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O dom da diência
Prof. Felipe Aquino –
Canção Nova
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O dom da ciência leva o homem a compreender a
marca de Deus que há em cada ser criado
O Papa Francisco,
falando dos dons do Espírito Santo, disse que “o dom de ciência faz com que o
cristão penetre na realidade deste mundo sob a luz de Deus; que ele veja cada
criatura como reflexo da sabedoria do Criador. O dom de ciência leva o homem a
compreender o vestígio de Deus que há em cada ser criado. O homem foi feito
para Deus e só n’Ele pode descansar, como disse Santo Agostinho. Com esse dom,
o cristão reconhece o sentido do sofrimento e das humilhações no plano de Deus,
que liberta e purifica o homem”.
O dom da ciência
comunica-nos a faculdade de “saber fazer”, a destreza espiritual. Torna-nos
aptos para reconhecer o que nos é espiritualmente útil ou prejudicial. Está
intimamente unido ao dom de conselho. Este, move-nos a escolher o útil e a
repelir o nocivo, mas, para escolher, devemos antes conhecê-lo. Por exemplo, se
percebo que excessivas leituras frívolas estragam o meu gosto pelas coisas
espirituais, o dom da ciência induz-me a deixar de comprar publicações desse
tipo e inspira-me a começar uma leitura espiritual regular.
Tudo o que temos,
somos e sabemos, recebemos de Deus. Diz São Tiago que “Toda dádiva boa e todo dom
perfeito vem de cima: descem do Pai das luzes” (Tg 1,17). Se possuímos
talentos, não devemos nos orgulhar nem buscar a glória dos homens por causa
deles, porque de Deus é que os recebemos gratuitamente. Se o mundo nos admira,
bate palmas aos nossos trabalhos, a Deus é que pertence essa glória, é Ele o
doador de todos os bens. Como disse Santa Catarina de Sena: “Não sejamos
ladrões da glória de Deus”.
Os santos souberam ver
Deus atrás das criaturas, como que através de um espelho. São Francisco de
Assis compôs o “canto das criaturas” ao Senhor. As flores, as aves, a água, o
fogo, o sol… tudo lhe era ocasião de contemplar e amar a Deus. Tudo para ele
era “irmão”; por ter saído das mãos do mesmo Deus que o criou.
O dom da ciência nos
faz entender também que toda criatura, por mais bela que seja, é sempre
insuficiente para satisfazer o coração do homem. Ele sente que foi criado para
o infinito e só em Deus pode ter descanso. Santo Agostinho disse, nas suas
confissões, que seu coração estava inquieto e que só encontraria repouso em
Deus. Por isso, muitos homens e mulheres, que, como Santo Agostinho, viveram
uma vida dissoluta, sem Deus, converteram-se ao Senhor depois que
experimentaram o vazio de uma vida sem Ele. Tal foi o caso de São Francisco
Borja († 1572), que ao contemplar o cadáver da rainha Isabel, exclamou: “Não
voltarei a servir a um senhor que possa morrer!”.
Esse dom também nos
ensina a reconhecer melhor o significado do sofrimento e das humilhações que
enfrentamos na vida, de modo a compreender que Deus tem um desígnio de salvação
também por trás deles, e que “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus”
(Rom 8,28). Este dom nos leva a entender o sofrimento como uma escola que nos
liberta e purifica, que nos configura com Jesus Cristo, conforme disse São
Paulo: “Deus nos predestinou para sermos conforme a imagem de Seu Filho” (Rom
8,29). Se não fora o sofrimento, muitos e muitos homens não sairiam de sua
estatura anã e mesquinha… nunca atingiriam a plenitude do seu desenvolvimento
espiritual.
O dom da ciência infusa nos imuniza de
ignorância das coisas de Deus. Adão, no
paraíso, conhecia as verdades de ordem religiosa e filosófica para que
orientasse a sua conduta e educasse devidamente os seus filhos (cf. Eclo
17,1-8). Santo Agostinho e São Tomás de Aquino julgam que ao dom da ciência
infusa de Adão estava associado o dom da imunidade de erro (cf. S. Tomas, S.
Teol. 194,4; De verit. 18,6); e erro é, sim, o mal da inteligência.
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