sábado, 28 de maio de 2016

De cada 100 católicos que morrem mais de 95 estão em pecado mortal


__________________________________
Se você está lendo isso é porque você ainda está vivo. Pense! Pense novamente! Você realmente acredita em Deus? O que você espera para mudar? Como diz o Senhor no Evangelho: Arrependei-vos e crede no Evangelho!

“Arrependei-vos e crede no Evangelho”

Pe. Lucas Prados — Adelante la Fe | Tradução Sensus fidei: Começamos a Quaresma com a celebração da quarta feira de cinzas. Uma celebração frugalidade que nos recorda a frugalidade desta vida, a necessidade de estar em um permanente estado de conversão e a obrigação de estar sempre preparado para prestar contas a Deus: “Lembra-te que és pó e em pó te converterás”.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Reflexão: Tem augum sentido amar Jesus, mas não ir a Santa Missa?

"Amo Jesus, mas... não vou a Missa." Faça-me o favor meu irmão, você está doente? Se não está doente do corpo (o que justificaria você não ir na Missa), então, está doente da alma, adoeceu-se a sua fé. Cuidado!

Amar Jesus Cristo e não ir a Santa Missa no Dia do Senhor Jesus (o Santo Domingo) e nos dias de Preceito, é uma contradição tremenda, são duas realidades que não podem existir juntas na mesma pessoa: Não se é possível amar de fato a Deus se negando a recebê-Lo na Eucaristia, pior ainda, dizer amá-Lo não crendo na Sagrada Eucaristia que é o mesmo Deus. E, mesmo quem não pode recebê-Lo, não pode comungar por estar em pecado grave, mesmo assim: quem é que crendo de fato que o Senhor Jesus, nosso Senhor, nosso Amado, nosso Tudo, está presente nos Altares da Santa Igreja Católica se negaria a ir até Ele que é o Sustento de todos os cristãos? Não, quem não vai a Santa Missa não ama nosso Senhor Jesus Cristo de verdade, e não poder comungar não é desculpa para quem crê n'Ele e quer ir até Ele por que sabe que Ele está ali, diante de nós, verdadeiramente.

Pergunte a um cristão (qualquer cristão): "Se Jesus viesse ao mundo hoje, agora, você iria querer vê-Lo?", a resposta será um um grande SIM, todos gostariam de ver Jesus se Ele viesse hoje no mundo. Todos querem ser salvos por Ele. Pois é, mas Ele vem, todos os dias a dois mil anos, na Santa Missa, na Sagrada Eucaristia que é verdadeiramente seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade.

Thiago A. Borges de Azevedo
A. A. C. Evangelizadores
20 de Maio de 2016

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Papa São Pio X: CARTA ENCÍCLICA PASCENDI DOMINICI GREGIS

CARTA ENCÍCLICA PASCENDI DOMINICI GREGIS DO SUMO PONTÍFICE PIO X AOS PATRIARCAS, PRIMAZES, ARCEBISPOS, BISPOS E OUTROS ORDINÁRIOS EM PAZ E COMUNHÃO COM A SÉ APOSTÓLICA SOBRE AS DOUTRINAS MODERNISTAS

Veneráveis Irmãos,
saúde e bênção apostólica

INTRODUÇÃO

A missão, que nos foi divinamente confiada, de apascentar o rebanho do Senhor, entre os principais deveres impostos por Cristo, conta o de guardar com todo o desvelo o depósito da fé transmitida aos Santos, repudiando as profanas novidades de palavras e as oposições de uma ciência enganadora. E, na verdade, esta providência do Supremo Pastor foi em todo o tempo necessária à Igreja Católica; porquanto, devido ao inimigo do gênero humano nunca faltaram homens de perverso dizer (At 20,30), vaníloquos e sedutores (Tit 1,10), que caídos eles em erro arrastam os mais ao erro (2 Tim 3,13). Contudo, há mister confessar que nestes últimos tempos cresceu sobremaneira o número dos inimigos da Cruz de Cristo, os quais, com artifícios de todo ardilosos, se esforçam por baldar a virtude vivificante da Igreja e solapar pelos alicerces, se dado lhes fosse, o mesmo reino de Jesus Cristo. Por isto já não Nos é lícito calar para não parecer faltarmos ao Nosso santíssimo dever, e para que se Nos não acuse de descuido de nossa obrigação, a benignidade de que, na esperança de melhores disposições, até agora usamos.

sábado, 14 de maio de 2016

Cardeal Robert Sarah: Deus ou Nada - Reflexões

Muitos fiéis se alegram em ouvir falar da misericórdia divina e esperam que a radicalidade do Evangelho possa ser mitigada também em favor de quem fez a escolha de viver em ruptura com o amor crucificado de Jesus. Pensam que por causa da infinita bondade do Senhor tudo é possível, mesmo decidindo não mudar nada em suas vidas. Para muitos, é normal que Deus verta sobre eles sua misericórdia enquanto habitam no pecado. Não entendem que a luz e as trevas não podem coexistir, apesar dos múltiplos apelos de São Paulo: “Que diremos então? Que devemos continuar pecando para que abunde a graça? Certamente não!” […] Esta confusão exige respostas rápidas. A Igreja não pode seguir em frente como se a realidade não existisse: não pode contentar-se com entusiasmos efêmeros que duram o espaço de grandes encontros ou de assembleias litúrgicas, por mais belas e ricas que sejam. Não podemos evitar por mais tempo uma reflexão prática sobre o subjetivismo como raiz da maior parte dos erros atuais. De que serve saber que a conta do Twitter do Papa é seguida por centenas de milhares de pessoas se os homens não mudam suas vidas de maneira concreta? De que serve conformar-se com as assombrosas cifras das multidões que se rendem e se convertem ante os Papas se não temos garantias de que estas conversões são reais e profundas? […]

Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.
(Robert Sarah avec Nicolas Diat, “Dieu ou rien. Entretien sur la foi”. Paris: Fayard, 2015)

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Cardeal Mercier: A Mortificação Cristã

1 – Objeto da mortificação cristã

A mortificação cristã tem por objeto neutralizar as influências malignas que o pecado original continua exercendo em nossas almas, inclusive depois de terem sido regeneradas pelo batismo.

