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O
Sacramento do Matrimônio - II
Dom Henrique Soares da
Costa, Bispo de Palmares (PE).
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O matrimônio – IV
Nos artigo passados, sobre o matrimônio, vimos
que o casal cristão, no sacramento, recebe a graça do Espírito Santo do Cristo
Jesus para viverem sua vida conjugal de tal modo a ser sinal do amor entre
Cristo-Esposo e a Igreja-Esposa. Isso mesmo: o ideal de esposo cristão é
Cristo, que amou sua Igreja e se entregou por ela. O ideal de esposa cristã é a
Igreja que ama e segue o Esposo Jesus, chegando mesmo a derramar seu sangue nos
momentos de perseguição e martírio. É esta aliança de amor – aliança que
somente pode ser vivida na fé – que marido e mulher cristãos vivem em sua vida.
Vimos também que precisamente desse fato
decorrem três importantíssimas características do matrimônio cristão: a fidelidade
(como Cristo e a Igreja são fiéis um ao outro, assim também esposo e esposa
devem ser totalmente um para o outro: “Meu amado é para mim e eu sou para o meu
amado” - Ct 2,16; 6,3), a indissolubilidade (como Cristo selou com sua
Igreja uma aliança nova e eterna, indestrutível, assim a aliança do casal
cristão somente pode ser desfeita pela morte) e a fecundidade (como o
amor entre o Cristo e a Igreja nos gerou na pia batismal, assim o amor conjugal
deve ser fecundo, aberto à vida).
Agora, no presente artigo, vamos aprofundar um
pouco mais a questão da indissolubilidade. São tantas perguntas: não é algo
irreal, um peso desumano? Quem pode prometer amor para sempre? E quem fracassou
no seu matrimônio, não teria direito a uma segunda chance? E os casais cristãos
de segunda união?
Antes de tudo é preciso ter muito cuidado para
não tomar como medida de nossa avaliação as modas e os modos de pensar do mundo
atual. O parâmetro último do viver e do agir do cristão é o Evangelho crido,
vivido e anunciado pela Igreja nesses dois mil anos com a assistência do
Espírito Santo. Se esquecermos isso, se não tivermos presente que o viver
cristão é marcado pelo mistério da fé no Filho de Deus que nos amou e se
entregou por nós e nos convida a segui-lo, então, já não seremos mais cristãos.
Não é a opinião pública, não são os costumes em vigor, não é a moral da Marta
Suplicy, do Gugu, da Xuxa, da Hebe ou das novelas da Globo que pode ser, para
nós, o critério do certo e do errado. Vale aqui, logo de início, a advertência
de São Paulo:
Exorto-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a
que ofereçais vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus: este é
o vosso culto espiritual (= culto no Espírito Santo). E não vos conformeis com
este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim de poderdes
discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e perfeito (Rm
12,1-2).
Pois bem, tendo bem claro que vamos refletir à
luz da fé, vamos em frente!
A indissolubilidade é uma característica do
matrimônio não porque a Igreja queira ou decrete. É determinação do próprio
Cristo Jesus:
Eu vos digo que todo aquele que repudiar a sua
mulher e desposar uma outra, comete adultério (Mt 19,9).
E Jesus explica que, desde o princípio, o plano
de Deus para o amor humano é que os dois, marido e mulher, fossem uma só carne,
de tal modo que “o homem não deve separar o que Deus uniu” (Mt 19,6). Jesus
explica também que o divórcio é sempre uma fraqueza (= uma dureza de coração) e
que, se na Antiga Aliança, ele era admitido, agora, na Aliança Nova e
definitiva, ele não pode ser aceito, já que o Cristo vem para restaurar todas
as coisas e levar à plenitude o plano original de Deus, aquele plano de amor
que Deus concebeu desde o princípio: “No princípio não era assim...” não havia
divórcio... De que princípio Jesus fala? Do “princípio”, quando Deus criou o
céu e a terra (cf. Gn 1,1), daquele princípio eterno, quando ele, Verbo eterno
estava com o Pai (cf. Jo 1,1ss). Na nova criação, livre do pecado, na criação
renovada por Cristo, no coração do homem novo, não deveria haver lugar para a
dilaceração e a negação do amor, já que o cristão é chamado a amar como Jesus,
amar até dar a vida! Não há maior prova de amor! Amai-vos, como eu vos amei!
(cf. Jo 13,34s). Este amor, que deve ser o fundamento do matrimônio cristão, é
o amor do homem e da mulher renovados em Cristo, vivificados pelo Espírito de
Cristo, alimentados pela oração e a Eucaristia... um amor vivido como propõe
São Paulo no capítulo 13 da Primeira aos Coríntios... E logo de cara temos um
problema seríssimo do ponto de vista prático: tantos e tantos e tantos casais
(e tantos mais a gente colocasse aqui!) pedem o sacramento do matrimônio, o
matrimônio cristão, sem um mínimo de vida cristã, sem um mínimo de consciência
que casar como cristãos requer viver o amor como cristãos! Que fazer? É um
problema espinhoso...
Do ponto de vista da fé e do coração humano, a
indissolubilidade não deveria ser um peso. O amor, por si mesmo, tende a ser
perene, indissolúvel. Pensemos: ninguém diz: “Eu te amo por enquanto!” ou “Eu
te amor enquanto der certo!” ou ainda “Eu te amor sob tais e tais condições!”
Isso seria dizer “Eu não te amo!” Como dizia o poeta, amar é verbo
intransitivo: dizemos: “Eu te amo”, ponto e basta! E “eu te amo” quer dizer: “Eu
te amor e te amarei sempre e em todos os momentos; amo-te sem condições, amo-te
de modo absoluto!” É este o desejo do coração humano, é este o sonho de todos
nós... sonho que o mundo atual procura ridicularizar, achando que é bobagem, e
sonho vazio. Para o mundo, certo estava o Vinícius de Moraes que, falando do
amor, dizia: “Que seja eterno enquanto dura!” Ora, um amor assim não é amor, é
engano! A frase do Vinícius vale bem para a paixão, não para o amor! E aqui é
necessário alguns esclarecimentos preciosos: amor não é paixão, amor não é
sentimento, amor não pode ser fundamentar no sentimento! Vamos explicar bem
tudo isso... no próximo número dO SEMEADOR. Até lá!
Fonte:
Dom
Henrique Soares da Costa. O Sacramento do Matrimônio - II. Disponível em <
http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/matrimonio/201-o-sacramento-do-matrimonio-i>
Desde 29 de Dezembro de 2008.

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