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XIII. O Santo Sacrifício
da Missa
Frei Damião de Bozzano
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Sacrifício, em geral, é a oferta de alguma coisa
a Deus, com a destruição da mesma, para honrá-Lo e adorá-Lo como Senhor
supremo.
Houve desde o começo do mundo sacrifícios e o
Antigo Testamento nos mostra que eles foram rigorosamente ordenados por Deus.
Estes sacrifícios, porém, deviam ser abolidos,
porque não passavam de figuras do verdadeiro sacrifício da Nova Lei, tanto
assim que Daniel predisse o fim dos tempos com bastante clareza. (c. IX, v.
26-27).
O sacrifício da Nova Lei e do próprio Jesus
Cristo no patíbulo da cruz. E quanto a isso não há divergência alguma entre
católicos e protestantes.
A divergência consiste nisso que nós católicos
sustentamos que este sacrifício é comemorado, representado, reproduzido na
Santa Missa, e que, por isso mesmo, a Santa Missa, é um verdadeiro e próprio
sacrifício, o que de nenhuma forma admitem os protestantes.
Quem é que tem razão? Consultemos a Bíblia.
Ela nos demonstra que a Santa Missa é um
verdadeiro e próprio sacrifício.
No Sl. 109 lemos de Jesus Cristo: "Jurou o
Senhor e não se arrependerá: Tu és sacerdote eternamente segundo a ordem de
Melquisedeque.
Um sacerdócio difere de outro sacerdócio em
razão de sacrifício; pois, conforme nos diz S. Paulo na Epístola aos Hebreus,
cap. 5, o sacerdócio é instituído para oferecer sacrifícios a Deus.
Se, pois, Jesus Cristo é sacerdote segundo a
ordem de Melquisedeque, resulta que deve oferecer um sacrifício semelhante ao
que oferecia Melquisedeque. Ora, lemos no Gênesis (16, 18) que o sacrifício de
Melquisedeque consistia em oferecer pão e vinho.
Portanto Jesus Cristo devia oferecer o seu
sacrifício sob as espécies do pão e do vinho.
O que se realiza na Santa Missa. Logo a Missa é
um verdadeiro sacrifício.
Em Malaquias (1, 10) lemos: "Quem há entre
vós que feche as portas e acenda o lume do meu altar gratuitamente? O meu afeto
não esta em vós, diz o Senhor dos exércitos, nem eu receberei algum donativo da
vossa mão. Porque desde o nascente do sol até o poente é o meu nome grande
entre as gentes e em todo lugar se sacrifica e se oferece em meu nome uma oblação
pura.
O profeta aqui prediz uma oblação, um sacrifício
que no N. T. deve substituir os sacrifícios judaicos e, descrevendo os
caracteres, diz: a) que será oferecido desde o nascimento do sol até o poente,
que é como dizer, em toda a parte; b) Entre as gentes, isto é, entre povos
distintos dos judeus; c) E que será mundo.
Ora, isto convém somente à Santa Missa.
Portanto a Santa Missa é um verdadeiro
sacrifício. Vamos explicar o argumento.
Que o profeta fale aqui de um sacrifício que
será oferecido no Novo Testamento, é claro, pois ele prediz que esse sacrifício
substituirá os sacrifícios dos judeus, que serão repudiados por Deus; o que não
se deu somente no Novo Testamento; depois da vinda de Nosso Senhor.
Igualmente é claro que os caracteres deste
sacrifício convêm à Santa Missa. De fato a Santa Missa é oferecida em toda
parte, pois em toda parte há sacerdotes que celebram; é oferecida entre as
gentes, isto é, entre povos distintos dos judeus, pois nós católicos, que
oferecemos a Santa Missa, não pertencemos ao povo judaico; e é uma oblação
munda, isto é, pura e aceita a Deus, pois é o próprio Jesus Cristo que se
oferece a Si mesmo.
Por fim é claro que estes caracteres não convém
a nenhum outro sacrifício: a) não são sacrifícios judaicos da antiga Lei, pois,
se ofereciam somente no templo de Jerusalém e além disso o profeta diz
abertamente que deviam ser repudiados; b) não aos sacrifícios dos pagãos, pois
não eram puros, nem aceitos a Deus. c) não ao sacrifício da Cruz, pois foi
oferecido num só lugar e entre os judeus.
