terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O Sacramento do Matrimônio - V

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O Sacramento do Matrimônio - V  
Dom Henrique Soares da Costa, Bispo de Palmares (PE).
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O matrimônio - IX

Retomemos nossos artigos sobre os sacramentos, especificamente ainda sobre o matrimônio.

Já vimos que por ser sinal eficaz e efetivo da união nupcial entre Cristo e sua Igreja, o matrimônio é caracterizado pela fidelidade, pela indissolubilidade e pela fecundidade. Vejamos, depois de já termos comentado sobre a fidelidade e a indissolubilidade, a questão da fecundidade.

Nós somos filhos da Igreja-Esposa, filhos gerados em Cristo, no amor de Cristo, no útero materno da Igreja. Este útero é a pia batismal! Não poderia ser diferente: o amor gera vida, difunde vida, chama outros a participar da festa de vida!

Assim também, o casal cristão é chamado a ser aberto à vida. Os filhos, sem dúvida alguma, dão uma nova maturidade ao amor entre o homem e a mulher: os esposos não mais encontram seus olhares um no outro, mas seus olhares se encontram num terceiro: nos filhos que Deus lhes concede. Mais que nunca, o amor conjugal torna-se também sinal do amor do Deus uno e trino, no qual Pai e Filho se amam no Espírito, Filho e Espírito se referem ao Pai e Pai e Espírito se referem ao Filho: o amor entre dois é maduro quando pode envolver um terceiro!

O casal cristão, no matrimônio, compromete-se a acolher os filhos que Deus lhes enviar e educá-los pela palavra e pelo exemplo como cristãos católicos verdadeiros.
Quando falamos em acolher os filhos que Deus enviar não estamos querendo dizer que os esposos cristãos devam deixar o número de filhos por conta do acaso. Nada disso! É obrigação do casal planejar cuidadosamente quantos filhos poderá acolher, dando-lhes uma formação digna, isto é, educação, saúde, carinho, formação religiosa, etc. A isto se chama planejamento familiar. A Igreja convida vivamente os casais a pensarem nisso com cuidado! Por outro lado, seria contrário ao Evangelho um casal ser mesquinho, podendo ter mais filhos. O matrimônio é um modo belíssimo de participar da obra criadora de Deus! Motivos como simples egoísmo, comodismo, falta de vontade de assumir o compromisso de educar e dedicar-se aos filhos ou, pior ainda, preocupações estéticas, seriam grave pecado contra o sentido do sacramento do matrimônio!

Um grave problema para os casais cristãos que desejam fazer o planejamento familiar é a questão do método a escolher para controlar a natalidade. A Igreja, em princípio faz graves restrições aos métodos anticoncepcionais artificiais: pílulas, diu, laqueadura, etc. Para o Magistério eclesial, o único método plenamente válido do ponto de vista moral seria o método natural, que consiste na abstenção sexual do casal durante o período fértil da mulher. Sabemos que a situação é complicada. Não é este artigo a melhor ocasião para tratar a questão. Podemos, a esse respeito, fazer somente algumas afirmações que os casais e os pastores da Igreja deveriam ter presente: (1) os filhos são um dom de Deus e uma bênção no matrimônio e, como tais, devem ser acolhidos; (2) o planejamento familiar é um dever do casal cristão; (3) segundo o Magistério da Igreja, que tem autoridade para ensinar em nome de Cristo, os métodos moralmente ideal de planejamento de natalidade são os métodos naturais; (4) os casais devem, sinceramente, refletir sobre isso, levando em conta com responsabilidade a palavra do Magistério; (5) em casos de dificuldade, é sumamente aconselhável que o casal procure um sacerdote esclarecido e prudente que possa ajudá-los a discernir sua situação concreta; (6) os padres tenham respeito pela situação própria de cada casal (situação espiritual, afetiva, econômica, moral, cultural, etc); (7) procurem não assumir ares de juízes da consciência dos fiéis, mas fazerem as vezes do Cristo bom Pastor, que dá a vida pela vida do rebanho e tem um jugo leve e suave; (8) procurem com honestidade e franqueza explicar a posição do Magistério e, por outro lado, estejam atentos a que não se trata de matéria infalível nem irreformável. Sem esconderem a seriedade da questão, cuidem de não aumentar-lhe a gravidade; (9) e finalmente, respeitem a consciência dos fiéis, que será em última análise o critério de julgamento diante de Cristo.

Com toda a certeza, um casal que deseje sinceramente viver o Evangelho e a fidelidade ao ensinamento da Igreja e um sacerdote ou um outro agente de pastoral de bom senso, prudência, respeito ao Magistério e sensibilidade em relação à situação dos esposos, haverão de encontrar meios de superar as dificuldades advindas dessa delicada questão.

Tenham todos bem presente que a questão dos anticoncepcionais é uma questão ainda muitíssimo discutida na Igreja, seja por Bispos como também por teólogos e pelo povo de Deus como um todo. Vejamos aonde o Espírito de Deus conduzirá a Igreja!

Um último ponto sobre o qual gostaria de insistir é o dever sagrado dos pais na educação dos filhos. O primeiro educador não é a escola e muito menos a televisão! Os pais é que têm esta função! Com a palavra, com o exemplo, com a convivência, eles é que darão a formação humana e cristã aos filhos que Deus lhes confiou! Infelizmente, neste aspecto – e sobretudo no que toca à educação religiosa – os pais têm sido extremamente incompetentes e omissos... haverão de prestar contas a Deus!

