segunda-feira, 3 de outubro de 2016

"A Missa não é minha, não é propriedade pessoal, a Missa é da Igreja e eu sou apenas um servidor."

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"A Missa não é minha, não é propriedade pessoal, a Missa é da Igreja e eu sou apenas um servidor."
Padre Demétrio Gomes
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Quantas vezes nós queremos agradar aos homens e inventamos "Missa balada..." Missa balada? Que é isso?

"A gente vai fazer uma Missa diferente hoje... Vamos reunir a equipe de liturgia e fazer uma Missa mais legal para os jovens... Vamos colocar aqui um globo girando, luzes coloridas e, a nossa Missa vai ser uma Missa que vai estar cheia de jovens que vão se aproximar para encontrar ali na ‘Missa balada’ a Deus".

Olha, se eu fosse um jovem do mundo e quisesse ir a uma balada de verdade, eu não iria para a Igreja procurar isso, eu procuraria no mundo. Mas se eu vou a Igreja eu quero encontrar a Missa da Igreja e não a Missa da balada, não a Missa do mundo, pois o mundo não pode entrar na Igreja, mas a Igreja deve influenciar positivamente o mundo!

Querer agradar aos homens é querer desagradar a Deus. A Liturgia não é minha, a Missa não é minha, não é propriedade pessoal, a Missa é da Igreja e eu sou apenas um servidor. Obediência sacerdotes, obediência equipes de liturgia, pois a Missa não é nossa, nós não fazemos nada, nós recebemos da Mãe Igreja! Sabe o que podemos fazer, quando muito? Um bezerro de ouro. É isso que os homens fazem: Ídolos!

Quando Moisés subiu ao monte para estar ali diante de Deus face a face, o povo de Israel ficou impaciente com a espera, e impaciente por esperar a Deus que se manifestaria, criam o seu próprio Ídolo, o seu próprio bezerro de ouro. É isso que nós fazemos, quando transformamos a Missa em propriedade nossa.

Quantos liturgistas, aqueles que estudam (teoricamente) a teologia litúrgica, as celebrações litúrgicas da Igreja, falam palavras semelhantes a essas: "Nós temos que transformar a liturgia em algo mais popular, a liturgia do povo!" "A liturgia do povo!" -Enchem a boca para falar- "nós não estamos em Roma, nós estamos no Brasil, e no Brasil nós precisamos ter a liturgia do povo".

E o que é liturgia do povo? É transformar um pouquinho para que ela se adapte a nossa realidade. “Para que usar nomes como corporal, cálice, patena? Não, vamos usar coisas mais do nosso dia a dia. Por que ao invés de cálices não usamos copos descartáveis, pois é o que o povo usa? Por que ao invés de usar corporais nós não usamos guardanapos, seria algo tão mais simples para utilizar nas Missas?” E nós vamos transformando a Missa numa espécie de jantar em nossa casa, e a Missa já não nos leva para o Céu, pois ela se tornou tão do povo, tão do povo que ela já não é liturgia de Deus, ela já não me aponta o Céu, ela se converteu em algo humano, demasiadamente humano.

Na carta de Pero Vaz de Caminha, quando ele relata a Corte Portuguesa que ele encontrou aqui no Brasil, ele fala sobre a primeira Missa no Brasil, e ele diz que enquanto se preparou tudo, paramentos, o Altar, os cantos para celebrar a primeira Missa aqui na terra de Santa Cruz, enquanto os Sacerdotes celebravam e faziam os gestos da Missa, falando em Latim, um grupo de índios que estavam ali presentes -isso quem quiser ver depois na carta de Pero Vaz de Caminha, é bem interessante e muito belo- imitavam todos os gestos do Sacerdote: Se o Padre levantava a mão ou abria a mão, os índios faziam igual, se o Padre fazia genoflexão, os índios genofletiam também... Aí chegou durante a Missa um outro grupo de índios, que não estavam ali presentes, e começaram a conversar entre si, e parece que esse grupo que chegou alguém dentre eles perguntou ao grupo que lá estava: “O que está acontecendo aqui?” “O que é isso?” E os índios que estavam na Missa apontavam o Altar e apontavam o Céu, o Altar e o Céu! Aqueles homens não sabiam nada de Latim, aqueles homens não sabiam nada de liturgia da Igreja, mas aqueles homens, que eram simples, sabiam que ali estava acontecendo alguma coisa misteriosa que unia o Céu e a terra. É isso que é a Missa, a Missa não pode se tornar algo comum, a Missa é extraordinária, é o Céu e a terra que se fundem, e só as almas simples contemplam isso, os liturgistas são incapazes de perceberem essa maravilha!