Nossa regeneração em Cristo, apesar de vencer completamente o pecado em nós, deixa-nos contudo, muito longe da retidão e da paz original. O Concílio de Trento reconhece que a concupiscência, isto é, a tríplice inclinação da carne, dos olhos e da soberba, faz-se sentir em nós, inclusive depois do batismo, com o fim de excitar-nos ao combate glorioso da vida Cristã. A Escritura chama a tríplice concupiscência em algum momento de HOMEM VELHO, oposto ao HOMEM NOVO que é Jesus vivendo em nós e nós vivendo em Jesus, e outras vezes de CARNE ou natureza caída, oposta ao espírito ou à natureza regenerada pela graça sobrenatural. É este homem velho ou esta carne, isto é, todo o homem com sua dupla vida moral e física, a quem é preciso, não digo já aniquilar, pois isto é impossível enquanto durar a vida presente, mas MORTIFICAR, isto é, reduzir praticamente à impotência, à inércia e à esterilidade de um morto; é preciso impedir que nos dê seu fruto próprio, que é o pecado, e anular sua ação em toda nossa vida moral.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Cardeal Joseph Ratzinger: A obediência à Igreja

Resumo
No conflito do cenário mundial atual entre fé e obediência o, então Cardeal Ratzinger (Bento XVI), em um pronunciamento datado do ano de 1988, já parecia aludir de certa forma a crise que se instalaria no cristianismo um pouco mais tarde, com uma força surpreendente e aparentemente sem precedentes. Em seu discurso poder-se-á mais uma vez tomar consciência donde vem algumas armadilhas e de como conseguir combate-las, mas principalmente de como manter nossa principal poder intacto: A Esperança.

Por: Joseph Ratzinger (Bento XVI)
(Janeiro de 1988)

A Fé é Obediência. Obediência significa que nós redescobrimos a imagem essencial do nosso ser – a criaturalidade – e com isso nos tornamos verdadeiros. Significa que reconhecemos a relação de responsabilidade como forma fundamental da nossa vida e com isso o poder se converte de ameaça em esperança.

DIDAQUÉ: A Doutrina dos Apóstolos

CAPÍTULO I

1 Existem dois caminhos no mundo: o da vida e o da morte; o da luz e o das trevas. Neles foram estabelecidos dois anjos: o da justiça e o da iniqüidade. Porém, grande é a diferença entre esses dois caminhos. 2 Este é o caminho da vida: em primeiro lugar, deves amar ao Deus eterno que te criou; em segundo lugar, [deves amar] o teu próximo como a ti mesmo; assim, tudo o que não quiserdes que seja feito contigo, não o farás a outro. 3 A explicação destas palavras é a que segue.

CAPÍTULO II

1[...] 2 Não cometerás adultério; não matarás; não prestarás falso testemunho; não violarás a criança; não fornicarás; não praticarás a magia; não fabricarás poções; não matarás a criança mediante aborto, nem matarás o recém-nascido; não cobiçarás nada do teu próximo. 3 Não proferirás perjúrios; não falarás mal, nem recordarás das más-ações. 4 Não darás mal conselho, nem teu linguajar terá duplo sentido, pois a língua é uma armadilha para a morte. 5 Tua palavra não será vã, nem enganosa. 6 Não serás ambicioso, nem avarento, nem voraz, nem adulador, nem parcial, nem de maus costumes; não admitirás que se crie uma armadilha para o teu próximo. 7 Não odiarás a qualquer homem, mas o amareis mais que a tua própria vida.

São João Crisóstomo: Antologia


São João Crisóstomo
(345-407), Arcebispo de Antioquia depois de Constantinopla
Antologia

1.
«Regozijai-vos; permanecei na alegria porque a vossa recompensa será grande» - Homilia sobre a Segunda carta aos Coríntios
2.
«Caindo de joelhos, prostraram-se diante d'Ele»  - Homilias sobre S. Mateus
3.
«Sobre esta pedra edificarei a Minha Igreja» - Homilia sobre São Pedro e Santo Elias
4.
«O poder de uma oração perseverante» - Homilias sobre S. Mateus
5.
«A morte de João Baptista» - Homilias sobre S. Mateus, nº 48
6.
«Aquele que der a beber, nem que seja um simples copo de água fresca, […] não ficará sem a sua recompensa.» - Homilia 45 sobre os Actos dos Apóstolos
7.
«Estai preparados» - Homilia 77 sobre S. Mateus
8.
«Que devo fazer para alcançar a vida eterna?» - Homilia 63 sobre S. Mateus
9.
«A tristeza que gera a alegria» - Homilia 79 sobre São João
10.
«Entra na alegria do teu Mestre» (Mt 25,23)
11.
«O pão que Eu hei-de dar é a Minha carne, pela vida do mundo» - Homilias sobre a 1ª Carta aos Coríntios, nº 24
12.
«Colocaram uma inscrição por sobre a sua cabeça: 'Este é o Rei'» - Homilia sobre a Cruz e o bom ladrão, 1, 3-4
13.
«Agir como Abraão» - 36ª homilia sobre o Génesis
14.
«Jesus poisou sobre ele o olhar e disse: ‘Chamar-te-ás Cefas, que quer dizer Pedro'» - Homilia n° 19 sobre São João
15.
«Perdoai-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores» (Mt 6,12) - Homilias sobre S. Mateus, nº 61
16.
«Não vos esqueçais da hospitalidade» - Homilia sobre Lázaro
17.
«Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo» - Comentário sobre S. João
18.
«Adorar o Corpo de Cristo» - Homilias sobre a 1ª carta aos Coríntios
19.
«Quem vos recebe, a mim recebe» - Homilias sobre os Actos dos apóstolos
20.
«Beber do cálice para se sentar à direita» - Homilias sobre Mateus, nº 65
21.
«Cairam em terra boa e deram fruto» - Homilias sobre Mateus, 44
22.
«Tem paciência para comigo» - Homilias sobre S. Mateus, nº 61
23.
«Logo que entrares no teu Reino» - Homilia 1 sobre a Cruz e o Ladrão
24.
«Sigamos os Magos» - Homilias sobre S. Mateus
25.
«Jesus estendeu a mão, tocou-o e disse: 'fica limpo'» - Homilia sobre São Mateus

Padre Felix: Uma demonologia bíblica

Um dos grandes mistérios da teologia judaico-cristã é a existência do mal, porque Deus permitiu o seu surgimento e existência, os detalhes sobre a sua origem. Dois fatos, porém, são claros: ele existe e ele será derrotado.

