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XV. A Confissão – Sua
Instituição Divina Provada pela Tradição e pela Razão
Frei Damião de Bozzano
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S. João na sua primeira Epístola diz: "Se
confessarmos os nossos pecados, Deus é fiel e justo para nos perdoar esses
nossos pecados, e nos purificar de toda iniquidade".
Ele aqui não diz a quem devemos confessar os
nossos pecados; somente apresenta a confissão como condição para que Deus seja
fiel em manter a sua promessa de perdoar. Mas por um lado, em nenhum lugar do
Novo Testamento lemos que Jesus tenha prometido perdoar os pecados aos que se
confessassem somente a Deus; e por outro lado, o mesmo Apóstolo declara no seu
Evangelho que Jesus prometeu dar por perdoados os pecados que perdoassem os
seus ministros; pelo que cumpre dizer que São João fala aqui numa confissão
feita aos homens e não somente a Deus.
De resto S. Tiago diz abertamente que a
confissão deve ser feita aos homens e não somente a Deus: Confessai uns aos
outros os vossos pecados, para serdes salvos." (3, 16).
A que classe de homens devemos confessar nossos
pecados? Sem dúvida àqueles que receberam o poder de perdoá-los, como resulta
de outros textos da Sagrada Escritura. Por ex., S. Lucas nos atos dos Apóstolos
nos refere que então uma grande multidão de fiéis vinham aos pés dos Apóstolos,
vinham até onde estavam Paulo e Barnabé, para confessarem e declararem os seus
pecados. (Atos 19, 18).
É, pois, certo, pela própria Sagrada Escritura,
que a confissão era praticada pelos cristãos desde os primeiros tempos.
Desta divina instituição fala, no primeiro
século do cristianismo, S. Clemente Romano, que, exortando numa sua Carta, os
fiéis de Corinto a recorrerem à misericórdia divina, dizia-lhes: "Enquanto
estamos neste mundo arrependemo-nos de todo o coração, porque depois da morte
não podemos mais confessar os nossos pecados, nem fazer penitência".
Desta divina instituição, fala, no segundo
século, Tertuliano, que assim adverte os que, por vergonha, deixam de acusar
faltas graves na confissão: "Se podemos esconder nossos pecados aos
homens, talvez possamos igualmente escondê-los aos olhos de Deus? Que será mais
conveniente, perdermo-nos, por esconder os nossos pecados, ou salvarmo-nos,
declarando-os? (De Poenc. c. 9).
No mesmo século Sto. Irineu, falando das
mulheres, que Marco Gnóstico seduzira por meio de filtros e feitiçarias,
divide-as em três classes: umas, voltando ao seio da
Igreja católica, confessavam-se de se terem
deixado levar por um louco amor ao seu sedutor; outras, não se contentando com
essa confissão secreta, confessavam publicamente o próprio pecado; havia
finalmente outras que, por vergonha, deixavam de se confessar e se entregavam
ao desespero. (Ad. haer 1, 13).
No terceiro século, S. Cipriano assim exorta os
pecadores: "Confesse cada um os próprios pecados durante o tempo da vida
presente, em que a confissão é ainda possível, em que a satisfação e a remissão
feita pelos sacerdotes ainda é aceita a Deus."(De lapsis, 29).
No século IV Sto. Ambrósio, dirigindo-se ao
penitente, diz: "Apresenta-te ao sacerdote, mostra-lhe a tua ferida, afim
de que ele possa te curar. Deus certamente conhece o teu mal, mas espera a
confissão dele pela tua própria boca". E acrescenta:
"Não esperes ser acusado; se tu te acusas a
ti mesmo, não terás outro acusador a temer, porque a confissão humilde dos
pecados, nos livra das nossas culpas". (De Poen. liv. 2, c.1).
No século V Sto. Agostinho assim se exprime a
respeito da confissão: "Ninguém diga: peco em segredo, peco diante de
Deus; Ele que conhece o meu coração, me perdoará. Jesus Cristo disse, pois, sem
razão: o que desligardes na terra, será desligado no céu? Foram as chaves
dadas, sem fim algum, à Igreja?" E conclui: "Venha, pois, o pecador
aos sacerdotes, que receberam o poder de perdoar e deles aceite o modo de
penitência". (De agone crist. 31, 33).
E a estes testemunhos dos primeiros séculos
poderíamos acrescentar os outros de S. Leão, papa, de São Bernardo, de Sto.