Portanto, das duas uma: ou a Santa Missa é um
verdadeiro sacrifício, ou o profeta errou, predizendo uma coisa que não havia
de ter cumprimento. Quem pode, porém, afirmar isto? É, pois, evidente que a
Santa Missa é um verdadeiro e próprio sacrifício.
Tudo isto não é verdade, replicam os
protestantes, pois a oblação munda de que fala o profeta, são as preces e as
boas obras que em toda a parte os fiéis oferecem a Deus.
Esta objeção de nada vale, pois, as preces e
boas obras não constituem um sacrifício propriamente dito, que é oferta de
coisa sensível, com alguma destruição da mesma, feita legitimamente a Deus,
para demonstrar o seu próprio domínio.
Ora, pelo contrário, o profeta anuncia uma
oblação que será um verdadeiro e próprio sacrifício, de fato a palavra hebraica
— minchah — traduzida: oblação pura —significa um verdadeiro e próprio
sacrifício. Além disso, o profeta fala de um sacrifício, que ainda não existia
e que só começaria a ser celebrado no tempo de Jesus Cristo; ao passo que os
sacrifícios espirituais de louvores e de obras, desde o começo do mundo, se
ofereciam a Deus pelos justos.
O terceiro argumento, para provarmos que a Santa
Missa é um verdadeiro e próprio sacrifício, nos é oferecido pelas palavras com
que Nosso Senhor instituiu a Santa Eucaristia.
Com efeito, Ele não disse simplesmente: “Isto é
o meu Corpo, isto é o meu Sangue"e sim "Isto é o meu Corpo que por
vós é dado", a saber: agora mesmo se dá por vós; "este cálice é o
novo Testamento em meu sangue, que é derramado para remissão dos pecados"
a saber: agora mesmo se derrama.
Assim lemos no texto original de Lc. (22,
19-20).
Ora, dar o corpo e derramar o Sangue pela
remissão dos pecados, significa na linguagem da Divina Escritura, oferecê-los
em sacrifício.
Logo, Jesus instituindo a SSma. Eucaristia,
ofereceu um sacrifício; segue-se, portanto, que a Santa Missa é um verdadeiro
sacrifício, pois, os sacerdotes na Santa Missa fazem o que Jesus fez na última
Ceia, conforme o mandamento do próprio Jesus:
"Fazei isto em memória de mim".
Enfim, o próprio S. Paulo na sua primeira
Epístola aos Coríntios (10, 16) atesta que os primeiros cristãos ofereciam a
Deus o sacrifício da Missa.
Eis o texto: "O cálice da benção ao qual
bendizemos, não e comunhão do Sangue de Cristo?
O pão que partimos, não é a participação do
Corpo de Cristo?.... Considerai a Israel segundo a carne; não são participantes
do altar aqueles que comem dos sacrifícios?.... não podeis participar da mesa
do Senhor e da mesa do demônio."
O Apóstolo quer, por estas palavras, afastar os
cristãos de comerem das vítimas oferecidas nos altares dos falsos deuses dos
pagãos. Para este fim assim argumenta:
Quem come das vítimas oferecidas num altar, por
isto mesmo participa deste altar, isto é, participa do culto que se tributa à
divindade adorada neste altar, e confirma a sua asserção pelo exemplo do povo
de Israel que, comendo das vítimas oferecidas no templo de Jerusalém, por isso
mesmo participava do culto tributado a Deus nesse templo. Ora, se isto é
verdade, como podeis vós, que fostes participantes da mesa do Senhor, onde o
cálice que bebemos é a comunhão do Sangue de Cristo e o pão que partimos é a
participação do Corpo de Cristo, como podeis, digo, comer das vítimas
oferecidas nos altares pagãos e, por conseguinte, participar do culto dos
demônios, pois as divindades dos pagãos são demônios? Não vedes que não podeis
participar da mesa do Senhor e da mesa dos demônios?
Portanto, segundo São Paulo, os primeiros
cristãos tinham, assim como os judeus e os pagãos, um altar em que sacrificavam
a Deus, e a vítima deste altar era o Corpo e o Sangue de Cristo sob as espécies
do pão e do vinho, como é evidente pelo texto; ou por outras palavras, os
primeiros cristãos, assim como nós, celebravam o Santo sacrifício da Missa.
