Livro: «O Inferno
Existe - Provas e Exemplos»
CAP. 11 - OUTRAS PROVAS DA EXISTÊNCIA DO DEMÔNIO E DO INFERNO
Servo
de Deus Pe. André Beltrami, SDB
O espiritismo, em suas várias manifestações,
é também uma prova evidente da existência do cárcere eterno. Se existe o
espírito maligno e se ele se manifesta por meio de mesas que falam ou giram e
por meio de outros médiuns, deve também existir o lugar de sua morada, isto é,
o inferno com suas penas atrozes.
Estranha contradição! Os ímpios não prestam
fé a Deus e à sua Igreja e creem nas imposturas do demônio, pai da mentira, que
os engana nas sessões espíritas; zombam do inferno e dos novíssimos e têm medo
do número treze, ou do sal derramado na mesa, como de um mau agouro; desprezam
a Sagrada Escritura e veneram os livrecos eu tratam de magia ou de sortilégio,
não querem saber dos santos ensinamentos da Igreja e dos seus ministros e vão
consultar uma cartomante ou um cigano para lhes revelar o futuro ou para
curá-los. Assim é: quando o homem fecha voluntariamente os olhos à verdade,
abre-os ao erro e à mentira; enquanto espezinha a religião e ao seu Criador,
nega o culto devido, torna-se supersticioso e presta homenagem ao diabo e às
coisas insensatas.
*
* *
Outra prova evidente da existência da prisão
eterna e dos demônios, são as obsessões.
Satanás, em nossos dias, se incarna nos
livros ímpios que ridicularizam a nossa santa religião e difamam as religiões,
os padres e os bispos; nos romances que ensinam descaradamente o vício e
espezinham a virtude; nas estátuas, nos monumentos e nos quadros obscenos
trabalhados sob o ridículo pretexto da arte, como se arte não devesse respeitar
a honestidade dos costumes e não fosse feita para civilizar e nobilitar o
homem.
As tipografias e as livrarias que publicam
maus livros, a oficina dum artista que reproduz nudez na tela, no mármore, ou
no papel, as reuniões tenebrosas da maçonaria, são querenças de Lúcifer.
Certos escritores e certos propagadores de
doutrinas anárquicas ou socialistas ou ateus, parecem possuídos do espírito da
mentira, tanta é a constância, a imprudência, a ousadia com que espalham a baba
dos seus erros. A sua pena é molhada em veneno violento e torna-se na sua mão o
punhal do assassino que mata a alma e o corpo dos leitores.
Mas, além dessas encarnações de Satanás nos
homens ímpios que servem a sua causa e agem sob sua influência, houve, mesmo ultimamente,
verdadeiras obsessões.
Cito um fato, do qual foi testemunha uma
cidade inteira, fato extraído dum opúsculo do advogado Feliz Sonelli; (*Teresa
Strigini ou “A famosa endemoninhada de Briga Novarense, publicada em Milão, em
1877”.) quem não crê pode ir interrogar as testemunhas oculares.
Teresa Strigni nasceu em Briga, vilório de
Novara, Itália, aos 20 de maio de 1832, e a certa idade começou apresentar
sinais de obsessão diabólica. Fechada em casa, desaparecia e depois de muito
tempo voltava e entrava sem abrir a porta. Passava dias sem tomar alimento ou
bebia e via o que acontecia em lugares distantes; seu rosto tomava formas
horríveis a ponto de amedrontar os mais corajosos. Rumores misteriosos se
ouviam em seu quarto; e muita vez toda a casa era sacudida como por um
terremoto, derrubando as mobílias como se fossem palhas.
A coitadinha ora parecia agonizante e prestes
a exalar o último respiro; ora, tinha tanta força que ninguém a dominava e até
punha em fuga homens robustos que acorriam para refrear-lhe a veneta, ou
socorrê-la nas frequentes convulsões de que era toada. Apesar de analfabeta, e
sem nenhuma instrução, compreendia línguas desconhecidas e demonstrava saber
extraordinário.
Os exorcismos produziam nela grande efeito e
via-se claramente que o demônio sentia o poder que Deus concedeu à sua Igreja.
Quando os parentes e os vizinhos não sabiam o que inventar para acalmá-la,
chamavam o pároco para que ordenasse a Satanás com as fórmulas do Ritual que
deixasse em paz a infeliz moça.
Sentia também a influência e, às vezes terror
das coisas benzidas, terços, imagens, medalhas, água benta, como se fosse
tocada por um ferro em brasa.
Um dia o sacerdote a interrogou:
– Quem és tu? és um demônio?
– Não, respondeu a voz terrível.
– Em nome de Deus, quem és?
