sem dúvida era por ordem dos apóstolos e, por conseguinte, do próprio Jesus Cristo. 

E porque também as crianças devem ser batizadas para entrarem no céu? Ei-lo: 

O céu é a herança de Deus. 

Ora, tem direito à herança somente aquele que é filho. 

Portanto, tem direito ao céu aquele que é filho de Deus. 

Mas, nós, simples homens, não somos filhos de Deus, pois, não possuímos a mesma natureza como é exigida entre pai e filho. 

Portanto não temos direito ao céu. O que nos torna verdadeiramente filhos de Deus é a graça santificante, que é uma participação da própria natureza divina. Uma alma adornada de graça santificante, é filha de Deus e, por conseguinte tem direito ao céu. 

Esta graça divina tinha sido dada aos nossos primeiros pais com direito de transmiti-la também a nós, seus descendentes, sob a condição; porém, de que se mantivessem fiéis a Ele. Mas não mantiveram a condição; desobedeceram a Deus; por isso perderam essa graça para si e para todos nós. Hoje ninguém no primeiro instante de sua existência, possui a graça santificante (exceto Maria Santíssima, em virtude dos merecimentos de Jesus Cristo, seu Filho). E esta privação da graça santificante, em que todos somos concebidos, é justamente o que se chama pecado original. Foi em vista disto que S. Paulo escreveu: "Somos por nascimento filhos da ira" (Ef. 2) e também: 

"Todos pecamos em Adão" (Rom 5, 12). 

Quando é que pela primeira vez nos é prodigalizada a graça divina? Quando recebemos o batismo. Eis porque também as crianças devem ser batizadas, para se tornarem, pela graça santificante, filhas de Deus. 

Dizem os protestantes: Jesus diz: "Ide, pregai o evangelho a toda criatura; quem crer e for batizado, será salvo. Quem não crer será condenado". (Mt 15, 16). 

Mas a criança não pode crer, logo não pode ser batizada. 

Aqui Jesus fala dos adultos, pois fala de pregação do Evangelho; e a pregação só pode se dirigir a uma pessoa adulta, isto é, a uma pessoa que já tenha o uso da razão. 

Portanto deste mesmo texto resulta que um adulto, para ser batizado, deve crer. 

Mas não resulta absolutamente que só os adultos devem ser batizados. 

Ainda os protestantes: o batismo impõem obrigações; por isso não se pode administrar a uma criança sem o consentimento da mesma. Alcance primeiro o uso da razão, e então por si mesma resolverá, se quer, ou não quer pertencer a religião cristã e receber este sacramento. 

É verdade que o batismo impõe obrigações, mas são obrigações que a própria criança tem que aceitar apenas tiver alcançado o uso da razão; por isso bem podem os pais aceitar, em nome da mesma, estas obrigações, batizando-a, apenas nascida. 

Além disso, o batismo confere, a quem o recebe o privilégio de filho de Deus e herdeiro do céu. 

Portanto, aos pais, batizando os filhos, apenas nascidos, bem longe de fazerem uma afronta à sua liberdade, fazem, pelo contrário o que de melhor por eles podem fazer. 

E se não batizassem seriam cruéis para com os mesmos. Explico-me com um exemplo. Uma potentado se apresenta a dois esposos, que, há pouco, receberam a dádiva preciosa de um filho, e lhes diz: "Tenho a vontade de constituir o vosso filho herdeiro de todos os meus bens; é preciso, porém, que me concedais a licença de fazê-lo". E eles: "Sentimos muito, mas não podemos conceder esta licença, porque seria ofender a sua liberdade. O Sr. tenha a bondade de esperar que o nosso filho chegue ter compreensão do que está fazendo, e então lhe perguntará, se quer ou não quer aceitar a herança". 

Por acaso, seria o comportamento destes pais para com o filho louvável? Certamente que não. 

O mesmo se diga em nosso caso: O batismo oferece à criança direitos e bens de uma fortuna de inapreciável valor, de suma importância. Não é, pois, preciso esperar que alcance o uso da razão, para se lhe administrar o batismo. Os pais que esperam até aquela época são dignos de severa repreensão. 

E de resto, não se costuma em toda parte registrar os filhos apenas nascidos? 

Ora, se por este privilégio adquirem os direitos de cidadãos do país, contraem, igualmente os respectivos deveres; e contudo ninguém jamais pensou que se deva fazer o registro civil, somente quando os filhos tiverem atingido o uso da razão. 

