TERCEIRA CARTA -
COMO A FÉ É UM DOM DE DEUS
Pe. Emmanuel-André
A Fé é um dom de Deus. Hoje gostaria de fazer com que a senhora
compreendesse ainda melhor a natureza íntima deste dom precioso.
Adão o teria recebido de Deus e nos teria transmitido, se ele não
tivesse pecado; mas tendo acreditado em Eva e, por Eva, em Satã mais do que em
Deus, perdeu a Fé que Deus lhe havia dado, perdendo-a para ele e para nós (Adão
pôde conservar o hábitus da Fé; mas perdeu a Fé enquanto virtude informada pela
Caridade; e este hábitus não era transmissível à sua descendência, pois era uma
disposição pessoal de sua alma). Por sua vez, quando o filho de Adão entra
neste mundo já não tem mais Fé e só pode recupera-la se esta for dada pelo
próprio Deus.
A Igreja reza para pedir a Deus a Fé para os infiéis e o aumento de Fé
para os fiéis, de modo que o começo, o aumento e a conservação da Fé nas almas,
são pura e simplesmente um dom que Deus nos dá pelos méritos de nosso único
Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Mas chego agora ao ponto que tinha prometido abordar hoje: a natureza
íntima deste dom.
A Fé é um ato em parte da inteligência que crê, e em parte da vontade
que quer crer. Ao perguntarem se a Fé é um dom de Deus do lado da inteligência
que crê ou do lado da vontade que quer crer, é preciso responder que há um dom
de Deus na inteligência e um dom na vontade.
Pois para o que concerne à inteligência é preciso notar duas coisas:
primeiramente as verdades em que devemos crer estão tão acima do espírito humano,
que este nunca poderia atingi-las naturalmente. Assim, o adorável mistério da
Santíssima Trindade, as profundezas da sabedoria de Deus na Encarnação de Nosso
Senhor, a Redenção e a salvação dos homens, sem o dom da Fé, seriam para sempre
tesouros escondidos às inteligências humanas. Em segundo lugar, além do
ministério da Igreja ensinando essas sublimes verdades, é necessário ainda para
que nós creiamos, uma graça interior que clareie nossa inteligência e a faça
receber com docilidade a palavra da Fé, a Fé falada, como dissemos antes.
Com efeito, por assim dizer, o espírito humano imaginaria ter motivos
para ver na pregação evangélica uma tolice, se não fosse animado por uma
sabedoria superior, como nos diz São Paulo nos capítulos I e II da sua primeira
Epístola aos Coríntios.
Do ponto de vista da vontade, a Fé, ainda uma vez, é um dom de Deus.
Pois, para que a vontade humana se submeta humildemente, docilmente e
alegremente à verdade divina e leve a inteligência a dar seu pleno
consentimento a esta mesma verdade, esta vontade tão frágil precisa de um
socorro divino que a arrebate à sua própria fraqueza, e a ponha em conformidade
com a vontade de Deus.
Faço questão de confirmar estas sérias doutrinas, pelas próprias orações
da Igreja. Escolhi para esse fim as orações da Sexta-feira Santa, que são
cantadas depois da Paixão.
O padre proclama: «Oremos caríssimos irmãos pela Santa Igreja de Deus».
Depois reza:
«Deus eterno e onipotente que em Jesus Cristo haveis revelado a vossa
glória às nações, conservai a obra da vossa misericórdia, para que a vossa
Igreja espalhada por todo o mundo persevere com fé constante na confissão do
vosso nome. Pelo mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor».
A senhora já se associou de coração a esta prece para pedir a Deus que a
Igreja persevere na Fé?
Mais adiante, o padre proclama ainda:
«Oremos também pelos nossos catecúmenos, para que Deus Nosso Senhor
lhes abra os ouvidos do coração e a porta da misericórdia!».
Quer dizer: os disponham para ouvir, para querer crer e lhes dê em
seguida, por sua misericórdia, o dom da Fé.
Depois ele reza:
«Deus eterno e onipotente, que sem cessar fecundais a vossa Igreja
pelo nascimento de novos filhos, dai mais Fé e inteligência aos nossos
catecúmenos, para que renascidos na fonte do batismo, sejam contados no número
de vossos filhos adotivos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo».
O padre proclama outra vez: «Oremos também pelos heréticos e pelos
cismáticos».
Depois ele reza:
«Deus eterno e onipotente que a todos salvais e não quereis que
pereça ninguém, olhai com misericórdia para as almas que andam envolvidas nas
redes do demônio, para que os corações extraviados, abjurando a perversidade da
heresia, entrem no caminho reto e voltem à luz da verdade. Por Nosso Senhor
Jesus Cristo». [A versão em português das orações da Sexta-feira Santa
foram tiradas do Missal Quotidiano e Vesperal de Dom Gaspar Lefebvre O.S.B.,
Desclée de Brouwer & Cia. - Bruges Bélgica 1951].
Ele reza também pelos pérfidos judeus [per-fides= os que se transviaram
da fé] e pelos infelizes pagãos, e para todos esses ele implora o dom da Fé.
Penetre, peço-lhe, no espírito dessas orações as mais santas, as mais
antigas, as mais suplicantes que pertencem à Igreja; e então, compreendendo
melhor do que nunca como a Fé é um dom de Deus, a senhora dirá bem o seu Credo.
Cartas sobre a Fé – Pe. Emmanuel-André
Fonte: Pe. Emmanuel-André.
Cartas sobre a Fé. Disponível em <http://alexandriacatolica.blogspot.com.br/2012/01/cartas-sobre-fe-pe.html>
Desde 17 de Janeiro de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário