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O Sacramento
da Confirmação - II
Dom Henrique Soares da
Costa, Bispo de Palmares (PE).
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No último artigo sobre os sacramentos começamos
a apresentar a Confirmação. Já expliquei o sentido deste sacramento; hoje
veremos como a Igreja fundamentou-o biblicamente. Uma coisa, mais uma vez, é
necessário deixar claro: a Sagrada Escritura, com toda a sua riqueza de Palavra
de Deus, somente pode ser compreendida de modo correto e pleno quando lida em
consonância com a Tradição da Igreja, que nos traz também a divina revelação.
Compreenderemos bem a fundamentação bíblica da Confirmação se compreendermos o
modo como a Igreja leu a Escritura e a interpretou inspirada pelo Santo
Espírito e também o modo como a Igreja, desde as origens celebrou os
sacramentos.
Então, vejamos. Já no Antigo Testamento
encontramos o dom do Espírito de Deus como força que transforma aqueles que
foram escolhidos por Deus para alguma missão em favor do povo de Israel e do
plano salvífico de Deus. No Novo Testamento, tempo do Messias (aquele que é
Ungido com o Espírito) esta ação do Espírito revela-se em toda a sua plenitude.
O Cristo, pleno do Espírito, vem derramar seu Santo Espírito, dando início, com
a sua morte e ressurreição, ao tempo da Igreja, que é tempo do Espírito Santo –
é o Espírito quem sustenta, orienta e motiva a Igreja na sua missão de
testemunhar o Cristo diante do mundo. É aqui que entra o sacramento da
Confirmação. Eu já expliquei que no Batismo recebemos o Santo Espírito como
vida de Deus que nos vem pelo Senhor Jesus; pela Confirmação este Espírito nos é
dado como força de Deus para que assumamos na Igreja e com a Igreja nosso papel
de testemunhas de Cristo! Por isso mesmo a Confirmação é o sacramento da
maturidade cristã! Vejamos como esta idéia aparece na Escritura Sagrada.
Na noite mesma da Páscoa, naquele Domingo, os
apóstolos receberam o Espírito Santo: Jesus soprou sobre eles e os batizou
(mergulhou) no seu Espírito de ressurreição (cf. Jo 20,21ss). Ali os apóstolos
tornaram-se cristãos, receberam a vida nova do Cristo ressuscitado. Tal
experiência dos apóstolos, nós também a fazemos no nosso Batismo: aí recebemos,
como eles, a nova vida em Cristo e nos tornamos novas criaturas pelo poder do
Espírito Santo: “Fostes lavados, fostes santificados, fostes justificados em
nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus” (1Cor 6,11).
Quando apresentei o sacramento do Batismo deixei
bem claro que já aí recebemos o Espírito! Não vou mais insistir. Então, a
experiência dos apóstolos no Cenáculo, na tarde do dia da Ressurreição equivale
ao nosso Batismo. Já no dia de Pentecostes, a comunidade dos discípulos de
Jesus recebeu o Espírito Santo de um modo novo, diferente daquele do dia da
Ressurreição: agora o Espírito é dado em função da missão de testemunhar Jesus
e da construção da Igreja no mundo: “O Espírito Santo descerá sobre vós e dele
recebereis força. sereis, então, minhas testemunhas... até os confins da terra”
(At 1,8).
Este evento é para toda a Igreja: todos são
chamados a ser plenificados pelo mesmo Espírito do Senhor. Assim, os cristãos,
após serem mergulhados (= batizados) no Espírito do Cristo ressuscitado, devem
ser plenificados com o Espírito de força, que unge para a missão, para o
testemunho, participando, assim, da missão salvífica do Cristo Jesus. Ora,
desde os tempos apostólicos (e veremos no próximo artigo que a Tradição
constante da Igreja o atesta) isto ocorre com um rito próprio que,
profundamente ligado ao Batismo, é bastante diferente em relação a ele, já que
é conferido à parte, como desenvolvimento, amadurecimento e plenitude do dom da
vida batismal; tal rito tem o poder de conferir o dom do Espírito Santo de
força e testemunho através do rito de imposição das mãos. Este dom do Espírito
como força para o testemunho é concedido após o Batismo: “Convertei-vos e seja
cada um de vós batizado em nome de Jesus Cristo, para a remissão dos pecados, e
recebereis depois o dom do Espírito Santo” (At 2,38). A afirmação é
interessante: no Batismo já recebemos o Espírito que concede a remissão dos
pecados; mas somente após, recebe-se o dom do Espírito (aqui está aquilo que é
próprio da Confirmação)! Um outro texto que aponta para a Confirmação é o de At