Textos como os de Ez. 28,12 – 15 e Lc.10,18 indicam que houve uma rebelião liderada por um anjo de luz (lúcifer), que, exercendo o seu livre arbítrio, optou pelo não-bem e pela ruptura de comunhão contra o Criador. Deus cria um lugar-estado (inferno) e para lá os lança (II Pe. 2,4).


O chefe desses anjos caídos é denominado de lúcifer ou satanás (hebraico = adversário), recebendo outros, como: belzebu, belial, o maligno, o príncipe deste mundo, diabo (grego = instigador, acusador).

Satanás lidera os demônios que:

1. São seres espirituais com personalidade e inteligência. Como súditos de satanás, inimigos de Deus e dos seres humanos (Mt.12,43 – 45);
2. São malignos, destrutivos e estão sob a autoridade de Satanás.
3. São numerosos (Mc. 5,9; Ap. 12,41).

Eles mantêm a forma angélica, com a natureza voltada para o mal. Têm inteligência e conhecimento, mas não podem conhecer os pensamentos íntimos das pessoas e nem obrigá-los a pecar.

Há autoridade e organização no mundo inferior (Mt. 25,41), mas por não ser Satanás onipresente, onipotente e onisciente (atributos exclusivos de Deus), ele age por delegação a seus inúmeros demônios (Mt. 8,28; Ap.16,1 – 14).

A teologia cristã tem percebido, a partir da Bíblia e da experiência, os seguintes ministérios demoníacos:

a) indução à desobediência a Deus e aos seus mandamentos;
b) propagação do erro e da falsa doutrina;
c) indução à mentira (“pai da mentira”) e à corrupção;
d) provocação de rebeldia nas pessoas que sofrem provações;
e) influência negativa sobre o corpo, os sentidos e a imaginação;
f) influência sobre os bens materiais (apego vs. perda);
g) realização de efeitos extraordinários, com aparência de milagres;
h) indução a sentimentos negativos, como o temor, a angústia e o ódio;
i) promoção da idolatria, da superstição, da necromancia, da magia, do sacrilégio e do culto satânico.

O mal esteve agindo no Pecado Original (queda), e exerce continuamente a sua obra perversa até o fim dos tempos, como tentador (Gn. 3,1 – 5), caluniador (Jó.1,9 – 11), causador de enfermidades (Jó. 2,7) e arquienganador (Mt. 4,6).

Ele mantém permanente luta contra Deus e o seu povo, procura desviar os fiéis de sua lealdade a Cristo (II Co. 11,3), induzindo-os a pecar e a viver segundo os sistemas elaborados pela natureza corrompida ou “carne” (I Jo. 5,19).

Os cristãos devem conhecer, pelo estudo da Bíblia e da teologia, a natureza e o ministério do mal, para se conscientizarem e se precaverem.

O apóstolo Paulo nos exorta a nos fortalecer em Deus e no seu poder, resistindo firmes pois “a nossa luta não é contra os seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores desse mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestiais” (Ef.6:12).

A disciplina devocional, com a leitura da Bíblia, a oração, os sacramentos, a busca de santidade, o desenvolvimento dos dons, a comunhão do Corpo, são antídotos contra o mal.

O ministério demoníaco contra as pessoas pode se dar de três maneiras:

a) tentação: apoio a opções negativas e atinge todos os seres humanos;
b) indução: (também chamada obsessão), uma ação mais íntima e contínua de “assessoria” à maldade, que atinge os descrentes e os crentes carnais;
c) possessão: quando os demônios se apoderam de corpos, controlando-os. Para a teologia evangélica clássica isso não pode acontecer a um convertido, cujo corpo é habitado pelo Espírito Santo.

Satanás e os demônios têm poder sobre os perdidos nesta vida e após a morte, que se destinam ao inferno.

Devemos estar advertidos para não cair em um dualismo de fundo zoroastrista. Satanás não é um ente contrário comparável a Deus.

Quem combate contra ele é o chefe dos anjos bons, e são os anjos bons que combatem os anjos maus.

Não devemos nem minimizar, nem maximizar o ministério do maligno]

Ele já foi derrotado na cruz, e o sangue de Cristo já tem poder, a obra da expiação já foi realizada, Cristo já ressuscitou e o Espírito Santo já foi enviado. O resgate já se deu, é oferecido pela Graça e recebido pela fé. O Senhor já reina sobre o universo, a História e a sua Igreja.

A perfeição da Ordem Criada (Éden) será revivida na Ordem Restaurada (Nova Jerusalém).

O mal terá um fim, quando satanás e os demônios forem todos lançados no lago do fogo (Mt. 25,41), também chamado de “segunda morte” (Ap. 20,14).

Devemos evitar cair na irresponsabilidade moral atribuindo aos demônios os males que são fruto de nossa opção, com natureza caída e pecadores. Não sejamos, portanto, ”caluniadores de satanás”.

O racionalismo e o liberalismo teológico haviam negado a existência de Satanás e dos demônios.

A teologia conservadora clássica (como fizera com os anjos bons), afirmava a sua existência, mas pouco elabora na prática do cotidiano dos fiéis. O pós-pentecostalismo e a teologia da “batalha espiritual” os vulgarizou e hipertrofiou o seu poder, além de, em uma atitude irracional, anti-científica e anti-bíblica, atribuir tudo aos mesmos. Nem indiferenças, nem irresponsabilidade, nem angústia opressiva.

