terça-feira, 26 de abril de 2016

Frei Damião Bozzano: XIV. Confissão - Palavras da Instituição


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XIV. Confissão – Palavras da Instituição 
Frei Damião de Bozzano
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A CONFISSÃO para quem cometeu faltas graves após o batismo, não é facultativa, mas estritamente necessária, tão necessária que nenhuma razão nos pode eximir de fazê-la, a não ser que se torne impossível. E por que? Porque Deus assim o estabeleceu. Com efeito, não dos homens, mas do próprio Jesus Cristo teve origem a confissão.

A Sagrada Escritura, a história e a razão se unem para demonstrar esta verdade do mais evidente e incontestável modo. Neste capítulo citarei apenas as provas escriturísticas.

Abro o Santo Evangelho e encontro em S. João (20-21 e seg.) que Jesus, depois da sua ressurreição, aparece de improviso diante dos apóstolos, que estavam reunidos no Cenáculo, por temerem aos judeus e lhes augura a paz: "A paz esteja convosco" e depois diz: "Como o Pai me enviou a mim, assim também eu voz envio a vós". Assim dizendo, soprou sobre eles e acrescentou: "Recebei o Espírito Santo, aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles quem retiverdes, ser-lhes-ão retidos".

Ora os protestantes dizem que Nosso Senhor aqui fala apenas do perdão das ofensas recebidas e assim explicam estas palavras: "Perdoando eu aos meus inimigos, também Deus lhes perdoará, não lhes perdoando eu, também Deus não lhes perdoará". Esta interpretação, porém, é absurda e ridícula, porque, suponhamos, por exemplo, que alguém me injurie: Perdoando-lhe eu por amor de Jesus Cristo, talvez Deus lhe perdoe, se não estiver ele sinceramente arrependido? Não, já que não há perdão algum diante de Deus sem arrependimento. E se eu lhe negar o perdão, ainda que m'o peça entre lágrimas, porventura Deus também l'ho recusará? Não, já que esta escrito que Deus nunca despreza o coração contrito e humilhado. Não é, pois, verdade que, perdoando eu aos meus inimigos, Deus também lhes perdoe, e não lhes perdoando eu, Deus também não lhes perdoe.

Ademais, quantas vezes temos que perdoar aos nossos inimigos as ofensas recebidas? Não temos que perdoar sempre? Logo é claro que no texto citado, Jesus não fala do perdão das ofensas recebidas, pois deu não somente o poder de perdoar pecados, mas igualmente o poder de os reter, isto é, não podemos deixar de perdoá-las.

Qual pois o verdadeiro sentido das palavras citadas por Nosso Senhor? Ei-lo:

Segundo a doutrina católica, Jesus quis, por estas palavras dar aos discípulos e, neles, aos sacerdotes, o verdadeiro poder de perdoar ou reter os pecados cometidos contra Deus. De fato, envia os seus discípulos com o mesmo poder que Ele tinha recebido de seu Pai, dizendo-lhes claramente: "Como o Pai me enviou a mim, assim também eu vos envio a vós".

Ora, Jesus Cristo, mesmo como homem, foi enviado com o poder de perdoar os pecados; tanto isto é verdade que operou um milagre, para provar este poder. (Cf. Lc 5, 25 e sgs.)

Portanto, também os discípulos foram enviados com este mesmo poder.

Além disso, trata-se de um perdão, cujo autor principal é o Espírito Santo; dizendo Jesus: "Recebei o Espírito Santo", como se quisesse dizer: "O poder de perdoar os pecados é poder divino; pois bem, recebei este poder, recebei o Espírito Santo; aqueles a quem perdoar os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles a quem retiverdes ser-lhes-ão retidos ".

Ora, o Espírito Santo verdadeiramente perdoa os pecados cometidos contra Deus.

Logo os discípulos receberam o poder de conceder este perdão.

E de resto o próprio bom senso nos diz que assim hão de ser interpretadas as palavras de Jesus. Suponhamos, por exemplo, que um patrão diga ao seu administrador: "Todas as dívidas que perdoardes, eu também as darei por perdoadas; e as que não perdoardes, tão pouco eu as perdoarei". Pergunto eu: Este administrador, não por si mesmo, mas pela faculdade recebida, tem ou não o direito de perdoar as dívidas contraídas com o seu Senhor? Tem, e seria ridículo negá-lo.

