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XVIII. O Santo
Sacramento do Matrimônio
Frei Damião de Bozzano
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Procurarei este abuso demonstrando que o
matrimônio entre os cristãos é um sacramento.
O matrimônio mostra-se sagrado desde a sua
primeira instituição.
Com efeito, é o próprio Deus quem desce ao
paraíso terrestre e que, comovido à vista da solicitação do nosso primeiro pai,
exclama: "Não é bom ficar o homem sozinho; façamos-lhe um adjutório,
semelhante a ele". É Deus que, proferidas essas palavras, infunde em Adão
um sono profundo, durante o que lhe tira do lado uma das costelas e forma a
primeira mulher. É Deus que acordando o homem, lhe apresenta aquela que deverá
ser a sua inseparável companheira e lhe inspira este cântico nupcial: "Eis
aqui agora o osso de meus ossos e a carne de minha carne. Esta se chamará
Virago, porque de varão foi tomada. Por isso deixará o homem a seu pai e a sua
mãe e se unirá a sua mulher e serão dois numa só carne". É Deus em suma,
que desde o princípio dos tempos, instituiu o matrimônio e, por meio das
palavras inspiradas a Adão, promulga a sua indissolubilidade.
Em seguida, depois da prevaricação dos nossos
primeiros pais, o matrimônio não tardou a decair da sua primitiva santidade,
conservando, todavia, o caráter de coisa sagrada, pois, era sempre ao pé dos
altares e diante dos sacerdotes que os bons iam se casar.
Vindo, porém, Nosso Senhor Jesus Cristo a este
mundo, não somente reconduziu o matrimônio à sua primitiva santidade, mas
também o elevou a dignidade de sacramento. Eis as provas.
A primeira nos é oferecida pelo apóstolo S.
Paulo, que na sua Epístola aos Efésios (5, 32), falando da união do homem com a
mulher, diz: Este sacramento é grande, mas eu digo que é grande em Jesus Cristo
e na sua e na sua Igreja. Isto quer dizer que o matrimônio é, na Nova Lei de
Jesus Cristo e na sua Igreja um grande sacramento.
Sei que os protestantes põe a palavra — mistério
— em lugar da palavra — sacramento — nesta passagem de S. Paulo; mas da no
mesmo. Com efeito, que mistério haveria no matrimônio, se não fosse ele
sacramento? Seria um contrato natural como todos os outros e nada mais. Além
disso se o matrimônio não fosse um sacramento, como poderia o apóstolo afirmar
que "é maior em Jesus Cristo e na sua Igreja, do que o era em outras
épocas?"
Cumpre pois, afirmar, mesmo admitindo a tradução
protestante, que a Sagrada Escritura nos ensina que o matrimônio é um
sacramento.
A este testemunho da Bíblia faz eco o de todos
os séculos do cristianismo. Os protestantes vão dizendo que apenas no século
XII se começou a ensinar na Igreja que o matrimônio é um sacramento. É, porém,
uma das muitas calúnias, que eles levantam contra nós. Não, desde o tempo dos
Apóstolos, os cristãos sempre reconheceram o matrimônio como sacramento.
Vejamo-lo:
Consta que a Igreja greco-cismática, que se
separou da Igreja romana no ano de 870, acredita como nós, no matrimônio como
sacramento. Ora, é impossível que ela tenha recebido essa crença da Igreja
Romana depois da separação, considerada a tenacidade com que sempre manteve as
suas tradições e a aversão com que sempre mostrou para com os católicos
latinos.
Logo, este acordo entre Igreja Romana e a grega,
com relação ao matrimônio como sacramento, é anterior à separação, isto é,
anterior ao século IX.
É igualmente anterior ao século V?
Sim, pois as seitas orientais da Ásia: a nestoriana,
a monofisita, a copta, e a armênia, que se separaram da Igreja católica naquele
século, sempre acreditaram e acreditam, como nós, no matrimônio como
sacramento. Ora, isto é uma prova de que mesmo antes da separação concordavam
neste ponto com a Igreja católica. Do contrário, como explicar este acordo?