Devemos rejeitar as representações pictóricas aterradoras (fruto da imaginação dos artistas), pois o mal não é incompetente em “marketing” ou em “relações públicas”, podendo aparentar beleza, bondade e prodígio.

O mal, que ele nos tenta, pode estar em nosso caráter, em nosso temperamento, e em nossa ética.

Devemos evitar o dualismo de fundo bramânico, entre “alma” (boa) e “corpo” (ruim). O ser humano foi criado integrado, caiu integrado e é restaurado integrado. “Carne” na Bíblia não é igual a Corpo (muito menos a sexualidade) mas a natureza caída (integrada). Lutero disse: “Jesus veio em carne e não pecou; Satanás não tem carne e peca todo o tempo”.

A Palavra e o Espírito vão nos libertando dos condicionamentos culturais e nos forjando como “novas criaturas”. A presente ordem, e o poder do mal, são transitórias. A nossa esperança é escatológica, “pois a antiga ordem já passou” (Ap. 21,4b).

Conclusões

Com o ocaso da modernidade vão-se os seus mitos: a bondade natural, o progresso, a razão (ciência) e as utopias globais. Volta a ambigüidade moral (e o pecado), os avanços e as decadências, a sensação de limitação nos empreendimentos e instituições humanas, e a redescoberta do além-razão no ser humano: o místico, o estético, o erótico, o lúdico, o intuitivo etc.

Há uma redescoberta do antes desvalorizado. A construção do futuro, porém, não se faz com um mero retorno ao passado (e aos seus males). O angélico e o demoníaco voltam como temas e realidades, vencendo-se, porém, os “sincretismos protestantes” e as “superstições evangélicas”, estranhas ao espírito e a proposta da Reforma.

Nem o reducionismo psicanalítico, nem o reducionismo dos “cultos de descarrego”.

A consciência do místico, do transcendente e do espiritual, não nos leva à alienação da História e das nossas responsabilidades como cidadãos e pessoas plenas. 

Pois o bem e o mal, e suas potestades, se relacionam com os poderes políticos históricos, como procurou demonstrar Agostinho de Hipona em sua “Cidade de Deus”.

Fonte: Padre Felix

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Dom Henrique Soares: A Sagrada Escritura

A Sagrada Escritura
I - Algumas observações preliminares

A Bíblia é um livro que parece complicado. Sua formação foi muito lenta e muito complexa. A maior parte de seus livros são obra de muitas mãos e a composição de algus deles durou séculos. Por isso, não é fácil lê-la e a tentação do fundamentalismo é grande. Mas, o fundamentalismo destrói o verdadeiro sentido das Escrituras, exatamente quando parece ser mais fiel à Palavra de Deus! Contudo, se tivermos algumas chaves de leitura, será mais fácil compreendê-la. Vejamos. 

1 - As Escrituras Sagradas são um conjunto de livros, escritos em épocas, estilos e situações diferentes. Por exemplo:
• épocas diferentes: as partes mais antigas das Escrituras podem vir do século XII antes de Cristo, lá pelo ano 1100 aC, enquanto o último livro do Novo Testamento, a Segunda Carta de Pedro, é do final do século I ou início do século II dC.
• estilos diversos: o livro de Josué conta a entrada do povo de Israel de modo triunfal e heróico, os 11 primeiros capítulos do Gênesis são uma meditação em forma de parábolas, o livro de Jó é uma historinha como a nossa literatura de cordel, os salmos são poemas, Isaías e Jeremias são coleções de oráculos, há cartas, narrações populares, como a do profeta Eliseu (cf. 2Rs 2, 19-25; 6,1-7), e histórias para despertar a piedade, como as de Ester, Judite, Jonas e Tobias.
• situações diferentes: algumas partes foram escritas em momentos de glória, como alguns provérbios mais antigos; outras, em momento de perseguições e sofrimentos, como o Livro de Daniel.

2 - Mais ainda: os livros das Escrituras têm preocupações diferentes, objetivos diversos:
• os 11 primeiros capítulos do Gênesis querem refletir sobre por que Deus criou tudo, qual o papel do homem e por que o mundo é marcado pelo mal e pela morte...
• o livro de Jó quer matar uma charada: por que o homem de bem sofre?
• os livros dos macabeus querem consolar e animar o povo nas tribulações;
• as cartas de São Paulo querem catequizar as comunidades e resolver os problemas que nelas surgiam;
• os evangelhos querem anunciar que Jesus é o messias morto e ressuscitado....

3 - Os autores humanos das Escrituras são muitíssimos: alguns livros foram escritos por um autor sozinho; outros, escritos por muitos autores, outros ainda, por autores desconhecidos. Nem sempre o nome do autor que aparece é o do autor verdadeiro. Por exemplo:
• os cinco livros do Pentateuco foram escritos por vários autores e costuram quatro livrinhos diferentes que contavam, cada um do seu jeito, as mesmas histórias;
• o livro de Tobias é de um autor só, mas não sabemos quem é ele;
• o livro dos salmos tem muitos autores; já o livro do Eclesiástico é de um tal Jesus ben Sirac;
• a carta aos Hebreus não é de São Paulo nem a Segunda de Pedro é de São Pedro.

4 - Os autores, quando escreviam, não sabiam que estavam escrevendo a Palavra de Deus, assim, escrevem no seu linguajar, do seu jeito, com suas capacidades e limitações. Por isso, na Bíblia, é possível encontrar erros de geografia, de história, de biologia, etc...

5 - Se formos resumir a história da formação das Escrituras, poderíamos afirmar que o primeiro modo como deu-se a transmissão da revelação de Deus foi a tradição oral. Somente a partir do rei Davi é que as Escrituras começaram a ganhar corpo. Antes de Davi, além da tradiçã oral existiam somente alguns documentos breves, que mais tarde seriam aproveitados e, hoje, estão espalhados pelo Pentateuco e por alguns dos livros históricos.

