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O
Sacramento do Batismo - II
Dom Henrique Soares da
Costa, Bispo de Palmares (PE).
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Vimos, no artigo passado, que a raiz do
sacramento do Batismo é a Ressurreição de Cristo: ele, ressuscitado pelo
Espírito que o Pai derramou, nos deu este mesmo Espírito, simbolizado pela água
batismal. Então, ser batizado é ser mergulhado no Espírito de Ressurreição, no
Espírito do Cristo ressuscitado, é receber a sua Vida de ressurreição, aquela
vida que o Cristo tem junto ao Pai desde que foi glorificado após as dores da
cruz.
Mas, o que faz este Espírito em nós? Ou, em
outras palavras, quais os efeitos do Batismo em nós? Antes de tudo, o Espírito
dado no Batismo é Espírito dado para o perdão dos pecados: “Arrependei-vos,
e cada um de vós seja batizado em nome do Senhor Jesus Cristo para a remissão
dos pecados. Então recebereis o Espírito Santo” (At 2,38). O significado
deste texto é o seguinte: aquele que é batizado, recebendo o Espírito, recebe o
perdão dos pecados, pois “João batizou com água, mas vós sereis batizados no
Espírito Santo” (At 1,5) para remissão dos pecados. Daí a ligação entre o
Espírito e o perdão dos pecados que o próprio Jesus faz: “Recebei o Espírito
Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos
quais retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,22s). Jesus dá o Espírito;
nele, os pecados serão perdoados: “A Lei do Espírito da vida em Cristo Jesus
te libertou da lei do pecado e da morte. Se, porém, Cristo está em vós, o corpo
está morto, pelo pecado, mas o Espírito é vida, pela justiça” (Rm 8,2.10).
Então, no Batismo somos mergulhados, batizados, neste Espírito do Ressuscitado,
que é fogo que queima todo pecado e água que faz brotar uma nova vida!
Mas, de que pecado o Espírito nos livra?
Primeiramente do pecado original; depois, dos pecados pessoais. Vamos
compreender bem! Todos nós, desde nossa concepção somos membros de uma
humanidade pecadora, desarrumada; uma humanidade que, desde seus inícios, vem
teimando em fazer as coisas do seu jeito, fechando-se para Deus. O resultado é
que esta humanidade é marcada pelo desequilíbrio, o egoísmo, a falta de rumo.
Ora, nós, pelo simples fato de sermos humanos, já fazemos parte desta bagunça,
deste fechamento em relação a Deus! Na vida é sempre assim: as escolhas erradas
das gerações passadas marcam os seus descendentes. Pensemos, por exemplo, nos
erros de nossa história: a escravidão, que ainda hoje gera pobreza e exclusão;
a concentração agrária e financeira, que ainda hoje nos deixou o abacaxi da
reforma agrária; a dívida dos anos 60 e 70, que ainda hoje nos deixou a dívida
externa... Então, nós nunca começamos do zero: somos membros de uma humanidade
e solidários com seu passado... este passado condiciona nosso presente, aquilo
que somos, pensamos e fazemos... como nosso presente condicionará o futuro de
nossos filhos: que mundo vamos deixar para eles? É este o sentido da doutrina
do pecado original: Deus sonhou com um mundo como um jardim, e nós o
transformamos num deserto... e todos nascemos marcados por esta história de
fechamento: “Todos pecaram e estão privados da glória de Deus” (Rm
3,23)! “Minha mãe já concebeu-me pecador” (Sl 51,7). Ninguém nasce
justo, santo, diante de Deus: mesmo uma criancinha que ainda não tem nenhum
pecado pessoal, já traz, no entanto, a marca do fechamento para Deus, daquele
egoísmo que vai se manifestar nas suas malcriações, no seu egocentrismo, nas
suas chantagens infantis, etc. Ora, é este estado de fechamento que chamamos de
pecado original! E é esta força de pecado, esta solidariedade da raça humana
