quarta-feira, 29 de março de 2017

O QUE SIGNIFICA DEUS CRIADOR?


O QUE SIGNIFICA DEUS CRIADOR?

Cremos que Deus não precisa de nada preexistente nem de nenhuma ajuda para criar; 1 a criação também não é um emanação necessária da substância divina; 2 e que Deus cria livremente 'do nada'. 3 "Que haveria de extraordinário se Deus tivesse tirado o mundo de uma matéria preexistente? Um artífice humano, quando se lhe dá um material, faz dele tudo o que quiser. Ao passo que o poder de Deus se mostra precisamente quando parte do nada para fazer tudo o que quer". 4

O que significa, pois, Deus Criador? Significa, exatamente, que Deus fez do nada todas as coisas. Criar é diferente de fazer. Um escultor faz sua imagem a partir da argila, pedra, resina ou outro material similar; sem isso não poderia fazer coisa alguma. O mesmo se pode dizer do marceneiro, sem madeira o que faria ele? Criar é, pois, "tirar do nada, fazer sem se servir de nada, fazer que exista uma coisa que antes não existia de nenhum modo; é fazer que exista, não se servindo de outra coisa: dar-lhe a existência por força própria". 5

A esse respeito ensina São Tomás: "O artesão opera a partir de coisas naturais, como madeira e o bronze, que não são produzidos por sua ação, mas pela natureza. [...] Se Deus, por tanto, tivesse que criar a partir de algo, este algo não teria sido criado por Ele. Ora, sabemos que tudo foi feito por Ele. Logo, conclui o Doutor Angélico, 'é necessário dizer que Deus produz as coisas em seu ser a partir do nada'." 6

Quando, no princípio, Deus criou o mundo, não existia nada: Sol, estrelas, Lua, céu, ar, terra, fogo, água, minerais, plantas, animais, homens... Só Deus existia e mais nada, e o que vemos foi Ele que fez.

Admiremos a criação e assim admiramos o seu Criador, pois, como se afirma na constituição do Concílio Vaticano II, Dei Verbum, "Deus criando e conservando o universo por sua palavra, oferece aos homens na criação um testemunho perene de Si mesmo." 7

TEXTO INTEGRALMENTE EXTRAÍDO DO LIVRO:
«A Criação e os Anjos - Arautos do Evangelho: Instituto Teológico São Tomás de Aquino; Instituto Filosófico Aristotélico-Tomista. Coleção Conheça a sua Fé - Volume 3. Instituto Lumen Sapientiae - São Paulo, 2014. p. 20.»

CITAÇÕES:
1) Cf. Denzinger-Hünermann, 3002.
2) Cf. Denzinger-Hünermann, 3023-3024.
3) Cf. Denzinger-Hünermann, 800; 3025.
4) São Teófilo de Antioquia, apud Catecismo da Igreja Católica, n. 296.
5) Giuseppe Peradi. Novo manual do catequista. Trad. Fernando Paes de Figueiredo. 6. ed. Lisboa: União Gráfica, 1930, p. 41.
6) São Tomás de Aquino. Suma Teológica. I, q. 45, a. 1.
7) Dei Verbum, 1, 3.

IMPRIMATUR:
+ Dom Sérgio Aparecido Colombo, Bispo de Bragança Paulista. Bragança Paulista, 22 de Fevereiro de 2015.
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O que significa Deus Criador? Disponível em <http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2017/03/0332.html> Desde 29/03/2017

quinta-feira, 23 de março de 2017

PE. JÚLIO MARIA: O DIABO, LUTERO E O PROTESTANTISMO – CAP. 6: LUTERO EM WARTBURGO



LIVRO «O DIABO, LUTERO E O PROTESTANTISMO»
CAP. 6: LUTERO EM WARTBURGO
SERVO DE DEUS PE. JÚLIO MARIA DE LOMBAERDE, S.D.N.

CAPÍTULO VI
LUTERO EM WARTBURGO

Assistamos a uma nova etapa da vida do infeliz e obstinado pai das seitas protestantes.

À semelhança de um meteoro ameaçador e sinistro, ele apareceu rápido no firmamento da Igreja, para logo sumir num esconderijo, donde continuará, pelos seus escritos, fomentando o ódio, a desordem e disseminando através do mundo seus monstruosos erros.

Quanto à sua vida particular no Castelo de Wartburgo, lugar santificado pelas heróicas virtudes de Santa Isabel, Lutero, em pessoa no-la descreve numa carta a seu amigo Melanchton, aos 13 de julho de 1521:

"Aqui estou na ociosidade, insensível e endurecido infelizmente, rezando pouco e em nada me importando com a Igreja de Deus, porque me abrasam os grandes ardores de minha carne indomada ("quia carnis meae indomitae uror magnis ignibus"). Numa palavra: Eu que deveria ser fervoroso no espírito, sinto em minha carne a libidinagem, a preguiça, a ociosidade, a sonolência" (De Wette II, 22). Nesta solidão, prossegue, afogo-me em pecados ("peccatis immergor in ac solitudine")" (De Wette II, p.26).

Ei-lo, pois, solitário em Wartburgo que denominará mais tarde o seu “Patmos” de enviado de Deus.

Após ter ambicionado pairar acima de todos... caiu no lamaçal de todos os vícios, conforme ele mesmo o reconheceu.

Não é mais o Lutero orgulhoso que se nos apresenta, mas o Lutero crápula “ego otiosus hic et crapulosus sedeo tota die” (de Wette II. 6).

Os dez meses de permanência no castelo de Wartburgo são uma página negra da vida do infeliz transviado.

1.         A PRETENSA MISSÃO DE LUTERO

Vejamos o monge no castelo onde se refugiara.

Isolado de todos, longe do bulício, separado maus companheiros que o excitavam, Lutero poderia arrepender-se e recuar, se disso fosse ainda capaz, repassando em espírito os acontecimentos tristes e desastrosos de que fora o causador. Tal, infelizmente não aconteceu ou melhor: só se verificou nos seus primeiros dias de exílio.

Nas horas lentas e monótonas que se seguiram ouviu ele, a princípio, uma voz penetrante em si mesmo, tal o eco estridente dos corvos e corujas que cercavam a torre do Castelo e passavam diante da janela do seu quarto.

"Quantas vezes”, declara ele próprio, “tremia de horror o meu coração, lançando-me em rosto este pensamento amargurante; apenas tu queres ser sábio? Todos os outros, então, estarão errados? E eles terão ficado no erro durante tantos séculos? Que será de ti, se estiveres errado, arrastando tanta gente ao erro e à eterna perdição?" (Obras Lut. Weimar, VIII. 411).

Lutero não tinha a sinceridade nem a nobreza de sentimentos de uma Santo Agostinho, para se converter, condenar os seus erros e tornar-se um Serafim do amo de Deus, que refletiu, sob a moção da graça, sobre as palavras confortadoras: “quod isti e istae, cur non ego?” (o que puderam realizar estes e estas, por que não o conseguirei também?)...

Lutero se encontrava no perigoso declive da revolta, descendo para o fundo do abismo... e o obcecado ânimo não lhe deixava mais ver outra coisa senão a idéia importuna a persegui-lo como um espírito maligno: - SÓ A BÍBLIA E SÓ A FÉ.

