Livro: «O Inferno
Existe - Provas e Exemplos»
CAP. 5 - EU NÃO CREIO EM NADA
Servo
de Deus Pe. André Beltrami, SDB
– Como? Vós não credes em nada? repliquei.
Então não credes na existência da América, da Oceania…
– Oh! Certamente que sim; queria dizer, não
creio em nenhuma coisa sobrenatural.
– Mas, porque credes na existência da América
e da Oceania, que nunca vistes?
– Tem graça! Creio porque o afirmam os
geógrafos e muitas pessoas que perlustraram essas regiões.
– E se credes na existência de coisas que
nunca vistes, só porque o dizem os homens, porque não credes na existência do
inferno, do juízo, revelada pela palavra infalível de Deus, confirmada pela
razão e proclamada pela voz de todos os povos?
O livre pensador deu de ombros e não soube
responder; mas, nem por isso se converteu. Custava-lhe tanto deixar sua vida
desregrada e praticar a virtude!
Como são dignos de compaixão esses
libertinos! Pretendem destruir o inferno, negando-lhe a existência; mas, quem
nega uma coisa não consegue eliminá-la. Se eu negasse a existência da América
ou da África, não conseguiria riscá-las da face do globo, mas subsistiriam, não
obstante minha negação. Negai, negai quanto quiserdes a existência do inferno,
que apesar disso o inferno continuará a existir e a queimar as suas vítimas, e
um dia se abrirá para vós e vos sepultará naquelas chamas, se vos não
corrigirdes de vossas desordens. A vossa fanfarrice e a vossa negação estulta
não apagarão certamente aqueles ardores sempiternos, ao contrário, servirão
para os aumentar e fazer-vos afundar mais naquele abismo. Quanto mais vos
obstinardes na infidelidade e na negação do inferno, tanto mais acumulareis
pecados e culpas para expiar na eterna prisão.
*
* *
Uma ocasião, um infeliz, a quem se meteu na
cabeça que não havia mais cárcere, nem tribunal, começou a roubar e praticar
iniquidades. Avisado várias vezes pelos parentes e amigos, e ameaçado de
prisão, replicava sempre que não havia mais cárcere nem tribunal.
Sabeis o que aconteceu? o que já se esperava:
dois policiais o prendem; é processado e condenado às galés por toda a vida.
Eis aí a história de todos os ímpios;
abandonam-se aos vícios, acariciam as paixões, cometem pecados e mais pecados,
dizendo que tudo acaba com a morte e, no entanto, caem no eterno abismo. E
Santa Tereza viu que caíam em grande número, como flocos de neve em dias de
inverno!
*
* *
Monsenhor Ségur conta um fato bastante
curioso, acontecido na escola militar de S. Ciro, nos últimos anos da
Restauração.
O Padre Rigolot, capelão do estabelecimento, pregava
um retiro espiritual aos alunos, que se reuniam por isso todas as tardes na
capela, antes de subir ao dormitório. Uma das tardes, em que o bom do padre
falara do inferno, terminada a função, tomou a lanterna e se retirou para o seu
aposento; e quando abria a porta do quarto, percebeu que o chamava alguém que o
seguia pela escada. Era um velho capitão de bigode grisalho e de maneiras pouco
gentis.
– Desculpe, sr. Padre, lhe falou com ar de
zombaria; V. R. fez-nos agora pouco um magnífico discurso sobre o inferno. Mas
se esqueceu de nos dizer se lá nós seremos cozidos, assados ou fritos. Poderia
dizer-me?
O capelão, percebendo que se tratava de um
zoilo, fitou-o seriamente, e depois enfiando-lhe sob o nariz a lanterna que
trazia, respondeu com toda a calma:
– Haveis de ver, sr. capitão.
Dito isto, fechou a porta; sem poder refrear
o riso pela figura ridícula daquele estroina.
Não pensou mais nisso, mas daí por diante
notou que o capitão fugia dele.