Que os pais não desistam de cumprir esse papel, que é intransferível! Não é a toa que a família é chamada de Igreja doméstica: a primeiríssima comunidade cristã, que vive, ama, reza e sonha unida no amor de Cristo!

No próximo artigo terminaremos nossa apresentação sobre o matrimônio, falando do rito litúrgico do sacramento. Até lá!

Os Sacramentos

O matrimônio – X

Terminamos nossa apresentação sobre a teologia do Matrimônio. Vejamos, agora, para concluir, alguns elementos da liturgia deste sacramento.
Segundo a tradição litúrgica da Igreja do Ocidente, os ministros celebrantes do matrimônio são os próprios noivos: eles, dando-se e recebendo-se em matrimônio, celebram o sacramento. O “celebrante” é simplesmente a testemunha oficial e autorizada da Igreja. Sendo ele um ministro ordenado (Bispo, presbítero e diácono), dá também aos recém-casados a bênção nupcial em nome da Igreja.

Vejamos, concretamente, algumas observações sobre o rito matrimonial:

(a) A ornamentação da Igreja não deve transforma-la num “jardim de Alá”. Seria muito bom que as paróquias, e a própria Arquidiocese, tivesse normas claras sobre isso. O Altar nunca deve ser recoberto com tecidos coloridos. Deve sempre estar recorberto com a toalha branca para a liturgia eucarística. Também não se deve colocar um enorme arranjo floral ao centro do Altar. Não se confunda o Altar com uma mesa de formatura! Se há um arranjo, que seja discreto e em um dos ângulos do Altar!

(b) Os cânticos sejam de bom gosto. Não se deveria, na celebração matrimonial, refutar cânticos profanos. Se forem decentes e de bom gosto, podem ser admitidos. Recordemo-nos que o matrimônio, não somente pertence à ordem da salvação em Cristo, mas também à ordem da criação. A própria Escritura canta o amor humano em si mesmo (basta pensar no Cântico dos Cânticos). Então, cantar o amor humano dentro da liturgia matrimonial com cânticos “profanos” não é contra o sentido do rito litúrgico. Em outros sacramentos, sim; no matrimônio, não!

(c) A liturgia do matrimônio começa com o encontro dos noivos com o presidente da celebração. Toda a parte da entrada dos padrinhos e dos noivos ainda não é a liturgia do sacramento. Quanto a essa entrada, é muito triste que tenha se transformado num grotesco desfile de moda!

(d) Na primeira parte da celebração, escuta-se a Palavra de Deus, que explica o sentido do matrimônio à luz do projeto de Cristo Deus. Aí, o que preside à celebração terá o cuidado de explicar que o matrimônio é sacramento do amor esponsal entre Cristo e a Igreja e deve ser vivido na fidelidade, na indissolubilidade e na fecundidade.

(e) Parte central da celebração é o sim que dois dão um ao outro por toda a vida. Depois desse sim, os dois são marido e mulher! Tem-se, então a bênção nupcial, que é importantíssima! O presidente, de mãos estendidas sobre os esposos, pede ao Pai que derrame sobre o casal o Espírito de Amor, Espírito do Cristo ressuscitado. É este Espírito que transfigura sacramentalmente o amor dos esposos na imagem do amor entre Cristo e a Igreja. Observe-se que, precisamente esta bênção exprime claramente que o matrimônio dá a graça aos esposos! Que nunca se esqueça isso: o matrimônio não é simplesmente um contrato; é primeiramente uma celebração pascal: é o amor de entrega na cruz e na ressurreição que o Cristo-Esposo faz de si à sua Igreja-Esposa! O casal, agora, recebe a força do Espírito de Amor para viver cristãmente seu amor nupcial: deverão amar-se como Cristo e a Igreja se amam!

(f) Muito significativa é a troca de alianças. Aliança, nas Escrituras, é o pacto de amor entre Deus e o povo de Israel e, no Novo Testamento, a aliança entre Cristo e a Igreja. Chamar de aliança os anéis de matrimônio é recordar que o amor entre os cônjuges é sinal do amor entre o Cristo e a Igreja.

(g) É muito desejável que os esposos comunguem, já que a Eucaristia é a máxima entrega que o Esposo Jesus faz de seu corpo à sua Esposa Igreja, tornando-se ambos uma só carne! Neste sentido, seria muito belo o matrimônio celebrado dentro da Missa. No entanto, isso somente tem sentido quando o casal tem uma vida realmente cristã!

(h) Que nunca se esqueça que o matrimônio não deve ser celebrado em casas privadas ou clubes. O local próprio para a celebração desse sacramento é a igreja! Neste ponto as normas da Arquidiocese de Maceió são muito claras!

Terminamos nossa apresentação do matrimônio. Muitíssimas coisas poderiam ainda ser ditas. Que seja sempre redescoberto o valor desse belíssimo sinal do amor de Cristo e da sua Igreja – o sacramento do matrimônio.

Fonte:
Dom Henrique Soares da Costa. O Sacramento do Matrimônio - V. Disponível em < http://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/matrimonio/198-o-sacramento-do-matrimonio-iv> Desde 29 de Dezembro de 2008.

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