A luta foi terrível entre a voz da consciência e os impulsos do orgulho. Em vez de ser favorável à primeira, forcejou impor-lhe silêncio.

“Pude apenas, com os textos mais expressivos da Escritura”, escreve ele, “convencer a minha consciência de que era permitido resistir ao Papa, fazendo-o passar por anticristo, e considerar os Bispos como os apóstolos do anticristo, e as universidades como antros do pecado”

Logo a soberba lhe abafava os remorsos de uma alma perturbada, persuadindo-o a julgar-se investido de uma missão divina, para reconquistar a liberdade do Cristianismo, escravizado pela Igreja Católica.

Trata-se de uma verdadeira obsessão. Teria ele chegado a persuadir-se de fato ter um desígnio a cumprir neste mundo?...

É possível, pois este fato se dá, tanto em homens perversos, quanto entre pessoa santas.

Átila intitulou-se e foi de verdade: o flagelo de Deus. Alexandre Magno, César e Napoleão estavam convictos de terem sido chamados por Deus, para conquista o mundo. Maomé, o histérico, com o qual Lutero, o possesso, possui muitos traços de semelhança, considerou-se um “profeta de Deus”, mandado para substituir por outra as religiões existentes.

É, pois, admissível que o monge, dotado como era de imaginação ardorosa, de gênio turbulento, de atividade, dominada pelos nervos, deixando-se guiar pelo orgulho e pela confiança em seu valor pessoal, tenha chegado ao ponto de se dizer um “enviado de Deus”, para extirpar os abusos de sua época e promulgar a livre interpretação do Evangelho.

Se não se pode estabelecer positivamente o fato, - pois a historia nos dá notícia de suas próprias dúvidas a respeito, - é permitido, entretanto, pensar que nos momentos de agitação tenha ele conseguido sufocar a voz da consciência, convencendo-se da realidade da sua missão libertadora, que se tornou para ele uma espécie de alucinação.

2.         APARIÇÕES DO DIABO

Dois pontos sobressaem em Lutero, quando de sua permanência no castelo de Wartburgo: a sua idéia com relação ao demônio e as grandes tentações de que foi acometido.

Em suas cartas a cada passo refere-se às suas relações com o diabo, enquanto ali esteve. Não só diz ele ter ouvido ali o demônio, no tremendo barulho que o parecia perseguir dia e noite, mas assevera  tê-lo  visto,  sob  a  sensível  aparência  de  um  cão  preto,  dentro  do  seu  quarto..

Deste espetáculo terrível Lutero nos dará uma idéia, mais tarde, em suas conversas de taberna: "Quando estava em meu Patmos”, diz ele, “tinha fechado, dentro dum armário, um saco de nozes de avelãs. Certa noite, apenas me deitara, começou um barulho infernal nestas novzes que, uma por uma, foram lançadas com força, contra as vigas do forro. Senti sacudirem-me a cama, e ouvi nas escadas um ruído, como se lançassem para baixo uma grande quantidade de vasos. Entretanto, a escada havia sido retirada, para ninguém poder subir ao meu quarto, estando presa à parede com uma corrente de ferro" (Wette Erl. 59 p.340), (FATO contado pelo próprio reformador em Eisleben, em 1546).

O encontro do cão preto se deu em circunstâncias estranhas: o bicho teria procurado um lugar no leito de Lutero, que jeitosamente o teria retirado dali, jogando-o fora, através da janela, sem o  menor ganido da parte do animal. Foi, parece, um diabinho manso e inofensivo que se deixou lançar assim para fora. Nada mais se pôde encontrar do cão, após a queda, nem mesmo vestígios. Lutero tinha a certeza de se tratar de um diabo, em carne, pelo e osso (Köstlin-Karveran I. 440, 1903).

Referem ainda que um dia apareceu-lhe o demônio em pessoa, talvez para parabenizá-lo pela obra encetada, toda em benefício de satanás; nesta ocasião, tomado de horror e de medo, num acesso de raiva, teria Lutero jogado contra o demônio um tinteiro. A tinta não sujou a carapinha do capeta, mas foi o recipiente quebrar-se de encontro à parede, onde ficaram os sinais distintivos do seu conteúdo – uma grande mancha negra.

Coburg e outros falam disto, mas Lutero, o único que poderia afirmar a realidade do fato, parece, a ele nunca se referiu.

Que há de verdadeiro a respeito de tudo isso?

É difícil dizer-se. Vistas, no entanto, as disposições e o estado anormal de Lutero, é crível não passasse de exaltação nervosa, de fantasia, de superstição.

Seja como for, Lutero via demônios em toda parte.

No opúsculo contra o duque de Brunswick, o demônio teve a honra de ser nomeado 146 vezes; no livro dos Concílio em 4 linhas fala Lutero 15 vezes a respeito de diabos.

Os adversários da reforma têm o “coração satanizado e super-satanizado" Noutra parte ufana-se Lutero de nunca ter descontentado o príncipe das trevas que o acompanha sempre.

Tal disposição doentia, aumentada pelo isolamento em que vivia, como pela lembrança dos últimos acontecimentos, da sua excomunhão pelo Papa, da condenação pelo Edito de Worms, dos perigos que o ameaçavam, da incerteza do futuro, tudo isto devia necessariamente aumentar a demasiada tensão dos nervos e exaltar a imaginação ardente.

Seja como for, por certo estava ele com direito a uma aparição do espírito das trevas, a fim de parabenizá-lo pela obra diabólica de revolta que estava efetuando no mundo, e pela perdição de milhares de almas que tal empresa iria acarretar.

Se o demônio não lhe apareceu, não é porque lhe tenha faltado vontade para tal, mas apenas porque Deus não permitiu.

3.         TENTAÇÕES IMPURAS

O que se vai ler é quase só testemunho do próprio “reformador”.

Ele escreve a Melanchton:"Corporalmente estou com saúde e sou bem tratado, porém as tentações e o pecado não me deixam em paz" (Cartas II.189). “Acredite-me, nesta solidão aborrecedora, estou sujeito às tentações de mil demônios... É muito mais fácil lutar contra homens que são diabos em carne, do que contra os poderes da milícia que habita o ar” (Eph. VI. 12). Caio muitas vezes, mas a mão do Senhor me levanta de novo! (Carta III.240. A. Gerbal).
É, então, que ele dirige a Melanchton o famoso ditado: PECA FORTITER, CREDE FORTIUS – (peca fortemente, mas crê mais fortemente ainda).

É aí, sobretudo, na ociosidade de seu desterro, que Lutero começa a entregar-se desabridamente às paixões vergonhosas da luxúria, como o atesta a sua correspondência íntima.

Em 1522 ele escreveu a seu amigo Spalatino a carta mais falhofeira e vergonhosa que se pode imaginar onde se lê:

"Sou um famoso namorador... Admiro-me que, escrevendo tantas vezes sobre o matrimônio, et misceor feminis, não tenha ainda virado mulher e tenha casado com uma delas”. “Entretanto, se queres o meu exemplo, tem o seguinte: TIVE JÁ TRÊS ESPOSAS AO MESMO TEMPO, e as amava tão ardentemente que perdi duas delas, que foram procurar outros maridos..”. “Quanto a ti, és um namorador mole não tendo sequer a coragem de ser marido de uma só" (De Wette II. 646).
Pergunto a um homem de bom senso; é esta a linguagem de um reformador ou não é, antes, a correspondência de um vulgar boêmio, de um viúvo alegre?