Entretanto, veio a revolução de julho e
extintas as capelanias militares, o Arcebispo de París nomeou o Padre Rigolot
para outro cargo, não menos importante.
Passados quase vinte anos, o venerando
sacerdote entretinha-se com os amigos numa tertúlia, quando um velho de bigode,
branco, fazendo-se encontradiço, cumprimentou-o e perguntou se era o Padre
Rigolot, ex-capelão da escola de S. Ciro. Obtida resposta afirmativa:
– Oh! senhor padre, diz-lhe comovido o velho
militar, permita-me que lhe aperte a mão e que exprima o meu reconhecimento; o
senhor me salvou.
– Eu?! de que modo?
– Oh! não me conhece mais? Não se lembra do
ocorrido naquela noite, que um capitão, instrutor da escola, a propósito de seu
discurso sobre o inferno, lhe fez uma pergunta estúpida e V. R., pondo-lhe a
lanterna sob o nariz respondeu: – “Haveis de ver, capitão?”
Aquele capitão sou eu; sabia que desde aquela
ocasião suas palavras não me saíram mais da mente, como não me abandonou mais o
pensamento que eu devia ir para o inferno. Lutei contra mim mesmo por dez anos;
ao cabo dos quais, rendi-me a Deus, confessei-me e agora tornei-me cristão e
cristão à militar, isto é, franco, sem respeito humano. A V. R. sou devedor de
tanta ventura e folgo muito de poder encontrá-lo para manifestar-lhe o meu
reconhecimento.
*
* *
O Padre Bach, na vida de S. Francisco de
Jerônimo, narra a triste sorte duma mulher incrédula que zombava do inferno e
dos novíssimos. O fato não deixa nenhuma dúvida, pois foi juridicamente provado
no processo de canonização do santo, e atestado com juramento por muitas
testemunhas oculares.
No ano de 1707, S. Francisco de Jerônimo pregava,
como de costume, nos arrabaldes de Nápoles, falando sobre o inferno e os
terríveis castigos reservados aos pecadores obstinados. Uma mulher insolente,
morava na redondeza, aborrecida com aqueles sermões, que lhe acordavam no
coração amargos remorsos, procurou molestá-lo com chascos e gritos, desde a
janela de sua casa; uma vez, o santo lhe disse: – Ai de ti, filha, se resistes
à graça! não passarão oito dias, sem que Deus te castigue.
A desaforada mulher não se perturbou por
aquela ameaça e continuou a com suas más intenções. Passaram-se oito dias, e o
santo foi pregar de novo perto daquela casa, mas desta vez as janelas estavam
fachadas e ninguém o importunava. Os vizinhos que ouviam consternados lhe
disseram que Catarina (tal era o nome daquela péssima mulher) tinha morrido de
improviso, pouco antes.
– Morreu? disse o servo de Deus; pois bem,
agora nos diga de que valeu zombar do inferno; vamos perguntar-lhe.
Os ouvintes sentiram que essas palavras o
santo as pronunciara com inspiração, e por isso todos esperaram um milagre.
Acompanhado da multidão subiu à sala, convertida em câmara ardente, e após
breve oração, descobriu o rosto da morta e:
– Catarina, gritou, diz-nos onde estás!
A esta ordem, a defunta ergue a cabeça, abre
os olhos, toma cor o seu rosto, e em atitude de horrível desespero, profere com
voz lúgubre estas palavras:
– No inferno! eu estou no inferno!
Imediatamente cai e volta ao estado de frio
cadáver.
Eu estava presente ao fato, afirma uma das
testemunhas que depuseram no tribunal apostólico, mas não saberia explicar a
impressão que causou em mim e nos circunstantes; ainda hoje, passando perto
daquela casa e olhando a tal janela, fico muito impressionado. Quando vejo
aquela funesta moradia, parece-me ouvir a lúgubre voz: – No inferno! eu estou
no inferno!
» CONTINUA
NO CAPÍTULO 6
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