– Um demônio.
– És um daqueles soberbos precipitados do
céu?
– Sim.
– Não é verdade, que apesar de tua arrogância
sofres também aqui as penas do inferno?
– Sim.
Outras vezes respondia que era uma legião. E
na verdade, os fenômenos extraordinários que sucediam em sua pessoa, no quarto,
na casa, mostravam que devia haver mesmo uma multidão de demônios.
Alguns libertinos que zombavam do inferno e
dos demônios foram examinar o fato e o sarcasmo morreu-lhes nos lábios. Alguns
até foram horrivelmente maltratados e outros ficaram gelados de medo quando
viram pintado naquele rosto o desespero dos réprobos.
Repito: Quem não quiser acreditar, consulte
as testemunhas oculares. Mas, vede a estultícia: os ímpios não querem averiguar
os fatos e continuam a escarnecer dos dogmas da fé, até que, vindo a morte, as
chamas devoradoras do inferno os convençam da existência de um Deus que castiga
o pecado e a iniquidade.
*
* *
Na vida de S. João Maria Vianney, mais
conhecido pela expressiva alcunha de Santo Cura d‟Ars, lê-se a luta terrível
que deveu sustentar contra satanás, furioso por causa das inúmeras almas que o
santo sacerdote arrancava da eterna perdição. A povoação de Ars foi testemunha
do ocorrido e vivem ainda muitas pessoas que poderiam confirmar o que
relatamos.
O demônio lhe aparecia sob formas horríveis
para perturbar-lhe o breve repouso que tomava num pobre catre. Às vezes a casa
parecia invadida por uma turba de leões, tigres e serpentes e pelos quartos e
corredores ressoavam rugidos, assobios e urros; outras vezes aparecia no meio
das chamas; corriam os paroquianos para salvar do incêndio o seu querido
pastor, mas o fogo de súbito se apagava. Os mais robustos e os mais corajosos
experimentaram dormir na casa paroquial, mas de noite fugiam de medo, enquanto
o santo sacerdote, bem sabendo que o demônio não pode fazer nenhum mal sem a
permissão do céu, descansava tranquilo sob as asas da proteção divina.
Quando operava uma conversão prodigiosa, a
raiva da antiga serpente não tinha limites e redobrava os esforços para
vingar-se da presa perdida. Uma noite o demônio ateou fogo no seu pobre leito,
outra vez o atirou no chão com violência, sem porém o machucar, e muitas vezes
o chamava com voz rouca, reprovando a guerra que lhe movia.
*
* *
Na vida de S. José Cottolengo se encontra
também a aparição do nosso eterno inimigo e vivem ainda muitas testemunhas.
Geralmente todos os santos tiveram lutas corporais e visíveis contra o príncipe
das trevas, pelo zelo que mostraram na salvação do próximo e pelas vitórias que
alcançaram do próximo e pelas vitórias que alcançaram contra o mundo, a carne e
o inferno. Portanto, veio alguém do outro mundo a provar-nos a existência das
verdades eternas: veio até o chefe dos anjos rebeldes.
*
* *
Na história de S. João Batista de La Salle,
benemérito fundador desses anjos da juventude que se chamam Irmãos das Escolas
Cristãs, narra-se que um cavalheiro de nobre família levava vida mundana, pouco
se lhe dando da salvação da alma.
Alistou-se no exército, onde subiu facilmente
de posto e obteve condecorações pelo seu valor. Duma feita, foi ferido num
combate; curaram-no remédios secretos, com auxílio diabólico. Entrando uma vez
numa igreja no momento preciso em que se exorcizava um possesso, por
curiosidade e para zombar da credulidade das pessoas presentes, inesperadamente
o demônio lhe dirigiu a palavra e disse:
– Tu não crês no inferno e no demônio!
Infeliz! sentirás um dia o seu poder.
Assustado por essas ameaças e por ver que o
espírito infernal tinha penetrado seus íntimos pensamentos, que ele não
revelara, caiu em si, voltou crente e decidido a abandonar o mundo para
ingressar no Instituto de São João de La Salle e fazer penitência.
Naquele santo retiro o esperava Satã.
Abriram-se-lhe de novo as feridas, foi tomado de dores atrozes e misteriosas,
de frenesi e convulsões horríveis, de jeito que nenhuma força humana podia contê-lo.
A comunidade vivia em sobressaltos. O Santo notou no infeliz os sinais da
obsessão; e exorcizando-o, intimou ao espírito das trevas que saísse daquele
corpo. O demônio ouviu a voz potente do ministro de Deus e escabujando e
urrando, abandonou o infeliz cavalheiro.