Anselmo, como também dos Concílios de Chalon, de Paris, de Mogúcia e chegar até
ao Papa Inocêncio III, que os protestantes querem fazer crer inventor da
Confissão, só porque no Concílio de Latrão ordenou que todos os fiéis dotados
de uso da razão, se confessassem, ao menos, uma vez cada ano.
— Mas pense como quiser, Lutero — dizia o mesmo
Henrique VIII, ainda que herege, as provas são evidentes demais: não por
costume dos povos, não por instituição de Pontífices ou de Padres, e sim por
Deus teve origem a confissão".
E na realidade podemos, falando com razão, negar
a instituição divina da confissão e sustentar que foi inventada pelos padres?
Não; seria um absurdo, porque, se tivesse sido inventada pelos padres,
poder-se-ia indicar o seu autor. De fato a história, que registra os nomes dos
que fizeram alguma invenção, sem dúvida nos teria transmitido também o nome
daquele que inventou a confissão, tanto mais que se tratava dum negócio de suma
importância. Ora, pelo contrário, ninguém pode indicá-lo. Logo grande estultice
é dizer que a confissão foi inventada pelos padres, ao passo que não se sabe
indicar o seu nome.
Não basta; a razão mostra outrossim que ninguém,
senão Deus, podia inventar a confissão. De fato, quem, fora Deus, a teria
inventado? Os simples fiéis? Não; eles nunca teriam imposto a si mesmo uma
obrigação que tanto humilha o orgulho humano e a que muitos hoje também recusam
sujeitar-se.
Talvez os sacerdotes? Mas que motivo, pergunto
eu, que motivo os teria podido induzir a impor aos outros este jugo? O
interesse? — Ninguém tem coragem de afirmá-lo: na Igreja jamais se costumou
receber recompensa para administrar este sacramento.
O prazer? Belo prazer deveras, estar sentado
longas horas num confessionário, para ouvir sempre as mesmas misérias humanas!
A curiosidade? Meu Deus! Que querem saber os
sacerdotes? Como vão os negócios do penitente, quais são os segredos de sua
família? Mas todos sabem que ele não se importa com tudo isto. Ele não quer
saber senão os pecados, afim de perdoá-los em nome de Deus. Se a curiosidade
tivesse induzido os sacerdotes a instituírem a confissão, nunca teriam imposto
a si mesmos a obrigação de guardar os segredo de tudo o que ouvem na confissão
a custa até da própria vida.
Mas suponhamos, se quiserdes, que um sacerdote,
ou bispo ou padre, tivesse um dia forcejado por introduzir a confissão: como
teria podido induzir os outros abraçá-la?
Pensais que ninguém teria reclamado, dizendo: —
porque tantas peias para nós?
Porque dificultar-nos, desta maneira, o caminho
do céu? Por que impor-nos uma obrigação que nossos pais desconheceram?
E ainda que esse sacerdote tivesse podido
introduzir essa novidade na sua freguesia, na sua diocese, como teria podido
propagá-la, universalizá-la, de modo que se sujeitassem a ela simples fiéis,
padres, bispos, cardeais, papas, reis, príncipes, imperadores, sábios, como na
realidade se sujeitaram e se sujeitam?
Portanto, como cada qual pode ver, querer negar
a instituição divina da confissão é querer ir não somente contra a Sagrada
Escritura e a Tradição, mas também contra a razão e o bom senso.
O pecado é um ato de orgulho contra Deus:
Queremos preferir a nossa vontade à própria vontade de Deus; e Deus, para
conceder-nos o perdão, exige a humilhação desse orgulho. Ora é já uma boa
humilhação ajoelharmo-nos diante de um outro homem como nós, batermos no peito
e dizermos: Eu cometi este pecado. Eis porque Deus quer a confissão: para curar
o nosso orgulho.
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Autor: Frei Damião Bozzano, Missionário
Capuchinho: Em Defesa da Fé.
Imprimatur: Frei Otávio de Terrinca, ofmcap -
20/08/1953
Editora: Paulinas - 3 Edição - 1955
Fonte
Livro(PDF): Frei Damião - Em Defesa da Fé <http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2014/04/o-peregrino-de-deus.html>
Para citar
BOZZANO, Frei Damião. Em Defesa da Fé: XV.
Confissão – Sua Instituição Divina Provada pela Tradição e pela Razão.
Disponível em <http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2016/04/frei-damiao-de-bozzano-xv-a-confissao-sua-instituicao-divina-provada-pela-tradicao-e-pela-razao.html>
Desde 26/04/2016.
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