segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

O Sacramento da Eucaristia – VII

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O Sacramento da Eucaristia – VII
Dom Henrique Soares da Costa, Bispo de Palmares (PE).
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Já vimos vários aspectos do sacramento da Eucaristia. Há ainda muito para ser visto. É assim mesmo: quando o mistério é grande demais, nossas palavras e idéias tornam-se tão pobres para exprimi-lo!

No presente artigo, veremos que a Eucaristia é realmente o sacrifício de Cristo. Trata-se de uma convicção presente na fé da Igreja e, no entanto, foi infelizmente contestada pelos Reformadores protestantes. Vamos seguir o Catecismo da Igreja Católica.

Recordemos: Cristo instituiu a Eucaristia na véspera de seu sacrifício e num clima sacrifical: “É o meu corpo, entregue por vós; é o meu sangue por vós derramado!” Assim, na Eucaristia, é o próprio Cristo, na sua entrega, no seu sacrifício, que se oferece ao Pai por todos nós. Mas, como poder ser isso? A Carta aos Hebreus diz claramente que Jesus se ofereceu por nós uma vez por todas: “Cristo não precisa, como os sumos sacerdotes, oferecer sacrifícios a cada dia, primeiramente por seus pecados e depois pelos do povo. Ele já o fez uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo” (Hb 7,27). “Ele entrou uma vez por todas no Santuário, não com o sangue de bodes e de novilhos, mas com o próprio sangue, obtendo uma redenção eterna” (Hb 9,12). “Cristo (...) entrou no próprio céu, a fim de comparecer agora diante da face de Deus a nosso favor. E não foi para oferecer-se a si mesmo muitas vezes, como o Sumo Sacerdote que entra no Santuário cada ano com sangue de outrem” (Hb 9,24s). “Cristo foi oferecido uma vez por todas para tirar os pecados da multidão” (Hb 9,28b). “Somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas. De fato, com esta única oferenda, levou à perfeição, e para sempre, os que ele santifica” (Hb 10,10.14).

Como, pois, podemos afirmar que a Eucaristia celebrada continuamente pela Igreja até que o Senhor venha, é o sacrifício de Cristo? Recordemos, primeiramente, o que já foi dito sobre o memorial bíblico: este não é somente a recordação ou a repetição dos acontecimentos do passado, mas a proclamação da ação salvadora de Deus. Foi assim com a Páscoa dos judeus; assim também com a Páscoa de Cristo: cada vez que a Igreja celebra a Eucaristia, ela faz memorial do sacrifício do seu Senhor, isto é, torna-se presente sobre o Altar, na potência do Espírito Santo, que supera o tempo e o espaço, o único, irrepetível e eterno sacrifício do Senhor morto e ressuscitado! Assim, quando a Comunidade eclesial faz memorial da Páscoa do Cristo e esta se torna presente nos tempos do nosso tempo, da nossa vida, é o próprio sacrifício do Cristo oferecido uma vez por todas, sua oferta amorosa e eterna ao Pai, que permanece sempre presente e atual na nossa vida. Por isso, a Igreja ensina que toda vez que o sacrifício da cruz, com o qual Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado, é celebrado sobre o Altar, realiza-se a obra da nossa redenção. No sacrifício eucarístico, Cristo nos dá o mesmo Corpo que entregou por nós na cruz e o mesmo Sangue que derramou por todos, para a remissão dos pecados. Assim, a Eucaristia torna presente (= re-presenta) o sacrifício da cruz, pois é seu memorial. Eis o ensinamento do Concílio de Trento: “Cristo, Deus e Senhor nosso, mesmo tendo se imolado a Deus Pai uma só vez morrendo sobre o altar da cruz para realizar uma redenção eterna, porque, todavia, o seu sacerdócio não deveria extinguir-se com a morte (Hb 7,24.27), na última Ceia, na noite em que foi entregue, ele quis deixar à Igreja, sua amada Esposa, um sacrifício visível, como exige a natureza humana, com o qual fosse aquele sacrifício cruento que ele ofereceu uma vez por todas sobre a cruz, prolongando sua memória até fim do mundo (1Cor 11,23) e aplicando a sua eficácia salvífica para a remissão dos nossos pecados cotidianos”. Assim, o sacrifício da cruz e o sacrifício da Missa são um único sacrifício. Como ensina ainda o Concílio de Trento: “Trata-se, com efeito, de uma só e idêntica vítima e o mesmo Jesus se oferece pelo ministério dos sacerdotes, ele que um dia se ofereceu a si mesmo na cruz. Neste divino sacrifício, que se realiza na Missa, está contido e imolado de modo incruento o mesmo Cristo que se ofereceu uma só vez de modo cruento no altar da cruz”.

Este sacrifício, oferecido pelo Cristo ao Pai, é também sacrifício da Igreja, já que esta é Corpo de Cristo, e ele é Cabeça do Corpo eclesial. Com ele, a Igreja se oferece toda inteira ao Pai na unidade do Espírito Santo, e se une à eterna intercessão dele, que é o único mediador entre Deus e os homens. Assim, é toda a Igreja que é unida à oferta e intercessão de Cristo! E quando eu digo Igreja, refiro-me à Igreja da terra, que peregrina rumo à Pátria, à Igreja que se purifica e à Igreja da Glória, com a Virgem e todos os anjos e santos!

Veremos, no próximo tópico, que a Eucaristia é, também, banquete, é presença real de Cristo e faz a unidade da Igreja.

Fonte:
Dom Henrique Soares da Costa. O Sacramento da Eucaristia – VII. Disponível em < http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/eucaristia/178-a-eucaristia-vii> Desde 29 de Dezembro de 2008.

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