Todas aquelas seitas hostis à Igreja Romana, depois da separação por certo
nunca teriam recebido desta uma prática desconhecida.
Para melhor compreensão deste argumento
suponhamos, por exemplo, que a nossa Igreja inventasse hoje uma nova doutrina e
dissesse a todo o mundo que deveria ser abraçada como verdade revelada por
Nosso Senhor: abraçá-la-iam, porventura, os protestantes? Bem longe disso,
bradariam alto contra a Igreja.
O mesmo diga-se em nosso caso. Se a nossa
Igreja, depois que as seitas orientais dela se separaram, tivesse inventado que
o matrimônio é um sacramento instituído por Nosso Senhor, estas seitas nunca
teriam abraçado semelhante doutrina. Se, pois, como nós, admitem que matrimônio
é um sacramento, quer isso dizer que esta doutrina já se ensinava antes do
século V, época em que se deu a separação.
Ensinou-se também nos quatro primeiros séculos
do cristianismo? Ensinou-se, disto são testemunhas os Padres e Doutores da
Igreja.
Sto. Agostinho que viveu no século IV e parte do
século V (+ 430), no seu livro intitulado — De bono conjugii — escreve:
"No casamento das nossas mulheres, a santidade do sacramento é de máxima
importância". E mais ainda: "Entre as outras nações o grande bem do
casamento consiste na geração dos filhos e na fidelidade dos cônjuges. Mas
entre os cristãos há, além de tudo isto, a santidade do sacramento (cap. 24 ).
No século IV, Sto. Ambrósio assim se exprimia a
respeito do matrimônio: "Há um grande sacramento na união do homem com a
mulher". (Livro I sobre Abraão). E S.
Cirilo acrescenta: "Jesus Cristo santificou
o matrimônio e lhe conferiu uma graça"(com. em S. João cap. 2).
No século III Orígenes, no seu comentário em São
Mateus, declara expressamente que o matrimônio é um sacramento. (I cap. 14).
No século II é Santo Irineu, que nos repete a
mesma doutrina, dizendo: "É preciso meditar muito sobre o sacramento do
matrimônio". (Liv. I contra as heresias).
E nota-se: Este testemunho de Santo Irineu tem,
para nós, suma importância, porque foi discípulo de São Policarpo, e esse, por
sua vez, o foi de São João apóstolo; podia, pois, Santo Irineu conhecer qual a
doutrina ensinada pelos apóstolos a respeito do matrimônio.
Finalmente no século I — Sto. Inácio,
contemporâneo dos apóstolos, na sua epístola a Policarpo (cap. 5) escreve:
"Os esposos convêm que se unam por sentença do Bispo, afim de as núpcias
serem segundo o Senhor e não segundo às paixões".
É, pois, certo que a cristandade sempre
considerou o matrimônio como um sacramento desde os tempos dos apóstolos. Pelo
que é preciso concluir que esta doutrina lhe foi ensinada pelos próprios
apóstolos e, por conseguinte, pelo próprio Jesus Cristo.
E, de resto, que se entende por sacramento?
Entenda-se um sinal sagrado produtivo da graça. Ora o matrimônio é um sinal
sagrado, pois, no dizer de São Paulo (Ef. 5, 24), a união do homem com a mulher
representa a união de Jesus Cristo com a sua Igreja. É um sinal produtivo da
graça, pois a união de Jesus com a sua Igreja, não é apenas uma união de amor
porém, uma união de graça, por conseguinte, tal há de ser também a união do
homem com a mulher, isto é, o matrimônio.
Logo, nada lhe faltando do que constitui a essência
do sacramento, é preciso reconhecê-lo como tal.
Com muita razão, pois, o concílio de Trento
declara que é herege excomungado quem se atreve a negar que o matrimônio é um
dos sete sacramentos instituídos por Nosso Senhor.
