sexta-feira, 17 de junho de 2016

XXVI - Purgatório (+ Índice do livro)

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XXVI – Purgatório
(+ Índice do livro)
Frei Damião de Bozzano
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Purgatório é o estado, ou antes, o lugar em que as almas dos justos, saídas deste mundo, sem terem satisfeito perfeitamente suas culpas, acabam de expiá-las antes de serem admitidas ao céu.

— A existência do Purgatório é verdade de fé. De fato, no II livro dos Macabeus, lemos que Judas, depois de renhido combate, em que sucumbiu uma grande multidão de guerreiros, fez uma coleta e mandou 12 mil dracmas de prata a Jerusalém para que fosse oferecido a Deus um sacrifício expiatório pelos pecados dos mortos. Depois de relatado este fato, o historiador sagrado acrescenta: "Portanto, santo e salutar é o pensamento de rezar pelos defuntos, afim de que sejam absolvidos dos seus pecados". (II Mac. 12, 46).

Esta passagem nos dá o direito de concluir que entre o céu e o inferno há um lugar de expiação. Com efeito, as almas que estão no céu não têm necessidades das nossas orações, as que estão no inferno não podem, pelas mesmas, receber este alívio.

Portanto deve haver um terceiro lugar, em que as nossas orações sejam úteis às almas que nele se encontram, lugar que nós, católicos, chamamos de Purgatório.

Mas dizem os protestantes, os dois livros dos Macabeus são apócrifos, não pertencem à Divina Escritura.

Quem os declarou apócrifos foram Lutero e Calvino. Mas a Igreja Universal os considerou sempre como autênticos e divinos e como tais tem sido citados pelos SS. Padres mais antigos: por isto Sto. Agostinho pode dizer: "A Igreja de Deus tem reconhecido sempre os livros dos Macabeus como livros canônicos, isto é, como pertencentes à Divina Escritura". (Cid. de Deus 36).

Contudo, dado é concedido que estes dois livros não sejam divinos, o texto aludido decide admiravelmente a favor do Purgatório; pois mostra claramente que o povo judaico cria no Purgatório e que, para sufragar as almas dos mortos, não só recorria às súplicas e orações, mas também oferecia sacrifícios no templo e instituíra para este fim ritos solenes; o que não podia fazer, não teria feito, se isto não tivesse aprendido por Divina Revelação.

Mas citemos os textos que também se acham na Bíblia protestante.

No Evangelho de S. Mt. (cap. 12, 32) Jesus diz: "Aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem ser-lhe-á perdoado, mas ao que falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado nem neste século, nem no futuro".

Pela distinção estabelecida nestas palavras de Jesus, é evidente que há pecados que são perdoados neste século, isto é, neste mundo e no outro mundo.

Mas onde serão perdoados? no céu? Não, pois, lá o pecado não pode entrar. No inferno? Tão pouco, porque aí não há mais perdão nem remissão. Onde então? Num lugar diferente do céu e do inferno e que nós, os católicos chamamos de Purgatório.

Ainda no Evangelho de S. Mt. (5, 26) Jesus diz: "Reconcilia-te com teu adversário... enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao Juiz e o Juiz te entregue ao ministro e te encerrem na prisão. Em verdade te digo, que de modo algum sairás de daí, enquanto não pagares até o último ceitil".

Qual esta prisão de onde uma alma só poderá sair depois de ter pago o último ceitil?

O céu não é, pois o céu não é uma prisão.

O inferno também não é, pois ninguém sai do inferno.

Não é uma prisão terrena, pois com um advogado, protetores e amigos se retira da cadeia até mesmo um criminoso ou, pelo menos, se lhe pode diminuir a pena.

Qual será então?

É o Purgatório, ou lugar de expiação, onde a alma expia suas faltas, purifica-se das suas derradeiras manchas, antes de entrar no céu.

— S. Paulo na sua 1a. Epístola aos Coríntios diz: "O fogo provará as obras de cada homem. Aquele, cuja obras subsistirem, será recompensado; aquele cujas obras forem consumidas, ficará prejudicado, contudo será salvo, mas pelo fogo". (3, 13-16).