Pois bem, o pecado é uma dívida contraída para com Deus e com relação a esta dívida, Jesus disse aos seus discípulos,  aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados, aqueles a quem retiverdes, ser-lhes-ão retidos".

É pois certo que os discípulos receberam o poder de perdoar os pecados cometidos contra Deus.

Somente eles o receberam? Não: Jesus lhes confiou este poder para que o transmitissem aos seus sucessores que hão de durar até o fim dos séculos.

De fato, diz São Paulo (II Cor 5, 18) Todas as coisas vêm de Deus que nos reconciliou consigo por meio de Jesus Cristo e nos deu a nós o ministério da reconciliação, isto é, o ministério do perdão dos pecados.

Do texto acima se deduz que Jesus deu o poder de perdoar os pecados e que este poder não foi comunicado somente aos apóstolos, mas também aos demais sacerdotes, pois S. Paulo não viveu com Jesus.

Além disso, Jesus instituiu os meios de salvação não somente para os tempos apostólicos, mas para todos os tempos.

Acaso não pecamos também nós, assim como pecavam os contemporâneos dos apóstolos?

Portanto o poder de perdoar os pecados não devia acabar com a morte dos Apóstolos.

Foi também somente aos Apóstolos que Nosso Senhor disse: "Ide, batizai", "Ide, instruí todas as gentes".

E todos compreendem que não somente os Apóstolos receberam estes poderes, mas os receberam para transmiti-los aos seus sucessores. O mesmo se diga do poder de perdoar os pecados; enquanto houver pecadores no mundo, sempre haverá na Igreja estes poderes. E quem são a este respeito os sucessores dos Apóstolos? São os sacerdotes, assim como nos atesta as história do todos os séculos do cristianismo.

Mas — dizem os protestantes, quem pode perdoar os pecados é somente Deus.

E quem jamais o contestou? Sem dúvida, quem pode perdoar uma ofensa é somente o ofendido; se, por exemplo, alguém me insultar, sou eu quem lhe pode perdoar e não outrem. Eu, porém, posso perdoar de dois modos ao meu inimigo: por mim mesmo, dizendo-lhe: a ofensa que me fizeste esta perdoada e posso também me servir de um intermediário que em meu nome lhe conceda o perdão. Também neste caso sou eu quem perdoa, mas por meio de outrem.

Igualmente se diga em nosso caso: Quem perdoa os pecados é somente Deus; Ele, porém, pode perdoá-los por si mesmo e pode também se servir do ministério de um homem, para fazer as pazes com o pecador e lhe conceder o perdão. E de fato aprouve a Nosso Senhor escolher este segundo modo, pois, como acabo de demonstrar, confiou aos homens o poder de perdoar os pecados.

Dai a necessidade da confissão; isto é, a necessidade de declararmos os nossos pecados, afim de que sejamos perdoados, porque, note-se bem: Jesus confiou aos seus ministros dois poderes: o de perdoar os pecados e o de os reter. Portanto eles devem conhecer quais são os pecados que devem ser perdoados e quais os que devem ser retidos.

Mas, podem conhecê-los, se o próprio pecador não lh'os manisfestar? Não, não podem.

Devemos, pois, concluir que enquanto dava Jesus aos seus ministros os poder de perdoar e de reter os pecados, ao mesmo tempo impunha aos fiéis a obrigação de confessá-los aos sacerdotes, afim de que eles pudessem com justiça exercer este sublime ministério.

Aqui, porém, nasce uma dificuldade: a confissão pode ser pública e secreta ou auricular: É pública quando se manifestam publicamente os pecados; secreta ou auricular quando se os manifestam somente ao sacerdote, assim como se costuma hoje. Ninguém é capaz de provar que Ele proibisse a confissão secreta, nem que ordenasse a pública.

A Igreja pode, portanto, escolher uma ou outra, conforme lhe aprouver.
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Autor: Frei Damião Bozzano, Missionário Capuchinho: Em Defesa da Fé.
Imprimatur: Frei Otávio de Terrinca, ofmcap - 20/08/1953
Editora: Paulinas - 3 Edição - 1955

Fonte

Para citar
BOZZANO, Frei Damião. Em Defesa da Fé: XIV. Confissão – Palavras da Instituição. Disponível em <http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2016/04/frei-damiao-de-bozzano-xiv-confissao-palavras-da-instituicao.html> Desde 26/04/2016.

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