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XI. A Eucaristia e a
Tradição
Frei Damião de Bozzano
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No
primeiro século havia uma espécie de hereges chamados fantasiastas ou docetas,
que negavam a realidade do Corpo de Jesus Cristo, isto é, sustentavam que Jesus
não tinha assumido da Virgem Maria um corpo real, mas apenas aparente.
Sto.
Inácio, Bispo de Antioquia desde o ano 68, discípulo de S. Pedro, falando
desses hereges, diz: "Abstêm-se da Eucaristia e da oração, porque não
confessam que a Eucaristia é a carne de Jesus Cristo Nosso Salvador, a qual foi
sacrificada para a remissão dos nossos pecados e que o Pai ressuscitou por sua
benignidade”. (Epist. ad Smyrn. 7).
O
testemunho é peremptório: No I século professava-se na Igreja, exatamente como
hoje, que na Eucaristia existe o Corpo de Jesus Cristo, o mesmo que foi
crucificado, o mesmo que ressuscitou glorioso e triunfante.
No
segundo século S. Justino mártir, na sua Apologia dirigida ao Imperador
Antonino, depois de ter falado da consagração do pão e do vinho, acrescenta:
"Não devemos receber a comunhão como se fora um pão comum, ou uma bebida
ordinária, tendo sido nós instruídos pela palavra de Deus que aquele alimento
da Eucaristia é a carne e o sangue de Nosso Senhor.
No
mesmo II século aparece Sto. Irineu, que, combatendo os hereges que negavam a
divindade de Jesus Cristo, diz: "Como é que eles hão e acreditar que a
Eucaristia é o Corpo do Senhor e o seu Sangue, se não confessam que Jesus
Cristo é o Filho do Criador do mundo?"(Contra Hereses c. 28). Como se
dissera: quem nega a divindade de Jesus Cristo, não pode confessar a sua presença
real na Eucaristia. Era, pois, doutrina corrente no século II a da presença
real.
No
terceiro século Tertuliano afirma claramente a presença real de Jesus Cristo na
hóstia com estas palavras: "A nossa carne se nutre do Corpo e Sangue de
Cristo afim de que a nossa alma se alimente de Deus”. (De carne
ressurrectionis. 8).
Também
Orígenes manifesta a sua fé na presença, real, dizendo: "Outrora foi dado
em figura como alimento o maná, mas hoje é, na realidade, a carne do Filho de
Deus o nosso verdadeiro alimento (Homilia VII no liv. os Números ).
A
estes testemunhos dos três primeiros séculos podemos acrescentar o seguinte:
Com
espírito de denegração, que o ódio inspira, os gentios acusavam os cristãos de
se nutrirem das carnes de um menino, em horríveis festins que a luz do dia não
devia iluminar. Os primeiros apologistas repeliram com horror e indignação esta
atroz calúnia; ela, porém, é para nós um índice precioso da fé inabalável dos
nossos primeiros pais. As carnes vivas e puras de Jesus Cristo se tornavam,
para os inimigos mal informados, uma carne humana, carne de um menino.
No
IV século S. Cirilo de Jerusalém, expondo aos catecúmenos a doutrina católica
sobre os sacramentos, declara que o pão e o vinho, depois da consagração, são o
Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, e por isso os cristãos, recebendo o Corpo e o
Sangue de Jesus Cristo, se tornam verdadeiramente seus concorpóreos e
consanguíneos. (Catechs. 19, 7).
No
século V Sto. Agostinho assim afirma a presença real de Jesus Cristo na
Eucaristia: "Aquele Pão, que vedes no altar, santificado pela palavra de
Deus, é o Corpo de Cristo; e aquele vinho, que se contém no cálice, é o seu
Sangue”. (Serm. 117).
E
comentando o salmo 98 diz: "Ninguém come aquela carne sem a ter adorado”.
No
mesmo século ergue-se a voz potente de S. Cirilo de Alexandria que,
associando-se à Carta Sinodal, que os Padres do Concilio Alexandrino dirigiram
a Nestório, diz: "Nós celebramos um sacrifício incruento na Igreja e somos
santificados, participando do mesmo Corpo sagrado e do Sangue precioso de Jesus
Cristo, Redentor de todos; porque não recebemos a sua carne como carne comum, e
sim como a própria carne do Verbo, que se fez homem para a nossa salvação (can.
8).
No
sexto século podemos, entre outros, alegar como testemunha da presença real
Cassiodoro na França, Fortunato na África e S. João Clímaco na Ásia, que diz:
"A Igreja, recebendo os hereges, que abjuraram completamente as suas
heresias, torna-os dignos do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo e participantes
deste santo Sacramento”. (Gradus. 15).
Finalmente
no século sétimo temos o testemunho de S. Isidoro de Sevilha e o de S. Teodoro
de Canterbury que entre os pecados que devem ser manifestados em confissão
enumera também o de receber indignamente o Corpo do Senhor.
