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XIV. Confissão –
Palavras da Instituição
Frei Damião de Bozzano
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A Sagrada Escritura, a história e a razão se
unem para demonstrar esta verdade do mais evidente e incontestável modo. Neste
capítulo citarei apenas as provas escriturísticas.
Abro o Santo Evangelho e encontro em S. João
(20-21 e seg.) que Jesus, depois da sua ressurreição, aparece de improviso
diante dos apóstolos, que estavam reunidos no Cenáculo, por temerem aos judeus
e lhes augura a paz: "A paz esteja convosco" e depois diz: "Como
o Pai me enviou a mim, assim também eu voz envio a vós". Assim dizendo,
soprou sobre eles e acrescentou: "Recebei o Espírito Santo, aqueles a quem
perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles quem retiverdes,
ser-lhes-ão retidos".
Ora os protestantes dizem que Nosso Senhor aqui
fala apenas do perdão das ofensas recebidas e assim explicam estas palavras:
"Perdoando eu aos meus inimigos, também Deus lhes perdoará, não lhes
perdoando eu, também Deus não lhes perdoará". Esta interpretação, porém, é
absurda e ridícula, porque, suponhamos, por exemplo, que alguém me injurie:
Perdoando-lhe eu por amor de Jesus Cristo, talvez Deus lhe perdoe, se não
estiver ele sinceramente arrependido? Não, já que não há perdão algum diante de
Deus sem arrependimento. E se eu lhe negar o perdão, ainda que m'o peça entre
lágrimas, porventura Deus também l'ho recusará? Não, já que esta escrito que
Deus nunca despreza o coração contrito e humilhado. Não é, pois, verdade que,
perdoando eu aos meus inimigos, Deus também lhes perdoe, e não lhes perdoando
eu, Deus também não lhes perdoe.
Ademais, quantas vezes temos que perdoar aos
nossos inimigos as ofensas recebidas? Não temos que perdoar sempre? Logo é
claro que no texto citado, Jesus não fala do perdão das ofensas recebidas, pois
deu não somente o poder de perdoar pecados, mas igualmente o poder de os reter,
isto é, não podemos deixar de perdoá-las.
Qual pois o verdadeiro sentido das palavras
citadas por Nosso Senhor? Ei-lo:
Segundo a doutrina católica, Jesus quis, por
estas palavras dar aos discípulos e, neles, aos sacerdotes, o verdadeiro poder
de perdoar ou reter os pecados cometidos contra Deus. De fato, envia os seus
discípulos com o mesmo poder que Ele tinha recebido de seu Pai, dizendo-lhes
claramente: "Como o Pai me enviou a mim, assim também eu vos envio a
vós".
Ora, Jesus Cristo, mesmo como homem, foi enviado
com o poder de perdoar os pecados; tanto isto é verdade que operou um milagre,
para provar este poder. (Cf. Lc 5, 25 e sgs.)
Portanto, também os discípulos foram enviados
com este mesmo poder.
Além disso, trata-se de um perdão, cujo autor
principal é o Espírito Santo; dizendo Jesus: "Recebei o Espírito
Santo", como se quisesse dizer: "O poder de perdoar os pecados é
poder divino; pois bem, recebei este poder, recebei o Espírito Santo; aqueles a
quem perdoar os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles a quem retiverdes
ser-lhes-ão retidos ".
Ora, o Espírito Santo verdadeiramente perdoa os
pecados cometidos contra Deus.
Logo os discípulos receberam o poder de conceder
este perdão.
E de resto o próprio bom senso nos diz que assim
hão de ser interpretadas as palavras de Jesus. Suponhamos, por exemplo, que um
patrão diga ao seu administrador: "Todas as dívidas que perdoardes, eu
também as darei por perdoadas; e as que não perdoardes, tão pouco eu as
perdoarei". Pergunto eu: Este administrador, não por si mesmo, mas pela
faculdade recebida, tem ou não o direito de perdoar as dívidas contraídas com o
seu Senhor? Tem, e seria ridículo negá-lo.
Pois bem, o pecado é uma dívida contraída para
com Deus e com relação a esta dívida, Jesus disse aos seus discípulos,
aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados, aqueles a quem
retiverdes, ser-lhes-ão retidos".
É pois certo que os discípulos receberam o poder
de perdoar os pecados cometidos contra Deus.
