Livro: «O Inferno
Existe - Provas e Exemplos»
CAP. 6 - NÃO VOLTOU NINGUÉM DO OUTRO MUNDO PARA NOS DIZER QUE
EXISTE A ETERNIDADE
Servo
de Deus Pe. André Beltrami, SDB
Não há tal. Se consultardes a História,
vereis como frequentes vezes Deus permitiu, em todos os tempos viesse alguém
dizer-nos da existência das verdades que Ele revelou. Muito de indústria esses
doutores da impiedade omitem o estudo dos fatos; e depois sentenciam do alto de
suas cátedras que nunca ninguém levantou a cabeça da sepultura para nos dizer
que existe algo depois da morte.
A história da Igreja na Polônia registra um
fato importantíssimo, sucedido em 1070, com Santo Estanislau, bispo de
Cracóvia. Trata-se duma prodigiosa ressurreição, perante muita gente, numeroso
clero e magistrados.
Boleslau, rei ímpio e cruel, movera contra o
santo bispo Estanislau uma feroz perseguição; entre outras coisas, acirrou de
ódio contra o Bispo os herdeiros de um Pedro Miles, que tinha morrido três anos
antes, deixando para a Igreja uma de suas terras. Os herdeiros, certos do apoio
do rei, processaram o santo, e tendo subornado ou intimidado as testemunhas,
conseguiram que Estanislau fosse condenado à restituição do terreno.
O santo, vendo que falhava a justiça dos
homens, apelou confiantemente para a de Deus e conseguiu suspender a
condenação, prometeu chamaria como testemunha o próprio testador que jazia
havia três anos na sepultura. Com efeito, depois de três dias de jejum e
orações, o santo Bispo se dirige com todo o clero à sepultura de Pedro Miles.
Aberto o túmulo, encontraram, como se previa,
poucos ossos num monte de pó, e já os adversários se alegravam, certos da
vitória.
Mas o santo com voz majestosa ordena ao cadáver
que ressuscite, em nome d’Aquele que é ressurreição e vida; e num pronto aqueles
ossos se aproximam, cobrem-se de carne, na presença de uma imensa multidão
possuída de grande terror.
O Bispo tomou-o pela mão e o levou diante de
Boleslau para certificar a verdade da doação feita, confundindo destarte o rei
e os herdeiros.
Perguntou-lhe depois se preferia voltar à
sepultura ou viver ainda alguns anos na terra; ele respondeu que, conquanto
pelos seus inúmeros pecados estivesse no purgatório, onde sofria muito,
preferia tornar a morrer do que ficar nesta terra tão miserável em que poderia
sempre ocorrer o perigo de se condenar eternamente.
Suplicando as orações do santo bispo para se
libertar logo do purgatório, foi levado processionalmente ao seu sepulcro, aí
entrou e ficou no estado de antes.
*
* *
Na vida de S. Bruno, fundador dos Cartuxos,
lê-se a ressurreição momentânea de uma personagem respeitável para atestar
diante de muita gente a própria condenação. París e toda a França ficaram
horrorizados com esse acontecimento; foi, então, que Bruno temendo os juízos
divinos retirou-se para a Cartuxa a fim de lavar vida austeríssima.
Morreu Raimundo Diocres, doutor de Sorbona,
homem conceituadíssimo pela sua vasta ciência, não menos por uma aparência de
virtude. Depois de três dias, o seu corpo, revestido das insígnias doutorais,
foi transportado solenemente para ser sepultado; acompanhavam-no o colégio dos
professores, grande número de estudantes e teoria de clero.
As exéquias celebraram-se na catedral,
revestida de luto, entre luzes e muitas inscrições que lembravam a insígne
ciência e as virtudes do ilustre extinto. Mas quando o coro dos cantores chegou
àquele trecho do ofício: Responde mihi: quantas habeo iniquitates et peccata;
scélera mea et delicta ostende mihi; onde o santo Job roga a Deus lhe faça
conhecer as suas culpas, o cadáver levantou a cabeça e féretro e com voz
lastimosa exclamou: Por justo juízo de Deus sou acusado: dito isto, tornou a
repousar a cabeça, como dantes.
Apoderou-se dos assistentes um terror geral,
e resolveram deixar para o outro dia os funerais. Neste dia foi muito maior a
concorrência; recomeçou-se o ofício, e ao chegar às mesmas palavras, tornou o
cadáver a erguer a cabeça e a exclamar com voz esforçada e mais lastimosa: Por
justo juízo de Deus estou julgado.
Subiu de ponto o pasmo e o espanto.
Resolveram diferir a inumação para o terceiro dia. Nesta foi imenso o concurso;
deu-se princípio ao ofício, como nos precedentes; quando se cantavam as mesmas
palavras, levantou o defunto a cabeça, e em voz horrível e espantosa exclamou:
Não careço de orações; por justo juízo de Deus estou condenado ao fogo eterno.
