segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O Sacramento da Eucaristia – V

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O Sacramento da Eucaristia – V
Dom Henrique Soares da Costa, Bispo de Palmares (PE).
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Nos últimos dois tópicos, vimos textos da Escritura que tratam da Eucaristia. Agora, veremos alguns textos da Igreja antiga, que mostram bem o quanto a Comunidade cristã sempre celebrou e viveu o Sacramento do corpo e do sangue do Senhor.

Santo Inácio de Antioquia, mártir de Cristo, lá pelos anos 90 do século I da era cristã, aconselhava aos Efésios: “Procurai, pois, reunir-vos com mais freqüência, para dar a Deus a ação de graças (= Eucaristia) e louvor. Porque quando vos congregais com freqüência num mesmo lugar, quebram-se as forças de Satanás”. Para o santo bispo de Antioquia, a Eucaristia, único corpo do Senhor, é sacramento (= sinal eficaz) da unidade da Igreja. Aos filadélfios, ele exortava: “Esforçai-vos, portanto, para usar uma só Eucaristia, pois uma só é a carne de nosso Senhor Jesus Cristo e um só é o cálice que nos une no seu sangue, um só altar, como um só Bispo junto com o presbitério e com os diáconos”. Sendo conduzido preso para Roma para ser jogado às feras por causa de Cristo, Santo Inácio assim escrevia aos romanos: “Não sinto prazer pela comida corruptível nem pelos deleites desta vida. Quero o pão de Deus, que é a carne de Jesus Cristo e por bebida, quero o sangue dele, o qual é a caridade incorruptível”.

Um outro belo testemunho encontra-se na Didaqué, que é o primeiro catecismo da Igreja, escrito lá pelo final do século I. Com palavras que hoje emocionam qualquer católico, o autor, no início do cristianismo, orienta os cristãos sobre o modo de celebrar o Sacramento da Missa: “No que concerne à Eucaristia, celebrai-a da seguinte maneira: primeiro sobre o cálice, dizendo: ‘Nós te damos graças (eucharistoumen = te fazemos eucaristia), nosso Pai, pela santa vinha de Davi, teu servo (= a vinha é a Igreja, Davi é o Cristo), que tu revelaste por Jesus, teu servo. A ti a glória pelos séculos! Amém’. Sobre o pão a ser fracionado: ‘Nós te agradecemos, nosso Pai, pela vida e pelo conhecimento que nos revelaste por Jesus, teu servo. A ti a glória pelos séculos. Amém. Ó Pai, da mesma maneira como este pão partido primeiro fora semeado sobre as colinas e depois recolhido para tornar-se um, assim, das extremidades da terra seja unida a tua Igreja em teu Reino!’ Ninguém coma nem beba de vossa Eucaristia, se não estiver batizado em nome do Senhor. Pois a respeito dela o Senhor disse: ‘Não deis aos cães as coisas santas!’” Observemos como neste texto a Eucaristia aparece como ação de graças ao Pai por Jesus e como o Sacramento que reúne a Igreja na unidade. Mais adiante, ainda na Didaqué, o autor recomenda: “Reuni-vos no Dia do Senhor (= Domingo, Dies Domini) para a Fração do Pão e celebrai a Eucaristia, depois de haverdes confessado vossos pecados, para que vosso sacrifício seja puro. Mas todo aquele que vive em discórdia com o outro, não se junte a vós antes de se ter reconciliado, a fim de que vosso sacrifício não seja profanado. Com efeito, deste sacrifício disse o Senhor: ‘Em todo o lugar e em todo o tempo se me oferece um sacrifício puro, porque sou um grande rei – diz o Senhor – e o meu nome é admirável entre todos os povos!’” É emocionante ver um texto do primeiro século cristão que exprime a fé da Igreja apostólica e perceber que ainda hoje, dois mil anos depois, a Igreja de Cristo permanece fiel à fé de nossos antepassados: no Domingo, os cristãos participavam da Eucaristia, sabendo que ela é o sacrifício do Senhor Jesus! Dá pena ver tantas e tantas seitas cristãs que, abandonando a fé católica, recebida desde o início, mutilaram tristemente a fé transmitida pelos Apóstolos!