O fogo de que fala aqui o Apóstolo, não pode ser o que há de abrasar o mundo antes do último juízo, porque esse fogo não provará as obras de quem quer que seja e agirá indiferentemente sobre os bons e os maus.

Não pode ser o do inferno porque esse é eterno, nem pode salvar.

Logo, é o fogo de outro lugar que chamamos Purgatório.

O mesmo Apóstolo na sua epístola aos Filipenses (2, 10) diz: "Ao nome de Jesus todo joelho se dobra no céu, na terra, e debaixo da terra". Por aqueles que "estão debaixo da terra" designa o Apóstolo não os corpos dos finados, mas as almas dos mortos que não se acham no céu. Estas almas ou estão no Purgatório ou estão no inferno.

Impossível, porém, que se refira às que estão no inferno, porque bem sabia que no inferno não se dobra o joelho ao nome de Jesus. Refere-se, pois as que estão no Purgatório.

S. João (Apoc. 21, 27) diz, falando do céu:

"Nada manchado lá entrará".

Ora, façamos uma suposição: morre de improviso um justo, que tem cometido apenas algum ato de impaciência.

Para onde irá a sua alma? Para o céu? Não, porque está manchada por aquele ato de impaciência.

Para o inferno?

Também não, porque um pequeno ato de impaciência não merece uma pena eterna.

Para onde irá então? Para um lugar intermediário entre o céu e a terra, que se chama Purgatório.

A este testemunho das divinas Escrituras faz eco o de todos os séculos do cristianismo.

Os protestantes dizem que o Purgatório teve origem no século VI, com Gregório, o Grande.

Ao que respondemos: mentem. A palavra é um pouco dura, mas merecida. Com efeito, em todos os séculos anteriores ao VI se conheceu o Purgatório. Eis as provas:

No século V Sto. Agostinho assim escrevia no seu livro intitulado — As confissões: — "Senhor, dignai-vos de perdoar a minha mãe. Lembrai-vos de que, estando ela para morrer não pensou no corpo, não pediu as honras fúnebres. Tudo quanto ela desejou, foi que se fizesse memória dela no Santo Altar, onde sabia que se oferece a Santa Vítima que apaga e destrói a cédula da nossa condenação". (Liv. 9 cap. 13).

No mesmo século S. Jerônimo na sua carta a Pamáquio dizia: "É costume cobrir de flores o túmulo das mulheres; mas seguistes um uso melhor derramando sobre o túmulo da vossa esposa algumas moedas para o alívio da sua alma".

No século IV, S. João Crisóstomo assim falava a respeito das almas do Purgatório:

"As lágrimas dos vivos não são inúteis aos mortos; as orações e as esmolas os aliviam (Rom I, Ep. ad Cor).

E S. Cirilo de Jerusalém, explicando a liturgia, dizia: "Em seguida oramos pelos defuntos, sabendo pela fé que a oração é muito útil para as almas, pelas quais se oferece". (Catc. 23, 9).

No século III S. Cipriano, Bispo de Cartago, ensinava claramente: "Além do túmulo existem para as almas três estados distintos: O céu, para onde sobem os Santos; o inferno para onde descem os pecadores impenitentes, e o Purgatório, onde são purificados pelo fogo os predestinados ainda imperfeitos".

E com a mesma clareza acrescenta: "Há uma notável diferença entre subir ao céu imediatamente depois da morte, e lá chegar depois de uma demora, mais ou menos longa, nas penas expiatórias do Purgatório". (Epístolas 52s e 56a).

No século II Tertuliano, depois de ter referido o costume dos cristãos de oferecem sacrifícios em sufrágio dos defuntos, acrescenta:

"Se procurardes uma lei desta prática, nenhuma achareis escrita; mas a tradição dos nossos maiores no-la representa como antiga, o costume, a confirma e a fé manda-vos observá-la". (De coron. Milit. cap. 3 e 4).

Este testemunho de Tertuliano demonstra que também no século I já se costumava oferecer sacrifícios em sufrágio dos mortos, visto que ele chama antiga esta prática.

