SEXTA CARTA - QUAL
A DIFERENÇA ENTRE FÉ E SENTIMENTO RELIGIOSO
Pe. Emmanuel-André
A senhora leu com atenção minha carta
anterior e pede-me para que eu a ajude a compreender bem a diferença que há
entre Fé e sentimento religioso. A tarefa será fácil, desejo que meu trabalho
lhe seja útil.
Lembre-se das breves palavras do Pe.
Lacordaire: A Fé é a Fé.
O sentimento é assim o respeito que
temos, como criaturas, por nosso Pai que está no Céu e que, unicamente porque
nos criou, nos olha como filhos, nos dá o pão de cada dia, a luz de seu sol, os
frutos da terra, a vida, a saúde, e mil outros bens igualmente da ordem
natural.
O sentimento religioso sendo natural ao
homem, se encontra em todos os homens fiéis ou infiéis; pois todos têm esse
fundo comum de respeito a Deus, que algumas vezes se traduz por um ato
religioso fundado sobre a verdade, como entre os cristãos; outras vezes por um
ato religioso manchado de erros como entre os infiéis, os idólatras, etc.
Entre os povos, há alguns cujo
sentimento religioso é naturalmente muito profundo, por exemplo os árabes.
Um árabe não faltará à prece da manhã,
à do meio dia e à da noite. Ao escutar o muezzin gritar do
alto do minarete a fórmula sagrada: La Allah, etc.,
imediatamente ele se põe a rezar, esteja na companhia de quem quer que seja, no
lugar que for, no meio de uma praça ou no trabalho; quando chega a hora, ele
reza. Por este mesmo sentimento religioso, o árabe relaciona tudo à vontade de
Deus; os acidentes da vida, a saúde, a doença, mesmo a morte, ele relaciona com
Deus e em todas as circunstâncias ele repete: Deus é grande!
Eis o sentimento
religioso em todo seu poder.
Mas lembre-se que nossa natureza decaiu
com Adão, e uma natureza decaída só pode ter um sofrimento religioso também
abatido pela decadência. A natureza não pode se elevar sozinha; o sentimento
religioso puramente natural não pode, de modo algum, levar o homem a Deus nem
tirá-lo do pecado.
Com toda a religiosidade natural, este
mesmo árabe conservará todos os vícios que infelizmente lhe são também
naturais: ele será vaidoso, mentiroso, ladrão; praticará, por exemplo, a
hospitalidade, mas sabendo por onde seu hóspede vai passar, mandará alguém para
o assaltar, ou irá ele mesmo fazer ao longe o que não faria estando em sua
tenda.
Por este traço característico a senhora
poderá reconhecer o sentimento natural; este sentimento nada vê, nada quer,
nada pode contra o pecado. O sentimento religioso quando permanece em estado
natural, é indiferente em matéria de religião. O sentimento religioso se
acomoda a tudo, se arranja com tudo, se presta a tudo e não se entrega a nada.
Perdão, pode entregar-se à maçonaria, ao menos quando os maçons reconhecem
o Grande Arquiteto, como ele dizem.
Tendo mostrado o primeiro quadro, chego
ao segundo.
- A Fé não é um sentimento, a Fé não é
da ordem natural.
- A Fé é um assentimento de nosso
espírito à verdade revelada por Deus. É um bem que não deriva de nossa
natureza, mas lhe é dado para curá-la.
- A Fé é essencialmente
purificante. Fide purificans corda – Purificando
pela Fé os corações.(At. 15,9).
- A Fé esclarece o espírito e o despoja
do erro; levanta o homem caído, recoloca-o no caminho de Deus: a
Fé põe as bases da obra da salvação,
encaminha o homem para o bem.
- A Fé é essencialmente
fortificante. Confortus fide, diz São Paulo (Rom. 4,20). E
ainda, Fide stas: se estás em pé, é pela Fé (id. 11,20).
- A Fé é vivificante: o justo
vive da Fé, diz São Paulo (Gal. 3,11)
- Se o sentimento religioso nos deixa
frios em relação a Nosso senhor Jesus Cristo, já não é assim com a Fé; pela Fé,
Nosso Senhor Jesus Cristo se torna presente, vivo em nossos corações: Christum
habitare per fidem in cordibus vestris – Cristo
habite pela Fé em vossos corações. (Ef. 3,17).
- A Fé é o princípio de um mundo novo,
regenerado em Jesus Cristo Nosso Senhor; a Fé é a luz que anuncia os
esplendores da eternidade onde veremos Deus; a Fé é a mãe da santa Esperança e
da divina Caridade.
- A Fé é sobre a terra, a fonte pura de
todas as verdadeiras consolações. É ainda São Paulo quem nos diz: Simul
consolari per eam quae invicem est, fidem vestram atque meam -
Consolemo-nos juntos na Fé que nos é comum, a vós e a mim (Rom. 1,12).
Quando se fala da Fé, São Paulo é um
mestre incomparável. Dele é que tomo uma última palavra para terminar esta
carta: Saluta eos qui nos amant in fide - Saudai os que nos
amam na Fé.
Digamos juntos: Credo.
Cartas sobre a Fé – Pe. Emmanuel-André
Fonte: Pe. Emmanuel-André.
Cartas sobre a Fé. Disponível em <http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2012/01/cartas-sobre-fe-pe.html>
Desde 17 de Janeiro de 2012.
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