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III. A VERDADEIRA IGREJA
Frei Damião de Bozzano
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Mas
qual a verdadeira Igreja fundada por Nosso Senhor?
A
nossa, isto é, a Igreja governada por Pedro sempre vivente nos seus legítimos
sucessores, que são os Papas.
Para
que apareça claramente essa verdade, é necessário provar três pontos:
I
- Que Jesus Cristo fundou a sua Igreja e entregou seu governo a Pedro.
II-
Que foi vontade de Jesus que Pedro transmitisse o governo da Igreja a seus
sucessores.
III-
Que os sucessores de Pedro são os Papas.
Neste
capítulo vou demonstrar o primeiro ponto, cujas provas são claras no Evangelho,
a não ser que alguém queira por si mesmo enganar-se.
a)
A primeira nos é oferecida pelas palavras que N. Senhor dirigiu a S. Pedro após
ter Ele confessado a sua divindade.
"Tu
és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno
não prevalecerão contra ela". ( Mt 16,18 )
Observai:
Ele
compara a sua Igreja, isto é, a sociedade cristã, a um edifício e diz que o
fundamento, a pedra sobre a qual construirá este edifício, será Pedro.
Ora,
o que é o fundamento de uma sociedade, ou, por outras palavras, o que é que
sustenta, conserva e rege uma sociedade, assim como o fundamento conserva,
sustenta e rege um edifício?
É
o poder, a autoridade suprema.
Tirai,
por exemplo, o poder central que nos rege, e esta sociedade política, que se
chama Brasil se desmorona, acaba-se.
Até
mesmo uma família, que é uma sociedade tão pequena, exige um chefe que governe;
se numa família o pai quiser uma coisa, a mãe outra, e os filhos se negarem a
obedecer, aquela família se tornará uma verdadeira Babel.
É,
pois, certo que o fundamento de uma sociedade é o poder, a autoridade
suprema.
Portanto,
dizendo Jesus a Pedro que o constituiria pedra fundamental da sua Igreja,
outra
coisa não lhe quis dizer senão que lhe entregaria a autoridade suprema nesta
Igreja.
Mas,
dizem os protestantes, a pedra sobre a qual foi edificada a Igreja é o próprio
Cristo.
Ninguém
jamais contestou, visto que a própria Bíblia afirma o afirma claramente.
Mas
não é esse o ponto da controvérsia.
Trata-se
de conhecer se também Simão Pedro, por vontade de Jesus Cristo, é a Pedra
fundamental da sua Igreja.
Ora,
o texto Evangélico não deixa dúvida alguma a respeito, porque, note-se bem,
Jesus falou a Pedro em aramaico e as palavras que lhe dirigiu, traduzidas ao pé
da letra, diriam: "Tu és um rochedo e sobre este rochedo edificarei a
minha Igreja".
Palavras
estas que nos fazem compreender claramente que o rochedo, sobre o qual quis
Jesus edificar a sua Igreja é o próprio Pedro.
Para
melhor compreensão disto, vou alegar a comparação de um autor moderno:
__
Eu digo: O Corcovado é um rochedo e sobre este rochedo foi levantado um
monumento a Cristo Redentor. __ Como se entende essa proposição? Acaso o
rochedo sobre o qual foi levantado um monumento a Cristo Redentor, não é o
próprio Corcovado?
Pois
bem, o texto evangélico é do mesmo feitio. Jesus disse a São Pedro: Tu és
rochedo e sobre este rochedo edificarei a minha Igreja.
Não
há, pois, dúvida alguma: O rochedo aqui é Pedro.
E
se Pedro é o rochedo da Igreja, repito-o, nela tem poder supremo, visto que o
poder é o fundamento, o rochedo que sustenta e conserva a sociedade.
Nem
se diga que nesse caso há contradição na Sagrada Escritura, afirmando em outro
lugar que a pedra fundamental da Igreja é Jesus Cristo, pois não é no mesmo
sentido que isto se diz de Jesus e de Pedro. Jesus é a pedra fundamental por
essência,
Simão
Pedro por participação; Jesus, pedra invisível, Simão, pedra visível.
b)
E tanto é este o sentido do Salvador, que Ele mesmo o exprime por outros termos
não menos significativos:
"Dar-te-ei,
diz Ele ainda a S. Pedro, as chaves do reino dos céus".
Jesus
chama freqüentemente a sua Iigreja __ reino dos céus __ porque fundou essa
sociedade para conduzir os homens ao reino dos céus, e afirma aqui que
entregará as chaves deste reino a Pedro.
Com
isto que quer significar?
