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O
Sacramento do Batismo - VII
Dom Henrique Soares da
Costa, Bispo de Palmares (PE).
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Continuamos o tema do artigo passado: nossa
apresentação da questão do Batismo de crianças. Já vimos que ele é de
origem apostólica e sempre esteve presente na Tradição da Igreja de Cristo.
Somente no século XVI, no rastro da Reforma
protestante que tantos erros doutrinais difundiu no seio do cristianismo,
surgiu a afirmação equivocada que o Batismo de crianças é inválido. Os
protestantes que defendiam esta idéia eram chamados anabatistas – são os
antepassados dos batistas atuais! Eles surgiram em Zurique, na Suíça, e eram
discípulos de Zwínglio, um dos fundadores da chamada Igreja reformada (os
principais ramos protestantes iniciais eram os luteranos, os calvinistas, os
reformados e os anglicanos). Nesta época, Zurique era dominada pela ditadura
dos Reformados, como Genebra era governada pelo terror ditatorial de Calvino!
Como dissidência dos Reformados surgiram Conrado Grebel, Félix Mantz, Guilherme
Reublin, Hans Denck e outros. Eles criticavam um cristianismo do povo, das
massas, de tipo popular. Diziam que este era demoníaco. Defendiam um
cristianismo para poucos, somente para os que crêem e vivem retamente. Era a
mesma idéia dos fariseus (= os “separados”) do tempo de Jesus! Lembram-se?
“Este povo que não conhece a Lei, são uns malditos!” (Jo 7,49). É neste
contexto que eles negam o Batismo de crianças. Assim, todos se fizeram
rebatizar e, por isso, foram perseguidos pelos Reformados; alguns foram até mesmo
condenados à morte por afogamento. Todo aquele que se fizesse rebatizar seria
condenado pela Igreja Reformada! Não foram somente os católicos que mataram em
nome da fé! Que o digam Calvino em Genebra, Lutero na Alemanha, os Reformados
em Zurique e o “santo” Henrique VIII na Inglaterra!
A Igreja católica respondeu a esta heresia
anabatista, que negava a validade do Batismo de crianças, com alguns cânones do
Concílio de Trento: “Se alguém afirmar que ninguém deve ser batizado a não
ser com a idade em que Cristo foi batizado ou em caso de morte, seja anátema.
Se alguém afirmar que as crianças, depois de terem recebido o Batismo, não
devem ser contadas no número dos fiéis porque não têm a capacidade de crer, e
que, por este motivo, devem ser batizadas de novo quando chegarem à idade do
discernimento ou então que é melhor não batizá-los de modo nenhum que
batizá-los somente na fé da Igreja, sem um ato de fé pessoal deles, seja
anátema”. Atualmente, graças a Deus, a grande maioria das Comunidades
protestantes antigas aprova e pratica o Batismo de crianças. Infelizmente, as
denominações pentecostais romperam até mesmo com este elemento da fé
apostólica, como romperam com tantos outros! Basta ver os pentecostais
brasileiros: refutam o Batismo de crianças! Mas, vejamos alguns documentos de
fé das Comunidades protestantes. Primeiramente a Apologia da Confissão de
Augusta, redigida pelo luterano Melanton em 1537, e aceito como documento
oficial da fé luterana: “Declaramos que o Batismo é necessário para a
salvação, que as crianças devem ser batizadas e que o batismo de crianças,
longe de ser inútil, é necessário para a salvação”.
Também a Confissão escocesa das Igrejas
Reformadas, de 1560, declara: “Afirmamos que o Batismo diz respeito seja às
crianças dos fiéis, seja àqueles que têm a idade da razão, por isso condenamos
o erro dos anabatistas, que negam que as crianças devam ser batizadas antes de
ter a fé e o uso da razão”. Observem que, aqui, os Reformados escoceses
condenam como hereges os anabatistas (pais dos batistas). Vejamos ainda os
chamados Artigos da Religião Irlandesa, de 1615: “O Batismo de
crianças deve ser conservado na Igreja, estando de acordo com a Palavra de
Deus”.
