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O
Sacramento do Batismo - I
Dom Henrique Soares da
Costa, Bispo de Palmares (PE).
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Depois de termos feito uma introdução geral aos
sacramentos, vamos, agora, começar a apresentar, um por um, cada sacramento.
Iniciaremos pelo Batismo. Vamos aos pouco, para deixar bem claro toda sua
riqueza e importância para a nossa vida, já que, em geral, é um sacramento tão
ignorado... quando, na verdade, é o segundo em importância – só perde para a
Eucaristia. Vale a pena meditar sobre este sacramento, afinal quase ninguém tem
uma espiritualidade batismal. Você duvida? Então responda duas perguntas: qual
a data do seu Batismo? Você a celebra? Vai à Missa nesse dia? Reflete,
agradecido, sobre o dom que o Senhor lhe fez? Pois, aí está!
Antes de mais nada é importante observar que
ninguém pode compreender o Batismo sem levar em conta o que aconteceu com Jesus
na madrugada daquele Domingo da Páscoa. Foi ali que tudo começou: o
cristianismo, a fé apostólica e a nossa fé, a salvação e a Igreja! Tudo tem seu
início na Páscoa!
Seria bom recordar o que já escrevi a respeito
da Ressurreição de Jesus naqueles artigos sobre escatologia. Na madrugada do
primeiro dia após o sábado dos judeus, o Pai derramou o Espírito Santo, Espírito
de ressurreição sobre o Filho Jesus: seu corpo e sua alma foram ressuscitados.
Ele ficou pleno do Espírito Santo, de modo que toda a sua natureza humana
encontra-se gloriosa: “Ele foi manifestado na carne (na nossa natureza
humana) e justificado (ressuscitado) pelo Espírito” (1Tm 3,16). “A este
Jesus, Deus o ressuscitou... exaltado pela Direita de Deus, ele recebeu do Pai
o Espírito Santo prometido e o derramou” (At 2,32s). Isto mesmo: Jesus,
totalmente glorificado pelo Espírito, ainda na tarde daquele mesmo Domingo da
Ressurreição, entrou no Cenáculo de Jerusalém e derramou o seu Espírito –
Espírito de ressurreição – sobre seus Apóstolos, alicerces de sua Igreja: “A
paz esteja convosco! Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os
pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes, ser-lhes-ão
retidos!” (Jo 20,19ss). É preciso compreender bem este texto
importantíssimo! Jesus aqui, batiza seus Apóstolos no Espírito Santo!
Lembram-se que João Batista já o havia prometido? “Aquele que me enviou a
batizar com água disse-me: “Aquele sobre quem vires o Espírito descer e
permanecer é o que batiza no Espírito Santo”. E eu vi e dou testemunho que ele
é o Eleito de Deus” (Jo 1,33s). “Eu vos batizo com água, mas vem aquele
que vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo” (Lc 3,16). Pois bem, o
batismo de João Batista era com água, preparando a vinda do Messias. Esta
batismo de João ainda não é o sacramento do Batismo, ainda não é o sacramento
cristão! Lembrem-se que “messias” significa “ungido”, isto é, ungido com o
Espírito Santo: “O Espírito do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor me
ungiu” (Lc 4,18). É o Messias, ungido pelo Espírito na Ressurreição, quem
batizará no Espírito! Os cristãos não têm e nunca tiveram “batismo nas águas” –
como algumas seitas gostam de dizer: nosso batismo é no Espírito! Falar em
“batismo nas águas” é voltar ao Antigo Testamento, é parar em João Batista!
Veremos isso bem direitinho mais adiante.
Então, Jesus, na tarde da Ressurreição, batizou
sua Igreja no Espírito: Espírito de ressurreição, Espírito no qual Deus criou
tudo, Espírito que é dado para a remissão dos pecados! Foi naquele Domingo de
Páscoa que os apóstolos tornaram-se cristãos – isto é, receberam a Vida nova do
Cristo ressuscitado, foram transfigurados em Cristo. Por isso podemos dizer que
aqui nasceu a Igreja: na ressurreição! Aqui ela foi batizada e recebeu o poder
de batizar: “Como o Pai me enviou assim também eu vos envio!” (Jo
20,21). Isto quer dizer que, a partir da Ressurreição do Senhor, a Igreja deve
batizar (= mergulhar, em grego) todo aquele que crê, toda a humanidade que
acolher Jesus ressuscitado, nas águas do Batismo! Mas, o que significam estas
águas? Significam o Espírito Santo, aquele Espírito prometido, aquele Espírito
que ressuscitou o Senhor Jesus! É isto que o Evangelho de João quer dizer ao
afirmar: “Em verdade, em verdade, te digo: quem não nascer da água e do
Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3,5). Observem: nascer da
água, que é símbolo, sinal, do Espírito! Isto é confirmado pelo mesmo
Evangelho, mais adiante: “No último dia da festa, o mais solene, Jesus, de
pé, disse em alta voz: ‘Se alguém tem sede, venha a mim e beba, aquele que crê
em mim!’ – conforme a palavra da Escritura: ‘Do seu seio jorrarão rios de água
viva’. Ele falava do Espírito que deviam receber aqueles que tinham crido nele;
pois não havia ainda Espírito, porque Jesus ainda não fora glorificado” (Jo
7,37ss). Compreendamos bem: de Jesus ressuscitado (glorificado) jorrará para
quem crer, um rio de água viva: o Espírito Santo! Portanto, a água na qual os
cristãos batizam não é mais um elemento natural que simplesmente purifica o
corpo, mas é símbolo do Santo Espírito que Jesus ressuscitado nos dá por sua
Ressurreição. Nosso Batismo (= mergulho) – que fique bem claro mais uma vez! -
não é “nas águas”, mas no Espírito!
Resumamos o que vimos até aqui: no Dia da
Ressurreição, o Cristo glorificado deu seu Espírito aos Apóstolos (isto é, à
sua Igreja); a partir de agora, ela poderá batizar no Espírito de Jesus. Esta
experiência dos Apóstolos no Cenáculo, nós a fazemos no nosso Batismo: nesta
ocasião recebemos o Santo Espírito, fomos nele mergulhados e recebemos a Vida
nova, a Vida ressuscitada do Cristo glorioso! Como os Apóstolos naquele
momento, também nós nos tornamos cristãos!
No próximo artigo continuaremos. Ainda temos um
longo caminho até compreendermos bem este sacramento tão fundamental para a
nossa fé e a nossa vida cristã! Até lá.
Fonte:
Dom
Henrique Soares da Costa. O Sacramento do Batismo - I. Disponível em <
http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/batismo/172-o-sacramento-do-batismo-i>
Desde 29 de Dezembro de 2008.
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