Quer
dizer que lhe entregará o governo deste reino.
De
fato, que recebe as chaves, fica encarregado da inspeção, cuidado e governo das
coisas que elas guardam. Se eu, por exemplo, querendo sair para longe, entrego
as chaves de minha casa a um amigo, por este mesmo ato o encarrego do cuidado e
governo da mesma.
Ora,
Jesus afirma que entregará a Pedro as chaves do reino dos céus, isto é, da sua
Igreja. Logo afirma que lhe entregará o cuidado, o governo dessa Igreja.
c)
E como para dissipar toda dúvida, explicando ainda melhor o seu pensamento,
Jesus acrescenta: Tudo o que ligares na terra, será também ligado no céu, e
tudo o que desligares na terra, será desligado também no céu.
Ter
poder de ligar e desligar numa sociedade, significa ter nela o poder de fazer
leis; pois toda lei impõe uma obrigação e toda obrigação é um liame da
consciência.
Jesus
prometendo, portanto, a Pedro o poder de ligar e desligar na sua Igreja, lhe
prometeu o poder de nela fazer leis.
Mas
notai: Pedro pode fazer todas as leis que quiser, sem que seja possível que
outro poder humano as anule, visto que serão ratificadas no céu: "Tudo o
que ligares na terra o será também no céu".
Ora,
pergunto eu, quem é que numa sociedade pode assim fazer leis, senão quem tem a
autoridade suprema?
Logo
Pedro tem esta autoridade na Igreja de Cristo.
Mas,
dirá alguém, não deu Nosso Senhor este mesmo poder de ligar e desligar a todos
os apóstolos? (Mt 18,18).
Sim,
é preciso, porém, notar que a nenhum dos demais Apóstolos disse Jesus em
singular: "Tudo o que ligares na terra, será também ligado no céu",
mas dirigiu estas palavras a todos eles juntamente com Pedro, que já tinha
designado como chefe.
Com
ele podem, portanto, ligar e desligar na Igreja, mas não o podem sem ele,
independentemente dele.
Nosso
Senhor, depois de Ter prometido a Pedro a autoridade suprema na Igreja, lh'a
entrega, dizendo-lhe:
"Apascenta
os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas". (Jo 21, 16 ).
__
Os cordeiros, como explicam os sagrados intérpretes, são os simples fiéis; as
ovelhas, os sacerdotes, pois assim como as ovelhas dão a vida aos cordeiros, do
mesmo modo os sacerdotes dão a vida espiritual aos fiéis por meio dos
Sacramentos e da pregação do Evangelho.
Portanto,
como vedes, Pedro recebe o encargo de apascentar todo o rebanho de Cristo,
tanto os cordeiros, como as ovelhas, isto é, tanto os simples fiéis, como os
sacerdotes.
Pois
bem, apascentar um rebanho, não é porventura, o mesmo que o dirigir, conduzir e
governar?
Logo,
recebendo Pedro o encargo de apascentar todo o rebanho de Cristo, recebe o
encargo de dirigi-lo, conduzi-lo e governá-lo; e, por conseguinte, é o
príncipe, o soberano, o chefe supremo desse rebanho.
Por
estas palavras, dizem os protestantes, Jesus quis apenas substituir a Pedro o
privilégio de Apóstolo que tinha perdido pela sua tríplice negação na casa de
Caifás.
Resp.
__ Onde se encontra que Pedro, negando a Jesus, perdeu o privilégio de
Apóstolo? No evangelho não figura.
Todavia,
mesmo admitindo esta suposição gratuita dos protestantes, respondemos que Pedro
já tinha sido reintegrado no apostolado antes que recebesse o encargo de
apascentar o rebanho de Jesus, visto que a Ele também no dia da ressurreição,
Nosso Senhor dirigiu estas palavras: "Como o Pai me enviou a mim, assim
também eu vos envio a vós". (Jo 20, 21).
__
Mas, afinal, insistem ainda os protestantes, quando Nosso Senhor disse a
S.
Pedro:
"Apascenta os meus cordeiros, apascenta as minhas ovelhas", quis lher
dizer:
"apascenta
o meu rebanho, ensinando-lhe a minha doutrina.
Resp.
No texto original grego, além da palavra "boske" que significa:
apascenta, alimenta; há também "poimane tá prôbata mou" que em nossa
língua se traduz: apascenta com império as minhas ovelhas.
Não
há, pois, dúvida alguma: por estas palavras Nosso Senhor entregou todo o
rebanho a Pedro e, por conseguinte, o constituiu seu chefe supremo.