6 - No entanto, apesar de toda esta variedade, de um modo tão humano de escrever e de pensar, a Bíblia toda tem um só autor: Deus! Ela é a Palavra de Deus, dada para nossa salvação. A Bíblia contém a verdade que salva, a verdade sobre Deus, sobre o homem e sobre o mundo! Nisto ela é infalível, não se engana nem engana!

II - O tema central das Escrituras

1 - Todos os livros da Escritura, no entanto, possuem um tema comum, uma mensagem central: Deus criou tudo por amor e quer chamar toda a humanidade para a vida eterna, que é a comunhão com ele. Por isso mandou o seu Filho Jesus. Ele, morto e ressuscitado, deu-nos o seu Espírito Santo que é já o início desta vida divina, que vai ser plena na glória eterna.

2 - Mesmo com o pecado do homem, Deus não desistiu do seu plano, mas na cruz entregou o seu Filho para que, nele, nós tenhamos a salvação. A vontade de Deus é que, em Jesus, todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade.

3 - A serviço do seu plano, Deus formou, no Antigo Testamento, o Povo de Israel e, no Novo Testamento, a sua Igreja, para que leve esta Boa Notícia da salvação a todos os povos.

4 - Assim, a mensagem central das Escrituras é uma mensagem de salvação. Qualquer trecho que nós lermos, tem que ser interpretado sempre de acordo com esta idéia central e mais importante!

III - Por que Deus se revelou?

1 - A revelação não tem por objetivo contar segredinhos nem matar a nossa curiosidade sobre as coisas de Deus.

2 - Deus não quer revelar coisas; ele quer se revelar, para nos fazer participar da sua vida. Esta revelação acontece nos seus atos e nas suas palavras, como a revelação de pessoa para pessoa, de duas pessoas que se amam.

3 - Então, o que encontramos nas Escrituras? Vários livros, de épocas diversas, em estilos diversos, com temas diversos, de autores diversos... mas todos inspirados por Deus, de modo que revelam o amor desse Deus e o seu desejo de nos salvar em Cristo Jesus. Lendo a Bíblia descobrimos o coração de Deus e entramos em comunhão com ele!

IV - Os livros da Bíblia e suas divisões

1 - A Bíblia católica (73 livros: 46 do Antigo Testamento + 27 do Novo):
Pentateuco (= a Lei dos Judeus): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio
Livros Históricos: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Judite, Tobias, 1 e 2 Macabeus.
Livros Sapienciais: Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos, Jó, Sabedoria, Eclesiástico.
Livros Proféticos: Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias
Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e João
Livro Histórico: Atos dos Apóstolos
Epístolas: de São Paulo (Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filêmon, Hebreus), Católicas (Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João, Judas)
Livro Profético: Apocalipse

2 - A Bíblia protestante é incompleta. Foram tirados 7 livros do Antigo Testamento: Judite, Tobias, Sabedoria, Eclesiástico, 1 e 2 Macabeus e Baruc, bem como algumas partes de Daniel.

3 - A Bíblia hebraica tem uma ordem, uma arrumação diversa da cristã: Torá (Lei), Ketubim (Profetas) e Nebiim (Escritos). O Antigo Testamento dos judeus é incompleto, pois eles, por despeito dos cristãos, tiraram 7 livros sagrados porque não foram escritos em hebraico nem dentro da Terra Santa, mas pela comunidade judaica de língua grega que habitava em Alexandria, no Egito. Como os cristãos usavam esses livros, os judeus, sob a lideranç dos fariseus, retiraram-nos da sua Bíblia. Infelizmente, os protestantes preferiram a Bíblia dos judeus que a dos cristãos!

V - O tema do Antigo Testamento

1 - Todos os livros do Antigo Testamento nasceram no seio do Povo de Israel. E todos estes livros contam a história de Deus com o seu povo. Deus amou este povo e o escolheu, o formou, educou pelos profetas e, através dele, prometeu salvar o mundo pelo Ungido, o Messias.
a) Deus chamou Abraão e prometeu fazer dele um povo, pelo qual todas as nações seriam abençoadas (Gn 12,1-3);
b) Libertou este povo pelas mãos de Moisés: foi a Festa da Páscoa (Ex 14,5-31; 12,1-28);
c) Fez uma aliança com o povo (Ex 20,1-21; 24,1-11)
d) Fez o povo atravessar o deserto e deu-lhe a Terra Prometida (Js 6,1-21);
e) Deu-lhe rei: prometeu que de Davi veria o Messias salvador (2Sm 7,1-17);
f) Educou o povo pelos profetas e prometeu-lhe um futuro de bênção:
Is 1, 2-8: Deus denuncia o pecado e ameaça o povo
Is 7,10-14: Deus promete um Salvador
Jr 31,31-34: Deus promete uma nova aliança com o seu povo
Sf 3,14-18: Será tempo de alegria para o povo de Israel
Is 60,1-7: A glória do povo de Deus será glória para toda a humanidade

2 - Este é o tema central do Antigo Testamento. Todo o restante depende disto e somente poderá ser compreendido corretamente em ligação com este tema central.

VI - O tema do Novo Testamento

1 - Só pode compreender bem o Novo Testamento quem compreendeu bem o Antigo. No Novo Testamento as promessas de Deus se cumprem no seu Filho Jesus, o Salvador enviado pelo Pai para levar toda a humanidade à comunhão com Deus.

