Livro: «O Inferno
Existe - Provas e Exemplos»
CAP. 10 - TRÊS AMPLOS CAMINHOS QUE CONDUZEM AO INFERNO: A
DESONESTIDADE, O SACRILÉGIO E A BLASFÊMIA
Servo
de Deus Pe. André Beltrami, SDB
Todos os pecados mortais são caminhos que vão
dar no abismo eterno; há, porém, alguns que fazem mais estragos e causa a morte
a um maior número de almas. O pecado de desonestidade é talvez o que mais povoa
o inferno, porque é um pecado muito grave, fácil de cometer, pela corrupção de
nossa natureza, e depois difícil de abandonar.
Santo Agostinho diz que a soberba povoou o
inferno de anjos e a desonestidade o enche de homens. E Santo Afonso não receia
afirmar que todos os cristãos que se condenam, se condenam pela impureza, ou,
pelo menos, não sem ela. Ai do jovem que chega os seus lábio a este cálice que ele
os pedira a Deus para fazer com merecimento o purgatório nesta vida. No auge da
dor, todo encolhido pela contração dos nervos, dizia; – “Dói muito, mas não é
fogo, não é fogo”. Crescia a tortura e aumentava a dor, “mas não era fogo”; à
contração dos nervos juntava-se a gota, “mas ainda não era fogo”. Por estar de
cama dez anos seguidos, dolorosas chagas cobriam-lhe o corpo aumentando o seu
sofrimento, contudo ele repetia sempre: – “não é fogo, não é fogo, e acabará”.
E assim se animava a suportar tudo com paciência por amor de Deus.
*
* *
Um santo solitário, assaltado por violenta
tentação, temendo ser vencido, acendeu o lume e para se compenetrar vivamente
do pensamento do inferno, pôs os dedos na chama e os deixou queimar, dizendo de
si para consigo: – Uma vez que tu queres pecar e merecer o inferno que será o
castigo de teu pecado, experimenta antes se és capaz de suportar o tormento de
um fogo eterno.
*
* *
Um rico dissoluto, ainda que pelos seus
inúmeros pecados vivesse em contínuo temor do inferno, todavia não tinha
coragem de romper com os seus maus hábitos e de penitenciar-se. Recorreu, pois,
a Santa Ludovina que então edificava o mundo com a sua paciência e lhe pediu
que fizesse penitência por ele.
– De boa mente, respondeu a santa, oferecerei
por vós os meus sofrimentos, com a condição, porém, que uma noite inteira vós
conserveis na cama a mesa posição, sem vos moverdes de nenhum modo.
Aceitou facilmente a condição, mas passada
apenas meia hora, sentiu enfado e já queria mover-se. Todavia não o fez;
aumentando, porém, o mal-estar daquela posição que lhe ia parecendo
insuportável, cedeu. Então uma impressão salutar se despertou no seu coração: –
Se é tão molesto ficar imóvel num leito cômodo por uma noite, oh! o que não
será ficar deitado num leito de fogo pelo espaço de uma eternidade? E terei
ainda dúvida de me livrar desse suplício com um pouco de penitência?
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No ano 285, duas matronas cristãs, Donvina e
Teonila, foram levadas ao prefeito Lisias que as intimou a renegarem a fé e
abraçarem o culto dos ídolos. Elas recusaram terminantemente. Então o prefeito
mandou acender o fogo e erguer um altar dos ídolos.
– Escolhei, disse; ou queimar incenso aos nossos
deuses, ou ser vós mesmas queimadas nesta fogueira.
As duas mártires responderam sem hesitar:
– Nós não tememos este fogo que daqui a pouco
se apaga; tememos, sim, o fogo do inferno que não se apaga nunca. Para não cair
no inferno é que detestamos os vossos ídolos e adoramos a Jesus Cristo.
E assim sofreram o martírio.
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* *
Tomaz Moor, o grande chanceler da Inglaterra,
foi perseguido e ameaçado de morte por ter recusado um juramento iníquo exigido
pelo ímpio rei Henrique VIII. Empregaram todos os meios para o seduzir, e, não
valendo as promessas, recorreu-se à violência. Foi atirado à prisão para que definhasse.
Os amigos o importunavam para ceder; a esposa o conjurava a dobrar-se à vontade
do rei, e conservar assim a vida para o bem deles e dos filhos.
– Quantos anos, lhe disse êle, te parece que
poderia ainda viver?
– Mais de vinte, respondeu ela.
Tornou o preso, mostrando-lhe severo
semblante:
– Pois, por vinte anos e tanto queres que
venda uma eternidade?
Ele foi, por isso condenado à morte. Este homem
generoso, assim como tinha sabido viver entre as grandezas da côrte sem fausto,
soube também morrer no patíbulo sem fraqueza. Antes de ser executado rezou o Miserere,
e morrendo como forte ensinou a todos que é preciso salvar a alma, a todo
custo, porque perdida a alma, tudo está perdido.