E agora se me permita fazer uma aplicação desta
doutrina à vida prática: Se o matrimônio é uma coisa sagrada, ou melhor, um
sacramento, a que autoridade deverá estar sujeito? As coisas sagradas estão
sujeitas tão somente a Deus e àquela autoridade que Ele constitui sua legítima
representante na terra, isto é, a Igreja.
Se, pois, o matrimônio é uma coisa sagrada, ou
melhor, um sacramento, só à Igreja esta sujeito, e só ela pode administrá-lo
validamente.
Daí, porém, não se deve concluir que o contrato
civil não seja lícito, pelo contrário, afirmo que um católico não somente pode,
mas deve também fazê-lo para assegurar a si mesmo e a seus filhos a proteção
das leis. O que não é lícito é o seguinte: Fazer somente o contrato civil e
deixar de lado o contrato religioso; ou fazer hoje o contrato civil e depois de
um mês, um ano, cinco anos, o contrato religioso, isto sim, não é lícito; é
repudiar a religião de Nosso Senhor Jesus Cristo. O contrato civil não une as
almas, não une os corpos; une apenas os bens. Um homem para poder viver
honestamente diante de Deus com uma mulher, tem que fazer o contato religioso.
Contratando-se apenas no civil, peca, não pode
esperar a benção de Deus e, morrendo naquele estado, não se salva.
Mas, se pode dizer: Não sei porque o casamento
religioso é tão importante. Com efeito, é somente uma formalidade exterior. E é
também uma formalidade exterior se contratar o casamento diante do oficial
civil. Não é suficiente? (Cfr. Thiamer Toth).
Seguramente não: Isto não basta. Quem fala desta
maneira não tem ideia alguma do matrimônio cristão.
No matrimônio cristão, dois cristãos se entregam
inteiramente um ao outro sem reserva.
Ora, os cristãos, segundo a fé, quando receberam
o batismo não somente foram mudados do pecado original, não somente obtiveram a
graça santificante, mas também se tornaram membros do Corpo Místico de Jesus
Cristo, propriedade de Jesus Cristo. Por isso quando querem contratar casamento
e quando querem se entregar um ao outro não podem fazê-lo sem Jesus Cristo. O
seu casamento não terá validade, se também Jesus Cristo não der o seu
consentimento, isto é, se não se casarem diante do altar de Jesus Cristo.
Eis porque é necessário casar-se diante da
Igreja.
Efetivamente não se pode conceber que um cristão
ouse abraçar o estado matrimonial sem ter pedido a graça de Jesus Cristo, isto
é, sem se casar na Igreja. Vais viajar? faze uma prece — diz um provérbio; Vais
por mar? faze duas preces. Vais casar? faze cem preces.
Sim, a vida de uma família exige um grande
sacrifício; e o lugar do sacrifício é o altar. Só Cristo imolado no altar pode
ensinar a suportar o sacrifício exigido pela vida familiar. Aqui esta porque
Nosso Senhor deu ao matrimônio a dignidade de sacramento, aqui está, porque ele
dirige os primeiros passos dos noivos para o altar, afim de que do altar jorre
sobre eles a graça necessária para cumprirem os deveres próprios do estado
matrimonial.
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Autor: Frei Damião Bozzano, Missionário
Capuchinho: Em Defesa da Fé.
Imprimatur: Frei Otávio de Terrinca, ofmcap -
20/08/1953
Editora: Paulinas - 3 Edição - 1955
Fonte
Livro(PDF): Frei Damião - Em Defesa da Fé <http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2014/04/o-peregrino-de-deus.html>
Para citar
BOZZANO, Frei Damião. Em Defesa da Fé: XVIII. O
Santo Sacramento do Matrimônio. Disponível em <http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2016/04/frei-damiao-de-bozzano-xviii-o-santo-sacramento-do-matrimonio.html>
Desde 26/04/2016.
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