2 - O tema central do Novo Testamento é precisamente este: Deus enviou o seu Filho ao mundo para salvar a humanidade pela morte e ressurreição de Jesus. Cristo ressuscitado derramou o seu Espírito Santo sobre a Igreja e a humanidade para levá-las à comunhão plena com o Pai.
1Cor 15,1-5: o centro da Boa Nova transmitida pelo Novo Testamento;
At 2,29-33: o Pai ressuscitou Jesus e, por ele, nos deu o Espírito (cf. At 2,38)
Fl 2,5-11: a humilhação e a glória de Cristo para nossa salvação
Ef 1,3-14: o Plano de salvação (cf. Ef 2,14-18)
1Tm 2,1-7: o desígnio de Deus é a salvação de todos pelo Cristo
Rm 8: a vida do cristão no Espírito de ressuscitado

VII - Algumas observações importantes

1 - Deus, na Escritura, falou aos seres humanos de modo humano, de modo que para se compreender bem o que o Senhor quis comunicar, é necessário levar em consideração os diversos gêneros literários nos quais a Palavra de Deus foi redigida. É necessário, então, levar em conta certas regras teológicas de interpretação. Vejamos:

2 - Os gêneros literários: A verdade da Palavra de Deus é apresentada de um modo ou de outro, conforme se trate de gêneros históricos, proféticos, poéticos, etc. Estes gêneros devem ser compreendidos como eram usados e interpretados pelo povo de Israel e pela Comunidade cristã, caso contrário, vemos trair o sentido que o autor sagrado deu ao texto... e trairemos a Palavra de Deus!

3 - Os sentidos bíblicos: distinguem-se nas Escrituras quatro sentidos:
(a) Sentido literal: é aquele que o Autor quis dar ao texto.
(b) Sentido pleno: é o significado mais profundo do texto; escapa ao autor original e somente pode ser descoberto com o desenvolvimento da Revelação, especialmente à luz do Novo Testamento. Isto acontece porque Deus, ao inspirar o Autor, já conhece o futuro e já vê no texto uma mensagem implícita, enquanto o Autor humano só ver o alcance do texto no presente. Um bom exemplo são as profecias do Antigo Testamento sobre o Messias: para nós elas são claras, pois o Messias já veio; mas, para o Autor sagrado o sentido era o literal e ele não conseguia penetrar todo o alcance que agora temos.
(c) Sentido típico: verifica-se quando certos acontecimentos, intituições, pessoas, etc, por vontade de Deus, representam e prefiguram acontecimentos, instituições e pessoas do Novo Testamento. Por exemplo: a serpente de bronze erguida por Moisés (cf. Nm 21,8s) é imagem, tipo, de Cristo crucificado (cf. Jo 3,14), a passagem do Mar Vermelho é figura do Batismo (cf. 1Cor 10,2); o maná é figura da Eucaristia (cf. Jo 6).
(d) Sentido acomodatício: trata-se de dar às palavras da Escritura um sentido diferente daquele que o Autor tinha dado, devido certa semelhança entre a passagem bíblica e a sua aplicação. Este sentido é muito usado na Liturgia e na pregação. Por exmeplo: nas festas de Nossa Senhora, a liturgia usa textos que se referem à Jerusalém, ao Templo, à Sabedoria, acomodando-os à Virgem Maria.

4 - É necessário recordar ainda que para interpretar bem a Sagrada Escritura é necessário lê-la e com o mesmo Espírito Santo que a inspirou; lê-la na Comunidade eclesial, que, por excelência, é a Igreja católica. Uma interpretação da Bíblia contrária ao Magistério é certamente errada e levará a graves heresias. O juízo final sobre o modo de interpretar a Bíblia é dado pela Igreja, na voz do Sucessor de Pedro e dos Bispos em comunhão com ele. A esses - e somente a esses - o Senhor constitui pastores e guias de sua Igreja e a eles garantiu a assitência do seu Espírito Santo.

+++++

VIII - Alguns pontos polêmicos na prática

(a) A questão das imagens
Deus proíbe, no Antigo Testamento, a fabricação de imagens de ídolos:
- observe-se que o contexto das proibições é sempre o de afirmação do verdadeiro e único Deus (cf. Ex 20,2-5; Dt 4,15-20; 5,8-10);
- Deus não revela sua face, por isso proíbe que se façam imagens suas (cf. Dt 4,15s)
Quando as imagens não induzem à idolatria são permitidas:
- a serpente de bronze (cf. Nm 21,4-9; Jo 3,14)
- os querubins do propiciatório (cf. Ex 25,18ss)
- os leões e bois no templo (cf.1Rs 7,29)
- os doze touros do mar de bronze (cf. 1Rs 7,25)
No Novo Testamento, não há uma única proibição a respeito das imagens; critica-se, sim, a idolatria: "Filhinhos, guardai-vos dos ídolos" (1Jo 5,21) "Mortificai vossos membros terrenos... e a cupidez, que é idolatria" (Cl 3,5). No Novo Testamento, Deus mesmo, invísivel em si, tornou-se visível em Jesus Cristo:
- ele é a imagem do Deus invísivel (cf. 2Cor 4,4; Cl 1,15)
- quem o vê, vê o Pai (cf. Jo 14,9)
Seria preciso que existisse um texto que fosse do Novo Testamento para impugnar o uso de imagens. Apegar-se a esta proibição do Antigo Testamento (antes da Encarnação) é negar a realidade da Encarnação do Verbo: podemos fazer imagens do Cristo porque o Verbo se fez carne; podemos fazer imagens dos santos, porque ele trazem em si a imagem do homem novo, Cristo Jesus (cf. Rm 8,29; 1Cor 15,49). Foi por isso que a Igreja, no segundo Concílio de Nicéia, em 787, condenou como heresia a negação da validade do uso das imagens.