Na vida do mesmo Santo se encontra o seguinte
fato. Vivia em Ruão uma senhora de nome Maillefer, tôda entregue às vaidades e
aos prazeres do mundo, sem mesmo pensar nos seus deveres de cristã. Gastava
suas grandes riquezas em vestidos, banquetes e teatros, caminhando a passos
ligeiros pela estrada da perdição.
Aprouve, porém, à bondade divina detê-la à
beira do abismo e fazê-la instrumento das suas misericórdias.
Um dia, bateu à porte do palácio um pobre,
doente e faminto.
Os criados, embora conhecessem o coração duro
da ama, deixaram-no entrar; julgando que o seu mísero estado movesse à
compaixão. Assim não foi, porém! A cruel senhora o expulsou de sua casa, com
asco, atirando-lhe em rosto estas palavras: – Poltrão, vai trabalhar.
O mendigo abaixou a cabeça e saiu cambaleando
de fome e de fraqueza. À porta, deu com o cocheiro, que sentiu doer-lhe o
coração à vista de seus padecimentos e levando-o à estrebaria, o socorreu como
pôde.
Mas o novo Lázaro morreu durante a noite, e
na manhã seguinte os criados encontraram o frio cadáver, em cujo semblante se
percebiam as angústias e as dores que padecera nos últimos momentos. A ama
tendo notícia do acontecido exasperou-se, despediu logo o compreensivo cocheiro
e atirou aos criados o primeiro lençol encontrado para que amortalhassem o
defunto e sem mais o sepultassem.
Passou o resto do dia debaixo duma triste
impressão, humilhada pela sua crueldade e pelo que correria a seu respeito na
cidade.
Qual não foi a sua admiração quando, pondo-se
à mesa, encontrou dobrado em sua cadeira o lençol que tinha dado pela manhã.
Julgou, de princípio, que não fora obedecida e ameaçou despedir os criados; mas
estes asseguraram que tinham executado a ordem recebida e que eles mesmos
depuseram na sepultura o cadáver amortalhado com aquele lençol.
Que mão misteriosa teria colocado aí o véu
fúnebre? É claro: o defunto recusou depois da morte uma esmola daquela que lhe
negou barbaramente em vida um auxílio, e Deus tal permitiu para comover a
infeliz pecadora. Realmente, ela compreendeu a lição, mudou de vida,
penitenciou-se e expirou placidamente no ósculo do Senhor, cheia de confiança
na misericórdia divina que acolhe um coração contrito e humilhado.
*
* *
S. Felipe Néri ressuscitou momentaneamente um
menino para dar-lhe azo de se confessar.
Ele amava ternamente Paulo Máximo, filho do
príncipe romano Fabrício Máximo. O menino tinha 14 anos quando adoeceu
gravemente; o santo tendo revelação de sua morte próxima, pediu à família que o
chamasse à cabeceira do menino quando estivesse no extremo da vida, porque
desejava confortá-lo e prepará-lo para a luta suprema.
A doença se agravou e o pai mandou chamar a
S. Felipe para que corresse a abençoar o seu filho espiritual. Como, porém,
estivesse celebrando a Santa Missa, a criada deu o recado a um dos Padres do
Oratório.
Nesse ínterim o menino morreu e o santo,
quando chegou ao palácio, encontrou-o cadáver. Ajoelhou-se ao pé da cama e
rogou com devoção por um quarto de hora, depois aspergiu o rosto do menino com
água benta, deitando-lhe umas gotas na boca. Soprou-lhe o rosto, colocou-lhe a
mão na fronte, chamado duas vezes em voz alta e sonora: – Paulo! Paulo!
O morto acorda como de um profundo sono, abre
os olhos es exclama: – Padre, Padre, tenho um pecado e quero confessá-lo.
S. Felipe pede aos presentes que se retirem,
dá ao menino um crucifixo e ouve a sua confissão; terminada a qual, chama os
parentes e põe-se a falar sobre o paraíso e a felicidade dos eleitos; o menino
se entretém em santa conversação, como quando gozava perfeita saúde; após meia
hora, o santo obtido resposta afirmativa, disse: – Vai, sê feliz e roga a Deus
por mim.
E Paulo com rosto plácido, sem nenhum
movimento, torna a morrer docemente nos braços do santo. Estavam presentes
àquela cena, entre outras pessoas, o pai, duas irmãs e a criada.
O quarto foi convertido em capela e é visitado
ainda hoje com veneração e os romanos chamam o palácio Máximo “a casa do
milagre”.
Todo ano, depois de três séculos, a família
Máximo comemora o prodigioso acontecimento.
» CONTINUA
NO CAPÍTULO 12
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