segunda-feira, 25 de abril de 2016

Frei Damião de Bozzano: I. A verdadeira regra de fé


------------------------------------------------------------------------------------------
I - A verdadeira regra de fé   
Frei Damião de Bozzano
------------------------------------------------------------------------------------------
Regra de Fé: Meio lógico, objetivo, pelo qual podemos conhecer as verdades reveladas por Deus.

Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou ao mundo a sua doutrina, exigindo que todos a abraçassem sob pena de condenação eterna. Logo nos deve ter deixado um meio fácil e seguro para conhecermos esta doutrina.

Qual este meio?

Segundo os protestantes é a Bíblia tal qual é compreendida por cada indivíduo, ignorante ou douto.

Segundo os católicos, é um magistério vivo, infalível, autêntico, isto é, a igreja docente, constituída por Jesus Cristo depositária das verdades reveladas. E as fontes, onde essa igreja vai haurir os ensinamentos de Jesus Cristo são a Bíblia e a Tradição.

Onde a razão? Vejamo-lo. Neste capítulo vamos apenas provar a tese católica.

a) Dizemos, antes de tudo, que Jesus, para dar conhecer ao mundo sua doutrina, constituiu um magistério vivo, isto é, escolheu certo número de homens, aos quais confiou o munus e o oficio de pregar a sua doutrina, obrigando todo o mundo a neles crer. Eis as provas:

"Foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide pois, instrui as
gentes....ensinando-as a observar tudo que vos mandei; e eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos".(Mt. 28,18).


Ainda mais: "Ide, pregai o evangelho por todo o mundo. Quem crer e for batizado será salvo, quem não crer será condenado". (Mc 10,16 )."

"Quem vos ouve, a mim ouve. Quem vos rejeita, a mim rejeita, e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou". (Lc. 10 16).

Por estas palavras deu aos apóstolos e somente a eles o oficio de pregarem o seu Evangelho; de fato, quando se tratou de colocar Matias no lugar de Judas que tinha prevaricado, afim de que pudesse pregar o Evangelho com os demais apóstolos, recorreu-se a uma eleição. (Atos 1, 23 ). Ora, esta não teria sido necessária, se Jesus tivesse a todos os cristãos o oficio de pregar o Evangelho, pois Matias, já mesmo antes da eleição, era cristão, discípulo de Cristo.

Se, pois, foi preciso uma eleição, quer isto dizer que Jesus Cristo confiou somente aos apóstolos o oficio de pregar o seu Evangelho.

E os apóstolos compreenderam dessa maneira as palavras de Jesus, isto é, que Ele lhes tinha imposto o munus e o oficio de pregar a sua doutrina. Por isso S. Marcos acrescenta: "Eles, os apóstolos, partiram e pregaram por toda a parte ". (Mc 16, 20).

Eis, pois, o meio escolhido por Nosso Senhor para difundir sua doutrina: O magistério dos apóstolos; eles devem ensinar, pregar esta doutrina e todo o mundo deve acreditar nos seus ensinamentos.

b) Dizemos, além disso, que este magistério vivo, por vontade de Jesus, devia durar até o fim dos séculos, ou por outras palavras, este munus, este oficio, que os discípulos receberam, não devia acabar com a morte deles, mas devia ser transmitido aos seus
sucessores.

Com efeito Jesus diz: "foi-me dado todo o poder no céu e na terra. Ide pois, instrui todas as gentes.... ensinando-as a observar tudo que vos mandei. E eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos"(Mt. 28,18).

Mas não sabia Nosso Senhor que os apóstolos não poderiam ficar neste mundo até o fim dos séculos, para ensinar a todas as gentes a sua doutrina? Sem dúvida o sabia.

Portanto, ele aqui falou aos apóstolos, como a pessoas que deveriam ter sucessores até o fim dos séculos, para ensinar a todas as gentes a sua doutrina

E os apóstolos, fiéis executores do pensamento do divino Mestre, tinham cuidado de deixar quem continuasse seu magistério. Por isso S. Paulo escreve a Timóteo: "O que de mim ouviste por muitas testemunhas, ensina-o a homens fiéis, que se tornem idôneos para ensinar a outros". ( IITim 2,2 ).

c) Dizemos, enfim, que este magistério vivo, é infalível, isto é, não pode ensinar erro algum sobre a fé ou sobre a moral.

__ Com efeito, consideramos as palavras evangélicas:

"Foi-me dado, diz Jesus, todo o poder no céu e na terra. Ide pois, instrui todas as gentes.... ensinando-as a observar tudo que vos mandei. E e eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos". (Mt. 28,18).

Como vemos, Jesus aqui impõe aos apóstolos e aos seus sucessores ensinar tudo o que Ele ensinou e ensiná-lo até o fim dos séculos. E como esta fora uma empresa superior a simples forças humanas, promete-lhes a assistência onipotente.

Ora, será possível que um magistério, assistido pela própria verdade que é Cristo, possa errar? Não é possível.

Portanto, a igreja, assistida por Cristo, é infalível.