O padre Leonel Franca fez esta judiciosa observação: (“A Igreja, a Reforma e a civilização” L. II. C. I). “Raras vezes a vida licenciosa vai desacompanhada dos excessos intemperantes da mesa. Em Lutero a febre de concupiscência carnal era estimulada pela embriaguez e pela crápula. No beber, diz ele, não quero que os outros entrem em competição comigo”.

Escreverá mais tarde à sua Catarina: “Vou comendo como um boêmio e bebendo como  um alemão, louvado seja Deus!...” Em 1534 escreveu: “Ontem, aqui, bebi mal e depois fui obrigado a cantar; bebi mal, e sento-o muito. Como quisera ter bebido bem, ao pensar que bom vinho e que boa cerveja tenho em casa, e mais uma bela mulher” (De Wette IV. 553).

Escreveu ainda: “Aqui passo todo o dia no ócio e na devassidão” (Ego otiosus hic et crapulosus sedeo tota die) (De Wette II. 6).

Na noite em que o reformador, com companhia de outros, chegou a Erfurt (19 de out. 1522) “... não se fez senão beber e gritar, como de costume”, escreve Melanchton presente à cena “Os excessos do copo chegaram a fazer-lhe mal à saúde”. O motivo destas libações copiosas e estonteantes é confessado pelo próprio Lutero, numa carta dirigida a seu amigo Jerônimo Weller:
"Quando o diabo te vexar com pensamento", diz ele, "palestra com os amigos, bebe mais largamente, joga, brinca ou ocupa-te em alguma coisa. De quando em quando se deve beber com maior abundância, jogar, divertir-se, e mesmo fazer algum pecado em ódio e acinte ao diabo, para não lhe darmos azo de pertubar-nos a consciência com ninharias. Quando te disser o diabo: Não bebas, responde-lhe: Por isso mesmo que me proíbes, é que hei de beber, e em nome Jesus Cristo beberei mais copiosamente...

Por que pensar que eu bebo assim com mais largueza, cavaqueio com mais liberdade, banqueteio- me com mais freqüência, senão para vexar e ridicularizar o demônio que me quer vexar e ridicularizar?...

“TODO O DECÁLOGO SE NOS DEVE APAGAR DOS OLHOS E DA ALMA, a nós tão  perseguidos e molestados pelo diabo” (De Wette IV. 188).

Eis Lutero na realidade das suas idéias e da sua vida... e muito longe de ser “o reformador” místico que os protestantes inventaram, de cabeça coroada de louros, ele tem ocultos os pés que rastejam na mais nojenta lama do vício e da podridão.

É triste escrever tais coisas... Infelizmente, tudo isso é verdade.

Mais lamentável ainda é escondê-las, fazendo acreditar que tal homem é um mensageiro de Deus, para restabelecer a pureza do Evangelho e da moral cristã.

Pode haver abusos nos membros da Igreja Católica, mas nunca houve, nem haverá maiores que os do pretenso reformador do catolicismo.

Admitir a missão divina de Lutero é o mesmo que aceitar tenha Deus escolhido a lama para  purificar o lodo; a imoralidade para corrigir as misérias humanas; a bebedice e a intemperança par suplantar os defeitos dos homens.

4.         A LIBERDADE EVANGÉLICA

Já conhecemos a vida moral de Lutero, o qual ele mesmo atribuiu ao demônio, podendo-se, por isto, intitulá-la diabólica.

Não pensemos, entretanto, ficasse Lutero dormindo a dia inteiro. Seu temperamento exaltado e buliçoso não lhe permitia repouso e, apesar da vida libertina e gastronômica que levava, podia estudar e escrever, continuando os seus ataques à Igreja e a sua propaganda subversiva.

Os seus amigos de Wittemberg mandaram-lhe secretamente os livros e escritos começados, para que os levasse a termo.

Seu principal cuidado foi ultimar uns tratados interrompidos, versando sobre o Magnificat, o comentário dos salmos, assim como acabar uns panfletos incendiários.

Em seguida, pôs-se a traduzir o Novo Testamento, terminando-o em pouco tempo. Esta tradução, sob o aspecto exegético, pode qualificar-se uma verdadeira miséria, seja pelas idéias heréticas nele contidas, seja pela fraqueza dos comentários; apesar de todos os literatos alemães estão de acordo em dizer que linguagem lê suave e harmoniosa.

Este Novo Testamento, revisto por Melanchton, foi publicado em 1522. É o único trabalho de  fôlego, produzido por Lutero em Wartburgo.

Entrementes, as idéias lançadas pelo herege, no fértil terreno da corrupção da época, principiavam a germinar e produzir os seus frutos.

Os primeiros resultados, como sói acontecer em tempos de decadência moral como aquele, tiveram por mira principal a NEGAÇÃO DA CASTIDADE. Só se passou a pensar em mulheres e em casamentos.

O próprio Lutero ficou horrorizado com a propaganda casamenteira operada pela sua doutrina e pelo seu exemplo. Eis o que escreve: “Que coisa mais perigosa pode haver do que excitar esta multidão de celibatários a contraírem matrimônio, tomando como apoio passagens bíblicas tão incertas e escassas? As conseqüências estarão mais perturbadas do que agora. Bem desejava eu tivessem os celibatários toda liberdade; não sei, porém, ainda, como provar isso” (Corresp. III. 218. Aug. 1521.

Os seus amigos Bartolomeu Feldkirch, Carlostadt e Melanchton, eram de acordo deverem ser rejeitados e anulados os votos. Lutero bem o queria: contudo, não teve coragem de tão  abertamente contrariar a Bíblia. Muito embora, está ele pela afirmativa... vai procurá-lo, pois, até descobrir qualquer texto possível de ser adaptado à sua idéia.

Para ele a liberdade evangélica é o princípio central de todas as concepções religiosas, de modo que tudo se deve curvar perante este postulado básico em virtude do qual pôde ele, cinco semanas depois, escrever a Melanchton estas palavras: “Quem fez votos, com uma intenção contrária à liberdade, está desimpedido deles. Nesta regra estão incluídos aqueles todos que fizeram votos com o intento de procurar a salvação ou a justificação. Ora, a maior parte dos religiosos fez votos com esta intenção. Logo, é bem claro serem ímpios, sacrílegos e estarem em oposição ao Evangelho; é preciso, por conseguinte, libertá-los todos e afastar deles a maldição” (Correspond. IIII, 224. Sept. 1521).

Lutero era monge, fizera votos; ei-lo com o meio de sacudir o jugo. E tal proceder abria caminho a uma renegação geral dos votos por todos os monges e religiosos; era a libertinagem ao alcance de todos, e a licença para que sacerdotes e freiras abraçassem a vida matrimonial, apesar do texto bíblico que tanto atrapalhou Lutero: “Fazei votos ao Senhor vosso Deus, e cumpri-os” (Salmo 75,12).

Assim se expressa a Bíblia. Lutero, ao invés , em virtude da liberdade evangélica, de outro modo interpreta o acima: NÃO FAÇAIS VOTOS A DEUS, E TENDO-OS FEITO, NÃO OS CUMPRAIS.

Eis a nova reforma, o novo Evangelho de Lutero: a Liberdade evangélica. Ensinava a moral católica não existir liberdade para se praticar o mal; o reformador, porém, pretende mudar tudo e legisla que a liberdade é completa, especialmente para se fazer o que não presta.

Com efeito, da nova descoberta do falso frade veio um breve à luz uma novo escrito “sobre os  votos religiosos”.

Tal brochura foi bastante apreciada pelos contemporâneos sinceros:

Gaspar Dietenberger, refutou-a, escreveu: “Julgar-se-ia quase que tal livro, cheio de idéias de vingança, foi redigido por um bêbado, ou, antes, por um espírito saído do inferno”.

João Dietenberger, por seu turno, apreciou-a assim: “É um livro repleto de mentiras, de blasfêmias e de insultos” (Grisar I. 398, nota 4).

O certo é que tal panfleto foi uma semente nova a sair em terreno propício, vindo exaltar muitos espíritos perturbado-os e lançando-os na estrada larga da libertinagem.

Deste modo, a castidade, tão aconselhada por Jesus Cristo, foi abolida pelo pretenso reformador e purificador do cristianismo.

Que total divergência não se nota entre o divino modelo da pureza, o divino Salvador, proclamando bem-aventurados os puros de coração, e o libertino e gastrônomo de Wittemberg, anatematizando  a pureza e declarando felizes os devassos de vida... Que contraste entre ambos!...

No entanto, é de se pasmar, ao ver tanta gente e, até, nações inteiras abandonarem a crença na Igreja fundada por Cristo, para darem ouvidos às elucubrações de Lutero.

5.         SAÍDA DE WARTBURGO

Lançara Lutero a semente de revolta que devia medrar em breve. “Quem semeia vento recolhe tempestades”. E estas estavam se armando, anunciando-se ameaçadoras.

Os insurrectos contra a Igreja Católica pediram a intervenção de Frederico de Saxe, protetor de Lutero, a fim de que desse mão forte à reforma, acabasse com os conventos, entredissesse a  Missa e obrigasse o povo a adotar o novo Evangelho luterano.Era a aplicação do princípio: a força precede ao direito.

O príncipe hesitou e não teve ânimo de lançar-se em tão perigosa empresa.

Mas o fanatismo é uma verdadeira moléstia de nervos; não raciocina mais, é uma OBSESSÃO que deseja alcançar o fim, custo o que custar.

Informado de tudo, não pôde mais Lutero aguentar a sua solidão de Wartburgo; mais fanático do que os que ele havia fanatizado, pretendeu vibrar um golpe definitivo.

Secretamente abandonou o seu esconderijo, dirigindo-se dali para Wittemberg, para de tudo se informar. Achou o terreno mal preparado e, às ocultas, disfarçado em cavaleiro, regressou ao velho castelo, onde se deu à composição de uma nova brochura intitulada: “Aviso Fiel”, dirigida a todos os cristãos, pedindo-lhes impedissem a revolução que se estava urdindo.

Era tarde demais. O germe da rebeldia, por ele lançado, estava desabrochando e produziria funestos resultados.

O pedido de paz não produziu efeito. Lutero seria coagido a reconhecer ser mais fácil pregar a revolta nos pacíficos do que obter a pacificação dos rebelados.
Wittemberg estava em pé de guerra.

Carlostadt, que tão triste figura desempenhara em Leipzig, quis substituir Lutero, assumindo também ares de reformador. Pondo-se, então, a aplicar as teorias do mestre, proclamou publicamente que o casamento devia ser prescrito a todos os ministros do Evangelho, enquanto introduzia a Ceia em substituição à missa romana.

No dia de Natal foi a novidade executada pela primeira vez. Carlostadt celebrou a Ceia na Igreja paroquial com pão e vinho distribuídos a todos os presentes; em janeiro seguinte o novo chefe evangélico entrou solenemente no templo, ao lado da mulher escolhida com quem se casou, conforme a liberdade evangélica.

Os frades de Wittemberg adotaram logo o regime novo; queimaram os altares e as imagens de santos, introduziram publicamente a reforma e começaram a casar-se, seguindo o exemplo de Carlostadt.

Parte da população aplaudiu o acontecido, enquanto outra quedou-se horrorizada à vista de tanta sem-vergonhice.

Os tumultos aumentaram cada vez mais, a ponto de inquietarem o governo, que dirigiu rigorosa queixa aos Bispos e a Frederico de Saxe, dando-lhes ordem de encarcerar e castigar os perturbadores da ordem e da paz religiosa.

Lutero, que até então observava o movimento, achou azado o momento para se tornar importante.  É que se, por uma parte receava ser considerado covarde pelo povo, fugindo, depois de atear o fogo ao mundo e receando as conseqüências do incêndio, por outra, via ameaçada a sua obra reformadora.

Era, pois, a hora de manifestar-se. Ele logo viu ser impossível aos bispos e às autoridades conter a revolta, generalizada como estava.

Era preciso fazer qualquer coisa de urgente. Era a sua pretensão.

A 1º. De março deixou ele o refúgio de Wartburgo, dirigindo-se para Borna, cidade ao sul de  Leipzig. Foi daí que escreveu a Frederico de Saxe, implorando-lhe proteção e pondo-se ao seu dispor, na tarefa de pacificação do povo.

A 6 de março Lutero, disfarçado de Cavaleiro Jorge, entrou Wittemberg, revestiu-se novamente da batina, cortou a barba e no domingo seguinte apareceu na igreja dos agostinianos, para do alto do púlpito começar uma pregação pacificadora.

Custasse o que custasse, desejava deter a população exaltada e restabelecer a paz. Caso contrário, bem o sabia ele, estaria perdida a sua causa.

6.         FIGIMENTO HIPÓCRITA

Lutero iria fingir um recuo a fim de agradar ao príncipe Frederico de Saxe e ao governo que o considerava fautor da revolução em marcha.

O herege não hesitou... Do mesmo modo por que sabia blasfemar e caluniar por ódio, também era hábil em mostrar-se hipócrita e diplomata.

Pronunciou 8 conferências para declarar a revolução oposta à liberdade evangélica, dizendo-se contristado ao ver o povo precipitar os acontecimentos em vez de se mostrar paciente e calmo.

“Segui-me”, exclamava então, “eu nunca fui mal sucedido em minhas empresas; aliás, sou o primeiro a quem Deus confiou a missão e o encargo de pregar-vos esta doutrina”.

A eloqüência popular e entusiasta de Lutero triunfou, e Wittemberg lhe ficou fiel; Carlostadt foi coagido a recuar e a fugir, até que em 1541 a peste pôs fim à sua vida exaltada, na cidade de Bazel.

Sob a direção de Lutero, a igreja de Wittemberg foi consertada. Decorada como estava antes, e os frades apareceram de novo, revestidos dos paramentos sacros, para presidir e executar os ofícios, enquanto ressoavam hinos litúrgicos.

Durante a missa a hóstia foi de novo levantada e mostrada ao povo. Exteriormente, nada se  alterara ao Santo Sacrifício. Tal organização, porém, não passava de uma dissimulação, arranjada para pacificar os ânimos e completar a reforma.

Lutero suprimia nas orações da Missa tudo o que lhe imprimia o caráter de Sacrifício, pois não a admitia como sendo a continuação incruenta do Sacrifício do Calvário, considerando-a simplesmente uma lembrança.

Cochleus, seu auxiliar na heresia, e diversos outros não aceitavam estas cerimônias fictícias, por condenarem uma demonstração tão fingida.

Respondeu-lhes o reformador que não se devia retirar o Sacramento da Eucaristia, antes de ter sido bem compreendido o PURO EVANGELHO (no sentido luterano).

A obrigação imposta pela Igreja católica aos seus ministros, segundo a qual devem eles pronunciar em voz sumida as palavras do Cânon, facilitou os atos de novo culto, sem que o povo notasse a diferença entre as novas e as antigas cerimônias.

Lutero pôde falar com toda razão: “Graças a Deus, as nossas igrejas, nas coisas neutras, são organizadas de tal maneira, que um leigo, seja francês ou espanhol,s que não entende a nossa prédica, ao ver a nossa, o nosso altar, os nossos paramentos, ao ouvir os nossos órgãos e os nossos sinos, têm de confessar estar assistindo a uma verdadeira missa papal” (W.Erl. l55.300). O povo ignorante não notou a diferença entre os dois ritos, nem deu pela reforma, de modo que mais tarde Lutero pôde ufanar de ter realizado o que era quase impossível no começo: abolir a Missa  que havia lançado raízes tão profundas no coração dos homens.

E em tom de júbilo exclamava: “Que Deus me deixe morrer de morte natural, e terá iludido os papistas, que não terão podido queimar vivo aquele que deste modo lhes destruiu a Missa” (Coll. Ed. Bindseil, 122).

Esta subversão total da missa católica, da qual Lutero suprimiu o sacrifício eucarístico, e conservou apenas simples orações, sem significação e sem valor, porque desligadas daquele, depois de ter sido batizada solenemente por Lutero com o nome de “Missa alemã”, foi introduzida em Wittemberg, no ano de 1523. Somente três anos mais tarde foi a língua latina substituída pela alemã.

7.         CONCLUSÃO

A estadia de Lutero no castelo de Wartburgo é das páginas da história de sua vida a que melhor nos descobre e transmite os sentimentos do espírito turbulento, do estado do coração viciando e da vontade votada ao mal do pobre e infeliz renegado.

Na exaltação do mundo e na embriaguez do sucesso o homem sensato pode às vezes desviar-se, por falta de reflexão; mas quando se encontra solitário, na placidez do isolamento, uma pessoa sensata reflete, compara e dá pelo mal dos erros cometidos.

Com Lutero, entretanto, nada disso aconteceu.

Condenado pela autoridade civil, como perturbador da ordem pública; excomungado pela Igreja, como herege; humilhado nas discussões públicas, onde foi convencido de má fé e de ignorância; exilado da sociedade pelo Governo; recolhido por proteção num castelo solitário, Lutero, após uma breve hesitação permaneceu o mesmo homem exaltado, rancoroso, teimoso em suas idéias, fanático em sua revolta.

E, o que é pior, ele juntou aos erros de seu espírito as paixões vergonhosas e excessos de toda sorte. Foi verdadeiramente um infeliz, um decaído, um vulgar comunista, como diríamos hoje.

E, após dez meses de tal vida, quando era de se esperar estivesse arrependido e transformado, ei- lo reaparecendo em público, não para reparar o mal, mas a fim de encobri-lo um instante por meio da máscara da hipocrisia, debaixo da qual continua a sua obra nefasta de ódio e de destruição.

E, então, insulta, vitupera e arrasta até à lama o nome de Deus, atribuindo tudo à influência, diabólica e, ao mesmo tempo nutrindo em si e manifestando a convicção de ser mensageiro do céu para endireitar o mundo.

Tal contraste não pode nascer bem subsistir num espírito equilibrado, mas somente num anormal e obsesso como ele.

Esta idéia manifestou-a claramente na carta que escreveu ao seu protetor Frederico de Saxe quando lhe comunicou o seu projeto de deixar Wartburgo, para retornar a Wittemberg.

“Vossa Alteza talvez não saiba, mas fique sabendo que eu não recebo o Evangelho da mão dos homens, mas unicamente do céu, de N. S. Jesus Cristo, e que, por isso, posso intitular-me, como doravante o farei. Apóstolo e Evangelista” (Correspond. III. 296, 5 de março de 1522).
Não é para causar admiração tenha Lutero chegado a tal pretensão.

O orgulho, que desde o começo o caracterizava, e o desequilíbrio da sua mentalidade, diante do sucesso e da popularidade que lhe haviam conquistado o entusiasmo e eloqüência fogosa, devia fazer surgir nele a idéia de ser um ENVIADO DE DEUS.

Quando se viu ao mesmo tempo aclamado pela multidão e combatido pela autoridade de Igreja, restaram-lhe dois caminhos abertos perante ele: ou retroceder ou revoltar-se; noutros termos: ou reconhecer os erros, ou atribuir-se uma missão divina.

No último, ele sentia que a demasiada soberba não lhe permitia humilhar-se, como não acreditava sinceramente em tal missão. A sugestão do resultado alcançado, dos aplausos recebidos, foi-lhe infiltrando no orgulhoso espírito a possibilidade da empresa, e, enfim, a probabilidade da mesma.

Lutero passou a ser um joguete dócil nas mãos de Satanás, que dele se servia como de um instrumento, para dividir a Igreja de Cristo e perder as almas, cuja falta de fé as reduzia a frutos apodrecidos da grande árvore católica – EX FRUCTIBUS EORUM COGNOCETIS EOS (Mateus 7, 80)
CONTINUA NO CAPÍTULO 7

PE. JÚLIO MARIA: O DIABO, LUTERO E O PROTESTANTISMO – CAP. 5: A CONDENAÇÃO DE LUTERO



LIVRO «O DIABO, LUTERO E O PROTESTANTISMO»
CAP. 5: A CONDENAÇÃO DE LUTERO
SERVO DE DEUS PE. JÚLIO MARIA DE LOMBAERDE, S.D.N.

CAPÍTULO V
A CONDENAÇÃO DE LUTERO

Mesmo com todas as suas fanfarronadas e provocações, o “reformador” senti-se inquieto. Após se rebelar contra a Igreja, recorreu à ajuda dos grandes do seu tempo.

Em data de 23 de outubro de 1520 escreveu ao imperador Carlos V, dizendo-se desejoso de comparecer perante ele, COMO UMA PULGA perante o rei dos reis, soberano universal.

“Contra o meu querer, acentuou ele em sua carta, apresentei-me publicamente em cena;  se cheguei a escrever algo, foi porque outros a isto me obrigaram pela força ou pelo embuste; jamais aspirei por outra coisa senão à solidão da minha cela... Mas há quase três anos estou exposto ao ódio dos outros, entregue a toda espécie de zombarias e perigos. Em vão imploro me perdoem; em vão prometo calar-me; em vão ofereço as condições de paz; em vão espero melhores instruções para mim.; lança-se todos sobre mim, com o fito de destruir o Evangelho inteiro”.

E, em situação tal, suplicava Lutero à autoridade civil “o defendesse, não a ele, desamparado e prostrado por terra, mas ao tesouro da verdade”...

Eis o pai dos protestantes, o “sublime Lutero” implorando, submisso e cheio de bajulação, a proteção dos potentados da terra. Em suas expressões sente-se a hipocrisia do herege,  a  obsessão do doente, e, sobretudo, o remorso duma consciência que não cala.