A mesma doutrina repete o Apóstolo, quando na
sua Epístola aos Hebreus (13, 10) diz: "Nós temos um Altar, do qual não
têm faculdade de comer os que servem ao tabernáculo, isto é, os judeus".
Qual é este altar? Não pode ser o da Cruz, pois
o Apóstolo aqui fala de um altar, cuja vítima pode ser comida; e Jesus, a
vítima do altar da Cruz, não o pode ser da forma natural em que morreu.
Logo é o altar que oferece a Missa.
— Mas não diz o Apostolo S. Paulo na sua
Epístola aos Hebreus que Jesus Cristo se ofereceu uma só vez e consumou para
sempre, com esta única oferenda, a obra da expiação?
Sim, disse; e por este motivo não deve ser
oferecido outro sacrifício, para completar aos méritos da Redenção.
Mas a Santa Missa não é um sacrifício diferente
do sacrifício da Cruz: É o próprio sacrifício da Cruz; nem se oferece para
completar os méritos da Redenção, e sim para nos serem aplicados estes méritos.
Outro argumento com que se pode provar que a
Santa Missa é um sacrifício se deduz na Tradição.
Segundo a Tradição o apóstolo Sto. André disse
ao pro cônsul, que o conjurava a sacrificar aos ídolos: "Eu ofereço todos
os dias no altar do verdadeiro Deus onipotente não a carne dos touros, nem o
sangue dos bodes, mas o Cordeiro Imaculado de Deus; e quando todo o povo dos
fiéis se alimentou com a Carne consagrada, o Cordeiro que foi oferecido fica
sempre intacto e vivo".
Na sua primeira apologia ao Imperador romano, S.
Justino que faleceu († 150) fez menção das partes do sacrifício cristão:
leitura e explicação da Sagrada Escritura, oferta do pão e do vinho,
transubstanciação das ofertas e sua distribuição aos fiéis.
Quando o Papa São Xisto era levado ao suplício o
diácono São Lourenço seguia-o dizendo: "Padre, Santo, vós partis sem mim,
vós que todavia nunca oferecestes o santo sacrifício sem a minha
assistência".
Os mais antigos doutores da Igreja falam do
santo sacrifício da Missa.
Santo Irineu († 202) diz: "O sacrifício da
nova aliança é a Ceia; Jesus Cristo instituiu-a não só como sacramento, mas
também como sacrifício em todo Universo."
São Cipriano, Bispo de Cartago († 258) escreve:
"Os Padres da Igreja oferecem o sacrifício exatamente como Cristo
ofereceu" e acrescenta: "Nós oferecemos todos os dias, nas épocas de
perseguição e nas de paz, o sacrifício pelo qual preparamos os fiéis a
imolarem-se como vítimas pelo martírio".
"O único sacrifício — diz S. Leão I — do
Corpo e do Sangue de Cristo substitui todos os outros sacrifícios".
Todos os afrescos das catacumbas provam este
sacrifício, assim como as mais antigas liturgias, isto é, os livros que
encerram as orações usadas neste sacrifício e as cerimônias que se deviam
observar para o oferecer.
Este testemunho e muitos outros, que poderia
alegar, penso que sejam suficientes para nos convencermos de que a cristandade
sempre acreditou na Missa como sacrifício.
Quem primeiro negou esta verdade foi Lutero e
ele mesmo diz que foi o diabo que o impeliu a fazê-lo.
Que pena, pois, é abandonar a doutrina da
Igreja, para abraçar uma doutrina sugerida pelo demônio!
Leitor amigo, jamais cometas semelhante
estultice.
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Autor: Frei Damião Bozzano, Missionário
Capuchinho: Em Defesa da Fé.
Imprimatur: Frei Otávio de Terrinca, ofmcap -
20/08/1953
Editora: Paulinas - 3 Edição - 1955
Fonte
Livro(PDF): Frei Damião - Em Defesa da Fé <http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2014/04/o-peregrino-de-deus.html>
Para citar
BOZZANO, Frei Damião. Em Defesa da Fé: XIII. O
Santo Sacrifício da Missa. Disponível em < http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2016/04/frei-damiao-bozzano-xiii-o-santo-sacrificio-da-missa.html>
Desde 26/04/2016.
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