Portanto,
como cada qual pode ver, não é verdade que o dogma da presença real de Jesus
Cristo na hóstia fosse desconhecido antes do século VIII. Não, a cristandade,
desde o seu berço, sempre acreditou nesse dogma; e se acreditou foi porque o
próprio Jesus Cristo lh’o ensinou por meio dos seus Apóstolos.
Resta
resolver alguma objeções que os incrédulos podem fazer. Ei-las:
—
Como é possível que esteja Jesus presente naquela hóstia pequenina, naquele
diminuto espaço.
Sim,
isto é um mistério de fé, mas porventura não os há também na natureza? Por
exemplo, explique quem puder, como é que a natureza com a verdura dos seus
campos, com seus montes, com o seu firmamento estrelado, com todas as suas
magnificências, tão perfeitamente se reflete na minha pupila, que é apenas um
ponto imperceptível; como é que uma árvore gigantesca esta contida numa
insignificante semente, como é que alguns grãos de pólvora colocados sob um
castelo o manda pelos ares num instante. Disto ninguém pode dar uma explicação
cabal. Não é, pois, de admirar, se não podemos explicar de que maneira esta
Jesus numa pequenina hóstia.
—
Como podemos admitir, dizem outros, a mudança do pão e do vinho no Corpo e
Sangue de Jesus Cristo, se o pão e o vinho permanecem os mesmos, que antes quer
depois da consagração?
É
de notar que uma coisa qualquer devemos distinguir os acidentes e a substância.
Os
acidentes são os elementos variáveis da coisa; a substância é o elemento
invariável e faz com que a mesma seja o que é e não outra. Por exemplo, tenho
aqui um pão cru.
Mando
cozê-lo; é ainda o mesmo pão? Quanto à substancia é, somente mudaram a cor e o
sabor. — Parto este pão. Em cada uma das partes que o dividi, tenho sempre o
mesmo pão? Tenho. E então, são a mesma coisa um pão inteiro uma metade, uma
migalha? São a mesma coisa quanto à substancia, não o são em relação à
quantidade. — Outro exemplo: Eu sou sempre o mesmo que há 30 anos atrás. E
entretanto se alguém comparasse a minha pessoa com um retrato que naquele tempo
mandei tirar, diria que aquele não é o meu retrato, pois nele apareço menor,
imberbe, sem cabelos brancos, mais ágil, menos feio do que agora. Que mudou em
mim? Mudaram os acidentes, mas a substância permaneceu a mesma, por isso sou o
mesmo pobrezinho que há trinta anos atrás.
Daí
se pode compreender que os nossos sentidos percebem apenas os acidentes e não a
substância de uma coisa. Ora, por força das palavras da consagração a
substância do pão e do vinho se convertem na substância do Corpo e do Sangue de
Jesus Cristo e permanecem os acidentes do pão e do vinho; isto é, a cor, o
sabor, a quantidade, a qualidade. Eis porque tanto antes como depois da
consagração não percebemos nenhuma mudança no pão e no vinho.
—
Como se pode afirmar que o Corpo de Jesus, que esta no céu, ao mesmo tempo
se
acha em todas as hóstias do mundo? Então Ele tem tantos corpos quantas são as
hóstias consagradas?
Não.
Jesus tem um só Corpo. Não é o Corpo de Jesus que se multiplica e sim as
hóstias que contém esse Corpo divino. É um mistério este, uma verdade que não
se pode compreender. Podemos porém, encontrar na natureza comparações que nos
dão uma pálida idéia disto.
Pronuncio
uma palavra diante de um grande auditório e todos os ouvintes recebem inteira
essa palavra, e se a pronunciasse ante o microfone de uma potente difusora
poderia ser ouvida em todas as partes do mundo.
Desta
maneira a minha palavra, pronunciada uma única vez, se acharia ao mesmo tempo
presente um todas as partes do mundo.
E
Jesus, que é Deus, não poderá fazer com que o seu Corpo se ache presente em
todas as hóstias consagradas no mundo?
Não,
repito-o, não podemos compreender semelhante portento, mas Jesus Cristo o
afirmou. Por isso curvemos a fronte e digamos: Senhor, eu creio.
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Autor:
Frei Damião Bozzano, Missionário Capuchinho: Em Defesa da Fé.
Imprimatur:
Frei Otávio de Terrinca, ofmcap - 20/08/1953
Editora:
Paulinas - 3 Edição - 1955
Fonte
Livro(PDF):
Frei Damião - Em Defesa da Fé <http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2014/04/o-peregrino-de-deus.html>
Para
citar
BOZZANO,
Frei Damião. Em Defesa da Fé: XI. A Eucaristia e a Tradição. Disponível em <
http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2016/04/frei-damiao-bozzano-xi-a-eucaristia-e-a-tradicao.html>
Desde 26/04/2016.
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