Em cartas subsequentes, segundo as circunstâncias, chegou ele a atacar o poder, abandonando a sua situação de POBRE PULGA, para se transformar num TIGRE FURIOSO, pretendendo assaltar a Igreja e a sociedade, e tudo destruir e esmagar. Percorramos a vida de Lutero, nesta nova fase.

1.         O DESESPERADO

Sobre a sua cabeça em ebulição Lutero sentiu pesar a excomunhão da Igreja.

Como já ficou dito atrás, pressentiu ele, antes de tudo, ser-lhe urgente destruir na opinião pública o receio provocado por aquele castigo oficial e supremo da autoridade.

Para lograr o seu intento, começou, então, a pregar abertamente contra a mencionada pena, apresentando-a, não como temível, mas propalando-a desejável.

“Tal castigo”, exclamou ele, “não separa da comunhão dos cristãos; antes, é de grande mérito perante Deus que abençoa duplamente ao que vem a falecer nesta injusta maldição”.

No entanto, malgrado bravatas deste porte, Lutero padecia de terrível inquietação.

As universidade de Lovaina e Colônia se declararam contra ele, enquanto o processo correia. O Dr. Eck reunira os documentos da discussão de Leipzig, com outras provas de heresias, e levara tudo  a Roma.

Exasperado, Lutero escreveu então um panfleto incendiário, dirigido à nobreza alemã, tratando dos melhoramentos do estado cristão.

Em termos furiosos ele expôs como, a seu ver, o papado pecou contra a nação germânica e contra a Igreja. Em 25 capítulos abordou ele o assunto dos abusos eclesiásticos, já por outros apontados com mais calma e ponderação (*).

Afinal, “era um simples plágio”.

Ao finalizá-lo, fervendo em ódio e sedento de vinganças, levantou os olhos ao céu, e exclamou: “Ó Cristo, meu Senhor, olhai para a terra, fazei raiar o último dia e destruí o ninho diabólico de Roma”.

Estava lançada a declaração de guerra, com que pretendia lrevoltar o povo alemão em peso contra a Igreja de Cristo.

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(*) - Gravamina: Onus Ecclesiae; Perstinger: De planctu Ecclesiae; De ruína Ecclesiae, etc...

2.         NOVAS DOUTRINAS HERÉTICAS

Logo se pôs Lutero a fabricar um tratado DOUTRINAL da sua “reforma”, justificando que, assim como outrora haviam os judeus sido libertados da escravidão por Moisés, iria ele, então, livrar os povos cristãos da servidão babilônica.

O novo libelo foi intitulado: “Da escravidão babilônica”; nesta exposição Lutero liquidou completamente com o Papa, com a hierarquia e com a Igreja visível. Lutero reduziu a três os sacramentos: batismo, confissão e ceia, considerando os dois últimos como uma coisa grotesca, sem caráter obrigatório.

Falando sobre a Eucaristia, ensinava que na Sagrada Hóstia não permaneciam apenas as aparências, mas até a própria substância do pão, de sorte que não há propriamente a TRANSUBSTANCIAÇÃO ou mudança da substância de pão na do corpo de Jesus Cristo, como o ensina a Igreja, mas se dá uma espécie de “empanação” em virtude da qual a substância do corpo de Nosso Senhor está presente na hóstia consagrada, conjuntamente com a substância do pão, o que se poderia chamar: consubstanciação ou duas substâncias sob uma só aparência.

Conforme a nova doutrina, a Santa Missa não é mais um sacrifício; o direito de impor mandamentos ou fazer votos opõe-se à liberdade eclesiástica; o celibato deve desaparecer e a Igreja, com suas prescrições a respeito do matrimônio torna-se culpada de adultério.

O conteúdo deste novo Evangelho pode resumir-se nestas palavras do reformador: “Nem o Papa, nem o Bispo, nem homem algum tem direito de impor a um cristão uma vírgula sequer, sem que  este o consinta”

Como é patente, tal modo de falar traz completa destruição de toda autoridade, a anarquia no governo e a rebelião no povo.

Lutero não raciocina mais. É um mísero possesso ou, melhor, um desequilibrado.

3.         A BULA DE CONDENAÇÃO

Era tempo de agir, p0ois não havia mais esperança de pacificação. Lutero queria a guerra.
Em fins de abril de 1520 uma Comissão de Cardeais e teólogo, presidida pelo Papa Leão X, redigiu a Bula de condenação, publicada em 15 de junho do mesmo ano. É a Bula: EXURGE, DOMINE, composta de três partes; a primeira tratando dos ERROS; a segunda dos ESCRITOS e a terceira, da PESSOA do excomungado.

Em 41 asserções foram compreendidos os erros do herege, acerca da justificação e da autoridade da Igreja.

Sobre os escritos heréticos ficou declarado deverem ser queimados em toda a parte onde houvessem sido difundidos.

Quanto à pessoa de Lutero, a Santa Sé não promulgava ainda castigo algum, desejando deixar-lhe tempo e oportunidade de reconhecer os erros e poder retratá-los.

O aviso do Pontífice é paternal e conciliador; é sem razão que os protestantes reclamam contra a aspereza do tom desta Bula.

Eis o que disse Leão X neste documento: “Tomando como exemplo a vontade de Deus que não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva, nós queremos esquecer todos os insultos lançados contra nós e contra a Sé Apostólica.

Estamos resolvidos a exercer a maior indulgência possível, e, enquanto depende de nós,  levaremos a coisa de maneira tal que o culpado se levante, se converta de coração e retrate os erros indicados e que, voltando ao seio da Igreja, tal o pródigo do Evangelho, possamos recebê-lo com alegria.

Avisamos, pois, ao culpado e aos seus partidários de todo o coração, pelo amor e misericórdia de Nosso Senhor Deus e pelo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, por quem foi resgatada a humanidade e confirmada a Igreja, e os conjuramos a desistirem de perturbar a paz, a unidade e a verdade da Igreja, pelos erros perversos que vão espalhando.

“Mostrando-se obedientes, eles encontrarão em nós copioso amor paternal, e braços abertos pela generosidade e a mansidão”.

Que distância não vai entre esta linguagem paternal, calma e ponderada do Chefe da Igreja, e os brados rancorosos, odientos e sanguinários do monge rebelde!

Algumas expressões extraídas da Sagrada Escritura e ainda outras em uso naquele tempo não apenas fórmulas comuns de casos semelhantes, sem serem a expressão dos sentimentos do  Papa.

A promulgação desta Bula foi confiada ao Dr. Eck, o conhecido adversário resoluto das inovações de Lutero. Tal escolha agradou aos católicos, mas irritou aos partidários do erro que viram nisto uma espécie de provocação.

O Dr. Eck encontrou sérias dificuldade para promulgá-la, devido ao estado de irritação entre o povo de seu país.

Várias universidades, como as de Leipzig, Wittemberg, Erfurt e Viena, promulgaram a Bula após longo demora. Vários bispos, receosos de oposição, não a publicaram logo.

Tal demora e este medo nos mostram que bom número de católicos e mesmo autoridades não
compreendiam ainda o perigo representado pelos novos ensinos e pelas revoltas do frade  apóstata.

