terça-feira, 26 de abril de 2016

Frei Damião de Bozzano: XV. A Confissão - Sua Instituição Divina Provada pela Tradição e pela Razão


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XV. A Confissão – Sua Instituição Divina Provada pela Tradição e pela Razão 
Frei Damião de Bozzano
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S. João na sua primeira Epístola diz: "Se confessarmos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar esses nossos pecados, e nos purificar de toda iniquidade".

Ele aqui não diz a quem devemos confessar os nossos pecados; somente apresenta a confissão como condição para que Deus seja fiel em manter a sua promessa de perdoar. Mas por um lado, em nenhum lugar do Novo Testamento lemos que Jesus tenha prometido perdoar os pecados aos que se confessassem somente a Deus; e por outro lado, o mesmo Apóstolo declara no seu Evangelho que Jesus prometeu dar por perdoados os pecados que perdoassem os seus ministros; pelo que cumpre dizer que São João fala aqui numa confissão feita aos homens e não somente a Deus.

De resto S. Tiago diz abertamente que a confissão deve ser feita aos homens e não somente a Deus: Confessai uns aos outros os vossos pecados, para serdes salvos." (3, 16).

A que classe de homens devemos confessar nossos pecados? Sem dúvida àqueles que receberam o poder de perdoá-los, como resulta de outros textos da Sagrada Escritura. Por ex., S. Lucas nos atos dos Apóstolos nos refere que então uma grande multidão de fiéis vinham aos pés dos Apóstolos, vinham até onde estavam Paulo e Barnabé, para confessarem e declararem os seus pecados. (Atos 19, 18).

É, pois, certo, pela própria Sagrada Escritura, que a confissão era praticada pelos cristãos desde os primeiros tempos.

Desde então vemos a confissão praticada em todos os séculos posteriores.

Desta divina instituição fala, no primeiro século do cristianismo, S. Clemente Romano, que, exortando numa sua Carta, os fiéis de Corinto a recorrerem à misericórdia divina, dizia-lhes: "Enquanto estamos neste mundo arrependemo-nos de todo o coração, porque depois da morte não podemos mais confessar os nossos pecados, nem fazer penitência".

Desta divina instituição, fala, no segundo século, Tertuliano, que assim adverte os que, por vergonha, deixam de acusar faltas graves na confissão: "Se podemos esconder nossos pecados aos homens, talvez possamos igualmente escondê-los aos olhos de Deus? Que será mais conveniente, perdermo-nos, por esconder os nossos pecados, ou salvarmo-nos, declarando-os? (De Poenc. c. 9).

No mesmo século Sto. Irineu, falando das mulheres, que Marco Gnóstico seduzira por meio de filtros e feitiçarias, divide-as em três classes: umas, voltando ao seio da

Igreja católica, confessavam-se de se terem deixado levar por um louco amor ao seu sedutor; outras, não se contentando com essa confissão secreta, confessavam publicamente o próprio pecado; havia finalmente outras que, por vergonha, deixavam de se confessar e se entregavam ao desespero. (Ad. haer 1, 13).

No terceiro século, S. Cipriano assim exorta os pecadores: "Confesse cada um os próprios pecados durante o tempo da vida presente, em que a confissão é ainda possível, em que a satisfação e a remissão feita pelos sacerdotes ainda é aceita a Deus."(De lapsis, 29).

No século IV Sto. Ambrósio, dirigindo-se ao penitente, diz: "Apresenta-te ao sacerdote, mostra-lhe a tua ferida, afim de que ele possa te curar. Deus certamente conhece o teu mal, mas espera a confissão dele pela tua própria boca". E acrescenta:

"Não esperes ser acusado; se tu te acusas a ti mesmo, não terás outro acusador a temer, porque a confissão humilde dos pecados, nos livra das nossas culpas". (De Poen. liv. 2, c.1).

No século V Sto. Agostinho assim se exprime a respeito da confissão: "Ninguém diga: peco em segredo, peco diante de Deus; Ele que conhece o meu coração, me perdoará. Jesus Cristo disse, pois, sem razão: o que desligardes na terra, será desligado no céu? Foram as chaves dadas, sem fim algum, à Igreja?" E conclui: "Venha, pois, o pecador aos sacerdotes, que receberam o poder de perdoar e deles aceite o modo de penitência". (De agone crist. 31, 33).

