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Dom do Entendimento ou
Inteligência
Prof. Felipe Aquino –
Canção Nova
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O dom do entendimento nos faz ver melhor a
santidade de Deus e a infinidade do Seu amor
Há pessoas simples
que, mesmo sem entender os dogmas e demais ensinamentos da Santa Igreja,
permanecem fiéis aos seus ensinamentos;
possuem o sabor pelas coisas de Deus e, mesmo ignorando o
vasto significado da liturgia, dos dogmas e das orações, dão testemunho de
intensa devoção e piedade. Estão
repletos de sabedoria, mas lhes falta o entendimento, o qual se resume na busca
pela compreensão das coisas de Deus, no seu sentido mais profundo.
O dom do entendimento
dá-nos a percepção espiritual necessária para entender as verdades da fé em
consonância com as nossas necessidades. Sabedoria não é consequência do
entendimento ou vice-versa; mas o perfeito complemento da sabedoria. Por serem
distintamente preciosos, fazem com que nos aproximemos de Deus com todas as
nossas forças, com toda a nossa devoção e inteligência.
A palavra
“inteligência” é derivada de intellegere, que significa ler dentro,
penetrar a fundo. Na ordem natural, entendemos intelligimus quando
captamos a essência de alguma realidade. Na linha da fé, paralelamente,
entender é penetrar, ler no íntimo das verdades reveladas por Deus, é ter a
intuição do seu significado profundo. Pelo dom do entendimento, o cristão
contempla com mais lucidez o mistério da Santíssima Trindade, o amor do
Redentor para com os homens, o significado da Sagrada Eucaristia na vida
cristã, a importância dos sacramentos, da liturgia, da Palavra de Deus, das
mortificações, meditações, orações, da moral católica etc.
A penetração que o
dom da inteligência (ou do entendimento) nos dá é diferente daquela que o
teólogo adquire pelo o estudo; esta é relativamente penosa e lenta. Além do
que, pode ser alcançada por quem tem alcance intelectual, mesmo que não possua
grande amor. Ao contrário, o dom da inteligência é eficaz mesmo sem estudo; é
dado aos pequeninos e ignorantes, desde que tenham grande amor a Deus. Jesus
disse: “Eu te bendigo, Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque escondeste
estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelastes aos pequeninos” (Mt
11,25)
Conta-se que um irmão
leigo franciscano disse certa vez a São Boaventura († 1274), o Doutor Seráfico:
“Felizes vós, homens doutos, que podeis amar a Deus muito mais do que nós, os
ignorantes!” Respondeu-lhe Boaventura: “Não é a doutrina alcançada nos livros
que mede o amor. Uma pobre velha ignorante pode amar Deus mais do que um grande
teólogo se estiver unida a Ele”. O irmão compreendeu a lição e saiu gritando
pelas ruas: “Velhinha ignorante, você pode amar Deus mais do que o mestre Frei
Boaventura!”.
Na ordem natural, é
compreensível que o amor brote do conhecimento. Na ordem sobrenatural, porém,
pode acontecer o inverso: é o amor que abre os olhos do conhecimento. Os que
mais amam a Deus são os que mais profundamente dissertam sobre Ele. Santo
Agostinho dizia: “Creio para compreender e compreendo para crer”.
São frutos do dom do
entendimento as intuições das verdades da fé que são concedidas a muitos
cristãos durante o seu retiro espiritual ou durante uma leitura inspirada pelo
amor a Deus. O “renascer da água e do Espírito” (Jo 3,3), a imagem da “videira
e dos ramos” (Jo 15,5), o “seguir a Cristo, renunciando a si mesmo e tomando a
cruz a cada dia” (Lc 9,26), e muitas outras verdades, tomam então clareza nova
e transformam a vida do cristão.
O dom do entendimento
mostra também o “horror, a hediondez do pecado” e
a grandeza da miséria humana. Os santos, quanto mais se aproximaram de Deus,
quanto mais foram santos, tanto mais tiveram consciência do seu pecado ou da
sua distância em relação Àquele que é três vezes Santo.
Em suma, o dom do
entendimento nos faz ver melhor a santidade de Deus, a infinidade do Seu amor,
o significado dos Seus apelos e também a pobreza da criatura que se compraz em
si mesma, em vez de aderir corajosamente ao Criador.
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