segunda-feira, 25 de abril de 2016

Frei Damião Bozzano: X. A Eucaristia - Palavras da Intituição


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X. A Eucaristia - Palavras da Instituição
Frei Damião de Bozzano
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Não menos claramente falou Nosso Senhor quando, mantendo a sua promessa, instituiu este alimento da vida eterna. Ouçamos como os evangelistas referem o fato:

— "Na mesma noite em que Jesus havia de ser entregue aos seus inimigos, estando no cenáculo com os discípulos, tomou nas suas santas e veneráveis mãos o pão, o abençoou e distribuiu com eles, dizendo: "Tomai e comei; isto é o meu corpo, que será entregue por vós a morte". E tomando o cálice, deu graças e a eles o entregou, dizendo: "Bebei dele todos, pois este é o meu sangue do Novo Testamento, que será derramado por muitos para a remissão dos pecados". E em seguida, dando aos discípulos e neles, a todos os sacerdotes o poder de fazer o que Ele mesmo acabava de fazer, acrescentou: "Fazei isto em memória de mim". (Mt 26, 26-30; Mc 14, 22-26; Lc 22, 19-22; Cor 11, 23-26).

E agora seja-me lícito perguntar: Porventura Jesus não entregou por nós à morte o seu próprio corpo e não derramou para a remissão dos nossos pecados o seu próprio sangue? Portanto o pão e o vinho, depois da consagração, são o próprio corpo e o próprio sangue de Jesus Cristo, visto que ele mesmo disse: "Isto é o meu corpo, que será entregue à morte por vós; este é o meu sangue que será derramado por muitos para a remissão dos pecados".

O texto original grego, em que foi escrito o Evangelho pelos próprios evangelistas, é ainda mais enérgico. Eis como refere as palavras de Jesus: "Isto é o meu corpo, meu próprio corpo, o que por vós é dado; Isto é o meu sangue, o meu próprio sangue, o que por vós é derramado". Pode haver coisa mais clara do que estas palavras? Afinal é um Deus quem fala, é um Deus cujo poder é infinito; é o Verbo eterno do Pai, que com um só ato de sua vontade fez o universo; é um pai moribundo, que na véspera de se sacrificar pelos seus filhos, lhes patenteia os sentimentos do coração. Quem ousará duvidar da verdade de suas palavras especialmente em tal circunstancias?


Palavras de S. Paulo (I Cor 11, 23 a 26)

Por isso os Apóstolos creram nelas firme e literalmente; e S. Paulo manifestava esta fé quando na sua linguagem enérgica, escrevia: "Quem come deste pão ou bebe o cálice do Senhor indignamente é réu do Corpo e do Sangue do Senhor". Notem-se bem estas ultimas palavras: "é réu — diz ele — do corpo e do Sangue do Senhor".

Suponhamos, por ex., que alguém profane o retrato do chefe da Nação; torna-se, por acaso, culpado do seu corpo e do seu sangue? Não. É verdade que lhe faz uma ofensa, pois uma injúria, feita a um retrato, redunda em desonra da pessoa representada, mas nem por isso se torna culpado do corpo e do sangue do chefe da nação, uma vez que não estão presentes no retrato.

O mesmo se diga em nosso caso: Se a Eucaristia fosse apenas uma figura do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, alguém, profanando-a, não se tornaria culpado do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo.

Logo, a Eucaristia não é apenas uma figura do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo; mas é o próprio do Corpo e o próprio Sangue de Jesus Cristo.

E continua o mesmo Apóstolo: "Examine-se, pois, a si mesmo o homem e assim coma desse pão e beba deste cálice, porque quem o come e bebe indignamente, come e bebe para si a condenação, não distinguindo o Corpo do Senhor". (I Cor 11, 28-29).

Ele aqui atesta novamente a presença real de Jesus Cristo há hóstia, já que, dando a razão pela qual é culpado quem comunga indignamente, diz: Por que desta maneira não distingue o Corpo do Senhor; isto é, não considera a SS. Eucaristia o que na realidade é, a saber, o Corpo do Senhor.

Vamos agora refutar as razões que os protestantes alegam contra esta doutrina.

—Quando Nosso Senhor disse: "Isto é o meu Corpo" quis dizer: "Isto representa o meu Corpo" assim quando, mostrando um retrato posso dizer: "este é Fulano" e todos compreendem que não é o próprio fulano em carne e osso, mas uma representação do mesmo.

Resp. — Que seja impossível interpretar assim as palavras de Jesus, demonstra-o e explica o Cardeal Wiseman.

Alguns objetos — observa ele — por sua própria natureza são simbólicos, por exemplo, um mapa, um retrato.

Outros o são por convenção, por exemplo, a bandeira. Portanto quando se diz:

"Saudai, é o Brasil que passa", todos compreendem que o verbo significa "representa".