Jesus diz ainda: "Quem vos ouve, a mim ouve. Quem vos rejeita, a mim rejeita, e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou". (Lc 10, 16).

Porventura, ouvir a Jesus, não é ouvir ensinamentos infalíveis?

Ora, ele afirma que aquele que ouve os apóstolos e aos seus sucessores, isto é, à Igreja docente, o ouve a Ele mesmo.

Portanto, quem ouve a Igreja, ouve ensinamentos infalíveis.

__ O mesmo repete Jesus naquela passagem que lemos em S. João (14 16 e 26 ) "Eu rogarei ao Pai e Ele vos dará outro Consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito de verdade... Ele vos ensinará todas as coisas e vos recordará tudo que vos tenho dito".

Pois bem, é possível o erro onde está o Espírito da verdade, que ensina e recorda tudo o que Jesus tem ensinado? Impossível.

Ora, Jesus afirma que o Espírito da verdade ficará eternamente com os apóstolos e seus sucessores e ensinará e recordará tudo o que ele tem ensinado.

Portanto com os apóstolos e com os seus sucessores não pode estar o erro, logo são infalíveis.

__ Finalmente Jesus diz: "Ide, pregai o evangelho por todo o mundo, quem crer, e for batizado será salvo, quem não crer será condenado."(Mt 16,15).

Ora, pergunto eu, será possível que Deus imponha ao mundo acreditar no erro sob pena de condenação eterna? Não: isto repugnaria à sua justiça, à sua santidade, à sua veracidade.

Portando, Jesus impondo ao mundo a obrigação de acreditar no que ensina a Igreja sobe pena de condenação eterna, ao mesmo tempo dava a esta mesma Igreja a infalibilidade, afim de que nunca pudesse errar.

Tudo isto é confirmado pelo Apóstolo S. Paulo quando chama a igreja: "Coluna e sustentáculo da verdade ". (Tim. 3,15).

É claro, com efeito, que a Igreja não poderia ser coluna e alicerce da verdade se ensinasse o erro e a superstição.

Eis portanto, provada pela Bíblia a primeira parte da tese católica.

Passemos a provar a segunda parte que sustenta serem duas as fontes, onde a Igreja vai haurir os ensinamentos de Jesus: a Divina Escritura e a Tradição.

A Divina Escritura, é a palavra de Deus contidas nos livros por Ele inspirados.

Chama-se também Bíblia, que significa: livro dos livros, livro por excelência.

A Tradição é também a palavra de Deus que não foi escrita, mas ensinada de viva voz por Jesus e pelos Apóstolos.

Existe esta tradição, ou por outras palavras, existem verdades reveladas que não se acham contidas na Bíblia? Existem. A própria Bíblia o declara. Eis, por exemplo, como fala S. Paulo na 2° epístola aos Tess 2,4: "Estai firmes, irmãos, e conservai as tradições que aprendestes de viva voz ou por epístola nossa".

E no cap. 3,6 acrescenta: "Nós vos prescrevemos, em nome de N. S. Jesus Cristo,

que vos aparteis de todos os irmãos que andam desordenadamente e não segundo a tradição receberam de nós".

E na 2° epístola a Tim escreve: "O que de mim ouvistes por muitas testemunhas, ensina-o a homens fiéis, que se tornem idôneos para ensinar a outros".

E no capítulo 1, 13 exorta ao mesmo Timóteo:

"Toma por modelo as Santas Palavras que me tens ouvido na fé."

E na 1° epístola aos Cor 11,2, congratula-se com os fiéis, porque haviam conservado as suas instruções: "Eu vos louvo, irmãos, porque em tudo vos lembrais de mim e guardais as minhas instruções, como eu vo-las ensinei". De que instruções fala aqui o Apóstolo? Sem dúvida, fala de instruções dadas de viva voz, já que era esta a primeira epístola que lhes enviava.

Como S. Paulo, assim também fala S. João, quando diz no seu evangelho: "Muitas outras coisas há que fez Jesus, se elas fossem escritas uma por uma, suponho que nem no mundo inteiro caberiam os livros que se escrevessem". (Jo 21,25 ) e quando, concluindo as suas ultimas epístolas, diz claramente que não quis confiar tudo à tinta e ao papel, deixando para fazê-lo de viva voz.

Os textos citados e outros, que poderíamos alegar nos demonstram que nem tudo o que ensinaram Jesus e os Apóstolos, foi escrito: há verdade que ensinaram de viva voz; e por isso mesmo a tradição existe. Com razão, pois, a igreja vai haurir os ensinamentos de Jesus na Divina Escritura e na Tradição.
_______________________________________
Autor: Frei Damião Bozzano, Missionário Capuchinho: Em Defesa da Fé.
Imprimatur: Frei Otávio de Terrinca, ofmcap - 20/08/1953
Editora: Paulinas - 3 Edição - 1955

Fonte

Para citar
BOZZANO, Frei Damião. Em Defesa da Fé: I. A verdadeira regra de fé. Disponível em <http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2016/04/frei-damiao-de-bozzano-i-a-verdadeira-regra-de-fe> Desde 25/04/2016.

Nenhum comentário:

Postar um comentário