É fácil compreender a impressão que faria nos
ânimos um acontecimento tão extraordinário. Achava-se Bruno presente a este
espetáculo; tão fortemente se emocionou com ele que, retirando-se horrorizado,
resolveu deixar quanto tinha e enterrar-se em algum espantoso deserto para ali
passar a vida entregue unicamente aos rigores da mortificação e da penitência.
Parecia necessário um sucesso tão trágico para uma resolução tão generosa.
*
* *
O nosso século foi também fecundo de
aparições de além-túmulo e já narramos algumas. A que vamos agora narrar com as
palavras de Monsenhor Ségur, foi confirmada por um sinal deixado numa porta,
sinal esse que até ora se conserva religiosamente. Quem não crê, pode ir ao
lugar onde o fato se deu e interrogar as testemunhas oculares que ainda vivem.
(*Aqui e em outros lugares o Autor fala de testemunhas ainda vivas, as quais
podem ser consultadas: é bom notar que o Servo de Deus André Beltrami viveu no
século XIX e o presente opúsculo foi escrito em 1897). Parece que Deus na sua
bondade, como crescer da incredulidade e da libertinagem, aumenta os
testemunhos das verdades terríveis do juízo e do inferno, para confirmar na fé
os cristãos e preservá-los da impiedade.
A 4 de novembro de 1859, morreu de apoplexia
fulminante no convento da Franciscanas de Foligno uma boa irmã, camada Teresa
Gestas, que por muitos anos fora mestra das noviças e ao mesmo tempo
encarregada de superintender à pobre rouparia do convento. Nascera na Córsega
em 1797 e entrara na Ordem em fevereiro de 1826; fora supérfluo dizer que
estava convenientemente preparada para a morte.
Doze dias depois, precisamente aos 16 de
novembro, uma irmã, de nome Ana Felicidade, que a substituiria no cargo, subiu
à rouparia e estava para entrar quando ouviu gemidos que pareciam vir do
interior do quarto. Um tanto assustada, abriu a porta, ninguém! mas, ouviu
novos gemidos e tão distintos que apesar de sua coragem comum, a irmã ficou com
medo.
“Jesus! Maria! Gritou ela, que é isso?”
Não acabou de falar quando ouviu uma voz que
dizia: – “Ó meu Deus, quanto sofro!”
A irmã, atônita, reconheceu a vos da irmã
Teresa.
Então o quarto se encheu de fumaça densa, e a
sombra da irmã Teresa apareceu em ato de se dirigir para a porta arrastando-se
ao logo da parede; e chagando à porta disse: – “Eis um sinal da misericórdia de
Deus”; e assim falando, tocou com a palma da mão a porta e a deixou impressa em
traço carbonizado; e desapareceu.
Irmã Ana Felicidade, toda nervosa, morrendo
de medo, começou a gritar e pedir socorro. Correu uma de suas irmãs de hábito,
outra, depois toda a comunidade; fizeram-lhe roda, incomodadas, com os gritos e
com o tresandar de madeira queimada. Irmã Ana contou o que tinha sucedido e
mostrou a forma da mão da irmã Teresa, que era bem pequena; então
aterrorizadas, mais que depressa foram a igreja para rezarem pela defunta, e
pela mesma intenção passaram a noite na oração e na penitência, e na manhã
seguinte receberam a Comunhão.
A notícia espalhou-se fora de casa e diversas
comunidades religiosas daquela cidade uniram suas orações às das Franciscanas.
No dia seguinte, 18 de novembro, irmã Ana
Felicidade, entrando na cela para o repouso, ouviu que a chamavam pelo nome e
reconheceu a voz de irmã Teresa; viu então aparecer um globo de luz, iluminando
o quarto como se fora meio-dia, e ouviu distintamente a voz de irmã Teresa, que
jubilosa lhe falou: – “Morri numa sexta-feira, dia dedicado à paixão e numa
sexta-feira vou para a glória: sede forte no levar a vossa cruz, sede corajosa
no suportá-la; amai a pobreza; e com muito afeto ajuntou: – “adeus! adeus!
adeus!” Dito isto, transfigura-se em uma nuvem leve, branca, deslumbrante,
alteia-se para o céu e desaparece.
O bispo de Foligno e os magistrados da cidade
procederam a um inquérito canônico para averiguar o fato, e no dia 23 de
novembro, na presença de muitas testemunhas, aberto o túmulo de irmã Teresa
reconheceram que o sinal gravado com o fogo na porta era plenamente conforme a
mão da defunta. O resultado desse inquérito foi uma declaração oficial, a qual
atestava a certeza e a autenticidade do que referimos. A porta com o sinal se
conserva com veneração no convento para testemunhar a aparição.
» CONTINUA
NO CAPÍTULO 7
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