QUINTA CARTA - A FÉ
NÃO É SUBSTITUÍDA PELO SENTIMENTO
Pe. Emmanuel-André
Atacada por todos os lados, hoje a Fé
tornou-se rara nas almas. À medida que os tempos avançam, caminhamos para a
realização das palavras de Nosso Senhor: «Quando o Filho do homem voltar, crês
que Ele encontrará Fé sobre a Terra?». (Lc. 18,8).
Repare que as almas que vemos já não
ter Fé, tiveram-na ao menos no batismo. Estas almas estão em um estado bem
diferente dos infiéis que nunca tiveram Fé. A Fé é um bem tão grande que uma
vez entrando numa alma fica sempre alguma coisa.
São Francisco de Sales disse, a
respeito da caridade: «A caridade tendo sida separada da alma pelo pecado
deixa, muitas vezes, alguma coisa que parece com a caridade, que pode iludir e
nos entreter em vão».
Esta aparência de Fé, porque ela é
apenas aparência, não passa de um fingimento de Fé; uma Fé fingida ou, se
quiser, imaginada, é o que se chama sentimento religioso.
Os sentimentos religiosos! Uma espécie
de presente que os homens querem dar a Deus, pelo qual Deus deve se sentir
muito agradecido; um fundo de benevolência que o homem sente por Deus; uma
sorte de polidez, de bom tom, de bom gosto do homem em relação a Deus; sim,
tudo que quiser neste gênero, que a pouco obrigue, que não atrapalhe, que se
acomode, que se preste a tudo, e não se comprometa com coisa alguma: aí está o
que geralmente se entende por sentimentos religiosos, mas isto não é a Fé.
Assim como a aparência de Caridade pode nos iludir e nos entreter em vão, a
aparência de Fé pode nos iludir e nos ilude muitas vezes e pode nos entreter e
nos entretém amiúdo, em vão.
E como isto acontece? perguntará a
senhora. A resposta é fácil. Um cristão, para agradar a Deus, deve fazer atos
de Fé a toda hora. Na oração, na prática da vida cristã, na recepção dos
sacramentos, o cristão deve ter como obrigação severa praticar a Fé, fazendo
atos interiores para acompanhar muitos atos exteriores da vida cristã. Este é o
dever.
Ora, o perigo, a decepção consiste em
fazer atos da vida cristã não com Fé mas com aparência de Fé ou sentimentos
religiosos.
A Fé é então substituída pelo
sentimento, a realidade pela imaginação. Neste estado podem-se fazer muitas
orações sem rezar, confessar-se sem querer se emendar, receber a Eucaristia sem
se unir a Jesus Cristo.
Segundo o que ouvi dizer, tanto por um
Bispo como por um missionário que percorreu toda a França e estudou atentamente
o estado das almas, parece que hoje, sob muitos pontos de vista, fazemos apenas
com a máscara da Fé o que deve ser feito com a Fé.
Isto ajudará a senhora a compreender e
a poupará do sofrimento quando chegar o dia em que reconhecer que um bom número
de cristãos, que se dizem devotos e praticantes, têm exatamente os mesmos
vícios dos mundanos não praticantes. Eles praticam, ai de nós! mas a Fé não é o
princípio de seus atos religiosos, eles são cristãos em imaginação, e na
realidade viciosos como tantos outros.
O sentimento religioso é certamente um
dom de Deus. É um bem, um bem de ordem natural. O sentimento religioso é a
conseqüência natural de nossa qualidade de criaturas, como o respeito aos pais
é natural nos filhos.
Digamos juntos: Credo.
Cartas sobre a Fé – Pe. Emmanuel-André
Fonte: Pe. Emmanuel-André.
Cartas sobre a Fé. Disponível em <http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2012/01/cartas-sobre-fe-pe.html>
Desde 17 de Janeiro de 2012.
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