SEGUNDA CARTA -
COMO SE ADQUIRE A FÉ
Pe. Emmanuel-André
Dissemos que a Fé é um dom de Deus. Vamos examinar como este dom tão
precioso chega até nós. Para começar, notemos que este dom, sendo sobrenatural,
é sempre inteiramente gratuito. Não podemos merecê-lo e nenhum homem pode
merecê-lo por nós. Se ele nos vem é unicamente pelos méritos de Nosso Senhor e
por pura misericórdia de Deus.
Mas como a Fé chega até nós? Para nós, que fomos batizados criancinhas,
o dom da Fé nos chega no meio deste magnífico cortejo de graças que se chama
Batismo. Neste momento Deus, adotando-nos como filhos, derrama em nossa alma o
dom da Fé; quer dizer que ele dispõe interiormente as potências da alma, nossa
inteligência e nossa vontade do modo necessário para que esta alma produza facilmente,
alegremente o ato de Fé. E mais tarde, já dispondo do uso da razão, o espírito
da criança poderá receber a verdade revelada, dela se alimentar e corresponder,
pelo ato de Fé: Creio em Deus Pai, etc.
Assim, a criancinha batizada trás em sua alma o gosto pela verdade
revelada, a inclinação para esta verdade, a necessidade desta verdade. Desta
disposição, deste hábito sobrenatural a senhora fará uma justa idéia
comparando-o à disposição, à inclinação natural que tem a criancinha pelo peito
de sua mãe. Ela precisa dele, ela o reclama: se o encontra, está bem, se lhe é
recusado será sua morte.
Do mesmo modo a criança batizada, em virtude de seu batismo, tem fome e
sede de ensino cristão; ela quer seu leite, aquele do qual fala o
intróito Quasimodo. É aí que está a sua vida, pois o justo vive da
fé, diz a Escritura. Com instrução cristã, a criança batizada está praticando
atos de fé, a fé que recebeu no seu batismo e que, pondo em prática,
desenvolve; toma conhecimento de Deus seu Pai, da Igreja sua Mãe, dos santos do
Paraíso que são seus pais e irmãos; exatamente como na ordem natural a criança
que a senhora alimenta, sorri primeiro para sua mãe, depois para seu pai,
depois para seus irmãos e depois toma conhecimento do mundo exterior e torna-se
homem. Por um caminho análogo, porém superior já que sobrenatural, a criança
batizada cresce como filho de Deus e de sua Igreja, e torna-se um membro vivo
de
Jesus Cristo sobre a terra, para ser mais tarde co-herdeiro de seus bens
no Céu.
Assim veja, nós que fomos batizados criancinhas, recebemos primeiramente
no Batismo a disposição de crer; depois, quando já tínhamos algum raciocínio
nos deram a conhecer as verdades da Fé e começamos a praticar o ato de Fé.
Deste modo recebemos primeiramente a Fé habitual, em seguida a Fé atual, quer
dizer, a Fé que é exercida.
Foi segundo esta economia divina que Deus nos deu a Fé. E a fim de que
possa perceber melhor a natureza deste dom, direi como ele chega por um caminho
diferente até os adultos que receberam o batismo depois de terem o uso da
razão. Preste atenção, porque assim receberá alguma luz sobre o dom da Fé.
Vejamos pois, a obra de um missionário entre os chineses ou os índios da
América. Ele fala, não é ouvido. Fala outra vez, não é ouvido. Ah! aqueles que
o escutam não são batizados, são surdos. O padre não diz, tocando-lhes as
orelhas: Ephpheta! Abri-vos! como ele disse no nosso Batismo. No entanto, o
homem de Deus não desanima; reza, pede a Deus a graça da Fé para seus pobres
infelizes, fala de novo. Duas ou três pobres almas parecem escutar com atenção;
ele percebe, vai até elas, elas vêem a ele. Deus lhes deu um bom impulso para a
Fé. Ah! como é precioso esse impulso; será a salvação dessas almas se forem
fiéis; se porem deixarem de lado esta graça, de cujo valor nem desconfiam, será
a perdição eterna. Mas elas ouvem com uma atenção incomparável e vão gostando
dos ensinamentos que lhes são dados pouco a pouco. Se lhes fosse dada uma luz
muito grande, elas recuariam apavoradas; o padre mede os termos, proporciona a
alimentação à fraqueza do doente; reza e com a ajuda de Deus, o infiel recebe
algumas verdades da Fé; faz um ato de adesão a estas verdades que já conhece; e
a medida que faz estes atos cresce nele a disposição de crer. Enfim o infiel
está pronto para receber toda a verdade, ele pede a Deus o dom da Fé. Chega o
dia do batismo, e Deus lhe dá a graça habitual da Fé pela qual já havia feito
alguns atos antes do batismo.
Veja então, como custa ao dom da Fé entrar na alma de um adulto. Alem
das dificuldades criadas pelo pecado original, ainda as há resultantes dos
pecados pessoais, dos preconceitos da nação, da família, etc. etc. Mas nenhuma
destas dificuldades existe com as criancinhas batizadas. A criança recebe a
graça do alto antes de ter tocado neste mundo daqui de baixo; e assim nunca
poderemos agradecer suficientemente a Deus a graça de termos sido batizados
ainda criancinhas.
Cartas sobre a Fé – Pe. Emmanuel-André
Fonte: Pe. Emmanuel-André.
Cartas sobre a Fé. Disponível em <http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2012/01/cartas-sobre-fe-pe.html>
Desde 17 de Janeiro de 2012.
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