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O
Sacramento do Batismo - VI
Dom Henrique Soares da
Costa, Bispo de Palmares (PE).
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No último artigo havíamos encerrado a
apresentação do sacramento do Batismo. Mas resolvi, no presente escrito, aprofundar
a questão do Batismo de crianças. Que fundamentação bíblica ele tem?
Quando a Igreja começou a batizar crianças? Por que os pentecostais não as
batiza?
Antes de tudo é necessário recordar que a Igreja
de Cristo, nos seus dois mil anos de existência, é sempre guiada pelo Espírito
do Cristo Ressuscitado naquelas coisas que são de fé. Cristo prometeu à sua
Igreja esta infalibilidade: “Eu estou convosco todos os dias, até a
consumação dos séculos” (Mt 28,20). “Quando vier o Espírito da Verdade,
ele vos conduzirá à verdade plena, pois não falará de si mesmo, mas dirá tudo o
que tiver ouvido e vos anunciará” (Jo 16,13). Cristo prometeu que estaria
com sua Igreja e iria guardá-la na verdade: “Santifica-os na verdade; a tua
palavra é verdade. Como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo.
E, por eles, a mim mesmo me santifico, para que sejam santificados na verdade”
(Jo 17,17ss). Por isso mesmo, porque daria sempre assistência à sua Igreja pela
potência do Espírito Santo, presente sobretudo nos legítimos pastores da
comunidade – o Sucessor de Pedro e os Bispos em comunhão com ele – Cristo deu a
Pedro e aos Doze o poder e a missão de ligar e desligar e fez-lhes a promessa
que jamais as portas do inferno prevaleceriam contra a Igreja: “... minha Igreja...
as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela! Eu te darei as chaves do
Reino do céus e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares
na terra será desligado nos céus” (Mt 16,18s). Deste modo os Apóstolos
sempre tiveram muito clara a consciência de que ao decidirem alguma coisa sobre
a fé da Igreja eles poderiam contar e contariam sempre com a assistência do
Espírito do Cristo ressuscitado. Isso aparece de modo comovente quando a Igreja
resolveu dispensar os cristãos da prática da Lei de Moisés: “Pareceu bem ao
Espírito Santo e a nós”... (At 15,28). É esta convicção que faz com que
Paulo diga sem medo que a Igreja é “coluna e sustentáculo da verdade” (1Tm
3,15). Por tudo isso, para nós, católicos, a Escritura deverá sempre ser lida
de acordo com o modo como a Igreja sempre a interpretou nos seus dois mil anos
de história. Quem pega a Bíblia e com ela pensa poder julgar a Igreja na
sua fé, não compreendeu a própria Escritura, que somente pode ser interpretada
com a assistência que o Cristo prometeu ao Povo de Deus unido a seus legítimos
pastores!
Na questão do Batismo de crianças é necessário,
portanto, olhar a Escritura Sagrada e a constante prática da Igreja nestes dois
mil anos, isto é, a Sagrada Tradição – aquilo que todas as gerações cristãs têm
feito em sua convicção de fé não pode estar errado ou equivocado: jamais o
Espírito do Cristo permitiria tal coisa! Quem afirma o contrário peca contra o
Espírito Santo e quer ser mais sábio que toda a Igreja, pecando por presunção,
que conduz à heresia!
O que diz o Novo Testamento?