Há também documentos atuais, fruto do diálogo
ecumênico, entre as próprias denominações protestantes. Vejamos alguns outros
exemplos, começando com o que diz o Diálogo Batistas-Reformados, de
1997: “No que diz respeito ao dilema entre o Batismo dos crentes e o das
crianças, as Escrituras não se ocupam diretamente da questão. Além do mais elas
não são um código legal, mas um livro de proclamação... O Novo Testamento deixa
claro que a fé pessoal não é isolada de um contexto de fé. As referências à
família (p. ex. At 10,46 e cf. v. 2; 16,15.33; 18,8; 1Cor 1,16) não demonstram
nem negam que as crianças fossem inseridas nos assim chamados ‘batismos de
família’; todavia, como outros textos, também estes mostram que um crente
individual faz sempre parte de uma comunidade de crentes, e é encorajado à fé
pelos irmãos crentes (cf. Mc 2,5; 1Pd 2,9)... O ato de Deus no batismo encontra
a própria resposta não somente naquele que é batizado mas também na comunidade
de fé, que inclui a família da criança”.
O Documento de Lima, no Peru, do Conselho
Ecumênico das Igrejas, em 1982, afirma claramente: “Não se pode excluir a
possibilidade que o Batismo das crianças tenha sido praticado também no período
apostólico...”
Há ainda um texto do Diálogo entre católicos e
protestantes da Bélgica, em 1971: “As Igrejas devem assegurar-se que uma
criança não seja batizada antes que os pais tenham declarado estar prontos para
assumir as próprias responsabilidades cristãs em relação a seus filhos”.
Haveria ainda outros textos a serem citados, mas
penso que estes são mais que suficientes para mostrar que não há nenhuma base
para negar o Batismo às crianças: nem bíblica, nem histórica. Os que o negam
deixam-se levar uma interpretação fundamentalista da Escritura, separando-a da
Igreja e de sua história! É isso que dá fazer da bíblia uma receita de bolo!
Neste século K. Barth, um teólogo reformado
manifestou-se contra o Batismo de crianças. Quais os seus argumentos? Como bom
protestante, ele dizia erradamente que os sacramentos não têm eficácia nenhuma
para causar a salvação; eles não produzem a salvação, ma apenas professam, externam
a fé na salvação concedida e alcançada em Cristo. Ora, se os sacramentos são
apenas uma proclamação da fé de quem os recebe, então o Batismo de crianças é
um sacramento pela metade, pois proclama somente a fé da comunidade e não a fé
da criança que o recebe, já que a criancinha é ainda desprovida de
entendimento. É importante observar que o erro de K. Barth começa no próprio
modo de ver os sacramentos! Leia o início desta série de artigos e você verá
que os sacramentos não são somente uma proclamação da fé, mas, ao contrário,
fazem realmente a graça acontecer: eles produzem aquilo que significam! Nosso
Deus não é Deus de fingimento! É interessante notar que K. Barth, apesar dessa
opinião, batizou seus filhos ainda crianças!
Vamos percebendo cada vez mais que uma análise
séria da fé e da história do cristianismo desautoriza totalmente o anabatismo.
Completamente inválido e sem sentido é o rebatismo – o caso daqueles que,
renegando a fé católica e passando a denominações protestantes pentecostais ou
neopentecostais, fazem-se rebatizar...
No próximo artigo concluiremos esta questão do
Batismo de crianças apresentando seus fundamentos teológicos e algumas questões
práticas para a pastoral atual. Até lá!
Fonte:
Dom
Henrique Soares da Costa. O Sacramento do Batismo - VII. Disponível em <
http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/batismo/166-o-sacramento-do-batismo-vii>
Desde 29 de Dezembro de 2008.
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