E
Pedro cônscio da sua autoridade, agiu como chefe supremo da Igreja:
__
No cenáculo é ele quem ordena preencher com a eleição de Matias a vaga aberta
no Colégio dos Apóstolos pela traição de Judas. (Act 1, 13).
__
No dia de Pentecostes é ele quem fala ao publico e promulga a lei da graça.
(Act 2, 14).
No
Sinédrio é ele quem defende o colégio apostólico perante os príncipes dos
sacerdotes. (Act 5, 29 ).
Ele
é o primeiro a percorrer e visitar as Igrejas perseguidas (Act 9, 25); a
ensinar a admissão dos pagãos ao batismo (Act. 10, 11); a infligir castigos,
ferindo de morte Ananias e Safira e excomungando Simão, o mágico (Act 5, 1-8,
20).
E
no Concílio de Jerusalém, celebrado pelos Apóstolos, quem preside e põe termo
às discussões, definindo a doutrina que se deve seguir? É Pedro.
Ele
fala e a sua decisão é acolhida com religioso silencio.
O
próprio Tiago, que era Bispo de Jerusalém, onde se achavam reunidos os
Apóstolos, não se levanta senão para repetir a decisão de Pedro e aquiescer à
mesma. (Act 15, 17).
Algumas
objeções. __ Apesar de tantas provas em favor de São Pedro, ainda há quem
queira sustentar que ele não foi constituído chefe supremo da Igreja.
Eis
algumas razões que alegam:
Nos
Atos dos apóstolos (8, 14 ) lemos que os Apóstolos, que estavam em Jerusalém,
tendo ouvido que a Samaria tinha recebido a palavra de Deus, enviaram para lá
Pedro e João.
Ora,
se envia somente um subalterno, não um superior.
Resp.
__ É falso. Há dois modos de se enviar: um por mandato, outro por
conselho.
Os
filhos não enviam freqüentemente os pais? O exército não envia o general? Pedro
foi enviado por conselho, não por mandato.
__
São Paulo, pelo menos, não reconheceu São Pedro como chefe supremo da Igreja,
porque o repreendeu publicamente em Antioquia (Epis. aos Galátas, 2, 4).
Resp.
__ Também um inferior em circunstancias graves, pode e até deve corrigir
respeitosamente seu superior.
São
Pedro, tendo chegado em Antioquia judeus convertidos, por temor de
escandalizá-los, pouco a pouco se foi subtraindo das refeições dos gentios e
começou a adaptar-se por prudência às prescrições da lei mosaica. A sua conduta
fez com que outros judeus, que já tinham abandonado os seus ritos, os
retomassem, lançando, desta maneira, confusão na Igreja de Antioquia, onde os
judaizantes pretendiam que não se pudesse ser perfeito cristão, senão
observando a lei mosaica.
Por
esse motivo, São Paulo, embora inferior, repreendeu a São Pedro.
__
De resto, que São Paulo reconhecesse o primado de São Pedro, dão provas as suas
epístolas. Citarei uma.
Na
Epístola aos Gálatas, entre os quais alguém lhe contestava a autoridade de
Apóstolo, Paulo, para defender o seu direito, apela para a autoridade de São
Pedro e frisa que, saído de Damasco depois de sua conversão, passados três
anos, foi a Jerusalém para ver a Pedro e ficou com ele quinze dias. E não viu a
nenhum outro dos Apóstolos senão Tiago (Gal. 1, 18).
Porque
frisa o Apostolo este fato?
Porque
tem importância ter ele ido visitar a Pedro numa cidade cujo Bispo era Tiago?
Sem dúvida, porque Pedro era superior a Tiago e a Paulo; era, isto é, o chefe
da Cristandade.
Por
tudo o que acabamos de dizer, fica pois, provado que Jesus, fundando a sua
Igreja, lhe deu um chefe supremo na pessoa de Pedro.
Querer
negar esta verdade, significaria zombar das Divinas Escrituras que a ensinam
claramente.
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Autor:
Frei Damião Bozzano, Missionário Capuchinho: Em Defesa da Fé.
Imprimatur:
Frei Otávio de Terrinca, ofmcap - 20/08/1953
Editora:
Paulinas - 3 Edição - 1955
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Fonte
Livro(PDF):
Frei Damião - Em Defesa da Fé <http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2014/04/o-peregrino-de-deus.html>
Para
citar
BOZZANO,
Frei Damião. Em Defesa da Fé: III. A Verdadeira Igreja. Disponível em <http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2016/04/frei-damiao-de-bozzano-iii-a-verdadeira-igreja.html>
Desde 25/04/2016.
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