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O
Sacramento do Batismo - VIII
Dom Henrique Soares da
Costa, Bispo de Palmares (PE).
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Neste artigo vamos concluir nossa apresentação
da questão do Batismo de crianças. Vimos que tal prática vem dos Apóstolos e
sempre esteve presente na vida da Igreja; vimos também que as denominações
protestantes mais antigas nunca colocaram em dúvida a prática de batizar crianças.
Mas, em que fundamentos teológicos tal prática se apóia? Que motivos teológicos
a Comunidade cristã encontra para batizar crianças? Não basta afirmar
simplesmente que é Tradição da Igreja; é necessário encontrar os motivos de tal
Tradição. Vejamos alguns pontos mais importantes:
1. É convicção profunda da Escritura – e Jesus
deixou bem claro – que não somos nós quem o escolhemos, mas é o Senhor quem
gratuitamente nos escolhe (cf. Jo 15,16). A primazia da graça de Deus que chama
é sempre anterior a qualquer ato de fé. Assim, a criança, criada à imagem e
semelhança de Deus, é chamada à salvação e levada pela graça de Deus desde o
seu nascimento, qualquer que venha a ser depois a sua resposta: “Antes da
fundação do mundo Deus nos escolheu em Cristo para sermos santos e
irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1,4). Portanto, ela, redimida por
Cristo pela sua cruz e ressurreição, depende já da jurisdição, do poder, do
senhorio do novo Adão: não está mais debaixo do homem velho, mas é chamada à
abrir-se ao Cristo: “Se pela falta de um só todos morreram, com quanto maior
profusão a graça de Deus e o dom gratuito de um só homem, Jesus Cristo, se
derramaram sobre todos. Se, com efeito, pela falta de um só a morte imperou
através deste único homem, muito mais os que recebem a abundância da graça e do
dom da justiça, reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo” (Rm
5,15.17). A prática do Batismo de crianças sublinha esta realidade
maravilhosamente: desde o nascimento, todo ser humano é chamado à graça, é amado
pelo Pai e já está debaixo do desígnio salvífico que se realiza em Cristo
Jesus!
2. A criança não é um ser isolado; situa-se no
interior de uma comunidade, de uma família abençoada pelo sacramento do
matrimônio, família de membros do povo de Deus e que têm, portanto, uma missão
na Igreja. A própria fé dos pais, a tomada de consciência de sua missão, a
convicção de um amor conjugal vivido no Senhor, devem dispor esses mesmos pais
a receber os filhinhos como vindos de Deus e conduzidos a ele. Isto leva os
pais cristãos ao desejo de compartilhar sua fé com seus filhos e dar-lhes o
maior dom, que é o Batismo. Para os pais como para a Igreja, a criança tem,
desde o nascimento, um lugar reservado na obra de salvação, pois pertence à
humanidade salva por Cristo e renascida para Deus. O Batismo é a ratificação, a
confirmação na vida da criança desta graça já realizada por Cristo. Batizar a
criança é, em primeiro lugar, confessar esta verdade fundamental, que não é
antes de tudo resposta do homem, mas sobretudo graça, descobrimento e
participação de uma mesma fé. Assim, batizar uma criança é situá-la
concretamente na comunidade cristã, rodeando-a e sustentando-a com a fé da
Igreja. É bom recordar que mesmo naqueles que são batizados adultos a fé não é
ainda perfeita: somos sempre chamados a crescer e amadurecer na fé e na
conversão. Quem, adulto ou criança, pode gloriar-se de ter uma fé já perfeita,
totalmente madura?
3. A fé, mesmo sendo pessoal, não é nunca algo
individualista: crê-se dentro de uma comunidade de fé, crê-se na fé da Igreja.
Deste modo, a criança, ainda que não possa, pessoalmente, fazer sua profissão
de fé, está inserida numa comunidade de fé, como foi visto no tópico 2, e é
batizada na fé desta comunidade. Tal fé é expressa na profissão de fé dos pais
e padrinhos.
Até aqui vimos abundantemente que a Igreja tem
razões sobradas para batizar crianças e deverá fazê-lo sempre por fidelidade à
fé apostólica. Por outro lado, no entanto, tal prática exige algumas reflexões:
1. Quando se fala em Batismo de crianças deve-se
evitar pensar logo que se trata simplesmente de cuidar da salvação da criança.
Na verdade, o Batismo está ligado à missão da Igreja de oferecer a todos a
possibilidade da comunhão com Cristo. A Igreja acolhe as crianças primeiramente
para manifestar a vontade salvífica daquele que ordenou que as crianças viessem
a ele.
2. O Batismo de crianças não pode ser visto como
algo meramente individual ou como um acontecimento que tem relação somente com
a família da criança. É toda a Comunidade eclesial que está envolvida na
celebração do sacramento, pois a criança passa a fazer parte da Comunidade. Por
isso, a responsabilidade do celebrante e da paróquia em evitar o Batismo
simplesmente como um evento social de família.
3. Quando os pais pedem o Batismo para seus
filhos a Igreja supõe que eles queiram partilhar com eles a fé em Cristo que já
vivem em família. Portanto, não tem sentido pais que não vivem a fé pedirem o
Batismo para os filhos! A própria Igreja proíbe batizar uma criança quando não
haja razões fundadas para pensar que a criança será realmente educada na fé. O
Código Canônico é claro a esse respeito: “Para que uma criança seja
licitamente batizada, é necessário que haja fundada esperança de que será
educada na religião católica; se essa esperança faltar de todo, o batismo seja
adiado segundo as prescrições do direito particular, avisando-se aos pais sobre
o motivo” (Cân 868). Portanto é dever da Comunidade paroquial, sobretudo
dos párocos, proporcionar uma preparação adequada de pais e padrinhos bem como
verificar honestamente se estes educarão a criança na fé. Aqui é necessário
reconhecer que há freqüentes abusos, batizando-se crianças sem uma adequada
verificação da fé dos pais: não se propõe, não se expõe, simplesmente
pressupõe-se a fé. Isso é muito grave! Recordemos sempre que a graça do Batismo
não é somente um tesouro recebido que deve ser conservado, mas também uma vida
que deve ser desenvolvida e alimentada!
4. Nunca é demais recordar a enorme
responsabilidade dos pastores da Igreja cada vez que administram o Batismo a
uma criança. Na falta de prudência pastoral a fé é entregue ao perjúrio, o
sacramento é degradado e a Igreja é jogada à descristianização.
Terminamos, com estas considerações, nossa
apresentação do sacramento do Batismo.
Fonte:
Dom
Henrique Soares da Costa. O Sacramento do Batismo - VII. Disponível em <
http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/batismo/165-o-sacramento-do-batismo-viii>
Desde 29 de Dezembro de 2008.
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