Livro: «O Inferno
Existe - Provas e Exemplos»
CAP. 2 - A RAZÃO HUMANA CONFIRMA A EXISTÊNCIA DO INFERNO
Servo
de Deus Pe. André Beltrami, SDB
Quem são afinal, os que negam a existência do
inferno? Talvez pessoas honestas? Ao contrário! São os libertinos que
espezinham todo o ditame da consciência para viverem à solta, aqueles aos quais
repugna crer em um Deus vingador, por bem saberem que merecem seus castigos.
Mas, conseguem eles persuadir-se de que não
há uma justiça que vela sobre os homens, e que punirá seus pecados? Jamais!
Enquanto negam com os lábios a existência do inferno, sentem no âmago da
consciência o remorso e uma voz que lhes anuncia terrível vingança.
O próprio Voltaire, o corifeu da impiedade,
não conseguiu convencer-se de que não há nada depois do túmulo; tanto assim
que, quando adoecia gravemente, apressava-se para em chamar o padre para se
retratar de suas máximas tão ímpias!
Deus imprimiu em nosso coração noções
imutáveis de justiça, e a ideia de um prêmio à virtude, de um castigo ao vício.
Certo ímpio se vangloriava, numa roda, de não acreditar no inferno; entre os
que ouviam estava um homem de bom senso e modesto, mas que julgou seu dever
tapar a boca ao estulto interlocutor, e o fez com este simplicíssimo argumento:
–
“Senhor, disse-lhe, os reis da terra têm cárceres para punir rebeldes; o Deus,
Rei do universo, não há de ter cárceres para os que ultrajam a sua majestade?”
O ímpio não soube que responder, pois o mesmo lume da razão lhe fazia ver que
se os reis têm prisões, Deus deve ter um inferno.
Da
negação do castigo e do prêmio ia outra vida, seguir-se-ia que Deus não existe,
ou se existe, não cuida dos homens; e não haveria nenhuma diferença entre
virtude e vício, entre justiça e injustiça. Morre um ladrão, carregado de
delitos, e morre um inocente que durante a vida praticou virtude e fez o bem ao
próximo; quereis que tenham a mesma sorte? Deus, infinitamente justo, não há de
punir os crimes do primeiro e recompensar as boas obras do segundo? Morre São
Paulo no deserto, depois de ter vivido quase um século no jejum, na penitência,
louvando e servindo a Deus; e morre Nero, depois de ter cometido tôda espécie
de crueldade; quereis que tenham igual sorte? Portanto, a mesma razão, o bom
senso nos fala de um lugar onde serão castigadas as transgressões da lei
divina.
Nem
mesmo a eternidade das penas repugna aos ditames da reta razão.
Um dia,
uma alma santa meditava no inferno, e considerando a eternidade dos suplícios, aquele
terrível nunca e o terrível sempre, ficou bastante impressionada, porque não
compreendia como se pudesse conciliar esta severidade sem medida com a bondade
e outras perfeições divinas.
–
Senhor, dizia ela, eu me submeto aos vossos juízos, mas, permiti-me, não sejais
demasiado rigoroso.
–
Compreendes, foi a resposta, o que seja o pecado? Pecar é dizer a Deus: não Vos
obedecerei; pouco se me dá da vossa lei; rio-me das vossas ameaças!
– Vejo,
Senhor, como o pecado é um monstruoso ultraja à vossa divina majestade.
– Pois
bem, mede, se podes a grandeza desse ultraje.
–
Compreendo, Senhor, que esse ultraje é infinito, porque vai contra a majestade
infinita.
– Não se
exige então um castigo infinito? quanto à intensidade, sendo a criatura
limitada, requer a justiça que seja infinito ao menos quanto à duração:
portanto, é a mesma justiça divina que exige o terrível sempre e o terrível
nunca. Os próprios condenados serão obrigados a prestar homenagens, mau grado
seu, a esta justiça e exclamar em meio aos tormentos: “Vós sois justo, Senhor,
e retos os vossos juízos.” (1)
Mas, replicam os incrédulos, Deus é tão
misericordioso que não castigará eternamente um pecado mortal só, o qual às
vezes dura um instante. Que proporção há entre a breve duração da culpa e a
eternidade da pena?
A isto responderemos, que a misericórdia não
é nada contrária à justiça, a qual exige seja eternamente castigado o pecado de
uma pessoa que tenha morrido impenitente; visto que o pecado de tal pessoa é de
certo modo eterno, segundo a sua voluntária disposição presente, querendo
morrer no pecado: o que merece uma pena eterna. Até a justiça humana, imagem da
justiça divina, castiga por vezes a falta passageira com a pena, a seu modo,
eterna, como é o exílio perpétuo; de modo que, se o exilado vivesse sempre,
para sempre seria banido da sua pátria. E por que a divina justiça não poderá
banir eternamente da pátria celeste um pecador impenitente, que por si mesmo se
exclui dessa pátria, morrendo voluntariamente na impenitência final? De resto,
eterno é o prêmio que Deus prepara a quem o serve, e por isso eterno deve ser
também o castigo para aqueles que se rebelam contra sua santa lei.
Afinal, quem somos nós que ousamos levantar a
fronte e pedir a Deus a razão de seus justos decretos?
» CONTINUA
NO CAPÍTULO 3
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