segunda-feira, 25 de abril de 2016

Frei Damião de Bozzano: III. A Verdadeira Igreja


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III. A VERDADEIRA IGREJA   
Frei Damião de Bozzano
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Já vimos que, para conhecer a doutrina de Jesus Cristo, devemos ouvir a sua Igreja, e não simplesmente folhear a Bíblia, interpretando-a livremente, como pretendem os protestantes. 

Mas qual a verdadeira Igreja fundada por Nosso Senhor? 

A nossa, isto é, a Igreja governada por Pedro sempre vivente nos seus legítimos sucessores, que são os Papas.

Para que apareça claramente essa verdade, é necessário provar três pontos: 

I - Que Jesus Cristo fundou a sua Igreja e entregou seu governo a Pedro. 

II- Que foi vontade de Jesus que Pedro transmitisse o governo da Igreja a seus sucessores. 

III- Que os sucessores de Pedro são os Papas. 

Neste capítulo vou demonstrar o primeiro ponto, cujas provas são claras no Evangelho, a não ser que alguém queira por si mesmo enganar-se. 

a) A primeira nos é oferecida pelas palavras que N. Senhor dirigiu a S. Pedro após ter Ele confessado a sua divindade. 

"Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela". ( Mt 16,18 ) 

Observai: 

Ele compara a sua Igreja, isto é, a sociedade cristã, a um edifício e diz que o fundamento, a pedra sobre a qual construirá este edifício, será Pedro. 

Ora, o que é o fundamento de uma sociedade, ou, por outras palavras, o que é que sustenta, conserva e rege uma sociedade, assim como o fundamento conserva, sustenta e rege um edifício? 

É o poder, a autoridade suprema. 

Tirai, por exemplo, o poder central que nos rege, e esta sociedade política, que se chama Brasil se desmorona, acaba-se. 

Até mesmo uma família, que é uma sociedade tão pequena, exige um chefe que governe; se numa família o pai quiser uma coisa, a mãe outra, e os filhos se negarem a obedecer, aquela família se tornará uma verdadeira Babel. 

É, pois, certo que o fundamento de uma sociedade é o poder, a autoridade suprema. 

Portanto, dizendo Jesus a Pedro que o constituiria pedra fundamental da sua Igreja, 
outra coisa não lhe quis dizer senão que lhe entregaria a autoridade suprema nesta Igreja. 

Mas, dizem os protestantes, a pedra sobre a qual foi edificada a Igreja é o próprio Cristo. 

Ninguém jamais contestou, visto que a própria Bíblia afirma o afirma claramente. 

Mas não é esse o ponto da controvérsia. 

Trata-se de conhecer se também Simão Pedro, por vontade de Jesus Cristo, é a Pedra fundamental da sua Igreja. 

Ora, o texto Evangélico não deixa dúvida alguma a respeito, porque, note-se bem, Jesus falou a Pedro em aramaico e as palavras que lhe dirigiu, traduzidas ao pé da letra, diriam: "Tu és um rochedo e sobre este rochedo edificarei a minha Igreja". 

Palavras estas que nos fazem compreender claramente que o rochedo, sobre o qual quis Jesus edificar a sua Igreja é o próprio Pedro. 

Para melhor compreensão disto, vou alegar a comparação de um autor moderno: 

__ Eu digo: O Corcovado é um rochedo e sobre este rochedo foi levantado um monumento a Cristo Redentor. __ Como se entende essa proposição? Acaso o rochedo sobre o qual foi levantado um monumento a Cristo Redentor, não é o próprio Corcovado? 

Pois bem, o texto evangélico é do mesmo feitio. Jesus disse a São Pedro: Tu és rochedo e sobre este rochedo edificarei a minha Igreja. 

Não há, pois, dúvida alguma: O rochedo aqui é Pedro. 

E se Pedro é o rochedo da Igreja, repito-o, nela tem poder supremo, visto que o poder é o fundamento, o rochedo que sustenta e conserva a sociedade. 

Nem se diga que nesse caso há contradição na Sagrada Escritura, afirmando em outro lugar que a pedra fundamental da Igreja é Jesus Cristo, pois não é no mesmo sentido que isto se diz de Jesus e de Pedro. Jesus é a pedra fundamental por essência, 

Simão Pedro por participação; Jesus, pedra invisível, Simão, pedra visível. 

b) E tanto é este o sentido do Salvador, que Ele mesmo o exprime por outros termos não menos significativos: 

"Dar-te-ei, diz Ele ainda a S. Pedro, as chaves do reino dos céus". 