Por que, pois, não será lícito administrar aos filhos, apenas nascidos, o batismo, pelo qual adquirem eles o direito de cidadãos do céu? 

Não há, portanto, motivo algum para diferir o batismo dos filhos até a idade adulta; e os que assim fizerem, são culpados diante de Deus. 

O batismo se pode conferir validamente quer por imersão, quer por infusão, isto é, despejando água na cabeça, quer também por aspersão, isto é, jogando água no batizando. 

Prova-se pela Sagrada Escritura. 

Batizar é palavra grega que em nossa língua significa não somente mergulhar, mas também lavar. Por exemplo, a Sagrada Escritura diz que os fariseus, vindo da praça pública, não comem sem lavar as mãos ( Mc 7, 4 ). No texto original o lavar é batizar. 

Ora, uma pessoa pode ser lavada de três modos: mergulhando-a na água; despejando-se água sobre a mesma, ou jogando-se lhe água. 

De que modo Nosso Senhor quer que os homens sejam batizados, isto é, lavados? Nada determina Ele a respeito. 

Portanto, a Igreja pode determinar, escolher o modo que mais lhe aprouver. 

O Batismo por imersão foi principalmente usado na Igreja por muitos séculos. 

Contudo, já desde o tempo dos Apóstolos às vezes, se conferia por infusão, isto é, despejando água na cabeça como resulta de algumas pinturas que ainda hoje se conservam nas catacumbas, como se vê no batismo de S. Romão, administrado por S. Lourenço e do batismo de pessoas acamadas (S. Cornélio, epist. Fábio c. 14) como expressamente se ensina na doutrina dos doze Apóstolos (c. 7): "Se não tiveres água de fonte, batiza com outra água; se não tiveres água fria, batiza com água morna. E se não tiveres água suficiente para imersão, despeja três vezes água na cabeça em nome do Padre do Filho e do Espírito Santo". 

Além disso lemos na Sagrada Escritura que S. Paulo se levanta para receber o batismo (Atos 9, 18; 22, 16) e na cidade, à meia noite, batiza o carcereiro e outros de sua família (Atos, 16, 33). 

Ora, é muito improvável que o batismo tenha sido conferido por imersão nessas ocasiões, porque como se pode supor que na casa e na prisão houvesse tanque próprio para nele mergulhar uma pessoa? 

O mesmo se diga do batismo que foi conferido a três mil homens no dia de Pentecostes. (Atos 2, 41). 

Poderíamos também acrescentar que, se a imersão fosse necessária para o valor do batismo, a sua administração tornar-se-ia frequentemente muito difícil por falta de água, ou pelo frio, ou pela multidão, ou pelas enfermidades dos batizados, que podem ser crianças recém nascidas, velhos, moribundos... 

Conclusões práticas. 

As mães em estado interessante devem se abster de tudo o que podem prejudicar o fruto que trazem no seu seio. E as que provocam voluntariamente o aborto são duplamente homicidas porque suprime a vida ao filho e lhe impedem a entrada ao reino dos céus, por morrer sem batismo. A Igreja, para inspirar horror a este crime, fulmina de excomunhão não somente as mães, mas também os que mandam ou que aconselham o aborto, os que para tal ensinam remédios ou o aplicam. 

Os pais tem a obrigação grave de batizar quanto antes os seus filhos, para não exporem ao perigo de privá-los para sempre da glória do céu. E se, por acaso, se acharem os filhos em perigo de morte, devem batizá-los em sua casa, derramando água natural sobre as cabeças dos mesmos e, ao mesmo tempo, pronunciando estas palavras: "Eu te Batizo em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo". Estando presente outras pessoas que saibam e queiram batizar, sejam batizados os filhos por estas pessoas, e se não estiverem presentes outras pessoas, ou estas não souberem ou não quiserem batizar, então os próprios pais batizem seus filhos, em perigo de morte. 
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Autor: Frei Damião Bozzano, Missionário Capuchinho: Em Defesa da Fé.
Imprimatur: Frei Otávio de Terrinca, ofmcap - 20/08/1953
Editora: Paulinas - 3 Edição - 1955

Fonte

Para citar
BOZZANO, Frei Damião. Em Defesa da Fé: VI. Sacramentos; VII. Batismo. Disponível em <http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2016/04/frei-damiao-bozzano-vi-sacramentos-vii-batismo.html> Desde 25/04/2016.

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