E a estes testemunhos dos primeiros séculos poderíamos acrescentar os outros de S. Leão, papa, de São Bernardo, de Sto. Anselmo, como também dos Concílios de Chalon, de Paris, de Mogúcia e chegar até ao Papa Inocêncio III, que os protestantes querem fazer crer inventor da Confissão, só porque no Concílio de Latrão ordenou que todos os fiéis dotados de uso da razão, se confessassem, ao menos, uma vez cada ano.

— Mas pense como quiser, Lutero — dizia o mesmo Henrique VIII, ainda que herege, as provas são evidentes demais: não por costume dos povos, não por instituição de Pontífices ou de Padres, e sim por Deus teve origem a confissão".

E na realidade podemos, falando com razão, negar a instituição divina da confissão e sustentar que foi inventada pelos padres? Não; seria um absurdo, porque, se tivesse sido inventada pelos padres, poder-se-ia indicar o seu autor. De fato a história, que registra os nomes dos que fizeram alguma invenção, sem dúvida nos teria transmitido também o nome daquele que inventou a confissão, tanto mais que se tratava dum negócio de suma importância. Ora, pelo contrário, ninguém pode indicá-lo. Logo grande estultice é dizer que a confissão foi inventada pelos padres, ao passo que não se sabe indicar o seu nome.

Não basta; a razão mostra outrossim que ninguém, senão Deus, podia inventar a confissão. De fato, quem, fora Deus, a teria inventado? Os simples fiéis? Não; eles nunca teriam imposto a si mesmo uma obrigação que tanto humilha o orgulho humano e a que muitos hoje também recusam sujeitar-se.

Talvez os sacerdotes? Mas que motivo, pergunto eu, que motivo os teria podido induzir a impor aos outros este jugo? O interesse? — Ninguém tem coragem de afirmá-lo: na Igreja jamais se costumou receber recompensa para administrar este sacramento.

O prazer? Belo prazer deveras, estar sentado longas horas num confessionário, para ouvir sempre as mesmas misérias humanas!

A curiosidade? Meu Deus! Que querem saber os sacerdotes? Como vão os negócios do penitente, quais são os segredos de sua família? Mas todos sabem que ele não se importa com tudo isto. Ele não quer saber senão os pecados, afim de perdoá-los em nome de Deus. Se a curiosidade tivesse induzido os sacerdotes a instituírem a confissão, nunca teriam imposto a si mesmos a obrigação de guardar os segredo de tudo o que ouvem na confissão a custa até da própria vida.

Mas suponhamos, se quiserdes, que um sacerdote, ou bispo ou padre, tivesse um dia forcejado por introduzir a confissão: como teria podido induzir os outros abraçá-la?

Pensais que ninguém teria reclamado, dizendo: — porque tantas peias para nós?

Porque dificultar-nos, desta maneira, o caminho do céu? Por que impor-nos uma obrigação que nossos pais desconheceram?

E ainda que esse sacerdote tivesse podido introduzir essa novidade na sua freguesia, na sua diocese, como teria podido propagá-la, universalizá-la, de modo que se sujeitassem a ela simples fiéis, padres, bispos, cardeais, papas, reis, príncipes, imperadores, sábios, como na realidade se sujeitaram e se sujeitam? 

Portanto, como cada qual pode ver, querer negar a instituição divina da confissão é querer ir não somente contra a Sagrada Escritura e a Tradição, mas também contra a razão e o bom senso.

O pecado é um ato de orgulho contra Deus: Queremos preferir a nossa vontade à própria vontade de Deus; e Deus, para conceder-nos o perdão, exige a humilhação desse orgulho. Ora é já uma boa humilhação ajoelharmo-nos diante de um outro homem como nós, batermos no peito e dizermos: Eu cometi este pecado. Eis porque Deus quer a confissão: para curar o nosso orgulho.
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Autor: Frei Damião Bozzano, Missionário Capuchinho: Em Defesa da Fé.
Imprimatur: Frei Otávio de Terrinca, ofmcap - 20/08/1953
Editora: Paulinas - 3 Edição - 1955

Fonte

Para citar
BOZZANO, Frei Damião. Em Defesa da Fé: XV. Confissão – Sua Instituição Divina Provada pela Tradição e pela Razão. Disponível em <http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2016/04/frei-damiao-de-bozzano-xv-a-confissao-sua-instituicao-divina-provada-pela-tradicao-e-pela-razao.html> Desde 26/04/2016.

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