*
* *
Apresentou-se uma ocasião ao Papa Bento XI o
embaixador de um grande soberano, pedindo em nome do rei um favor, mas de tal
natureza que não se podia conceder licitamente.
– Deus sabe, respondeu o Pontífice, como
desejo ardentemente contentar o vosso imperador. E tão vivo é esse desejo, que
se tivesse duas almas, sacrificaria de boamente uma para lhe conceder o favor
que pede. Mas, dizei ao vosso soberano que tanto só uma alma, e absolutamente
não posso, não devo, não quero perdê-la para agradar a ele.
Belas palavras, que todo cristão deveria ter
sempre presentes à memória e pronta na boca para semelhantes circunstâncias!
*
* *
É célebre a invenção usada por um rei
piíssimo para fazer pensar mais retamente a um cavalheiro de má vida.
Convidou-o para uma soberba caçada. Imediatamente depois da caça um jôgo de
muitas horas. Acabando o jogo, convite para assistir a uma representação. O
cortesão estava cansado; mas era convite do rei e precisava aceitar. Depois do
teatro que durou quatro horas, uma embaixada anunciava uma sessão de músicos
estrangeiros, e pedia ao cavalheiro quisesse honrá-la com a sua presença. O
pobre homem murmurou: – Parece que o rei quer matar-me com tanta diversão; se
vier mais um convite morro de verdade.
E o quinto convite veio mesmo; no salão da
côrte havia um baile e aí também o rei o esperava.
– Pobre de mim! ainda um baile? não posso
mais ficar em pé!
E excusou-se com o rei:
– A bondade de Vossa Majestade me confunde.
Mas, por amor de Deus, um pouco de descanso; dezoito horas ininterruptas de
diversão…
– E vos parece muito? replicou ou rei. Não
podeis então, aguentar dezoito horas de divertimento e aguentareis a longa
eternidade de contínuos sofrimentos não variados, para os quais vos leva vossa
vida?
*
* *
O Padre Cattaneo narra um fato para nos fazer
compreender o medo que devemos ter de nossa sorte futura. E todavia de nós
depende a escolha!
Maomé II, senhor dos turcos, aquele que
anexou mais de duzentas cidades ao grande império de Constantinopla e invadiria
a Itália se a morte lhe não frustrasse a realização dos planos, foi homem
crudelíssimo e sanguinário; de uma feita, achando falta de um fruto no seu
jardim, mandou reunir os criados para saber qual tinha sido o delinquente, e
porque nenhum deles ousou confessar aquele pequeno furto, mandou abrir o ventre
de todos para saber onde estava o corpo de delito; e foi providência de Deus
ter-se encontrado o fruto depois de mortos três servos; senão, todos o outros
seriam sacrificados.
Ora, este bárbaro rei fez um parque de caça
reservado para si, num lugar onde havia abundância de animais e aves; decretou
pena de morte a quem ousasse caçar nesse parque.
– Para suceder no reino basta um; portanto,
um se sacrifique para escarnamento de todos e o outro se conserve para
segurança da coroa. Mas qual dos dois merece graça? O mais velho? Não! O menor?
Não! Tirem a sorte.
Tirou-se a sorte fatal com um majestoso e
tremendo aparato. Na grande sala da corte, achava-se o rei, sentado no trono,
rodeado pelos vizires, agás e pachás; diante do trono duas mesinhas, uma
fúnebre com o baraço, a outra coberta com uma rica toalha, onde se viam o
turbante, o colar e a espada. Um taboeiro com os dados; aí foram conduzidos os
príncipes para tirarem a sorte: quem obtivesse o menor ponto cingiria a espada
e colar; quem obtivesse maior, daria o pescoço ao baraço.
Diante daquele aparato os dois jovens
desmaiaram; depois, com o fritilo na mão, dirigiam tristes olhares para a corda
e para a coroa; o coração de ambos batia tão forte que levantava as vestes sobre
o peito, com afanosos e profundos suspiros, com ânsias de moribundos, por causa
da escolha fatídica – a corda ou a coroa – que dependia de um ponto de jogo e
do lançar de um dado.
Quem sente compaixão pela situação crítica em
que se acharam esses pobres príncipes, dirija a compaixão sobre si mesmo, e
diga: – “Na hora da morte, na mesma ou em pior situação me acharei eu. Duas
infinitas eternidades terei diante de mim; numa verei cetros, coroas, riquezas,
alegrias, prosperidades, tudo para sempre; noutra verei grilhões, infâmias,
morte, e não passageiros, mas que duram sempre. E o que caberá em sorte?
De nós depende inteiramente a escolha: se
vivermos bem teremos eternidade feliz, se ao contrário, levamos vida má,
caber-nos-á o fogo eterno, e desespero eterno e todas as outras penas de que já
falamos.
» CONTINUA
NO CAPÍTULO 11
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