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A Igreja,
o Sacramento de Cristo
Dom Henrique Soares da
Costa, Bispo de Palmares (PE).
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Vimos no artigo passado o que significa um
sacramento: um sinal eficaz; sinal que torna presente a graça, a glória, a vida
de Deus. Vimos, então, que o Cristo Jesus é o Sacramento de Deus: nele Deus
fez-se presença pessoal no nosso meio. Assim, Cristo é o Sacramento primordial
de Deus; ele que é verdadeiro Deus e verdadeiro homem.
Demos agora um passo adiante. O Filho de Deus
feito homem, Jesus, presença viva e pessoal de Deus entre nós para nos salvar,
viveu num tempo e num espaço: viveu há dois mil anos na Terra Santa. Ele entrou
uma só vez na nossa história, no nosso mundo, no nosso tempo. Mas ele veio para
todos, em todos os tempos; ele deseja tornar-se presente a todo instante e
estar bem perto de todos os corações: seu desejo é entrar em contato conosco e
que nós entremos em contato com ele, com sua palavra santa e com sua vida
divina. Por isso ele fundou a Igreja! Ela é sacramento (sinal eficaz, real) de
presença de Cristo no mundo; ela é Cristo continuado, corpo de Cristo
crucificado e vivificado pelo Espírito na Ressurreição! No Concílio Vaticano II
os Bispos do mundo inteiro, sucessores legítimos dos Apóstolos, ensinaram: “A
Igreja é, unida a Cristo, como que um sacramento, isto é, um sinal e
instrumento da íntima união com Deus e de todo o gênero humano” (Lumen
Gentium 1).
Isso quer dizer que a Igreja vive de Cristo. Na
sua Ressurreição, ele derramou sobre sua Igreja o seu Espírito Santo – o mesmo
Espírito com o qual o Pai o ressuscitou dos mortos. Assim, a Igreja vive do
Espírito de Cristo e no Espírito de Cristo... como o corpo, que vive da vida da
cabeça, como os ramos que vivem da seiva do tronco: “Ele é a Cabeça da
Igreja, que é seu corpo” (Cl 1,18). “(O Pai) o pôs acima de tudo, como
cabeça da Igreja, que é seu corpo” (Ef 1,22). “Eu sou a verdadeira
videira e meu Pai é o agricultor. Eu sou a videira e vós sois os ramos. Aquele
que permanece em mim e eu nele produz muito fruto porque sem mim nada podeis
fazer” (Jo 15,1.5). Estes textos são importantes porque nos mostram que há
uma união real, concreta, verdadeira, entre Cristo e a comunidade de seus
discípulos, que é a Igreja. Ele realmente está presente na sua Igreja,
vivificando-a, sustentando-a, agindo nela! A Igreja está ligada ao seu Senhor
Jesus como o corpo está ligado à cabeça, como os ramos estão enxertados à
videira. E o Espírito de Cristo ressuscitado, o Espírito Santo é a seiva, é a
vida que vivifica, dirige e faz crescer este corpo, estes ramos! É assim que
Cristo permanece vivo na Igreja, atuando nela na potência do Espírito: fala,
age, santifica, ensina, exorta, salva pela Igreja! A Igreja é, portanto, um
verdadeiro sacramento de Cristo, uma sinal real da sua presença! Ela, Igreja,
não existe para si mesma, mas para anunciar Jesus, para provocar o encontro
entre Jesus Salvador e a humanidade necessitada da salvação! Ela, a Igreja, não
tem nenhuma salvação para dar à humanidade a não ser Jesus Cristo: é ele quem a
santifica e a torna instrumento de salvação. Santo Ambrósio, grande bispo de
Milão e Doutor da Igreja, dizia, no século IV: “A Igreja é a verdadeira lua.
Da luz imorredoura do sol, ela recebe o brilho da imortalidade e da graça. De
fato, a Igreja não reluz com luz dela mesma, mas com a luz de Cristo. Ela busca
seu esplendor no sol da justiça, que é Cristo, para depois dizer: Eu vivo, mas
não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim!” A Igreja é, portanto, o
“ambiente”, o “clima”, o “espaço”, a “atmosfera” do nosso encontro com o Deus
vivo, presente em Jesus Cristo. Ela é o sinal privilegiado através do qual Deus
demonstra suas atenções para conosco e sua fidelidade a toda humanidade.
Mas, como disseram os Bispo do Vaticano II, ela
é também sacramento da íntima união de todo o gênero humano. Isso mesmo:
reunidos pelo Pai através da Palavra do Senhor Jesus, reunidos no Santo
Espírito do Ressuscitado nós somos um novo povo – o Povo de Deus da nova e
eterna Aliança, o povo no qual toda a humanidade é chamada a entrar para ser
filha do mesmo Pai, imagem do único Filho pela ação potente do único Espírito
que nos une num só Corpo de Cristo! Por isso, a Igreja é já sacramento (sinal
verdadeiro, eficaz) da união de toda a humanidade com Deus e dos homens entre
si, como deverá ser um dia, na Glória do Pai.
Por tudo isso, um monge do século IV saudava
assim a santa Igreja: “Que jamais te eclipses na escuridão da lua nova, ó
Lua sempre irradiante! Ilumina-nos o caminho por entre a impenetrável escuridão
divina das Escrituras! Que jamais deixes, ó esposa e companheira de viagem do
Sol que é Cristo, o qual como esposo da lua, te envolve em sua luz! Sim, que
jamais deixes de enviar-nos da parte dele, nosso Salvador, os teus raios
luminosos, a fim de que ele, por si mesmo e através de ti, santa Igreja de
Cristo, transmita às estrelas a sua luz, acendendo-as de ti e por ti!”
Pois bem, depois de termos visto que Cristo é o
sacramento do Pai e que a Igreja é o sacramento de Cristo entre nós,
continuaremos no próximo artigo...
Fonte:
Dom Henrique Soares da Costa. A Igreja, o Sacramento de Cristo.
Disponível em <http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/sacramentos-em-geral/155-a-igreja-o-sacramento-de-cristo>
Desde 28 de Dezembro de 2008.
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