É por isso que o Padre coloca uma roupa diferente, porque ele não está vivendo algo do seu dia a dia, algo trivial, algo comum. É por isso que as palavras são diferentes, é por isso que os cantos são diferentes, por que ali se realiza algo diferente, não é humano, é de Deus, é do Céu!

Nós não podemos converter os nosso presbitérios em palcos de shows, ali acontece a ação mais Sagrada e Transcendente da história dos homens. Não existe nada na terra mais importante do que a Missa, os homens devem perceber o Sagrado que se atualiza pela voz, pelos gestos, por atos pequenos dos Sacerdotes, pois nesses atos ele manifesta o seu amor ao sublime mistério de Deus.

Em resumo, o que nós precisamos é de obediência aquilo que a Igreja pede, é de nos convencermos que na Missa o protagonista não é o Sacerdote, o Protagonista é Cristo. E para que Cristo seja o protagonista a Igreja inventou uma coisinha que os Sacerdotes conhecem bem -pelo menos aprenderam, se nós fazemos é outra história- que se chama rubricas, RUBRICAS, a palavra rubrica vem da palavra rubrum do Latim, que significa vermelho. O Missal, aquele livrinho que nós Sacerdotes utilizamos para celebrar a Missa, já viram? Ali tem as palavras que o Padre tem que falar, que estão em negro, preto. Estão em letrinhas menores, em vermelho, que diz o que o Sacerdote deve fazer, diz assim: "Agora o Sacerdote se ajoelha e adora o senhor", "agora o Sacerdote estende as mãos...” Por que a Igreja inventou isso? Para nos amarrar? Para tirar nossa liberdade? Não! A Igreja inventou isso par que, ao realizar essas ações sagradas, o Sacerdote desapareça e Cristo apareça nele.

Quando nós falamos "eu quero ir a Missa do Padre fulano..." "Eu quero ir a Missa do Padre beltrano..." Por quê? Por que nós convertemos os Padres em protagonistas, e nós (Padres) não somos isso. Nós devemos silenciar através da obediência dessas rubricas, para que o próprio Cristo apareça e, assim não importa se a Missa é do Padre "X" ou do Padre "Y", por que o que importa para nós é que a Missa é de Jesus Cristo, a Missa é do Senhor, não é minha, não é propriedade de um Padre.

Ouçam o que diz o Papa (Emérito) Bento XVI:

“Não somos uma empresa voltada para o lucro, somos Igreja. Nossa tarefa não é criar um produto ou conseguir êxito nas vendas.”

Nós não somos uma empresa que está aqui para querer multidão, não somos empresa para agradar os homens, para conseguir lucro. Nós queremos sim que hajam multidões em nossas Igrejas, desejamos quanto mais melhor, pois Nosso Senhor não quer que nenhum homem pereça, mas que tenham a Vida Eterna, mas nós não podemos querer multidão a custa de sacrificar a Verdade.

Na ação litúrgica, em cada Missa, a Igreja expressa -diz a Constituição Dogmática Dei Verbum- no seu Culto aquilo que Ela crê e aquilo que Ela é. Se nós mudamos o Culto da Igreja nós não expressaremos o que cremos, nós não expressaremos o que somos.

Ou somos católicos por inteiros ou não somos católicos, não existe aqui meio termo.

Longe de nós esse chamado “catolicismo de supermercado”, o católico de supermercado é aquele que vai com um carrinho na Igreja e diz assim, “Salvação? Isso eu quero, tá barato, pega e bota no carrinho. Mortificação? Castidade? Não, isso aqui tá muito caro para mim, tira do carrinho...” E você vai escolhendo o que você quer levar e o que você não quer levar, e no final, na hora que você chega no caixa do supermercado para pagar sua conta, no carrinho você não tem mais a Igreja de Jesus Cristo, você tem a tua igrejazinha, a tua seita. Não se pode escolher “ah! Isso aqui eu tiro e com isso aqui eu fico...” Na Igreja ou você leva o pacote completo, o “combo católico” com tudo aquilo que ele tem, ou você não leva nada, ou se é católico ou não se é católico, simples assim e não existe meio termo! Isso se expressa na pregação da doutrina, na pregação da moral e na celebração do Santo Sacrifício da Missa.