(b) Os irmãos de Jesus
O Novo Testamento refere-se várias vezes aos irmãos e irmãs de Jesus: Mt 12,46; 13,55s; Mc 3,31-35; Mt 12,46-50; Lc 8,19-21; Jo 2,12; 7,2-10; At 1,14; Gl 1,19; 1Cor 9,5.
“Irmãos” em hebraico e aramaico: “ha”, em aramaico significava parente em qualquer grau. Recordemos o sentido tribal da cultura judaica. O Antigo Testamento traz vários exemplos:
Gn 13,8; 14,14.16: O sobrinho de Abraão, Lot, é dito seu irmão
Gn 29,12.15: Jacó, sobrinho de Labão, declara-se seu irmão
Gn 31,23: os membros do clã de Labão são chamados seus irmãos
1Cr 23,21-23: “irmãos” usado claramente como “primos”
Podem-se ver ainda 1Cr 15,5; 2Cr 36,10; 2Rs 10,13; Jz 9,3; 1Sm 20,29.
A tradução grega da Sententa conserva "adelphós" (irmão) apesar de existir o vocábulo “primo”. Prefere conservar o sabor semita do texto original hebraico, que não conhecia a palavra "primo" e usava sempre "irmão".
Mas, quem são os irmãos de Jesus?
Tiago, Joset, Judas, Simão e as irmãs... (cf. Mt 13,55s)
Mc 15,40: ao pé da cruz, Maria, mãe de Tiago, o Menor e de Joset e Salomé
Mc 3,17s: Tiago, filho de Zebedeu, irmão de João e Tiago, filho de Alfeu
Assim, os pais dos irmãos de Jesus são, com toda probabilidade, Maria e Alfeu. Esta Maria é também chamada de Maria de Cléofas (cf. Jo 19,25). Cléofas e Alfeu são a mesma pessoa: Klopas é a forma grega do aramaico Claphai, enquanto Alphaios é a transcrição direta do Claphai aramaico. Assim, Alfeu ou Cléofas ou Clopas são a mesma pessoa.
Se Jesus tivesse irmãos, não teria deixado sua mãe com João, filho de Zebedeu (cf. Jo 19,25-27). Além do mais, os irmãos de Jesus nunca são ditos filhos de Maria.
Por que Maria está sempre com os irmãos de Jesus? Os costumes da época: Maria, com a morte prematura de José (a bíblia não o cita mais) e a saída de Jesus de sua casa para pregar o Evangelho, ficou uma mulher só. Ora, uma mulher de bem não andava sozinha na rua; por isso, a Virgem aparece quase sempre com os irmãos de Jesus, isto é, os homens da sua parentela, provavelmente pelo lado de José. Aliás, os primeiros escritores cristãos dizem isso claramente!
E o fato de se chamar Jesus “primogênito” (cf. Mt 1,25; Lc 2,7)? Em 1922 houveu ma interessante descoberta arqueológica: uma inscrição sepulcral do séc V aC, no Egito, de uma tal de Arsinoé, que morrera “nas dores do parto de seu filho primogênito”. A tal de Arsinoé só teve um filho, e era chamado "primogênito". Por quê? Porque sendo o primeiro, herdou os direitos da primogenitura. Quando o evangelho insiste que Jesus é o primogênito não significa que ele teve outros irmãos, mas sim que ele, como primogênito, herdou todos os direitos da Casa de Davi e, assim, é o Messias de Israel. A mesma coisa quando se diz que ele é "o Primogênito de toda a criatura" (Cl 1,15); não se está dizendo que ele é criatura, o primeiro a ser criado, mas que ele tem a honra de ser o sustentáculo, o princípio de toda criação.

(c) A Besta - 666 (Ap 13,18)
Alguns protestantes ignorantes e maldosos fazem o seguinte raciocínio: o Papa é o Vigário de Cristo; Cristo é o Filho de Deus; então o Papa é o Vigário do Filho de Deus (Vicarivs Filii Dei, em latim). Somando as letras da expressão latina, chega-se a 666. Também a expressão latina "Dux cleri" (Chefe do clero), que os protestantes inventaram para o Papa, dá 666. Então, eles dizem: o Papa é a Besta! Besta... besteira dos protestantes! Primeiro, o Apocalipse foi escrito em grego, não cabe a escrita latina; segundoé de notar que a soma de “Jesus de Nazaré”, em hebraico, também dá 666! Ellen Gould W(V + V)hite, fundadora dos Adventistas de Sétimo Dia, também perfaz 666; o mesmo vale para Christe, Fili Dei! O próprio vocábulo “besta” (therion, em grego), em hebraico tryvn daria 666.
 
Segundo os exegetas 666 corresponde a César Nero em caracteres hebraicos. Mas, o sentido mais profundo da identidade da Besta é o seguinte: seu número é 666. Ora, 6 é o número do homem, criado no sexto dia. 7 é o número da plenitude; 6 significa o qua ainda é imperfeito, o que ainda não é pleno: é 7-1! A Besta quer se fazer passar por Deus (777), mas ela não passa de homem, imperfeito, limitado... E o Apoclaipse manga mesmo: diz que ela é três vezes 6: 666, isto é, imperfeição total! A Besta é tudo aquilo que se arvora de um poder divino (os grandes do mundo, o mercado financeiro, os por satrs, os falsos profetas)... e não passam de pobres mortais...

(d) O primeiro dia como Dia do Senhor
Jo 20,19ss: o sábado dos judeus (shabat = descanso) celebrava a criação e a aliança, ambas depois marcadas pelo pecado. No primeiro Dia depois do sábado, Cristo fez novas todas as coisas, um novo céu e uma nova terra e consumou a nova aliança no Espírito Santo. Passaram a antiga criação e a antiga aliança: "Toda aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passaram-se as coisas antigas, eis que tudo se fez novo" (2Cor 5,17).
At 20,7: no primeiro dia após o sábado (no Domingo), os cristãos se reúnem para a Fração do Pão (a Eucaristia).
1Cor 16,2: a coleta feita no primeiro dia da semana porque era o dia em que os cristãos se reuniam.
Ap 1,10: o primeiro dia da semana chamado de Dia do Senhor: kyriaké heméra, isto é, Dia do Cristo Ressuscitado!
Cl 2,16-18: São Paulo previne os cristãos; eles não devem cair na onda de quem vem com histórias de guardar o sábado ou de distinguir entre comida pura e impura ou de práticas do Antigo Testamento... Tudo isso era apenas "imagem", "tipo", preparação para a verdadeira realidade, que é Cristo no seu corpo, que é a Igreja!

