domingo, 7 de fevereiro de 2016

O Sacramento da Eucaristia – III

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O Sacramento da Eucaristia – III
Dom Henrique Soares da Costa, Bispo de Palmares (PE).
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Já vimos, de modo geral, o que é a Eucaristia. Vimos também os vários nomes que são dados a este Sacramento e seus vários significados. Agora vejamos como ele está presente na Sagrada Escritura.

Já durante o seu ministério público, o Senhor Jesus foi dando indicações daquilo que depois seria este santo Sacramento. Vejamos algumas, mais significativas.

Primeiramente dois sinais particularmente importantes, realizados pelo Senhor: ele transformou água em vinho e multiplicou os pães. Mais ainda: várias vezes comparou o Reino de Deus a um banquete. Sobretudo em Jo 6,51ss, as palavras de Cristo são bem claras: “Eu sou o pão descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo. Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem em ao beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, pois minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida. Assim como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo pelo Pai, também aquele que come de mim, viverá por mim”. O texto não permite pensar em metáforas; trata-se, ao invés, de algo real, concreto: o pão e o vinho eucarísticos são, realmente, o corpo e o sangue do Senhor. Por isso mesmo, os evangelhos, quando narram a multiplicação dos pães, usam sempre as mesmas palavras para indicar os gestos de Jesus na Última Ceia: ele tomou o pão, deu graças, partiu e distribuiu (cf. Mt 14,13-21; Lc 9,10-17; Jo 6,1-13; Mc 8,1-10). A Eucaristia, já preparada pelo Cristo, foi por ele instituída na Última Ceia: aí o Senhor deu à Igreja o mandamento do amor – ele mesmo, que nos amou até o extremo da cruze da sepultura e se colocou como modelo e medida do amor. E para deixar o sacramento, o penhor desse amor mais forte que a morte, instituiu a Eucaristia como memorial de sua morte e ressurreição, de sua entrega amorosa, pascal! Assim, no momento de fazer sua Passagem (= Páscoa) do mundo para o Pai através de sua entrega de amor na cruz, o Cristo Jesus deixou para a sua Igreja o sacramento de sua Páscoa de amor: o sacrifício eucarístico! Cumpriu-se, assim, a Páscoa dos judeus, que era memorial da passagem da escravidão de morte no Egito para uma libertação de vida na Terra Prometida. Jesus deu à Páscoa dos judeus seu significado definitivo: a nova Páscoa, Páscoa de Jesus, foi antecipada na Ceia, é continuamente celebrada na Eucaristia, que leva a cumprimento a Páscoa judaica e antecipa a Páscoa final da Igreja, quando passaremos deste mundo para o Pai com Jesus e por causa de Jesus.

É interessante observar já aqui que a instituição da Eucaristia por Cristo dá-se no contexto, no clima, de entrega e sacrifício de sua vida: “É o meu corpo, que será entregue; é o meu sangue, que será derramado”... Finalmente, o Senhor ordena que a Igreja celebre o seu gesto até que ele venha (cf. 1Cor 11,26). Foi isto que a Igreja sempre fez ao celebrar a Eucaristia. O Novo Testamento nos dá muitíssimos exemplos disso. Desde o início, a Igreja foi fiel à Fração do Pão (cf. At 2,42.46). Sobretudo no primeiro dia da semana, aquele dia que o Apocalipse chama já de Dia do Senhor (cf. 1,10), os cristãos se reuniam para partir o pão: “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos para a Fração do Pão, Paulo entretinha-se com eles...” (At 20,7). Este texto é importante. Aqui aparece a Celebração eucarística aos domingos, logo no início do cristianismo. Aquilo que a Igreja faz hoje – celebrar dominicalmente a Eucaristia -, sempre fez, desde a época apostólica, por ordem do Senhor Jesus! Assim, como diz o Catecismo da Igreja, “de celebração em celebração, anunciando o mistério pascal de Jesus, ‘até que ele venha’ (1Cor 11,26), o Povo de Deus avança, caminhando pela estrada da cruz, rumo ao banquete celeste, quando todos os eleitos haverão de sentar-se à mesa do Reino” (n. 1344).

Para ilustrar o que dissemos, baste-nos, por agora, o profundo texto de São Paulo, em sua primeira Epístola aos Coríntios: “Eu mesmo recebi do Senhor o que vos transmiti: na noite em que foi entregue o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória (= memorial) de mim’. Do mesmo modo, após a ceia, também tomou o cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova Aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória (= memorial) de mim’. Todas as vezes, pois, que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” (1Cor 11,23-26). Um pouco mais tarde, lá pelo ano 155, São Justino, mártir cristão, explicaria ao Imperador romano, Antonino Pio: “No dia chamado ‘do Sol’ (= é o domingo cristão), reúnem-se todos juntos, habitantes das cidades e dos campos. São lidas as memórias dos Apóstolos (= nossos evangelhos atuais e os outros livros do Novo Testamento) e os escritos dos profetas (= o Antigo Testamento), tanto quanto o tempo permite. Depois, quando o leitor termina, aquele que preside nos admoesta e nos exorta a imitar esses bons exemplos. Depois, todos juntos, nos colocamos em pé e elevamos orações seja por nós mesmos, seja por todos os outros, onde quer que se encontrem... Terminadas as orações (= oração dos fiéis), saudamo-nos uns aos outros com um beijo. Depois, são trazidos àquele que preside um pão e um cálice de água e vinho. Ele os toma e eleva o louvor e glória ao Pai do universo em nome do Filho e do Espírito Santo e faz uma ação de graças (= em grego, ‘eucaristia’. É a atual Oração eucarística) para que esses dons sejam dignos de Deus. Quando ele termina as orações e a ação de graças (= a Oração eucarística), todo o povo presente aclama: ‘Amém’. Depois que o que preside fez a ação de graças e todo o povo aclamou, aqueles que nós chamamos diáconos distribuem a cada um dos presentes o pão e o vinho com água ‘eucaristizados’ e os levam aos ausentes...”

Que coisa linda! Dois mil anos se passaram e a Igreja de Cristo, fidelíssima à Tradição Apostólica, continua fazendo o que sempre fez: celebrando a Eucaristia até que venha o seu Senhor!

Fonte:
Dom Henrique Soares da Costa. O Sacramento da Eucaristia – III. Disponível em < http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/eucaristia/182-o-sacramento-da-eucaristia--iii> Desde 29 de Dezembro de 2008.

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