Julgando pacificar os ânimos pela paciência, deixaram o erro penetrar no espírito do povo que, sem dar ouvidos a vozes contrárias, abraçou o erro como se fosse a verdade, tornando-se, deste modo, protestante sem o perceber.

4.         OS INSULTOS DE LUTERO

Não foi possível Lutero esperar proteção do imperador Carlos V, que era religioso demais para dar passaporte a um inimigo da Igreja, porém podia contar com o príncipe Frederico de Saxe para protegê-lo, caso o atingisse a excomunhão.

Primeiramente fingiu não acreditar na Bula e divulgou o boato de ser ela arranjo e obra do Dr. Eck; em conseqüência, pretendera insultar o Papa na pessoa de Eck, em fez de fazê-lo diretamente. “São Bulas e mentiras de Eck”, falava ele.

Era-lhe, porém inútil sustentar por longo tempo este fingimento, e, não podendo mais conter o seu ódio, externa-o em novo escrito: “Contra a Bula do Anticristo”(*) publicado em novembro de   1520.

Neste novo pasquim diz o herege que a sua doutrina é a única verdadeira e, por isso, esta Bula pretende obrigá-lo a renegar a Deus e adorar o demônio.

“O Papa e os Cardeais, diz ele, devem provar as suas afirmações, senão serei coagido a  considerar a Santa Sé como a sede do Anticristo, condenando-a e entregando-a a Satanás, com esta Bula e todas as suas decretais”.

O pseudo-reformador parece antes um possesso do que um homem equilibrado.

Dirigindo-se ao Imperador, ele exclama: “Onde estás, grande imperador, onde estais vós, reis cristãos? Vós vos consagrastes pelo Batismo e podeis suportar estas vozes infernais do  Anticristo?”

Quanto à bula, escreve ele: “Todos os verdadeiros cristãos devem pisá-la aos pés e expulsar, pelo enxofre e o fogo, o Anticristo romano e o Dr. Eck. O seu apóstolo”

Neste mesmo ano reeditou outro pasquim: “Sobre a liberdade no cristianismo”, do qual enviou um exemplar ao Santo Padre Leão X, acompanhado de uma carta, na qual se lêem os seguintes insultos, mais dignos de um desequilibrado que de um reformador:

“A Igreja Romana é uma horrenda Sodoma e Babilônia; um covil de assassinos acima de todos os covis; uma casa de bandidos acima de todos os bandidos; um centro e uma terra de pecado e  morte e de perdição, ao ponto de ser impossível pensar que pode subir em maldade, nem com a vinda do próprio Anticristo. ENTRETANTO, VÓS, Ó SANTO PADRE, ESTAIS ALI, COMO UM CORDEIRO NO MEIO DOS LOBOS”

O pobre herege procura encobrir a voz do Papa, por sua cólera, suas invectivas e seus insultos, aparecendo como um bêbado, gritando, gesticulando, sem saber de que lado virar, para encontrar um pouco de paz e de tranqüilidade. O demônio parecia ter entrado em seu corpo e em sua alma.

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(*) - Esta palavra torna-se uma obsessão para Lutero, que com ela visa menos a pessoa de Leão X do que o poder papal em geral e toda a hierarquia.

5.         A EXCOMUNHÃO DE LUTERO

Desejoso de manter-se na opinião pública e diminuir os efeitos do ato pontifício. Acém de lançar mão de escritos e palavras, resolveu Lutero recorrer a uma representação teatral.

Convidou a universidade de Wittemberg a um piedoso e edificante espetáculo em praça pública.

Na hora marcada, tendo feito acender uma fogueira, apareceu Lutero, vestido de monge agostiniano; tendo consigo a Bula de excomunhão, estendeu-a sobre o fogueira, exclamando em alta voz: “Porque atacaste a verdade do Senhor, eis que ele agora te ataca pelo fogo”.

Com a mão levantada fez um movimento circular e a Bula caiu no meio do fogo, sendo consumida pelas chamas.

“O piedoso e edificante espetáculo” estava terminado.

A mocidade luterana, fanatizada pelo seu professor herético, imitou-lhe o exemplo, e eis que desapareceu no braseiro crepitante tudo o que puderam encontra na igreja: livros de Direito, Constituições eclesiásticas, teologias, livros de orações, etc.

Esta cerimônia solene, dirá mais tarde o excomungado, foi feita por inspiração do Espírito Santo (Pastor IV. P. 384).

No dia seguinte, quando os estudantes lhe exaltaram a ação heróica, Lutero manifestou-se penalizado por não poder lançar no mesmo fogo o trono do Papa e ajuntou esta bela frase: “Quem não combate o papado, de todo o coração, não pode alcançar a salvação eterna”. (Ibid. p. 284).

Lutero estava condenado pela Santa Sé. Noutros tempos a sentença de Roma teria sido imediatamente acolhida pelo império, porém, nestes em que a revolta era como um fogo abafado, prestes a invadir o império germânico, era preciso calma e tempo.

O prazo passou, pois, e os 60 dias marcados para a retratação, ou para entrar em vigor a excomunhão, chegaram ao termo.

Em 3 de janeiro de 521, o Papa Leão X lançou uma nova Bula “Docet Romanum Pontificem” contra Lutero, declarando-o publicamente excomungado.

Ao mesmo tempo o Soberano Pontífice, em 18 de janeiro, dirigiu um Breve ao Imperador, pedindo fosse publicada em toda a Alemanha a Bula de excomunhão, para a revolta ser conhecida pelo povo, e para este último ficar prevenido contra os erros ensinados.

Lutero procurou proteção junto do seu benfeitor, príncipe Frederico de Saxe que intercedeu em seu favor perante o Imperador, pedindo para ser ouvido pela autoridade civil, antes da execução da sentença do Papa.

O imperador, mau grado seu, foi impelido pelos príncipes a atender ao pedido, ordenando o comparecimento de Lutero diante do Conselho geral de Worms.

6.         PERANTE O CONSELHO DE WORMS

Fato curioso, que se poderia qualificar como o da obsessão do apóstatas, é o pensamento de Satanás, a persegui-lo, e a quem atribui todos os seus reveses: ele vê demônios em toda parte: - um ruído nas galerias da igreja de Erfurt, durante o seu sermão; a quês de umas pedras, em Gotha, durante a sua palestra; um incômodo, que o impediu de continuar viagem, tudo isso ele considerou produzido pela ação dos poderes infernais.

Escrevendo a seu amigo Spalatino, antes de ir as Worms, Lutero disse: “Iremos a Worms e os poderes do inferno e do ar não poderão impedir esta viagem”.

Ei-lo, pois, a caminho de Worms.

Dizem os historiadores que tal trajeto foi um triunfo. Os partidários o acompanharam e, por onde passava, todos queriam ver o homem extraordinário e alvo de tantas contradições.

Em 16 de abril de 1521 chegou à cidade, onde já se achavam reunidas as autoridades eclesiásticas com os príncipes e o Imperador.

Os ânimos estavam exaltados, e receava-se até um levante popular, fomentado pelos amigos de Lutero.

No dia seguinte, 17, o herege foi citado perante o conselho (Ryksdag) , para ser ouvido.

Esperava-se uma exposição brilhante da parte de Lutero, pois havia declarado publicamente estar resolvido a “amedrontar e esmagar o próprio Satanás”, porém aconteceu o contrário.