Jesus chama freqüentemente a sua Iigreja __ reino dos céus __ porque fundou essa sociedade para conduzir os homens ao reino dos céus, e afirma aqui que entregará as chaves deste reino a Pedro. 

Com isto que quer significar? 

Quer dizer que lhe entregará o governo deste reino. 

De fato, que recebe as chaves, fica encarregado da inspeção, cuidado e governo das coisas que elas guardam. Se eu, por exemplo, querendo sair para longe, entrego as chaves de minha casa a um amigo, por este mesmo ato o encarrego do cuidado e governo da mesma. 

Ora, Jesus afirma que entregará a Pedro as chaves do reino dos céus, isto é, da sua Igreja. Logo afirma que lhe entregará o cuidado, o governo dessa Igreja. 

c) E como para dissipar toda dúvida, explicando ainda melhor o seu pensamento, Jesus acrescenta: Tudo o que ligares na terra, será também ligado no céu, e tudo o que desligares na terra, será desligado também no céu. 

Ter poder de ligar e desligar numa sociedade, significa ter nela o poder de fazer leis; pois toda lei impõe uma obrigação e toda obrigação é um liame da consciência. 

Jesus prometendo, portanto, a Pedro o poder de ligar e desligar na sua Igreja, lhe prometeu o poder de nela fazer leis. 

Mas notai: Pedro pode fazer todas as leis que quiser, sem que seja possível que outro poder humano as anule, visto que serão ratificadas no céu: "Tudo o que ligares na terra o será também no céu". 

Ora, pergunto eu, quem é que numa sociedade pode assim fazer leis, senão quem tem a autoridade suprema? 

Logo Pedro tem esta autoridade na Igreja de Cristo. 

Mas, dirá alguém, não deu Nosso Senhor este mesmo poder de ligar e desligar a todos os apóstolos? (Mt 18,18). 

Sim, é preciso, porém, notar que a nenhum dos demais Apóstolos disse Jesus em singular: "Tudo o que ligares na terra, será também ligado no céu", mas dirigiu estas palavras a todos eles juntamente com Pedro, que já tinha designado como chefe. 

Com ele podem, portanto, ligar e desligar na Igreja, mas não o podem sem ele, independentemente dele. 

Nosso Senhor, depois de Ter prometido a Pedro a autoridade suprema na Igreja, lh'a entrega, dizendo-lhe: 

"Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas". (Jo 21, 16 ). 

__ Os cordeiros, como explicam os sagrados intérpretes, são os simples fiéis; as ovelhas, os sacerdotes, pois assim como as ovelhas dão a vida aos cordeiros, do mesmo modo os sacerdotes dão a vida espiritual aos fiéis por meio dos Sacramentos e da pregação do Evangelho. 

Portanto, como vedes, Pedro recebe o encargo de apascentar todo o rebanho de Cristo, tanto os cordeiros, como as ovelhas, isto é, tanto os simples fiéis, como os sacerdotes. 

Pois bem, apascentar um rebanho, não é porventura, o mesmo que o dirigir, conduzir e governar? 

Logo, recebendo Pedro o encargo de apascentar todo o rebanho de Cristo, recebe o encargo de dirigi-lo, conduzi-lo e governá-lo; e, por conseguinte, é o príncipe, o soberano, o chefe supremo desse rebanho. 

Por estas palavras, dizem os protestantes, Jesus quis apenas substituir a Pedro o privilégio de Apóstolo que tinha perdido pela sua tríplice negação na casa de Caifás. 

Resp. __ Onde se encontra que Pedro, negando a Jesus, perdeu o privilégio de Apóstolo? No evangelho não figura. 

Todavia, mesmo admitindo esta suposição gratuita dos protestantes, respondemos que Pedro já tinha sido reintegrado no apostolado antes que recebesse o encargo de apascentar o rebanho de Jesus, visto que a Ele também no dia da ressurreição, Nosso Senhor dirigiu estas palavras: "Como o Pai me enviou a mim, assim também eu vos envio a vós". (Jo 20, 21). 

__ Mas, afinal, insistem ainda os protestantes, quando Nosso Senhor disse a S. 

Pedro: "Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas", quis lher dizer: 

"apascenta o meu rebanho, ensinando-lhe a minha doutrina.

Resp. No texto original grego, além da palavra "boske" que significa: apascenta, alimenta; há também "poimane tá prôbata mou" que em nossa língua se traduz: apascenta com império as minhas ovelhas. 