Num outro artigo sobre a Eucaristia, já citei um belíssimo texto de São Justino, mártir, que lá pelo ano 155, explicava como se celebrava este Sacramento. Agora, cito ainda um texto seu. Vele a pena! “Este alimento é chamado entre nós de Eucaristia, do qual a nenhum outro é permitido participar, senão a quem crê que nossa doutrina é verdadeira e que foi purificado com o Batismo para o perdão dos pecados e para a regeneração e que vive como Cristo nos ensinou. Porque estas coisas, nós não as tomamos como pão comum nem bebida comum, mas assim como o Verbo de Deus, havendo-se encarnado em Jesus Cristo, nosso Salvador, tomou carne e sangue para nossa salvação, assim também nos foi ensinado que o alimento eucaristizado mediante a palavra da oração que vem dele... é a carne e o sangue daquele Jesus que se encarnou!” Notemos como aparece claríssima a convicção de que o pão e o vinho eucaristizados (= consagrados) são verdadeiramente corpo e sangue do Senhor!

Também Santo Irineu, o grande Bispo de Lião, na Gália do século II, tem palavras belíssimas sobre a Eucaristia. Tomemos algumas. No primeiro texto, combatendo os hereges gnósticos, que negavam a ressurreição, avós do espiritismo e da Nova Era, ele usa a Eucaristia como prova de que os mortos ressuscitam carnalmente. Eis: “Como (os hereges) podem dizer que a carne se corrompe e não participa da vida (= não ressuscita), ela que é alimentada com o corpo e sangue do Senhor? Portanto (os hereges), ou mudem de opinião ou deixem de oferecer as ditas coisas (= o pão e o vinho eucarístico, que eles ofereciam nas missas deles). Para nós, contudo, nossa crença concorda com a Eucaristia e a Eucaristia, por sua vez, confirma a nossa crença. Porque assim como o pão que é da terra, recebendo a invocação de Deus (= quando o padre impõe as mãos pedindo o Espírito Santo e pronunciando as palavras da consagração), já não é pão ordinário, mas sim Eucaristia, assim também nossos corpos, recebendo a Eucaristia, não são mais corruptíveis, mas possuem a esperança da ressurreição para sempre!” Este texto é de uma beleza e de uma profundidade impressionantes! Santo Irineu garante: nós ressuscitaremos e já recebemos a garantia da ressurreição, que é a Eucaristia. O pão, depois de consagrado, é o corpo do Senhor, é pão de vida, assim, nossa carne que recebe a carne ressuscitada de Cristo, cheia do Espírito Santo, não permanecerá na morte, mas ressuscitará, exatamente como Jesus prometera: “quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia!” (Jo 6,54).

Ainda um texto de Santo Irineu, para fazer corar de vergonha qualquer um que nogue que nossa carne ressuscitará: “quando pois, o cálice misturado (com água) e o pão recebem o Verbo de Deus e se fazem Eucaristia, Corpo de Cristo, com o qual a substância de nossa carne aumenta e se faz, como podem dizer que nossa carne não é capaz do dom de Deus, que é a vida eterna, a carne alimentada com o corpo e o sangue do Senhor e feita membro dele?” A questão colocada aqui por Santo Irineu é clara: como é que os hereges têm coragem de dizer que nossa carne, nosso corpo, não pode ressuscitar, não pode herdar a vida eterna, se ela é alimentada com a Eucaristia? A Eucaristia é, portanto, penhor de nossa ressurreição. É por isso que nossa Mãe católica tem tanto cuidado e pede tanto aos padres que assistam os doentes às portas da morte, para que eles recebam em viático a comunhão. Aí, o padre diz ao que está morrendo: “O corpo de Cristo te guarde para a vida eterna!” Que coisa, que graça: morrer alimentando-se com a Vida que vence a morte; morrer unido – carne na carne! – Àquele que destruiu a morte! Santa Eucaristia!

Ainda continuaremos...

Fonte:
Dom Henrique Soares da Costa. O Sacramento da Eucaristia – V. Disponível em < http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/eucaristia/180-o-sacramento-da-eucaristia--v> Desde 29 de Dezembro de 2008.

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