(e) Missa na Bíblia
O Senhor mandou celebrar a Eucaristia em sua memória (cf. Mt 26, 26-29; Mc 14,22-25; Lc 22,19s). Os primeiros cristãos celebravam a Eucaristia e chamavam-na Ceia do Senhor ou Fração do Pão (cf. 1Cor 11,23-25; At 2,42; 20,7.11; 27,35; 1Cor 10,6). Logo cedo foi unida à Fação do Pão a Liturgia da Palavra (cf. Lc 24,13-32; At 20,7-11). Há muitos documentos primitivos que narram como se celebrava a missa no século I da nossa era.

(f) Um esquema simples dos evangelhos
1) Os evangelhos não são biografias de Jesus, mas proclamação crente, emocionada, parcial (não imparcial, fria, neutra) de Jesus morto e ressuscitado: “... foram escritos para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome” (Jo 20,31).

2) Para Marcos, Jesus é o Messias, o Filho de Deus. Seu evangelho esquematiza-se assim:
Mc 1,1 traz o título e o programa da obra de Marcos: mostrar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus.
A - Mc inicia-se no deserto - lugar de combate, de tentação, de medo, de morte, habitação dos demônios... lugar da pregação de João Batista (1,2 - 13).
B - Depois, Jesus aparece na Galiléia. A crise da Galiléia é dramática: Jesus, que iniciou seu ministério com um enorme sucesso, enfrenta oposição sistemática dos chefes, do povo, dos familiares, dos apóstolos... por fidelidade ao Pai, não muda seu procedimento (1,14 - 7,23).
C - Jesus deixa a Galiléia para preparar seus discípulos. Depois, sobe para Jerusalém. É o momento das grandes exigências para quem desejasse segui-lo (7,24 - 10,52). Aqui dá-se o primeiro ponto alto do Evangelho: Tu és o Messias... mas um messias sofredor (8,27-38).
B’ - O ministério de Jesus em Jerusalém: insiste no que ensinou na Galiléia: ele é o Messias, que age com autoridade, é o Filho de Davi, e nele o mundo e Jerusalém serão julgados - portanto, é necessário vigiar com ele (11,1 - 13,37).
A’ - A paixão e morte: o sepulcro vazio (conclusão original de Mc). Como o deserto, o sepulcro é lugar da provação da morte, dos demônios, de medo... lugar de gestação da Ressurreição (14,1 - 16,8). Aqui dá-se o segundo ponto alto de Mc: Verdadeiramente este era o Filho de Deus (15,39). A cruz é o lugar do reconhecimento de Cristo! A Igreja acrescentou 16,9-20 para explicitar aquilo que Mc deixara implícito: o sepulcro vazio é sinal de vitória.
O Jesus de Marcos fala pouco: o Evangelho é a própria pessoa de Jesus: suas palavras, gestos, opções, sentimentos, sua vida. Ser cristão, para Marcos, é seguir Jesus no caminho para Jerusalém, com ele morrer e com ele ressuscitar.

3) Mateus apresenta Jesus como o novo Moisés. Sua obra é articulada em cinco partes, recordando os cinco livros de Moisés. Além dos dois primeiros capítulos narrando a infância de Jesus e a Páscoa, eis as cinco partes do corpo do evangelho:
I - Parte narrativa (caps. 3 - 4)
Discurso da montanha (caps. 5 - 7)
II - Parte narrativa (caps. 8 - 9)
Discurso apostólico (cap. 10)
III - Parte narrativa (caps. 11- 12)
Discurso das parábolas (cap. 13) sete parábolas do Reino: centro do evangelho
IV - Parte narrativa (caps. 14 - 17)
Discurso sobre a Igreja (cap. 18)
V - Parte narrativa (caps. 19 - 23)
Discurso escatológico (caps. 24 - 25)

4 ) Para Lucas, basta observar o seguinte: Jesus é apresentado como o Salvador universal. Jesus é apresentado como Messias pobre, orante, misericordioso com os pecadores, conduzido pelo Espírito Santo.
O evangelho é apresentado como uma longa subida para Jerusalém, onde Jesus morrerá e ressuscitará: segui-lo é ser cristão. A subida inicia-se em Lc 9,51 e de modo solene: “Quando se completaram os dias de sua assunção (= de seu êxodo, de seu arrebatamento), ele tomou resolutamente o caminho de Jerusalém”.

5) João é o único evangelista que não estrutura sua obra como uma subida para Jerusalém. Para ele, Jesus é o Lógos revelador do Pai; é a luz que ilumina o homem com o esplendor de Deus: só o Filho viu o Pai e só ele o pode dar a conhecer. A estrutura de João é simples:
Jo 1,1-18: o Prólogo, que resume os temas do evangelho;
Jo 1,19 - 12,50: o Livro dos Sinais: Jesus realiza sete sinais que revelam quem ele é. Além dos sinais, há longos discursos que revelam a identidade de Jesus: eu sou a porta, eu sou o bom pastor, eu sou o camainho, eu sou a vida, etc.
Jo 13 -21,25: o Livro da Glória: para João a cruz e ressurreição são a hora da Glória do Filho.
Alguns pontos interessantes de João: a dependência total de Jesus em relação ao Pai; e a preocupação sacramental (o Batismo - cap. 3 - e a Eucaristia - cap. 6). O Evangelho de João, apesar de profundamente teológico é também profundamente sensível à história.

IX - Conclusão

Quis, nesta pequena apostila, apresentar algumas coordenadas para ajudar na leitura e compreensão da Sagrada Escritura. Vale a pena lê-la e meditá-la com fé, mas sempre unidos à fé da Igreja. A Bíblia não é para interpretação privada. Somente na Igreja católica ela é plenamente viva e corretamente interpretada: "Antes de mais nada, sabei isto: que nenhuma profecia da Escritura resulta de umai nterpretação particular, pois que a profecia jamais veio por vontade humana, mas homens, impelidos pelo Espírito Santo, falaram da aprte de Deus" (2Pd 1,20s). Agora, é tomar a Palavra e devorá-la com fé e amor, guiados pelos Santo Espírito.

Para citar
COSTA, Dom Henrique Soares da. A Sagrada Escritura. Disponível em <http://www.domhenrique.com.br/index.php/estudos-biblicos/343-a-sagrada-escritura> Desde 08/05/2009