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Sacramentos:
Quantos e por quê? – I
Dom Henrique Soares da
Costa, Bispo de Palmares (PE).
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Voltamos, com este artigo a falar sobre os
sacramentos. Seria bom que você relesse os outros três que já escrevi. As
questões que vamos responder neste artigo são: foi Cristo quem instituiu os
sacramentos? Como os instituiu? Como entender este conjunto de sete gestos?
Quem celebra os sacramentos? Com que objetivo?
Quem instituiu os sacramentos e como os
instituiu?
É convicção da Igreja que os sacramentos todos
foram instituídos por Cristo. Somente assim eles têm de fato um valor salvífico
verdadeiro. Corrigindo os erros de Lutero e Calvino, pais do protestantismo, o
Concílio de Trento ensinou de modo infalível, com a autoridade que Cristo deu aos
Apóstolos e seus legítimos sucessores, os Bispos: “Se alguém afirmar que os
sacramentos da nova lei não foram todos instituídos por Jesus Cristo, nosso
Senhor... seja anátema (= seja separado da Igreja)”. Mas, onde, na Bíblia
aparece a instituição dos sete sacramentos, um por um? Antes de responder esta
questão é necessário compreender o que o Concílio quis afirmar com a palavra
“instituir”. Quando estudamos as atas do Concílio de Trento, vemos explicado lá
que os Bispos participantes do Concílio afirmaram que Cristo “instituiu” no
sentido que é ele, Jesus Cristo, diretamente, quem confere eficácia, poder,
efeito ao rito celebrado. Em outras palavras: a força do sacramento vem de
Cristo e só dele, é manifestação da sua obra de salvação. Os sacramentos não são,
como dizia erradamente Calvino, instituições da Igreja. Para compreender isto é
necessário reler o que escrevi sobre Jesus Cristo, o Sacramento primordial e
sobre a Igreja, sacramento de Cristo! Jesus é a presença de salvação, visível e
eficaz, de Deus no nosso meio – por isso ele é o Sacramento do Pai; a Igreja,
por sua vez, é continuadora da presença de Cristo: o Senhor fez dela sinal
visível e eficaz de sua palavra e de sua ação – ela é sacramento de Cristo!
Então, ao instituir a Igreja o Senhor Jesus tinha a intenção clara que ela
fosse sacramento de sua presença e que seus gestos e palavras fossem sinais
eficazes de sua ação e de sua presença. Neste sentido toda a Igreja é
sacramental: Jesus não quis apenas os sete sacramentos; quis muito mais: desejou
a própria estrutura sacramental da Igreja; quis que sua presença graciosa e
salvífica fosse vista, concreta, palpável nos ritos, gestos, ação de serviço
que a Igreja realiza entre os homens. É isto que Trento quer ensinar: a
estrutura sacramental da Igreja não vem nem dos Apóstolos, nem da própria
Igreja, mas do próprio Cristo Jesus, Sacramento primordial! E isto é dogma de
fé!
Uma observação importante: o Concílio não quis
entrar na questão de como cada sacramento foi instituído por Jesus durante sua
vida terrena e muito menos se preocupou em catar versículos da Escritura para
provar, tintim por tintim a instituição de cada sacramento. Esta tarefa a
Igreja deixa para o estudo dos exegetas e teólogos! Interessa à Igreja que,
biblicamente, está mais que dito que Cristo fez de sua Igreja sacramento de sua
presença, prolongamento de seus gestos e palavras salvíficos! No entanto, isto
não significa que não possamos ver no próprio Novo Testamento o embrião da
prática de cada um dos sacramentos. Vejamos somente alguns exemplos – existem
outros:
- para o batismo: “Em verdade, em
verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino
de Deus” (Jo 3,5); “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem
discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo...”
(Mt 28,19).
- para a eucaristia: “Enquanto comiam,
Jesus tomou um pão e pronunciou a bênção. Depois, partiu o pão e o deu aos
discípulos, dizendo: ‘Tomai e comei, isto é o meu corpo’. Em seguida, tomando
um cálice, depois de dar graças, deu-lhes, dizendo: ‘Bebei dele todos, pois
isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, derramado por muitos, para o perdão
dos pecados’” (Mt 26,26ss; cf. Mc 14,22-24; Lc 22,19s; 1Cor 11,24s).
- para a penitência: “E eu te digo: Tu
és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja e as portas do inferno
nunca levarão vantagem sobre ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus, e
tudo que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo que desligares na terra
será desligado nos céus” (Mt 16,18s); “Após essas palavras, soprou sobre
eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados serão
perdoados. A quem não perdoardes os pecados não serão perdoados’” (Jo
20,22s).
- para a confirmação: “Quando os
apóstolos, que estavam em Jerusalém, ouviram que a Samaria recebera a palavra
de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Estes, assim que chegaram, fizeram uma
oração pelos novos fiéis a fim de receberem o Espírito Santo, visto que ainda
não havia descido sobre nenhum deles. Tinham sido somente batizados em nome do
Senhor Jesus” (At 8,14ss); “Ouvindo isso, foram batizados em nome do
Senhor Jesus. 6 Pela imposição das mãos, Paulo fez descer sobre eles o Espírito
Santo. Falavam em línguas e profetizavam” (At 19,5s).
- para a ordem: “E tomando um pão, deu
graças, partiu-o e deu-lhes dizendo: ‘Isto é o meu corpo, que é dado por vós.
Fazei isto em memória de mim’” (Lc 22,19); “Por este motivo eu te exorto
reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos”
(2Tm 1,6).
- para o matrimônio: “Não lestes que
no princípio o Criador os fez homem e mulher e disse: Por isso o homem deixará
o pai e a mãe para unir-se à sua mulher, e os dois serão uma só carne? Assim,
já não são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o homem o que Deus uniu”
(Mt 19,4-9); “Sujeitai-vos uns aos outros no temor de Cristo. Maridos, amai
vossas esposas, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para
santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para
apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro
defeito semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim os maridos devem amar
suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama sua mulher, ama a si mesmo.
Decerto, ninguém odeia sua própria carne mas a nutre e trata como Cristo faz
com sua Igreja, porque somos membros de seu corpo. Por isso deixará o homem o
pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e serão os dois uma só carne .Grande é
este mistério. Quero referir-me a Cristo e sua Igreja” (Ef 5, 21-32).
- para a unção dos enfermos: “Há algum
enfermo? Mande, então, chamar os presbíteros da Igreja, que façam oração sobre
ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o
Senhor o levantará e, se tiver cometido pecado, será perdoado” (Tg 5,14s).
Vejam bem: estes textos não são provas do
momento em que os sacramentos foram instituídos! Eles simplesmente mostram como
o embrião de cada ação sacramental da Igreja estava presente na ação de Cristo
e dos Apóstolos por ele enviados! Assim, todos e cada sacramento remota a
Cristo, que fez de sua Igreja sacramento de salvação!
Por agora, basta. No próximo artigo
continuaremos: como a Igreja chegou a compreender estes sete gestos sagrados
como sacramentos: por quê sete? e para quê?
Fonte
Dom
Henrique Soares da Costa. Sacramentos:
Quantos e por quê? – I. Disponível em <http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/sacramentos-em-geral/158-quantos-e-por-que-i>
Desde 28 de Dezembro de 2008.
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