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O
Sacramento do Matrimônio - V
Dom Henrique Soares da
Costa, Bispo de Palmares (PE).
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O matrimônio - IX
Retomemos nossos
artigos sobre os sacramentos, especificamente ainda sobre o matrimônio.
Já vimos que por ser
sinal eficaz e efetivo da união nupcial entre Cristo e sua Igreja, o matrimônio
é caracterizado pela fidelidade, pela indissolubilidade e pela fecundidade.
Vejamos, depois de já termos comentado sobre a fidelidade e a
indissolubilidade, a questão da fecundidade.
Nós somos filhos da
Igreja-Esposa, filhos gerados em Cristo, no amor de Cristo, no útero materno da
Igreja. Este útero é a pia batismal! Não poderia ser diferente: o amor gera
vida, difunde vida, chama outros a participar da festa de vida!
Assim também, o casal
cristão é chamado a ser aberto à vida. Os filhos, sem dúvida alguma, dão uma
nova maturidade ao amor entre o homem e a mulher: os esposos não mais encontram
seus olhares um no outro, mas seus olhares se encontram num terceiro: nos
filhos que Deus lhes concede. Mais que nunca, o amor conjugal torna-se também
sinal do amor do Deus uno e trino, no qual Pai e Filho se amam no Espírito,
Filho e Espírito se referem ao Pai e Pai e Espírito se referem ao Filho: o amor
entre dois é maduro quando pode envolver um terceiro!
O casal cristão, no
matrimônio, compromete-se a acolher os filhos que Deus lhes enviar e educá-los
pela palavra e pelo exemplo como cristãos católicos verdadeiros.
Quando falamos em
acolher os filhos que Deus enviar não estamos querendo dizer que os esposos
cristãos devam deixar o número de filhos por conta do acaso. Nada disso! É
obrigação do casal planejar cuidadosamente quantos filhos poderá acolher,
dando-lhes uma formação digna, isto é, educação, saúde, carinho, formação
religiosa, etc. A isto se chama planejamento familiar. A Igreja convida
vivamente os casais a pensarem nisso com cuidado! Por outro lado, seria
contrário ao Evangelho um casal ser mesquinho, podendo ter mais filhos. O
matrimônio é um modo belíssimo de participar da obra criadora de Deus! Motivos
como simples egoísmo, comodismo, falta de vontade de assumir o compromisso de
educar e dedicar-se aos filhos ou, pior ainda, preocupações estéticas, seriam
grave pecado contra o sentido do sacramento do matrimônio!
Um grave problema para
os casais cristãos que desejam fazer o planejamento familiar é a questão do
método a escolher para controlar a natalidade. A Igreja, em princípio faz
graves restrições aos métodos anticoncepcionais artificiais: pílulas, diu,
laqueadura, etc. Para o Magistério eclesial, o único método plenamente válido
do ponto de vista moral seria o método natural, que consiste na abstenção
sexual do casal durante o período fértil da mulher. Sabemos que a situação é
complicada. Não é este artigo a melhor ocasião para tratar a questão. Podemos,
a esse respeito, fazer somente algumas afirmações que os casais e os pastores
da Igreja deveriam ter presente: (1) os filhos são um dom de Deus e uma bênção
no matrimônio e, como tais, devem ser acolhidos; (2) o planejamento familiar é
um dever do casal cristão; (3) segundo o Magistério da Igreja, que tem
autoridade para ensinar em nome de Cristo, os métodos moralmente ideal de
planejamento de natalidade são os métodos naturais; (4) os casais devem,
sinceramente, refletir sobre isso, levando em conta com responsabilidade a
palavra do Magistério; (5) em casos de dificuldade, é sumamente aconselhável
que o casal procure um sacerdote esclarecido e prudente que possa ajudá-los a
discernir sua situação concreta; (6) os padres tenham respeito pela situação
própria de cada casal (situação espiritual, afetiva, econômica, moral,
cultural, etc); (7) procurem não assumir ares de juízes da consciência dos
fiéis, mas fazerem as vezes do Cristo bom Pastor, que dá a vida pela vida do
rebanho e tem um jugo leve e suave; (8) procurem com honestidade e franqueza
explicar a posição do Magistério e, por outro lado, estejam atentos a que não
se trata de matéria infalível nem irreformável. Sem esconderem a seriedade da
questão, cuidem de não aumentar-lhe a gravidade; (9) e finalmente, respeitem a
consciência dos fiéis, que será em última análise o critério de julgamento
diante de Cristo.
Com toda a certeza, um
casal que deseje sinceramente viver o Evangelho e a fidelidade ao ensinamento
da Igreja e um sacerdote ou um outro agente de pastoral de bom senso,
prudência, respeito ao Magistério e sensibilidade em relação à situação dos
esposos, haverão de encontrar meios de superar as dificuldades advindas dessa
delicada questão.
Tenham todos bem
presente que a questão dos anticoncepcionais é uma questão ainda muitíssimo
discutida na Igreja, seja por Bispos como também por teólogos e pelo povo de
Deus como um todo. Vejamos aonde o Espírito de Deus conduzirá a Igreja!
Um último ponto sobre
o qual gostaria de insistir é o dever sagrado dos pais na educação dos filhos.
O primeiro educador não é a escola e muito menos a televisão! Os pais é que têm
esta função! Com a palavra, com o exemplo, com a convivência, eles é que darão
a formação humana e cristã aos filhos que Deus lhes confiou! Infelizmente,
neste aspecto – e sobretudo no que toca à educação religiosa – os pais têm sido
extremamente incompetentes e omissos... haverão de prestar contas a Deus!