Quantas pessoas morreram para que nós hoje pudéssemos recitar com tranquilidade, tantas vezes sem perceber, o Credo na Missa. E nós vamos tirando elementos da nossa fé, por exemplo, vocês já devem ter ouvido falar, entre pessoas próximas, algo do tipo “não, eu sou católico, sou católico mas eu acho que a Igreja deveria rever sua postura em relação ao aborto, pois nós temos que pensar na saúde reprodutiva da mulher...” “Eu sou católico, muito católico, rezo meu terço todo dia, mas eu acho que a Igreja poderia deixar de condenar as relações sexuais fora do casamento, afinal vivemos em outros tempos...” “Eu sou católico, muito católico, mas eu acho que a Igreja deveria começar a ordenar mulheres...” Olha, você pode ser tudo, mas católico você não é, deixou de sê-lo a muito tempo. Me faça o favor, não reze mais o Credo, é melhor, não reze o Credo, ou você acredita ou não, mas não me coloque uma mascara de católico quando na verdade por dentro você é um traidor da Igreja e só ajuda a destruí-la.

Muitos cristãos morreram para que nós hoje pudéssemos professar a nossa fé, o Império Romano se converteu por conta de poucos cristãos que eram fiéis a Verdade trazida por cristo, e por isso eles converteram todo o Império. Nós podemos converter o mundo se somos fiéis a Cristo, é hora de deixarmos de cruzar os braços, é hora de deixar de olhar para baixo e repetir “não posso, não posso, não posso... Parece que o mundo quer me engolir”. É hora de a gente abraçar a nossa fé que se expressa na Doutrina, na Moral e no Culto, para que o mundo volte a encontrar na Igreja essa Luz que lhe dá esperança, essa luz que aponta para o Céu e diz “a realidade ultima não termina aqui na terra, a tua vida é muito mais do que isso”,  para que Deus comece a resplandecer na nossa vida e na vida da Igreja, para mudar o mundo, por que o dia que a Igreja -a Igreja nós, cada um de nós- o dia em que nós nos convertermos, nos convertermos de verdade, “nós colocaremos fogo no mundo(1)”, precisamos antes de conversão e ninguém imagina o que somos capazes de fazer.

Quando nós homens começarmos a diminuir, a nos abaixar, para que o Santíssimo Sacramento apareça, para que Deus ocupe o seu posto de Senhorio na Igreja ou no mundo, nós começaremos a mudar o mundo, nós converteremos o mundo e o incendiaremos no fogo do Amor de Deus. Mas é necessário que para isso o Senhor ocupe o primeiro lugar, e isso começa na Missa, na celebração de cada dia. Não nos acostumemos com a Missa, não queiramos ser protagonistas dessa história e, façamos, permitamos que o Senhor ocupe o trono de Majestade na sua Igreja e no mundo.

Padre Demétrio Gomes
Sacerdote da Arquidiocese de Niterói (RJ).

Este texto é a transcrição de um vídeo (Homilia) do Pe. Demétrio Gomes, disponível no YouTube: https://youtu.be/IvmvCpPKz4E
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Transcrição do vídeo: Thiago A. Borges de Azevedo
Revisão do texto: Aline dos Santos
Notas importantes: 1. Esta transcrição não tem autorização do Pe. Demétrio, mas tendo em vista que o vídeo (Homilia) disponível no You Tube é público e também o fato de que nós não ganhamos nada com o que aqui publicamos, acreditamos que não haja problemas em fazermos essa transcrição! 2. Qualquer falha (ou erro) deve ser atribuído ao transcritor e não ao Padre, já que o Padre fez tal discurso em vídeo e não em texto. Nós fizemos o possível para que essa transcrição seja fiel ao que é dito no vídeo, mas pedimos a sua compreensão caso haja alguma falha nossa.

Para citar
Pe. Demétrio Gomes: A Missa não é minha, não é propriedade pessoal, a Missa é da Igreja e eu sou apenas um servidor. Disponível em <https://youtu.be/IvmvCpPKz4E> Desde 16/06/2014. Transcrição de Thiago A. Borges de Azevedo, disponível em <http://amigos-catolicos-evangelizadores.blogspot.com/2016/10/0209.html> Desde 03/10/2016

Citação
1. «Se fordes aquilo que deveis ser, tocareis fogo no mundo» Santa Catarina de Sena

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