Não há, pois, dúvida alguma: por estas palavras Nosso Senhor entregou todo o rebanho a Pedro e, por conseguinte, o constituiu seu chefe supremo. 

E Pedro cônscio da sua autoridade, agiu como chefe supremo da Igreja: 

__ No cenáculo é ele quem ordena preencher com a eleição de Matias a vaga aberta no Colégio dos Apóstolos pela traição de Judas. (Act 1, 13). 

__ No dia de Pentecostes é ele quem fala ao publico e promulga a lei da graça. (Act 2, 14). 

No Sinédrio é ele quem defende o colégio apostólico perante os príncipes dos sacerdotes. (Act 5, 29 ). 

Ele é o primeiro a percorrer e visitar as Igrejas perseguidas (Act 9, 25); a ensinar a admissão dos pagãos ao batismo (Act. 10, 11); a infligir castigos, ferindo de morte Ananias e Safira e excomungando Simão, o mágico (Act 5, 1-8, 20). 

E no Concílio de Jerusalém, celebrado pelos Apóstolos, quem preside e põe termo às discussões, definindo a doutrina que se deve seguir? É Pedro. 

Ele fala e a sua decisão é acolhida com religioso silencio. 

O próprio Tiago, que era Bispo de Jerusalém, onde se achavam reunidos os Apóstolos, não se levanta senão para repetir a decisão de Pedro e aquiescer à mesma. (Act 15, 17). 

Algumas objeções. __ Apesar de tantas provas em favor de São Pedro, ainda há quem queira sustentar que ele não foi constituído chefe supremo da Igreja. 

Eis algumas razões que alegam: 

Nos Atos dos apóstolos (8, 14 ) lemos que os Apóstolos, que estavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria tinha recebido a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João. 

Ora, se envia somente um subalterno, não um superior. 

Resp. __ É falso. Há dois modos de se enviar: um por mandato, outro por conselho. 

Os filhos não enviam freqüentemente os pais? O exército não envia o general? Pedro foi enviado por conselho, não por mandato. 

__ São Paulo, pelo menos, não reconheceu São Pedro como chefe supremo da Igreja, porque o repreendeu publicamente em Antioquia (Epis. aos Galátas, 2, 4). 

Resp. __ Também um inferior em circunstancias graves, pode e até deve corrigir respeitosamente seu superior. 

São Pedro, tendo chegado em Antioquia judeus convertidos, por temor de escandalizá-los, pouco a pouco se foi subtraindo das refeições dos gentios e começou a adaptar-se por prudência às prescrições da lei mosaica. A sua conduta fez com que outros judeus, que já tinham abandonado os seus ritos, os retomassem, lançando, desta maneira, confusão na Igreja de Antioquia, onde os judaizantes pretendiam que não se pudesse ser perfeito cristão, senão observando a lei mosaica. 

Por esse motivo, São Paulo, embora inferior, repreendeu a São Pedro. 

__ De resto, que São Paulo reconhecesse o primado de São Pedro, dão provas as suas epístolas. Citarei uma. 

Na Epístola aos Gálatas, entre os quais alguém lhe contestava a autoridade de Apóstolo, Paulo, para defender o seu direito, apela para a autoridade de São Pedro e frisa que, saído de Damasco depois de sua conversão, passados três anos, foi a Jerusalém para ver a Pedro e ficou com ele quinze dias. E não viu a nenhum outro dos Apóstolos senão Tiago (Gal. 1, 18). 

Porque frisa o Apostolo este fato? 

Porque tem importância ter ele ido visitar a Pedro numa cidade cujo Bispo era Tiago? Sem dúvida, porque Pedro era superior a Tiago e a Paulo; era, isto é, o chefe da Cristandade. 

Por tudo o que acabamos de dizer, fica pois, provado que Jesus, fundando a sua Igreja, lhe deu um chefe supremo na pessoa de Pedro. 

Querer negar esta verdade, significaria zombar das Divinas Escrituras que a ensinam claramente. 
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Autor: Frei Damião Bozzano, Missionário Capuchinho: Em Defesa da Fé.
Imprimatur: Frei Otávio de Terrinca, ofmcap - 20/08/1953
Editora: Paulinas - 3 Edição - 1955
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Fonte

Para citar
BOZZANO, Frei Damião. Em Defesa da Fé: III. A Verdadeira Igreja. Disponível em <http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2016/04/frei-damiao-de-bozzano-iii-a-verdadeira-igreja.html> Desde 25/04/2016.

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