8,14-17): “Os apóstolos, que estavam em Jerusalém, ao saberem que a Samaria
acolhera a palavra de Deus, para lá enviaram Pedro e João. Estes desceram,
pois, para junto dos samaritanos e oravam por eles, a fim de que recebessem o
Espírito Santo. Porque ainda não viera sobre nenhum deles, mas somente tinham
sido batizados em nome do Senhor Jesus. Impunham-lhes, pois, as mãos, e eles
recebiam o Espírito Santo”. Mais uma vez, para que fique bem claro: aqueles
samaritanos já tinham sido batizados, já tinham recebido o Espírito Santo
(releia os artigos sobre o Batismo: neste sacramento recebe-se o Espírito como
Vida de Cristo ressuscitado); agora, pela imposição das mãos, recebem o dom do
Espírito, como força do Ressuscitado para a missão – eis o sacramento da
Confirmação! Vejamos mais um texto, muito interessante: “(Em Éfeso Paulo)
encontrou alguns discípulos e lhes perguntou: ‘Recebestes o Espírito Santo
quando abraçastes a fé?’ – Mas eles responderam: ‘Nós nem sequer ouvimos falar
do Espírito Santo!’ Paulo perguntou: ‘Então que batismo recebestes?’ Eles
responderam: ‘O batismo de João’. Paulo continuou: ‘João ministrava um batismo
de conversão e pedia ao povo que cresse naquele que viria depois dele, isto é,
Jesus’. Eles o escutaram e receberam o Batismo em nome do Senhor Jesus. Paulo
lhes impôs as mãos, e o Espírito Santo veio sobre eles: falavam em línguas e
profetizavam” (Ef 19,1b-6). Compreendamos! Paulo vai a Éfeso, encontra na
comunidade cristã um grupo de doze pessoas; Paulo supõe que sejam cristãos, que
tenham sido batizados. Ele deseja saber se receberam também a Confirmação:
“Recebestes o Espírito Santo quando abraçastes a fé?“ – Em outras palavras:
fostes também confirmados com o dom do Espírito?” Para sua surpresa, aqueles lá
ainda não eram cristãos; a catequese tinha sido mal feita: “Nós nem sequer
ouvimos falar do Espírito Santo!” Paulo se espanta! Como pode ser, se já são
cristãos, se já receberam o Espírito Santo no Batismo? Ou, afinal, que batismo
eles teriam recebido? E Paulo fica sabendo que eles tinham recebido o batismo
de João (ao que tudo indica de alguma seita que acreditava que João era o
messias). Então Paulo os batiza com o Batismo cristão, o sacramento do Batismo
(e eles recebem o Espírito como Vida de Cristo) e, depois, os confirma pelai
imposição das mãos e eles recebem o dom do Espírito como Força de Cristo; tanto
que logo após já começam a testemunhas falando em línguas e profetizando!
Portanto, sem o dom do Espírito como Força do Ressuscitado, recebido na Crisma,
fica faltando algo à vida do crente: em certo sentido, ela é incompleta. Claro
que a ação do Espírito é livre e gratuita: Deus liga a Igreja aos sacramentos,
mas ele mesmo não é ligado a sacramento nenhum; seu Espírito sopra onde quer
(cf. Jo 3,8). Por isso mesmo é que desceu sobre Cornélio e sua família antes
ainda que eles tivessem recebido o Batismo (cf. At 10,44-48). Isto, no entanto,
foi um caso excepcional, para mostrar que o caminho da evangelização deveria
ser aberto aos pagãos. Tal passo fato era tão importante e tão difícil de ser
dado pela Igreja, que o Espírito agiu deste modo todo especial naquele caso
concreto. No entanto, o modo ordinário, “normal” de se receber o Espírito é
pelo Batismo e pela Confirmação. Como já disse, se Deus não se submete aos
sacramentos, submete, no entanto, a Igreja, que deve obedecer e usar os meios
ordinários que o Senhor nos dá!
Então, deve ter ficado claro que desde a época
apostólica o Espírito é dado no Batismo e, ligada ao Batismo mas com um rito
próprio e num modo diverso, na Confirmação. No Batismo o Espírito é Vida de
Cristo em nós e na Confirmação o mesmo Espírito é Força de Cristo em nós,
transbordando para que participemos da missão do Senhor, dando testemunho dele
e colaborando na edificação da Igreja.
No próximo artigo veremos como a Confirmação foi celebrada nas diversas fases da história da Igreja; assim compreenderemos seu rito nos nossos dias. Até lá!
No próximo artigo veremos como a Confirmação foi celebrada nas diversas fases da história da Igreja; assim compreenderemos seu rito nos nossos dias. Até lá!
Fonte:
Dom
Henrique Soares da Costa. O Sacramento da Confirmação - II. Disponível em <
http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/confirmacao/175-o-sacramento-da-confirmacao-ii>
Desde 29 de Dezembro de 2008.
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