Que os pais não
desistam de cumprir esse papel, que é intransferível! Não é a toa que a família
é chamada de Igreja doméstica: a primeiríssima comunidade cristã, que vive,
ama, reza e sonha unida no amor de Cristo!
No próximo artigo
terminaremos nossa apresentação sobre o matrimônio, falando do rito litúrgico
do sacramento. Até lá!
Os Sacramentos
O matrimônio – X
Terminamos nossa
apresentação sobre a teologia do Matrimônio. Vejamos, agora, para concluir,
alguns elementos da liturgia deste sacramento.
Segundo a tradição
litúrgica da Igreja do Ocidente, os ministros celebrantes do matrimônio são os
próprios noivos: eles, dando-se e recebendo-se em matrimônio, celebram o
sacramento. O “celebrante” é simplesmente a testemunha oficial e autorizada da
Igreja. Sendo ele um ministro ordenado (Bispo, presbítero e diácono), dá também
aos recém-casados a bênção nupcial em nome da Igreja.
Vejamos,
concretamente, algumas observações sobre o rito matrimonial:
(a) A ornamentação da
Igreja não deve transforma-la num “jardim de Alá”. Seria muito bom que as
paróquias, e a própria Arquidiocese, tivesse normas claras sobre isso. O Altar
nunca deve ser recoberto com tecidos coloridos. Deve sempre estar recorberto
com a toalha branca para a liturgia eucarística. Também não se deve colocar um
enorme arranjo floral ao centro do Altar. Não se confunda o Altar com uma mesa
de formatura! Se há um arranjo, que seja discreto e em um dos ângulos do Altar!
(b) Os cânticos sejam
de bom gosto. Não se deveria, na celebração matrimonial, refutar cânticos
profanos. Se forem decentes e de bom gosto, podem ser admitidos. Recordemo-nos
que o matrimônio, não somente pertence à ordem da salvação em Cristo, mas
também à ordem da criação. A própria Escritura canta o amor humano em si mesmo
(basta pensar no Cântico dos Cânticos). Então, cantar o amor humano dentro da
liturgia matrimonial com cânticos “profanos” não é contra o sentido do rito
litúrgico. Em outros sacramentos, sim; no matrimônio, não!
(c) A liturgia do
matrimônio começa com o encontro dos noivos com o presidente da celebração.
Toda a parte da entrada dos padrinhos e dos noivos ainda não é a liturgia do
sacramento. Quanto a essa entrada, é muito triste que tenha se transformado num
grotesco desfile de moda!
(d) Na primeira parte
da celebração, escuta-se a Palavra de Deus, que explica o sentido do matrimônio
à luz do projeto de Cristo Deus. Aí, o que preside à celebração terá o cuidado
de explicar que o matrimônio é sacramento do amor esponsal entre Cristo e a
Igreja e deve ser vivido na fidelidade, na indissolubilidade e na fecundidade.
(e) Parte central da
celebração é o sim que dois dão um ao outro por toda a vida. Depois desse sim,
os dois são marido e mulher! Tem-se, então a bênção nupcial, que é
importantíssima! O presidente, de mãos estendidas sobre os esposos, pede ao Pai
que derrame sobre o casal o Espírito de Amor, Espírito do Cristo ressuscitado.
É este Espírito que transfigura sacramentalmente o amor dos esposos na imagem
do amor entre Cristo e a Igreja. Observe-se que, precisamente esta bênção
exprime claramente que o matrimônio dá a graça aos esposos! Que nunca se
esqueça isso: o matrimônio não é simplesmente um contrato; é primeiramente uma
celebração pascal: é o amor de entrega na cruz e na ressurreição que o
Cristo-Esposo faz de si à sua Igreja-Esposa! O casal, agora, recebe a força do
Espírito de Amor para viver cristãmente seu amor nupcial: deverão amar-se como
Cristo e a Igreja se amam!
(f) Muito
significativa é a troca de alianças. Aliança, nas Escrituras, é o pacto de amor
entre Deus e o povo de Israel e, no Novo Testamento, a aliança entre Cristo e a
Igreja. Chamar de aliança os anéis de matrimônio é recordar que o amor entre os
cônjuges é sinal do amor entre o Cristo e a Igreja.
(g) É muito desejável
que os esposos comunguem, já que a Eucaristia é a máxima entrega que o Esposo
Jesus faz de seu corpo à sua Esposa Igreja, tornando-se ambos uma só carne!
Neste sentido, seria muito belo o matrimônio celebrado dentro da Missa. No
entanto, isso somente tem sentido quando o casal tem uma vida realmente cristã!
(h) Que nunca se
esqueça que o matrimônio não deve ser celebrado em casas privadas ou clubes. O
local próprio para a celebração desse sacramento é a igreja! Neste ponto as
normas da Arquidiocese de Maceió são muito claras!
Terminamos nossa
apresentação do matrimônio. Muitíssimas coisas poderiam ainda ser ditas. Que
seja sempre redescoberto o valor desse belíssimo sinal do amor de Cristo e da
sua Igreja – o sacramento do matrimônio.
Fonte:
Dom
Henrique Soares da Costa. O Sacramento do Matrimônio - V. Disponível em <
http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/matrimonio/198-o-sacramento-do-matrimonio-iv>
Desde 29 de Dezembro de 2008.

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