Somente eles o receberam? Não: Jesus lhes
confiou este poder para que o transmitissem aos seus sucessores que hão de
durar até o fim dos séculos.
De fato, diz São Paulo (II Cor 5, 18) Todas as
coisas vêm de Deus que nos reconciliou consigo por meio de Jesus Cristo e nos
deu a nós o ministério da reconciliação, isto é, o ministério do perdão dos
pecados.
Do texto acima se deduz que Jesus deu o poder de
perdoar os pecados e que este poder não foi comunicado somente aos apóstolos,
mas também aos demais sacerdotes, pois S. Paulo não viveu com Jesus.
Além disso, Jesus instituiu os meios de salvação
não somente para os tempos apostólicos, mas para todos os tempos.
Acaso não pecamos também nós, assim como pecavam
os contemporâneos dos apóstolos?
Portanto o poder de perdoar os pecados não devia
acabar com a morte dos Apóstolos.
Foi também somente aos Apóstolos que Nosso
Senhor disse: "Ide, batizai", "Ide, instruí todas as
gentes".
E todos compreendem que não somente os Apóstolos
receberam estes poderes, mas os receberam para transmiti-los aos seus
sucessores. O mesmo se diga do poder de perdoar os pecados; enquanto houver
pecadores no mundo, sempre haverá na Igreja estes poderes. E quem são a este
respeito os sucessores dos Apóstolos? São os sacerdotes, assim como nos atesta
as história do todos os séculos do cristianismo.
Mas — dizem os protestantes, quem pode perdoar
os pecados é somente Deus.
E quem jamais o contestou? Sem dúvida, quem pode
perdoar uma ofensa é somente o ofendido; se, por exemplo, alguém me insultar,
sou eu quem lhe pode perdoar e não outrem. Eu, porém, posso perdoar de dois
modos ao meu inimigo: por mim mesmo, dizendo-lhe: a ofensa que me fizeste esta
perdoada e posso também me servir de um intermediário que em meu nome lhe
conceda o perdão. Também neste caso sou eu quem perdoa, mas por meio de outrem.
Igualmente se diga em nosso caso: Quem perdoa os
pecados é somente Deus; Ele, porém, pode perdoá-los por si mesmo e pode também
se servir do ministério de um homem, para fazer as pazes com o pecador e lhe
conceder o perdão. E de fato aprouve a Nosso Senhor escolher este segundo modo,
pois, como acabo de demonstrar, confiou aos homens o poder de perdoar os
pecados.
Dai a necessidade da confissão; isto é, a
necessidade de declararmos os nossos pecados, afim de que sejamos perdoados,
porque, note-se bem: Jesus confiou aos seus ministros dois poderes: o de
perdoar os pecados e o de os reter. Portanto eles devem conhecer quais são os
pecados que devem ser perdoados e quais os que devem ser retidos.
Mas, podem conhecê-los, se o próprio pecador não
lh'os manisfestar? Não, não podem.
Devemos, pois, concluir que enquanto dava Jesus
aos seus ministros os poder de perdoar e de reter os pecados, ao mesmo tempo
impunha aos fiéis a obrigação de confessá-los aos sacerdotes, afim de que eles
pudessem com justiça exercer este sublime ministério.
Aqui, porém, nasce uma dificuldade: a confissão
pode ser pública e secreta ou auricular: É pública quando se manifestam
publicamente os pecados; secreta ou auricular quando se os manifestam somente
ao sacerdote, assim como se costuma hoje. Ninguém é capaz de provar que Ele
proibisse a confissão secreta, nem que ordenasse a pública.
A Igreja pode, portanto, escolher uma ou outra,
conforme lhe aprouver.
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Autor: Frei Damião Bozzano, Missionário
Capuchinho: Em Defesa da Fé.
Imprimatur: Frei Otávio de Terrinca, ofmcap -
20/08/1953
Editora: Paulinas - 3 Edição - 1955
Fonte
Livro(PDF): Frei Damião - Em Defesa da Fé <http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2014/04/o-peregrino-de-deus.html>
Para citar
BOZZANO, Frei Damião. Em Defesa da Fé: XIV.
Confissão – Palavras da Instituição. Disponível em <http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2016/04/frei-damiao-de-bozzano-xiv-confissao-palavras-da-instituicao.html>
Desde 26/04/2016.
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