segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O Sacramento do Batismo - VI

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O Sacramento do Batismo - VI  
Dom Henrique Soares da Costa, Bispo de Palmares (PE).
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No último artigo havíamos encerrado a apresentação do sacramento do Batismo. Mas resolvi, no presente escrito, aprofundar a questão do Batismo de crianças. Que fundamentação bíblica ele tem? Quando a Igreja começou a batizar crianças? Por que os pentecostais não as batiza?

Antes de tudo é necessário recordar que a Igreja de Cristo, nos seus dois mil anos de existência, é sempre guiada pelo Espírito do Cristo Ressuscitado naquelas coisas que são de fé. Cristo prometeu à sua Igreja esta infalibilidade: “Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28,20). “Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará” (Jo 16,13). Cristo prometeu que estaria com sua Igreja e iria guardá-la na verdade: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é verdade. Como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. E, por eles, a mim mesmo me santifico, para que sejam santificados na verdade” (Jo 17,17ss). Por isso mesmo, porque daria sempre assistência à sua Igreja pela potência do Espírito Santo, presente sobretudo nos legítimos pastores da comunidade – o Sucessor de Pedro e os Bispos em comunhão com ele – Cristo deu a Pedro e aos Doze o poder e a missão de ligar e desligar e fez-lhes a promessa que jamais as portas do inferno prevaleceriam contra a Igreja: “... minha Igreja... as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela! Eu te darei as chaves do Reino do céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,18s). Deste modo os Apóstolos sempre tiveram muito clara a consciência de que ao decidirem alguma coisa sobre a fé da Igreja eles poderiam contar e contariam sempre com a assistência do Espírito do Cristo ressuscitado. Isso aparece de modo comovente quando a Igreja resolveu dispensar os cristãos da prática da Lei de Moisés: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”... (At 15,28). É esta convicção que faz com que Paulo diga sem medo que a Igreja é “coluna e sustentáculo da verdade” (1Tm 3,15). Por tudo isso, para nós, católicos, a Escritura deverá sempre ser lida de acordo com o modo como a Igreja sempre a interpretou nos seus dois mil anos de história. Quem pega a Bíblia e com ela pensa poder julgar a Igreja na sua fé, não compreendeu a própria Escritura, que somente pode ser interpretada com a assistência que o Cristo prometeu ao Povo de Deus unido a seus legítimos pastores!

Na questão do Batismo de crianças é necessário, portanto, olhar a Escritura Sagrada e a constante prática da Igreja nestes dois mil anos, isto é, a Sagrada Tradição – aquilo que todas as gerações cristãs têm feito em sua convicção de fé não pode estar errado ou equivocado: jamais o Espírito do Cristo permitiria tal coisa! Quem afirma o contrário peca contra o Espírito Santo e quer ser mais sábio que toda a Igreja, pecando por presunção, que conduz à heresia!

O que diz o Novo Testamento?

O Novo Testamento não afirma nem nega explicitamente o Batismo de crianças, porém o insinua. Como diz O. Culmann, teólogo protestante, há uma convergência de textos que nos levam a pensar com bastante segurança que o Batismo de crianças era praticado na época apostólica: é comum falar-se de batismo de “toda a casa” do convertido. Assim, Estéfanas e toda a sua casa (cf. 1Cor 1,16), Lídia e os de sua casa (cf. 16,15), o carcereiro de Filipos e todos os de sua casa (cf. At 16,33) e Crispo e os de sua casa (cf. 1Cor 1,14). A própria tradução ecumênica da Bíblia (a TEB) afirma que “casa designa a família e os servos, como também ocasionalmente pessoas com relacionamentos de profissão ou de amizade. Em geral a casa inteira se convertia e recebia o batismo”. Segundo O. Culmann, que é protestante, estes textos indicam que as crianças eram também batizadas. Ele reforça esta convicção apelando para Mt 18,10: “Não desprezeis nenhum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos vêem continuamente a face de meu Pai que está nos céus!” Também o exegeta protestante J. Jeremias, num estudo bastante cuidadoso sobre o Batismo de crianças, não somente afirma que os apóstolos batizaram crianças, como também diz que o fato de os judeus circuncidarem as criancinhas – o próprio Jesus foi circuncidado no oitavo dia de nascido – influenciou a prática cristã. D. Bonhoeffer, também teólogo protestante é do mesmo parecer...

Mas, o que diz a Tradição constante da Igreja de Cristo?

No século II da nossa era já aparecem os primeiros testemunhos claros do Batismo de crianças: entre 155 e 156 São Policarpo, bispo de Esmirna, na ocasião do seu martírio, diz que serve o Cristo há 86 anos, isto é, desde criança. E recordemos que Policarbp foi discípulo direto de João Evangelista! Também São Justino, mártir de Cristo, na sua Apologia, fala das pessoas que são cristãs desde a infância e, nas Atas dos Mártires, Rusticus, companheiro de São Justino, afirma que “recebemos de nossos pais esta mesma confissão” de fé cristã. Mais claro ainda é Santo Irineu, Bispo de Lião e discípulo de São Policarpo: “Com efeito, Jesus veio salvar por si mesmo a todos os homens; a todos – eu digo – que por ele renasceram em Deus: crianças de peito, crianças maiores, jovens e pessoas adultas”. No século III já há textos claros e numerosos sobre o assunto. São Cipriano, Bispo de Cartago e mártir de Cristo, critica quem, a pretexto de imitar a circuncisão judia, deixa para o oitavo dia de nascido o Batismo. Ele quer que os pais batizem os filhos assim que nascem! A Tradição Apostólica, documento importantíssimo para os cristãos, falando sobre o rito do Batismo diz: “Se (os que vão ser batizados) puderem responder por si mesmos, que respondam; se não puderem, que seus pais ou alguém da família, responda por eles”. Aqui se trata claramente das criancinhas que vão ser batizadas! Por essa mesma época Orígenes não somente atesta o Batismo de crianças, como também explica que ele é de instituição apostólica. E ele explica o motivo: a mancha do pecado existe em todos, também na criança! Tertuliano, contemporâneo de Orígenes também concorda que o Batismo de crianças é de origem apostólica (mas ele era contra batizar crianças, pessoas solteiras e viúvas porque tinha medo que elas pecassem depois de serem batizadas - é que Tertuliano era exagerado e rigorista; terminou caindo em heresia no fim da vida).

Concluindo: a Igreja sempre batizou crianças! Todas as Igrejas de origem apostólica, tanto a Igreja romana quanto as Igrejas orientais praticam este Batismo e não deixarão nunca praticá-lo, pois ele é de origem apostólica; caso o fizessem estariam traindo a fé recebida dos Apóstolos!

Mas, ainda não terminamos. Na próxima semana vamos ver como surgiu esta idéia de só batizar adultos e vamos ver o que dizem algumas das Comunidades eclesiais protestantes que, acertadamente, batizam crianças.

Até lá!

Fonte:
Dom Henrique Soares da Costa. O Sacramento do Batismo - VI. Disponível em < http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/batismo/167-o-sacramento-do-batismo-vi> Desde 29 de Dezembro de 2008.

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