neste desmantelo, esta poluição de egoísmo em que nascemos e vivemos e que nos
atinge até a medula, que o Batismo, na potência do Espírito, apaga em nós: “Não
existe mais condenação alguma para aqueles que estão em Cristo Jesus” (Rm
8,1). E por quê? “A Lei do Espírito da vida (do Espírito Santo) em Cristo
Jesus te libertou da lei do pecado e da morte!” (Rm 8,2). O Espírito do
Cristo que por nós morreu e ressuscitou elimina totalmente o pecado original, o
maldito fechamento para Deus, com o qual nascemos: “Se Cristo está em vós, o
corpo (o nosso ser meramente natural, humano) está morto, pelo pecado, mas o
Espírito (de Cristo ressuscitado) é vida, pela justiça” (Rm 8,10). E não
somente o pecado original, mas também, no caso dos adultos, todos os pecados
pessoais cometidos na vida são perdoados pela ação do Espírito do Salvador ao
recebermos o Batismo. Seguindo fielmente a Tradição apostólica, a Igreja sempre
ensinou isto na sua doutrina. Vejamos algumas afirmações do Magistério: “Efeito
do sacramento do Batismo é a remissão de todo pecado original e atual e de toda
culpa relativa. Portanto, não se deve impor aos batizados nenhuma penitência
pelos pecados anteriores ao Batismo e aqueles que morrem (depois de batizados)
antes de cometer qualquer pecado, são imediatamente acolhidos no Reino dos
céus, na visão de Deus” (Concílio de Florença, em 1439). Aqui, o Concílio
quer mostrar como aquele que foi batizado está totalmente livre de todo pecado:
dos seus pecados pessoais e daquele fechamento original que nos tornava
inimigos de Deus e filhos da ira! Também o Concílio de Trento, em 1546,
afirmava a mesma coisa e prevenia: “Se alguém negar que pela graça do Senhor
nosso Jesus Cristo, conferida no Batismo, seja tirada toda mancha do pecado
original ou se afirmar que tudo aquilo que é realmente pecado não é arrancado,
mas somente não considerado por Deus, seja anátema”. Entendamos bem: aqui o
Concílio condena um erro de Lutero e dos protestantes, que diziam que, com o
Batismo, o pecado não é arrancado. Segundo eles, Deus apenas não mais
considera, não mais imputa o pecado que o homem cometeu. O homem continua tão
pecador e miserável como antes, mas agora Deus não leva mais em conta o pecado.
Isto é completamente errado! No Batismo, pela força do Espírito daquele Jesus
que por nós morreu e ressuscitou, todo o pecado é arrancado pela raiz!
Escutemos ainda o Concílio de Trento, com a autoridade de Cristo: “Naqueles
que renascem (pelo Batismo) Deus não encontra mais nada que ele odeie, porque
‘não há mais nenhuma condenação’ (Rm 8,1) para aqueles que ‘mediante o Batismo
foram realmente sepultados com Cristo na morte’ (Rm 6,4), os quais, ‘não
caminham segundo a carne’ (Rm 8,1), mas despojando-se do velho homem e
revestindo-se do novo, criado segundo Deus (cf. Ef 4,22-24; Cl 3,9s), foram
tornados inocentes, imaculados, puros, sem mancha, filhos amados de Deus (...),
de modo que absolutamente nada os impede de entrar no céu”. Então, o
Batismo nos torna realmente santos, porque santificados pelo Espírito daquele
que destruiu o pecado – Cristo Jesus. Mas, aí vem uma questão séria: se é
assim, como é que nós, após o Batismo, continuamos pecando, continuamos
pecadores? Como continuamos a sentir uma tendência ao pecado? Esta questão será
respondida no próximo artigo. Esta e uma outra: além do perdão dos pecados,
quais os outros efeitos do Batismo? Até lá, se Deus quiser!
Fonte:
Dom
Henrique Soares da Costa. O Sacramento do Batismo - II. Disponível em <
http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/batismo/171-o-sacramento-do-batismo-ii>
Desde 28 de Dezembro de 2008.
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