segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O Sacramento do Batismo - VIII

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O Sacramento do Batismo - VIII  
Dom Henrique Soares da Costa, Bispo de Palmares (PE).
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Neste artigo vamos concluir nossa apresentação da questão do Batismo de crianças. Vimos que tal prática vem dos Apóstolos e sempre esteve presente na vida da Igreja; vimos também que as denominações protestantes mais antigas nunca colocaram em dúvida a prática de batizar crianças. Mas, em que fundamentos teológicos tal prática se apóia? Que motivos teológicos a Comunidade cristã encontra para batizar crianças? Não basta afirmar simplesmente que é Tradição da Igreja; é necessário encontrar os motivos de tal Tradição. Vejamos alguns pontos mais importantes:

1. É convicção profunda da Escritura – e Jesus deixou bem claro – que não somos nós quem o escolhemos, mas é o Senhor quem gratuitamente nos escolhe (cf. Jo 15,16). A primazia da graça de Deus que chama é sempre anterior a qualquer ato de fé. Assim, a criança, criada à imagem e semelhança de Deus, é chamada à salvação e levada pela graça de Deus desde o seu nascimento, qualquer que venha a ser depois a sua resposta: “Antes da fundação do mundo Deus nos escolheu em Cristo para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1,4). Portanto, ela, redimida por Cristo pela sua cruz e ressurreição, depende já da jurisdição, do poder, do senhorio do novo Adão: não está mais debaixo do homem velho, mas é chamada à abrir-se ao Cristo: “Se pela falta de um só todos morreram, com quanto maior profusão a graça de Deus e o dom gratuito de um só homem, Jesus Cristo, se derramaram sobre todos. Se, com efeito, pela falta de um só a morte imperou através deste único homem, muito mais os que recebem a abundância da graça e do dom da justiça, reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo” (Rm 5,15.17). A prática do Batismo de crianças sublinha esta realidade maravilhosamente: desde o nascimento, todo ser humano é chamado à graça, é amado pelo Pai e já está debaixo do desígnio salvífico que se realiza em Cristo Jesus!

2. A criança não é um ser isolado; situa-se no interior de uma comunidade, de uma família abençoada pelo sacramento do matrimônio, família de membros do povo de Deus e que têm, portanto, uma missão na Igreja. A própria fé dos pais, a tomada de consciência de sua missão, a convicção de um amor conjugal vivido no Senhor, devem dispor esses mesmos pais a receber os filhinhos como vindos de Deus e conduzidos a ele. Isto leva os pais cristãos ao desejo de compartilhar sua fé com seus filhos e dar-lhes o maior dom, que é o Batismo. Para os pais como para a Igreja, a criança tem, desde o nascimento, um lugar reservado na obra de salvação, pois pertence à humanidade salva por Cristo e renascida para Deus. O Batismo é a ratificação, a confirmação na vida da criança desta graça já realizada por Cristo. Batizar a criança é, em primeiro lugar, confessar esta verdade fundamental, que não é antes de tudo resposta do homem, mas sobretudo graça, descobrimento e participação de uma mesma fé. Assim, batizar uma criança é situá-la concretamente na comunidade cristã, rodeando-a e sustentando-a com a fé da Igreja. É bom recordar que mesmo naqueles que são batizados adultos a fé não é ainda perfeita: somos sempre chamados a crescer e amadurecer na fé e na conversão. Quem, adulto ou criança, pode gloriar-se de ter uma fé já perfeita, totalmente madura?

3. A fé, mesmo sendo pessoal, não é nunca algo individualista: crê-se dentro de uma comunidade de fé, crê-se na fé da Igreja. Deste modo, a criança, ainda que não possa, pessoalmente, fazer sua profissão de fé, está inserida numa comunidade de fé, como foi visto no tópico 2, e é batizada na fé desta comunidade. Tal fé é expressa na profissão de fé dos pais e padrinhos.

Até aqui vimos abundantemente que a Igreja tem razões sobradas para batizar crianças e deverá fazê-lo sempre por fidelidade à fé apostólica. Por outro lado, no entanto, tal prática exige algumas reflexões:

1. Quando se fala em Batismo de crianças deve-se evitar pensar logo que se trata simplesmente de cuidar da salvação da criança. Na verdade, o Batismo está ligado à missão da Igreja de oferecer a todos a possibilidade da comunhão com Cristo. A Igreja acolhe as crianças primeiramente para manifestar a vontade salvífica daquele que ordenou que as crianças viessem a ele.

2. O Batismo de crianças não pode ser visto como algo meramente individual ou como um acontecimento que tem relação somente com a família da criança. É toda a Comunidade eclesial que está envolvida na celebração do sacramento, pois a criança passa a fazer parte da Comunidade. Por isso, a responsabilidade do celebrante e da paróquia em evitar o Batismo simplesmente como um evento social de família.

3. Quando os pais pedem o Batismo para seus filhos a Igreja supõe que eles queiram partilhar com eles a fé em Cristo que já vivem em família. Portanto, não tem sentido pais que não vivem a fé pedirem o Batismo para os filhos! A própria Igreja proíbe batizar uma criança quando não haja razões fundadas para pensar que a criança será realmente educada na fé. O Código Canônico é claro a esse respeito: “Para que uma criança seja licitamente batizada, é necessário que haja fundada esperança de que será educada na religião católica; se essa esperança faltar de todo, o batismo seja adiado segundo as prescrições do direito particular, avisando-se aos pais sobre o motivo” (Cân 868). Portanto é dever da Comunidade paroquial, sobretudo dos párocos, proporcionar uma preparação adequada de pais e padrinhos bem como verificar honestamente se estes educarão a criança na fé. Aqui é necessário reconhecer que há freqüentes abusos, batizando-se crianças sem uma adequada verificação da fé dos pais: não se propõe, não se expõe, simplesmente pressupõe-se a fé. Isso é muito grave! Recordemos sempre que a graça do Batismo não é somente um tesouro recebido que deve ser conservado, mas também uma vida que deve ser desenvolvida e alimentada!

4. Nunca é demais recordar a enorme responsabilidade dos pastores da Igreja cada vez que administram o Batismo a uma criança. Na falta de prudência pastoral a fé é entregue ao perjúrio, o sacramento é degradado e a Igreja é jogada à descristianização.

Terminamos, com estas considerações, nossa apresentação do sacramento do Batismo.

Fonte:
Dom Henrique Soares da Costa. O Sacramento do Batismo - VII. Disponível em < http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/batismo/165-o-sacramento-do-batismo-viii> Desde 29 de Dezembro de 2008.

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