Às duas perguntas que lhe forma dirigidas ele respondeu com voz tão sumida, tanto que só foi ouvido por aqueles que estavam mais próximos, como estivesse com medo ou indisposto.

Perguntaram-lhe se era de fato o autor dos escritos aí expostos. Lutero respondeu afirmativamente.

Convidaram-no depois a condenar os erros neles contidos.

A este convite respondeu Lutero, pedindo reflexão e tempo, porque, disse, assim de repente, não podia dar uma solução.

Concederam-lhe vinte e quatro horas para pensar.

No dia seguinte Lutero compareceu em seu estado natural de insolência e orgulho; procurou defender os seus erros, atacou a autoridade da Ighreja e declarou em nada poder voltar atrás.

Os seus amigos o haviam animado e excitado neste intervalo, instigando-o a sustentar suas opiniões.

Vendo a teimosia e o fanatismo cego do monge, o Imperador deu ordem a Lutero que se retratasse no dia seguinte dando-lhe salvo-conduto e garantia durante 20 dias, sob condição de não pregar nem espalhar os seus escritos.

À noite deste mesmo dia reuniram-se os protetores de Lutero: Frederico de Saxe, Spalatino e outros, e resolveram esconder o revoltoso para subtraí-lo a qualquer eventualidade do poder civil  ou a qualquer perseguição dos seus adversários.

O mensageiro imperial, Gaspar Sturm, devia acompanhar Lutero, levando uma pequena tropa de soldados.

Querendo o reformador fazer a viagem, com uns amigos, despediu o mensageiro, conservando apenas uns guardas desarmados; a razão desta despedida era a seguinte: tudo estava cuidadosamente preparado para uma fingida cilada, que devia salvar Lutero, excitar a animosidade dos seus adeptos e envergonhar os seus inimigos.

Passando, à noite, pelas florestas de Turíngia, perto de Altestein, em 44 de maio de 1521, Lutero  foi subitamente assaltado por uns cavaleiros, retirado do carro e conduzido a cavalo para o Castelo de Wartburg, perto de Eisenach.

No dia seguinte espalhou-se logo o boato de que o passaporte do Imperador havia sido violado e que Lutero estava preso, tendo sido horrivelmente maltratado; propalavam alguns ter visto o seu cadáver, jogado na cavidade de um rochedo.

As más línguas seguiram naturalmente as más cabeças, e mil legendas impressionantes corriam no meio da populaça exaltada.

Neste tempo o apóstata excomungado estava sossegado ao abrigo de qualquer violência e levando vidas principesca, escondido no velho castelo de Wartburg, sob o pseudônimo de “Cavalheiro Jorge”.

7.         DECISÕES DE WORMS

Enquanto isto ocorria, estava em andamento a sessão do Conselho de Estado, em Worms.

A teimosia de Lutero, em não se querer convencer dos seus erros, deu ao imperador pleno direito de lançar um edito contra o herege, em defesa de doutrina católica.

Este ato foi redigido, assinado pela autoridade civil e confiado ao representante do Papa, para ser levado a Roma.

O protetor de Lutero, Frederico de Saxe, vendo frustrados os seus esforços, para não assistir à condenação de seu pupilo, retirou-se das reunião e escreveu a uma amigo: “Não somente Anás e Caifás são contra Lutero, mas também Pilatos e Herodes, isto é, a autoridade religiosa a civil (Janssen-Pastor: II. 184).

Este edito de Worms não produziu o efeito que os homens sinceros dele esperavam.

Muitos acharam o texto um tanto áspero, incisivo, de modo que causou entre os católicos uma certa inquietação, e entre os sectários de Lutero um ódio maior contra a autoridade.

Nele se proclamava a excomunhão de Lutero, ordenando-se fosse ele considerado herege, não podendo mais ser acolhido, favorecido ou protegido por ninguém. Qualquer um estava obrigado a prendê-lo e entregá-lo ao Imperador. Seus livros deviam ser destruídos e punidos de excomunhão.

Ficou encarregado o Conselho municipal de Neuremberg de providenciar a execução da sentença. São notáveis as acusações contra Lutero, expostas neste documento:

“Pelos seus escritos”, diz o edito, “Lutero espalha práticas corruptoras: muda o número dos Sacramentos, altera a lei da indissolubilidade do matrimônio, insulta o Papa com palavras grosseiras e blasfematórias, despreza o Sacerdócio e procura excitar os leitos a lavarem as mãos no sangue dos Sacerdotes. Ensina a falta de liberdade da vontade humana e exorta a uma vida sem freio e sem autoridade. Chegou ao ponto de não recuar diante das barreiras mais sagradas, fazendo queimar, em público, livros canônicos. Despreza os Concílios e apelida o Concílio de Constança: uma sinagoga de demônios e os seus participantes: anticristos e assassinos. É um inimigo em trajes de monge, acumulando antigas e novas heresias; pretende pregar o Evangelho  e destrói a fé sincera, sob o pretexto de restabelecer o verdadeiro Evangelho”    (Janssen. P. II. 299).

Como se vê, o Conselho imperial estava bem informado dos manejos de Lutero, e este documento resume, em poucas palavras, as principais heresias do pretenso reformador.

Se o Edito houvesse sido bem executado, talvez o mundo não teria assistido às tristes e horrendas cenas que seguiram à protestantização da Alemanha.

Infelizmente as ordens imperiais não produziram o efeito desejado.

A fraqueza e a desunião do próprio governo, o dinheiro, o medo, o comodismo e a simpatia pela reforma de vários chefes, atrasaram e em muitos lugares inutilizaram as medidas ordenadas.

8.         CONCLUSÃO

Tal era a situação do reformador, antes e após ser condenado.

Pode-se ajuizar que o pobre herege é um anormal de uma teimosia e orgulho sem iguais.

Nada era capaz de fazê-lo raciocinar. Vivia obcecado pela idéia fixa do ódio à Roma, que pretendia exterminar e pela idéia da Bíblia só, para cada um poder fabricar-se uma religião individual, independente de Deus e dos seus representantes na terra.

Nota-se em todos os passos do heresiarca uma pronunciada má fé e o desejo de ser aplaudido  pela multidão.

Juntando-se a estas disposições pessoais de Lutero a decadência da época, as hesitações da fé e a exaltação dos espíritos em procura de mudanças, compreende-se o futuro que esperava o reformador, o qual, de fato, coroou os seus esforços.

Os grandes homens, os reformadores ou os deformadores, não brilham tanto pelo valor pessoa, quanto pelo desvalor dos que os cercam.

É o que o provérbio pessoal expressa muito bem: no reino dos cegos quem tem um olho é rei.

Assim, numa época de decadência, quando há falta de vigor, de energias, de entusiasmo, ao aparecer um indivíduo mais decidido e valoroso que os demais torna-se imediatamente o centro de uma nova constelação, em redor da qual gravitam os olhares e as simpatias.

Assim aconteceu com Lutero, um pobre orgulhoso que, sentindo a sua inferioridade em tudo, quis aproveitar a decadência que o cercava, para se elevar. Não encontrando em si um meio de efetuar este seu desejo, utilizou-se da insurreição, da palavra e da penas revolucionária, para se manifestar em pública e ganhar celebridade.

Tal é o super-homem protestante que temos pela frente. Simplesmente um super-revolucionário.

CONTINUA NO CAPÍTULO 6