segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O Sacramento do Batismo - III

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O Sacramento do Batismo - III  
Dom Henrique Soares da Costa, Bispo de Palmares (PE).
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Nos artigos passados sobre o Batismo vimos que este sacramento, porta de entrada da fé cristã, sacramento dos que crêem no Senhor Jesus, dá-nos o Santo Espírito, o Espírito do Cristo ressuscitado que nos introduz na nova Vida, a Vida que o Ressuscitado agora possui em plenitude. Vimos também que o primeiro efeito deste Batismo no Espírito do Cristo é dá-nos o perdão dos pecados: somos batizados para a remissão dos nossos pecados, pois o Espírito é fogo que queima, que purifica toda mancha de pecado! Aquele que está em Cristo, desde que foi batizado é uma nova criatura: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura. Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez uma realidade nova” (2Cor 5,17). O Concílio de Trento, respondendo a algumas afirmações erradas dos protestantes, ensinava: “Naqueles que renascem (pelo Batismo) Deus não encontra mais nada que ele odeie, porque ‘não há mais nenhuma condenação’ (Rm 8,1) para aqueles que ‘mediante o Batismo foram realmente sepultados com Cristo na morte’ (Rm 6,4), os quais, ‘não caminham segundo a carne’ (Rm 8,1), mas despojando-se do velho homem e revestindo-se do novo, criado segundo Deus (cf. Ef 4,22-24; Cl 3,9s), foram tornados inocentes, imaculados, puros, sem mancha, filhos amados de Deus (...), de modo que absolutamente nada os impede de entrar no céu”. Ficamos, então com uma questão para ser respondida neste artigo presente: se somos criaturas novas no Espírito do Cristo ressuscitado, como explicar que ainda caímos no pecado, ainda fazemos a experiência do pecado em nossa vida?

Para compreender isto, é necessário distinguir entre pecado e concupiscência: o pecado que o Batismo elimina, vimos no artigo passado, é o pecado original (aquele estado de afastamento e inimizade em relação a Deus no qual a humanidade se encontra) e os pecados pessoais (os atos concretos que manifestam nosso “não” a Deus em nossa vida). Quanto à concupiscência, é aquela situação de desequilíbrio interior no qual nos encontramos. Mesmo aquele que crê no Senhor Jesus e vive no seu Espírito, experimenta em si uma certa tendência para o pecado. Esta tendência é a concupiscência. Lutero dizia que ela já é pecado; mas não é verdade! Escutemos o Concílio de Trento: “Este santo Sínodo professa e retém, todavia, que nos batizados permanece a concupiscência ou paixão. Mas sendo esta deixada para a prova, não pode fazer mal àqueles que não consentem nela e que se lhe opõem valentemente com a graça de Jesus Cristo. Antes, ‘não recebe a coroa a não ser aquele que lutou segundo as regras’(2Tm 2,5). O santo Sínodo declara que a Igreja católica nunca compreendeu que esta concupiscência, que às vezes o Apóstolo chama ‘pecado’ (cf. Rm 6,12-15; 7,7.14-20), fosse definida como pecado, enquanto é verdadeiramente tal nos que foram batizados, mas (o Apóstolo chama ‘pecado’) somente porque tem sua origem no pecado e leva ao pecado. Se alguém crê de modo diverso, seja anátema”.

Compreendamos bem as palavras do Concílio. Depois de afirmar que o Batismo realmente apaga completamente o pecado: naqueles que foram batizados não há mais nada que desagrade a Deus (a não ser que volte a pecar novamente), o Concílio afirma que permanece uma força como que de pecado: a concupiscência. Explica, então, que ela não é pecado em si mesma; Paulo às vezes chama-a pecado porque ela vem do pecado, como uma marca, uma ferida deixada pelo pecado original, e conduz ao pecado porque nos coloca em tentação. No entanto, em si mesma não é pecado, desde que o cristão a combata. A concupiscência, explicam os Padres do Concílio, foi deixada para o combate. Vejamos um exemplo: imaginemos uma pessoa que tenha a forte tentação de candidatar-se a prefeito, vereador ou deputado para encher seu bolso com o dinheiro público – tentação rara, esta: basta ver o número de santinhos que se candidatam!!! Ela é tentada a isto por causa da concupiscência que está nela; mas se tal pessoa não se candidatar ou, candidatando-se, não roubar por amor a Cristo e aos irmãos, não houve aí pecado. Pelo contrário: houve luta, vitória e crescimento na virtude! Há pecado somente quando cedemos à concupiscência. Outro exemplo: um mal pensamento somente é pecado quando o alimentamos, consentimos nele ou passamos do pensamento ao ato! Por isso mesmo Jesus nos ensinou a pedir para que o Pai não nos deixe cair em tentação! Finalmente, no texto do Concílio, a Igreja condena o erro de Lutero, que afirmava que a simples concupiscência já era, em si mesma, pecado.

Então, aquele que foi batizado está na amizade de Deus realmente, a menos que, cedendo gravemente à concupiscência, às paixões desordenadas, entregue-se ao pecado. Neste caso, ele perderia a graça de Deus!

Mas, avancemos mais um pouco. Além do perdão dos pecados, quais os outros efeitos do Batismo? O mesmo Espírito que nos apaga o pecado nos une, nos incorpora em Cristo, como os membros no corpo, como os ramos na videira: “Fomos batizados num só Espírito para ser um só Corpo... e todos bebemos de um só Espírito” (1Cor 12,13). “Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permanece em mim e eu nele produz muito fruto” (Jo 15,5). Se temos o Espírito de Cristo, somos uma só coisa com ele: “Aquele que se une ao Senhor, constitui com ele um só Espírito! Não sabeis que vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós e que recebestes de Deus?” (1Cor 12,17). Esta realidade é maravilhosa! Pelo Batismo a Vida do Ressuscitado, que é o Santo Espírito, habita em nós: Cristo está em nós e nós vivemos dele, vivemos nele, como membros no corpo, como ramos na videira! Assim, podemos dizer que o Batismo, porque nos dá o Espírito de Cristo, nos cristifica, nos torna uma só coisa com Cristo. Como São Paulo, podemos dizer sem medo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim!” (Gl 2,20). E esta afirmação não é uma metáfora, uma imagem; é uma realidade misteriosa, grande demais, maravilhosa... fruto da ação do Espírito de Cristo no qual fomos batizados no sacramento!

Continuaremos no próximo artigo com os efeitos do sacramento do Batismo!

Fonte:
Dom Henrique Soares da Costa. O Sacramento do Batismo - III. Disponível em < http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/batismo/170-o-sacramento-do-batismo-iii> Desde 28 de Dezembro de 2008.

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