Finalmente temos as catacumbas, que remontam aos primeiros séculos, onde se leem ainda hoje nos túmulos dos mortos estas ou outras semelhantes inscrições:

"Deus refrigere o teu espírito; Vitória descanse em paz o teu espírito; Casemiro, conceda-te Cristo a luz eterna".

Todos estes testemunhos mostram que desde a idade dos apóstolos, os cristãos sempre costumavam rezar pelos mortos e por isso mesmo, mostram também que os cristãos sempre acreditaram na existência do Purgatório, visto que os eleitos não tem necessidade alguma de nossas orações; e aos réprobos não podem ser úteis.

Mas — dizem os protestantes — não esta escrito (I de S. João 1, 7) que o sangue de Jesus nos purifica de todo pecado?

Sim, esta escrito. Eis, porém, a resposta.

Quando cometemos um pecado ofendemos a Deus e merecemos um castigo.

Ora, o sangue de Jesus Cristo, se nos arrependermos de nossos pecados e os confessarmos, nos perdoa a ofensa e, por conseguinte, também nos livra da pena eterna; já que Deus, perdoando a uma alma, lhe restitui a sua amizade e uma alma amiga de Deus é impossível que seja condenada ao fogo eterno. Este sangue, porém, nem sempre nos dispensa de sofrer uma pena temporal pelos pecados cometidos. Por isso se uma alma sair deste mundo, sem ter pago à divina justiça esta pena temporal, vai pagá-la no Purgatório.

Davi tornou-se homicida e adúltero. Tendo sido advertido por Natan, arrependeu-se e exclamou: "Pequei contra Deus". Natan lhe replicou: "O Senhor perdoou o teu pecado, não perecerás". Portanto a ofensa e o castigo eterno lhe são perdoados; mas notai bem que este castigo eterno é substituído por uma pena temporal: "Todavia, acrescentou o profeta, como deste aos inimigos do Senhor ocasião de blasfemar por esta razão o filho que te nasceu morrerá". (II Reis, 12).

De outra vez, o mesmo Davi cometeu um pecado de vaidade, querendo saber de quantos súditos era soberano, e o profeta Gad lhe deixou a escolher entre a guerra, a fome e a peste, ainda que o seu pecado já lhe tivesse sido perdoado. (II Reis 24, 12).

É, pois, a própria Bíblia que nos ensina a fazer no pecado a distinção entre a ofensa e a pena; é a própria Bíblia que nos ensina que podemos alcançar de Deus o perdão da ofensa e da pena eterna sem que possamos ser dispensados de sofrer uma pena temporal.
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ÍNDICE
I — A verdadeira regra de fé
II — Regra de fé protestante
III — A verdadeira Igreja
IV — Perpetuidade do primado
V — Infalibilidade do Papa
VI — Os Sacramentos
VII — O Batismo
VIII —  Confirmação ou Crisma
IX — A Eucaristia — Palavras da promessa
X — A Eucaristia — Palavras da instituição
XI — A Eucaristia e a tradição
XII — A comunhão sob as duas espécies
XIII  — O santo sacrifício da missa
XIV  — Confissão — Palavras da instituição
XV  — Confissão — sua instituição divina provada pela tradição e pela razão
XVI — Extrema Unção
XVII — Ordem
XVIII — O Sacramento do Matrimônio
XIX — Indissolubilidade do matrimônio à luz da fé
XX — Indissolubilidade do matrimônio à luz da razão
XXI — O culto de Deus, dos Santos e das imagens
XXII — Intercessão da Virgem Santíssima e Santos
XXII — Divina maternidade de Maria
XXIV — Virgindade de Nossa Senhora
XXV — A Imaculada
XXVI — O Purgatório
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Autor: Frei de Damião Bozzano, Missionário Capuchinho: Em Defesa da Fé.
Imprimatur: Frei Otávio de Terrinca, ofmcap - 20/08/1953
Editora: Paulinas - 3 Edição - 1955

Fonte

Para citar este artigo

BOZZANO, Frei Damião. Em Defesa da Fé: XXVI. Purgatório + Índice do livro. Disponível em <http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2016/06/0063-purgatorio.html> Desde 17/06/2016.

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