O Novo Testamento não afirma nem nega
explicitamente o Batismo de crianças, porém o insinua. Como diz O. Culmann,
teólogo protestante, há uma convergência de textos que nos levam a pensar com
bastante segurança que o Batismo de crianças era praticado na época apostólica:
é comum falar-se de batismo de “toda a casa” do convertido. Assim, Estéfanas e
toda a sua casa (cf. 1Cor 1,16), Lídia e os de sua casa (cf. 16,15), o
carcereiro de Filipos e todos os de sua casa (cf. At 16,33) e Crispo e os de
sua casa (cf. 1Cor 1,14). A própria tradução ecumênica da Bíblia (a TEB) afirma
que “casa designa a família e os servos, como também ocasionalmente pessoas com
relacionamentos de profissão ou de amizade. Em geral a casa inteira se
convertia e recebia o batismo”. Segundo O. Culmann, que é protestante, estes
textos indicam que as crianças eram também batizadas. Ele reforça esta
convicção apelando para Mt 18,10: “Não desprezeis nenhum destes pequeninos,
porque eu vos digo que os seus anjos vêem continuamente a face de meu Pai que
está nos céus!” Também o exegeta protestante J. Jeremias, num estudo
bastante cuidadoso sobre o Batismo de crianças, não somente afirma que os
apóstolos batizaram crianças, como também diz que o fato de os judeus
circuncidarem as criancinhas – o próprio Jesus foi circuncidado no oitavo dia
de nascido – influenciou a prática cristã. D. Bonhoeffer, também teólogo
protestante é do mesmo parecer...
Mas, o que diz a Tradição constante da Igreja de
Cristo?
No século II da nossa era já aparecem os
primeiros testemunhos claros do Batismo de crianças: entre 155 e 156 São
Policarpo, bispo de Esmirna, na ocasião do seu martírio, diz que serve o Cristo
há 86 anos, isto é, desde criança. E recordemos que Policarbp foi discípulo
direto de João Evangelista! Também São Justino, mártir de Cristo, na sua
Apologia, fala das pessoas que são cristãs desde a infância e, nas Atas dos
Mártires, Rusticus, companheiro de São Justino, afirma que “recebemos de nossos
pais esta mesma confissão” de fé cristã. Mais claro ainda é Santo Irineu, Bispo
de Lião e discípulo de São Policarpo: “Com efeito, Jesus veio salvar por si
mesmo a todos os homens; a todos – eu digo – que por ele renasceram em Deus:
crianças de peito, crianças maiores, jovens e pessoas adultas”. No século
III já há textos claros e numerosos sobre o assunto. São Cipriano, Bispo de
Cartago e mártir de Cristo, critica quem, a pretexto de imitar a circuncisão
judia, deixa para o oitavo dia de nascido o Batismo. Ele quer que os pais
batizem os filhos assim que nascem! A Tradição Apostólica, documento
importantíssimo para os cristãos, falando sobre o rito do Batismo diz: “Se
(os que vão ser batizados) puderem responder por si mesmos, que respondam; se
não puderem, que seus pais ou alguém da família, responda por eles”. Aqui
se trata claramente das criancinhas que vão ser batizadas! Por essa mesma época
Orígenes não somente atesta o Batismo de crianças, como também explica que ele
é de instituição apostólica. E ele explica o motivo: a mancha do pecado existe
em todos, também na criança! Tertuliano, contemporâneo de Orígenes também
concorda que o Batismo de crianças é de origem apostólica (mas ele era contra
batizar crianças, pessoas solteiras e viúvas porque tinha medo que elas
pecassem depois de serem batizadas - é que Tertuliano era exagerado e
rigorista; terminou caindo em heresia no fim da vida).
Concluindo: a Igreja sempre batizou crianças!
Todas as Igrejas de origem apostólica, tanto a Igreja romana quanto as Igrejas
orientais praticam este Batismo e não deixarão nunca praticá-lo, pois ele é de
origem apostólica; caso o fizessem estariam traindo a fé recebida dos
Apóstolos!
Mas, ainda não terminamos. Na próxima semana
vamos ver como surgiu esta idéia de só batizar adultos e vamos ver o que dizem
algumas das Comunidades eclesiais protestantes que, acertadamente, batizam
crianças.
Até lá!
Fonte:
Dom
Henrique Soares da Costa. O Sacramento do Batismo - VI. Disponível em <
http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/batismo/167-o-sacramento-do-batismo-vi>
Desde 29 de Dezembro de 2008.
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