Por fim quem fala ou escreve pode empregar, em sentido figurado, palavras que não são simbólicas, nem por natureza, nem por convenção.

A ele compete advertir então àqueles que o leem ou escutam. Na parábola do semeador, por exemplo, Jesus dirá: O campo é o mundo.

Se o afirmado nada tem de comum com estes três casos, não há dúvida que o sentido deve ser literal.

Ora, o pão e o vinho não são, por sua própria natureza, símbolos do Corpo e do Sangue de um homem. Não o são também, por convenção: jamais em língua alguma se recorreu a estes dois elementos para representar a carne e o sangue humano. E, em terceiro lugar, não dá Jesus a entender em parte alguma que se trata de uma imagem ou de um símbolo.

Não temos, pois, o direito de interpretar, em sentido figurado as palavras: "Isto é o meu Corpo" e traduzi-las "Isto representa o meu Corpo".

É de admirar que os protestantes interpretem em sentido figurado as palavras da instituição e que, por isso, considerem a Eucaristia como figura do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo. É de admirar, digo, porque eles sustentam que Deus proíbe, na sua lei, fazer imagens, e prestar culto às mesmas. E depois este mesmo Deus, segundo eles, nos teria deixado uma imagem, uma figura do seu Corpo e do seu Sangue, instituindo a Eucaristia.

— São Paulo diz: "Fazei isto em memória de mim". (I Cor. 11, 49).

Ora, não se recordam senão as coisas ausentes.

Portanto Jesus Cristo não esta presente na hóstia.

Resp. — A lembrança se opõe ao esquecimento. E nós podemos esquecer não somente o que é ausente, mas também os que não cai sob nossos sentidos; como, por exemplo, nos esquecemos de Deus, ainda que esteja presente em toda parte; por isso a Sagrada Escritura nos exorta: "Lembrai-vos do Vosso Criador durante a vossa mocidade". (Ecles 12, 1).

Ora, Jesus é invisível na SS. Eucaristia; não cai sob os nossos sentidos. Podemos, pois muito bem consagrar a SS. Eucaristia em memória dele.

Além disso a Eucaristia não se consagra justamente em memória de Cristo, mas da sua paixão e morte, conforme atesta S. Paulo: "Todas as vezes que comerdes deste pão... recordareis a morte do Senhor até que Ele venha"(I Cor 11, 26).

Ora, a paixão e a morte de Nosso Senhor são ausentes.

— A Sagrada Escritura nos representa o Corpo de Jesus como estando no céu, de onde não deve mais sair até o fim dos séculos.

Portanto não pode estar na Eucaristia.

Resp. — Mas a Sagrada Escritura nos assegura que o Corpo de Jesus esta também na Eucaristia e, por isso, cremos nessas duas coisas.

E, de resto, quando ela nos diz que não voltará Jesus a este mundo, senão no fim dos séculos, fala da sua vinda gloriosa, mas não exclui outras vindas, tanto assim que nos fala da aparição de Jesus a S. Paulo no caminho de Damasco. (Atos, 9, 3-7).

— Nosso Senhor mesmo disse: "Vós tereis sempre pobres entre vós, mas a mim não me tereis sempre".

Resp. — Ele fala aqui da presença visível do seu Corpo mortal, mas não exclui a presença visível do seu Corpo na SS. Eucaristia; diz, com efeito, em outra parte:

"Estarei convosco todos os dias até a consumação dos séculos".

— S. Paulo chama a Eucaristia pão (I Cor 11, 26).

Como se pode dizer, portanto, que é o Corpo de Jesus?

Resp. — Ele a chama pão, porque é feita do pão e tem aparência de pão; mas acrescenta também que aquele que participa deste pão, participa do Corpo de Cristo.

Além disso temos na Sagrada Escritura numerosos exemplos em que uma coisa que mudou de natureza conserva ainda o nome do que era antes.

Assim Eva é chamada o osso de Adão (Gen 2, 23). Adão se chama barro; porque foi feito de barro, a varinha de Aarão chamou-se varinha, mesmo depois que se transformou-se em serpente (Ex. 7, 12); a água que se mudou em vinho, é ainda chamada água. (Jo 2, 9).

A Sagrada Escritura chama também muitas vezes as coisas conforme a sua aparência: assim os anjos em forma humana são chamados homens. (Gen 18, 2)
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Autor: Frei Damião Bozzano, Missionário Capuchinho: Em Defesa da Fé.
Imprimatur: Frei Otávio de Terrinca, ofmcap - 20/08/1953
Editora: Paulinas - 3 Edição - 1955

Fonte

Para citar
BOZZANO, Frei Damião. Em Defesa da Fé: X. A Eucaristia - Palavras da Instituição. Disponível em < http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2016/04/frei-damiao-bozzano-x-a-eucaristia-palavras-da-instituicao.html> Desde 26/04/2016.

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